Alguns comentadores e analistas ocidentais - sim, porque os russos já as perderam -ainda tinham esperanças de que a eleição de Dmitri Medvedev para o cargo de Presidente da Rússia poderia alterar a política externa da Rússia, no sentido de uma maior maleabilidade e abertura em relação ao Ocidente.
Não sei se a chanceler alemã, Angela Merkel, tinha algumas ilusões a esse respeito, mas o Kremlin já deixou claro que a política externa é para continuar. E não foi o Presidente eleito que deixou isso claro, mas o Presidente em exercício. Sem grandes preocupações com o "politicamente correcto", Putin deixou uma vez mais claro que ele continuará a ser o senhor da Rússia, ou, talvez seja mais correcto, o representante mais influente do grupo político que dirige o país.
Dmitri Medvedev, eleito Presidente da Rússia no escrutínio do passado Domingo, e Angela Merkel, chanceler alemã, manifestaram a disposição de continuar a cooperação mutuamente vantajosa entre a Rússia e a Alemanha.
“Avaliamos altamente o facto de nos ter vindo visitar e consideramos essa visita uma continuação da cooperação, parceria estratégica, que tradicionalmente existe entre a Rússia e a República Federal da Alemanha” – declarou Medvedev ao receber Merkel no castelo “Maiendorf”, residência oficial nos arredores da capital russa.
Medvedev, que foi eleito Presidente com mais de 70 por cento dos votos, agradeceu à chanceler da Alemanha pelas felicitações que lhe foram por ela enviadas a esse propósito.
“Espero a continuação da interacção de camaradagem ao nível que se criou entre Você e o Presidente Putin. Você já teve hoje longas conversações, o que facilita a minha tarefa” – declarou Medvedev com um sorriso.
“O Presidente Putin acabou de nos dizer que com Você não será mais fácil do que com ele. Mas eu contive-me e não disse que espero que não seja mais complicado” – retribuiu Merkel com o mesmo ar descontraído.
“Espero que nós também iremos realizar conversações sobre as questões que abordaram de forma crítica com o Presidente Putin, também iremos conversar” – acrescentou a chanceler.
“Estou convencido que continuará a haver a abertura e a amizade que ligaram os nossos países e que esteve sempre presente nas suas relações com o Presidente Putin” – concluiu Medvedev.
Após o encontro com Angela Merkel, Vladimir Putin fez questão de prevenir que os parceiros ocidentais da Rússia não esperassem mudanças na política externa do seu país com a chegada de Medvedev ao Kremlin.
“Fica-se com a impressão que alguns parceiros esperam com impaciência o fim do meu mandato para tratar dos assuntos com outra pessoa” – declarou Putin.
“Eu habituei-me a rótulos de que é difícil conversar com um antigo agente do KGB, que Medvedev será mais livre para demonstrar as suas ideias liberais. Mas ele não é menos nacionalista russo, no bom sentido da palavra, do que eu. Não penso que os nossos parceiros terão mais facilidades. Ele é um verdadeiro patriota e irá defender da forma mais activa os interesses da Rússia na arena internacional” – acrescentou.
Angela Merkel foi a primeira líder estrangeira a encontrar-se com o sucessor de Putin no Kremlin, o que é visto como um sinal de que Moscovo dá prioridade às suas relações com a União Europeia em geral e com a Alemanha em particular.
Não sei se a chanceler alemã, Angela Merkel, tinha algumas ilusões a esse respeito, mas o Kremlin já deixou claro que a política externa é para continuar. E não foi o Presidente eleito que deixou isso claro, mas o Presidente em exercício. Sem grandes preocupações com o "politicamente correcto", Putin deixou uma vez mais claro que ele continuará a ser o senhor da Rússia, ou, talvez seja mais correcto, o representante mais influente do grupo político que dirige o país.
Dmitri Medvedev, eleito Presidente da Rússia no escrutínio do passado Domingo, e Angela Merkel, chanceler alemã, manifestaram a disposição de continuar a cooperação mutuamente vantajosa entre a Rússia e a Alemanha.
“Avaliamos altamente o facto de nos ter vindo visitar e consideramos essa visita uma continuação da cooperação, parceria estratégica, que tradicionalmente existe entre a Rússia e a República Federal da Alemanha” – declarou Medvedev ao receber Merkel no castelo “Maiendorf”, residência oficial nos arredores da capital russa.
