terça-feira, novembro 06, 2007

Revolução de Outubro (cont.)


Não vale a pena discutir o que teria acontecido se Lénine não tivesse falecido em Janeiro de 1924, se lhe tivesse sucedido no Kremlin não Estaline, mas Trotski, etc. Trata-se claramente de uma tarefa estéril.
Venceu Estaline, mas, a julgar pela herança teórica deixada por Leão Trotski, as coisas não teriam decorrido de maneira muito diferente se ele passasse a dirigir os destinos da União Soviética. Trotski já tinha dado provas, durante a guerra civil, que não era menos cruel do que Estaline ou outros dirigentes comunistas.
Mas a verdade é que José Estaline vence a luta pelo poder, dando origem a uma nova dança macabra. Não me recordo quem disse que “as revoluções devoram os seus próprios filhos”, mas esta frase define bem a luta política no Partido Comunista depois da morte de Lénine.
Estaline alia-se a Kamniev e Zinoviev para isolar e neutralizar o seu camarada Trotski. Depois, alia-se a Bukharine para fazer o mesmo com Kamniev e Zinoviev e, por fim, liquida Bukharine para impor o seu poder absoluto no partido. Claro que tudo isto é acompanhado de “julgamentos abertos” e fuzilamentos em massa.
Como é sabido, as purgas não ficaram por aí e o ano de 1937, auge das repressões estalinistas, ainda estava para vir.
Entretanto, José Estaline, que se considerava um grande teórico, não só no campo da política, mas também da filosofia, biologia, agricultura, culinária, etc., constata que “a luta de classes se intensifica à medida que se constrói o socialismo”.
Como a nobreza e a burguesia já tinham sido exterminadas, chegou a vez do campesinato, que queria trabalhar as suas terras e não ingressar voluntariamente nas unidades colectivas agrícolas (sovkhozes e kolkhozes). O resultado são milhões de pessoas que morreram de fome nas regiões agrícolas.
Por exemplo, as actuais autoridades ucranianas pedem à comunidade mundial que reconheça o Holodomor (fome conscientemente provocada pelas autoridades comunistas para obrigar os camponeses a aderir à colectivização, que provocou milhões de mortos) como um “genocídio”. Como historiador, é difícil aceitar como exacto o termo “genocídio”, pois ele significa que se trata do extermínio consciente de um povo, e o objectivo não era acabar com o povo ucraniano, mas enquadra-se perfeitamente na definição de “crime contra a Humanidade”.
As repressões alargaram-se a outras camadas sociais e profissionais, tendo sido pesadas, nomeadamente, entre os altos comandos do Exército Vermelho. Esta é uma das razões que explicam a chegada das tropas nazis aos arredores de Moscovo.
Outra é o facto de Estaline não ter dado ouvidos aos seus agentes secretos, que o preveniram na preparação da invasão nazi. Aqui, não se pode passar ao lado do Pacto Molotov-Ribbentrop, assinado secretamente entre a União Soviética e a Alemanha nazi em Agosto de 1939.
Os historiados soviéticos e alguns historiadores russos actuais explicaram a sua assinatura por Estaline para ganhar tempo a fim de se preparar para o confronto com Hitler. Mas coloca-se a questão: e Hitler não ganhou esse mesmo tempo para preparar a operação contra Estaline?
Por isso, o Pacto Molotov-Ribbentrop é uma das provas da natureza expansionista do regime comunista na Europa e no mundo, que se veio a revelar várias vezes depois da Segunda Guerra Mundial.
Como é sabido, os ideólogos soviéticos afirmavam que a vitória na Grande Guerra Pátria, como é conhecida a Segunda Guerra Mundial na Rússia, só foi possível graças ao “génio militar de Estaline”, “à direcção sábia do Partido Comunista”.
É de assinalar que, durante a Primeira Guerra Pátria (1812-1815), o povo russo venceu as tropas napoleónicas sem Estaline e sem o Partido Comunista. Quanto à Segunda Guerra Patriótica, pode-se afirmar que a política de Estaline e do Partido Comunista fizeram com que tenha sido sacrificado o número muito maior de vítimas no altar da vitória sobre o nazismo alemão. Os soldados e oficiais, os povos soviéticos foram os verdadeiros vencedores.

