domingo, abril 13, 2008

Presidente da Geórgia tenta o último recurso pacífico para salvar integridade do país



O Presidente da Geórgia, Mikhail Saakachvili, anunciou hoje que está disposto a conceder à Abkházia “autonomia ilimitada” e o cargo de vice-presidente do país ao dirigente dessa região separatista pró-russa.
Os dirigentes abkhazes já fizeram saber que não aceitam semelhante proposta e que estão prontos para a guerra a fim de defender a independência da Abkházia.
Numa reunião do Governo georgiano, Saakachvili declarou que as autoridades abkhazes terão direito a veto no que diz respeito a qualquer decisão que diga respeito à Constituição da Abkházia.
Além disso, propôs ao dirigente desse território o cargo de vice-presidente da Geórgia.
“Tudo isto dará garantias internas e internacionais a uma ampla autonomia da Abkházia no interior da Geórgia” – frisou o dirigente georgiano.
“No fim de Março, anunciámos que propomos aos abkhazes o cargo de vice-presidente da Geórgia, com garantias na Constituição, e uma série representatividade nos órgãos centrais do poder no país. Propomos aos abkhazes o direito a veto sobre o estatuto jurídico da Abkházia no seio da Geórgia e sobre as questões vitais para eles” – acrescentou.
Mikhail Saakachvili ordenou a criação de um grupo de trabalho, constituído por membros do Governo, para que elabore “nas próximas semanas, propostas sobre as questões acima citadas, bem como sobre a criação de zonas económicas livres nas regiões de Otchamychir e Galsk”, na fronteira entre a Geórgia e a Abkházia.
“Iremos realizar também conversações com a comunidade e parceiros internacionais a fim de elaborar mecanismo de garantia internacional da ampla autnomia da Abkházia no seio da Geórgia” – concluiu.
O Kremlin, o principal apoiante dos separatistas abkhazes, ainda não reagiu às propostas de Saakachvili, mas os dirigentes da Abkházia já se anteciparam com uma resposta implacável.
“A Abkházia jamais voltará à questão da união com a Geórgia e o único meio a que Milkhail Saakachvili poderá recorrer para resolver o problema é a guerra” – declarou Raul Khadjimba, vice-presidente da Abkházia.
“Já passámos por essa etapa uma vez, passaremos mais uma. Se Saakachvili pensa que pode resolver esta questão pela força das armas, está simplesmente enganado. Haverá apenas mais vítimas do lado abkhaze e georgiano, inúteis, mas seremos obrigados a defender a nossa terra, não temos outra maneira” – acrescentou.
“Já há muito decidimos sobre a questão da organização estatal, da nossa independência. Há muito tempo que não há disputas territoriais com a Geórgia. Ela vive a sua vida, a Abkházia e Ossétia do Sul vivem a sua” – concluiu.
A Abkházia fez parte do Império Russo até 1917. No início dos anos 20 do século passado, aquando da organização da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, José Estaline retirou a Abkházia da Rússia para a entregar à Geórgia.
No período de desintegração da URSS, o Presidente georgiano Zviad Gamsakhurdia anulou o estatuto de região autónoma à Abkházia, provocando assim uma sangrenta guerra civil.
Os abkhazes, apoiados por Moscovo, travaram as tropas georgianas e declararam a separação em relação à Geórgia. Após a proclamação unilateral da independência do Kosovo, os dirigentes da Abkházia, considerando tratar-se de um precedente, decidiram seguir o exemplo desse território nos Balcãs.
Isto faz parte de um problema mais global, das relações entre a Rússia e a NATO. Moscovo irá utilizar a Abkházia e a Ossétia do Sul para travar a adesão da Geórgia à Aliança Atlântica. Saakachvili pretende resolver os problemas do separatismo até Dezembro, para que a NATO lhe abra as portas, mas o Kremlin não deverá permitir isso. As forças são muito desiguais.

1 comentário:

Unknown disse...

A oferta da Geórgia é, do ponto de vista da Democracia, um absurdo em si. Quem deve escolher o presidente e o seu sucessor eventual (o vice), são os eleitores. Como se pode ofertar vice-presidência numa negociação? Acho que os Georgianos estão duvidando da inteligência dos Abkhazes mas, em todo caso, a oferta absurda sinaliza uma disposição de resolver a disputa de forma civilizada. Uma iniciativa um pouco tardia, porém!