Medvedev, que foi eleito Presidente com mais de 70 por cento dos votos, agradeceu à chanceler da Alemanha pelas felicitações que lhe foram por ela enviadas a esse propósito.
“Espero a continuação da interacção de camaradagem ao nível que se criou entre Você e o Presidente Putin. Você já teve hoje longas conversações, o que facilita a minha tarefa” – declarou Medvedev com um sorriso.
“O Presidente Putin acabou de nos dizer que com Você não será mais fácil do que com ele. Mas eu contive-me e não disse que espero que não seja mais complicado” – retribuiu Merkel com o mesmo ar descontraído.
“Espero que nós também iremos realizar conversações sobre as questões que abordaram de forma crítica com o Presidente Putin, também iremos conversar” – acrescentou a chanceler.
“Estou convencido que continuará a haver a abertura e a amizade que ligaram os nossos países e que esteve sempre presente nas suas relações com o Presidente Putin” – concluiu Medvedev.
Após o encontro com Angela Merkel, Vladimir Putin fez questão de prevenir que os parceiros ocidentais da Rússia não esperassem mudanças na política externa do seu país com a chegada de Medvedev ao Kremlin.
“Fica-se com a impressão que alguns parceiros esperam com impaciência o fim do meu mandato para tratar dos assuntos com outra pessoa” – declarou Putin.
“Eu habituei-me a rótulos de que é difícil conversar com um antigo agente do KGB, que Medvedev será mais livre para demonstrar as suas ideias liberais. Mas ele não é menos nacionalista russo, no bom sentido da palavra, do que eu. Não penso que os nossos parceiros terão mais facilidades. Ele é um verdadeiro patriota e irá defender da forma mais activa os interesses da Rússia na arena internacional” – acrescentou.
Angela Merkel foi a primeira líder estrangeira a encontrar-se com o sucessor de Putin no Kremlin, o que é visto como um sinal de que Moscovo dá prioridade às suas relações com a União Europeia em geral e com a Alemanha em particular.
5 comentários:
Pego nos termos "no sentido de uma maior maleabilidade e abertura em relação ao Ocidente."
"Ocidente"? E o que é o "Ocidente"? A cambada vergada aos ditames da NATO?
E o que é "maleabilidade"? Será fazer da Rússia o que o Ieltsin beberräo fez, ao oferecê-la por dez garrafas de má pinga? Veja-se o crescimento do PIB russo até 2000 e depois disso...
Interessante... a Rússia, naçäo europeia, cristä, é "Oriente"... entäo e a Turquia e amigos muçulmanos, seräo "ocidentais" só porque säo da NATO?
E porque näo pode um presidente de um país defender os interesses desse país? Näo é para isso que o elegem?
Eu sei, seria muito melhor para este "Ocidente", com energúmenos da cepa de Clinton, Solana, Bush, ..., ter outro Ieltsin no Kremlin.
Lembro-me que em 2000 estavam todos felizes pela escolha. Também aí, foi o delfim do presidente cessante a ganhar as eleiçöes com +/-70% dos votos. Ninguém reclamou na altura. Entäo para quê esta palhaçada?
Caro André, a muitas das suas perguntas eu respondi em postagens anteriores.
Eu nunca escrevi que o Presidente da Rússia não tem direito a defender os interesses do paí. Tem e deve. O problema é que podemos estar ou não de acordo com a forma como se faz. E isso é válido para qualquer dirigente de qualquer país.
Você fala do crescimento do PIB russo até 2000 e depois disso... Eu sei o que quer dizer, mas não estou de acordo pelo seguinte.
Se você analisar os índices económicos de todos os países da antiga União Soviética, constatará que todos eles têm um crescimento grande, mesmo os que não têm petróleo e gás para exportar. A Estónia tem um crescimento anual de 10% e o do Azerbaijão é ainda muito maior.
Isto é um fenómeno comum a todos os países do antigo campo socialista. A destruição da "economia socialista" provocou uma queda brusca da economia, mas, depois, os mecanismos de mercado começaram a funcionar e os indicadores a subir.
Se acrescentar a isso os altos preços do petróleo e do gás, poderia exigir muito mais do Presidente Putin.
Mais um facto que dá para pensar. Quando Putin chegou ao poder havia oito russos que tinham fortunas superiores a mil milhões de dólares. Hoje, segundo a revista Forbes, são mais de 70, alguns deles muito próximos do Presidente.