3 comentários:

Naguib disse...

Por Adalberto Monteiro, de Minsk, Belarus, «Vermelho», jornal do PC do Brasil
4 DE NOVEMBRO DE 2007 - 17h07
Encontro comunista em Minsk enaltece Revolução de 1917

«Com o tema, ''90 anos da Revolução Socialista de Outubro. A atualidade e vitalidade de suas idéias. Os comunistas na luta contra o imperialismo, e pelo socialismo'', começou neste sábado, (3) em Minsk, capital da República de Belarus (antiga Bielo Russia) o Encontro Interncional dos Partidos Comunistas e de trabalhadores do mundo. Cerca de 70 organizações partidárias de todos os continentes estão presentes.

O dirigente comunista russo Gennady Zyuganov
Logo no início da manhã, sob intenso frio (aqui é outono e nevou durante a tarde) realizaram-se duas homenagens. Todos os representantes dos partidos depositaram flores, primeiro no monumento em homenagem a Lênin e depois no monumento à Vitória na Gande Guerra Patriótica – alusivo aos 20 milhões de soviéticos que tombaram na Segunda Grande Guerra.

De volta ao Hotel Belarus, local do evento, o conclave foi aberto com os pronunciamentos especiais dos anfitriões: Tatiana Golubeva, secretária-geral do Partido Comunista de Belarus, e Gennady Zyuganov, presidente do Partido Comunista da Federação Russa. Foi lida também uma calorosa mensagem do presidente de Belarus, Alekzander Lukasenco.

Os oradores sublinharam o legado do “Grande Outubro” para os povos do mundo, dizendo que este deve servir como ponto de apoio e referência nas lutas atuais contra o imperialismo. Golubeva disse que em Belarus o presidente Lukasenco, à frente do governo desde 1994, não sucumbiu às pressões capitalistas e o país tem obtido êxitos no crescimento económico e na melhoria da qualidade de vida do povo. Zyuganov teceu duras criticas ao governo de Vladimir Putin na Rússia. Segundo o dirigente comunista russo, Putin está conduzindo seu país para uma ditadura.

Em seguida, os representantes dos demais partidos passaram a fazer pronunciamentos, de 10 minutos cada, em ordem alfabética dos países. José Reinaldo Carvalho, secretário de Relações Internacionais do PCdoB (cuja delegação inclui também Adalberto Monteiro, secretário de Formação e Propaganda), sublinhou o legado da Revolução de Outubro, elencou erros e equivocos que contribuiram para a derrocada da URSS e terminou sua intervenção destacando os desafios da nova luta pelo socialismo que se desenvolve no século 21. Ao término de seu pronunciamento, José Reinaldo foi calorosamente cumprimentado por Zuganov.

A Reunião prossegue até esta segunda feira (5). No final do evento está prevista na programação a divulgação de um documento sobre a Revolução Socialista de 1917. Os participantes antes de partir serão recebidos no Palácio da Republica. Na noite de segunda-feira, seguem de trem para Moscou, onde nos dias 6 e 7, participam de atividades comemorativas dos 90 anos da Revolução de Outubro.

Minsk

Minsk é uma cidade de pouco mais 1 milhão de habitantes, o país tem cerca de 10 milhões. E uma cidade limpa e de avenidas largas. As ruas não trocaram de nome depois do fim da URSS. Há por exemplo ruas que trazem os nomes de Lênin e do poeta Maiakovsk, assim como monumentos e pinturas socialistas.»

PS.
Estou cheio de curiosidade e à espera do que José Milhazes vai escrever sobre as comemorações dos 90 anos da Revolução de Outubro, acima mencionadas.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro António, não se preocupe. Se houver motivo de notícia não falharei. Quanto ao texto que enviou, reservo a minha resposta para a última parte do texto que publicarei amanhã.
Caro António, se você tivesse lido algum dos livros de Guennadi Ziuganov, à excepção das anedotas, certamente que não me enviaria o texto enviado. Se conseguir, leia. Ficará ao corrente de uma nova versão do nacional-socialismo, desta vez à la russe.

jal disse...

Fico mais descansado quando diz que amanhã vai voltar a escrever sobre o assunto.
Porque das profundas transformações económicas e sociais operadas na URSS ainda não disse uma única palavra...
Fico a aguardar.