Será isto um sinal de que se assiste a um crescimento económico real no país? Duvido.
Volto a repetir o que já disse muitas vezes, a Rússia pode voltar a perder o comboio da modernização, gastando dinheiro em luxos e não no salto tecnológico, social, etc.
Quanto aos dirigentes que cita, tem todo o direito a não gostar, eu também posso achar que não sou os melhores. Só que eu escrevo sobre a Rússia e os países vizinhos, que é aquilo que sei fazer.
E olhe que alguns reclamaram contra a palhaçada...
Milhazes, me aventurei a falar sobre as eleições russas em meu blog, tratando da cobertura jornalística.
Ficaria contente se você pudesse ver o que escrevi e postar algum comentário.
A crueza dos números ajudará certamente à discussão de se o “gigante russo” terá ou não pés de barro:
As exportações de combustíveis passaram de 1/10 do PIB para 1/5, enquanto a fracção não energética do mesmo, que deveria estar a crescer se a economia se estivesse verdadeiramente a fortalecer, diminui.
A fracção do PIB gerada por empresas privadas passou de 70% em 2006 para 65% em 2007.
A preferência por carreiras profissionais no sector privado passou de 78% em 1997 para apenas 45% em 2007.
O sector das tecnologias da informação constitui apenas 1,5% do PIB. Os criadores de produtos altamente competitivos internacionalmente, tais como o anti-virus Kaspersky (criado por um ex-criptógrafo do KGB) e o motor de busca Yandex (que nalguns respeitos é superior ao Google) não fazem parte nem da segunda divisão dos super-ricos russos.
As PMEs, espinha dorsal de qualquer economia desenvolvida, têm a vida cada vez mais dificultada. As reformas fiscais e legislativas pararam quase completamente em 2003. Em 2000, 1200 empresas produziam 80% do PIB russo. Em 2006, são menos de 500. Nos EUA, 60% do PIB provém de PMEs; no Japão, a proporção é de 74%; Na Rússia, a proporção é de apenas 17%.
O grau de renacionalização não pára de crescer. Em 2004, o estado controlava 11% das acções com direito de voto das 20 maiores empresas russas. Agora, controla 39%. O Kremlin definiu 39 sectores como “estratégicos”, incluindo o bancário, o que está a estrangular a modernização e a dificultar a aquisição de crédito por parte das pequenas e médias empresas. O sector industrial automóvel foi tomado pela empresa estatal de exportação de armamento. A indústria aeronáutica absorveu pequenas empresas eficientes, combinando-as com empresas ineficientes, geridas à moda soviética, criando um gigante controlado pelo estado a 75%.
O investimento directo estrangeiro é de uns modestos 7% do PIB, contra 19% na Ucrânia, 25% na Polónia, 42% na Geórgia e 59% na Estónia. Se retirarmos a proporção do sector energético, o valor é ainda mais deprimente.
Após o ataque à Yukos, a modernização no sector energético parou. O crescimento anual na extracção petrolífera caiu de 13 para 2%. Após ter engolido o principal activo da Yukos (a Yuganskneftgaz), a Rosneft registou uma produção inferior à das produções combinadas das duas entidades. 1+1=0,8…
Produtores privados de gás têm vindo a ser engolidos pela Gazprom. Mesmo assim, o crescimento na produção desta companhia é apenas de uns ridículos 0,6% ao ano, nos últimos 8 anos.
Um país com reservas de gás estimadas em 47 triliões de m3 tem que importar gás para satisfazer as suas próprias necessidades. A Rússia não desenvolve uma grande área de gás desde o colapso da União Soviética. Mais de metade dos pipelines estão obsoletos e em mau estado. Os compressores são tão ineficientes que desperdiçam 42 biliões de m3 por ano. No entanto, uma grande parte das receitas da Gazprom são desviadas para activos “não estratégicos”, tais como iates, imobiliário e eventos desportivos. A Gazprom comprou, por exemplo, uma enorme cadeia de hotéis.
O problema demográfico é essencialmente devido não a um reduzido índice de natalidade, mas a um extremamente elevado índice de mortalidade, especialmente na população activa masculina. Em 1989, era de 10,76 por cada 1000. Em 2001, era de 15,45. Em 2006, baixou apenas ligeiramente para 14,65
António Campos
Caro António, obrigado por tão importante contribuição para a discussão. Os números dizem muito.
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