sexta-feira, agosto 01, 2008

Por razões diversas, mas todos os russos lamentam a morte de um dos seus maiores escritores


Faleceu Alexandre Soljenitzine, um dos maiores escritores russos. A sua biografia coincide fortemente com a história do seu povo no século XX e no início do séc. XXI, diria mesmo que se trata de um dos seus espelhos mais fiéis.

Soljenitzine combateu na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), foi ferido e condecorado, tal como milhões soldados soviéticos. Tal como milhões de cidadãos soviéticos, passou pelos campos de concentração estalinistas por, em cartas a um amigo, criticar o ditador José Estaline.

Após doze anos de GULAG, Soljenitzine vai dar aulas para uma escola da província russa, iniciando, paralelamente, a sua atribulada carreira literária. Em 1962, a publicação do seu conto "Um dia na vida de Ivan Denissovitch" provocou um autêntico abalo na vida literária e social do seu país.

Depois voltaram novamente as perseguições e o desterro, desta vez para o Ocidente, onde Soljenitzine publica as suas obras mais revelantes "O Pavilhão dos Cancerosos", "O Arquipélago de GULAG", etc., etc.

O escritor russo foi daqueles que viram cair o inimigo que combatia: o comunismo, e regressaram ao seu país. Nesta luta, Soljenitzine ganhou o respeito de todas as vítimas e adversários do estalinismo.

Soljenitzine regressou em 1994, mas não se envolveu directamente na luta política, tendo optado pelo papel de profeta que vive retirado na sua casa da província e que revela as suas ideias e propostas através das suas obras. O escritor tentou encontrar uma fórmula para reconstruir, relançar a sua Rússia. Não é por acaso que uma das suas primeiras obras depois do regresso se intitula: "Como reorganizar a Rússia?".

E, neste campo, a sua herança é muito contraditória. Soljenitzine, por paradoxal que pareça, tentou encontrar o futuro da Rússia, a ideia nacional, no regresso a instituições pré-revolucionárias, ou seja, que existiram até 1917. Nesse sentido, o escritor teve o apoio dos monárquicos e ultra-conservadores. Na sua obra "Duzentos Anos Juntos", o escritor repete um dos erros do governo pré-revolucionário russo ao embarcar no anti-semitismo.

Mas é essa linha do pensamento que o leva também a apoiar a guerra na Tchetchénia e, posteriormente, a política de Vladimir Putin.

À primeira vista, parece uma aliança estranha: Soljenitzine, vítima dos serviços secretos soviéticos (KGB) e Putin, representante desses serviços. Mas não é o caso, porque a base dessa aliança está noutro plano: no renascimento e no engrandecimento da Rússia.

Os antigos dissidentes soviéticos e políticos liberais não lhe podem perdoar esse passo, mas Soljenitzine e Putin representam os pensamentos, os anseios da maioria da população.

Por enquanto, ainda é cedo para avaliar a extensa herança cultural, filosófica, literária deixada por Alexandre Soljenitzine. Tal como todos os escritores geniais, ele é problemático, complexo.

10 comentários:

Anónimo disse...

Es un escritor muy controvertido. Durante años de exilio él trabajaba para los servicios de inteligencia americanos y hacía todo tipo de propaganda contra su país natal. Es una traición. Y no contra el sistema sino contra su pueblo, contra los mismas víctimas cómo él. Hubo otros tantos que pasaron por el mismo infierno que él, pero estos no han vendido a su país, no le han dado premios internacionales, no han trabajado contra el país, no lo han traicionado a pesar de todo.
Su premio de Novel ha sido uno de los más "políticamente correctos" pero lo han dado por su talento literario, por que sus libros de literatura tiene poco por que era un publicista.
Además muchos de las víctimas de stalinismo han criticado sus obras diciendo que no es la verdad del todo, que hay mucha "fantasía" por no decirlo de otra manera. Sobre ello se puede leer aquí: http://www.xpomo.com/ruskolan/liter/soljenic.htm
En Rusia actual la figura de Soljenitzine ya no es "la conciencia de la nación". Los hubo más sinceros y más cocientes.

José Leite disse...

Combater o totalitarismo por vezes acarreta o recurso a situações dúbias. Guantánamo é exemplo disso mesmo.

O Arquipélago de Gulag a única obra que li, foi uma pedrada no charco. Vi ali um homem vertical, persistente, corajoso, tenaz, pariota. A pátria era o povo oprimido pela nomenklatura reinante.

Cometeu excessos? Talvez, mas a essência da denúncia estava lá, para salvação dos valores humanos que perseguia.

Curvo-me respeitosamente à sua memória.

Anónimo disse...

rouxinol de Bernardim :

Realmente cree que la existencia de Guantánamo es justa?? Que el objetivo de combatir la "totalitarismo" en Irak ha valido la pena y ahora los iraquíes viven libres y felices??
Guantánamo el lo mismo que Gulag.
Entonces los Gulags han existido con razón?

Por que otros tantos escritores que pasaron por los Gualags han podido contarlo todo sin mentiras? Y además contarlo muchísimo mejor en sentido literario.

Soljenitzine ha sido un traidor toda su vida. Desde la traición de sus mejores amigos Vitkevich y Tvardovski, pasando por su trabajo en los Gulags como un "informador" y hasta el trabajo para los servicios de inteligencia americanos, cuando él animaba a los EEUU a atacar a URSS. Él respetaba solamente a sí mismo y a nadie más.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Deixo à consideração dos leitores os dois comentários do leitor Fresquete, mas apenas recordo que as acusações que são feitas ao escritor eram as mesmas que lhe eram feitas na era comunista: colaborou com a CIA e disse mal do seu país.
Eu não afirmo que Soljenitsine seja um santo ou um mártir, mas é um escritor (e não só publicista) e um pensador que merece uma profunda análise.
Claro que pode haver e há outros escritores russos que escreveram melhor do que ele sobre os crimes estalinistas. Varlam Chalamov, por exemplo, é talvez o maior expoente neste campo e só é pena que não seja tão conhecido como Soljenitsine.
Mas se os leitores conseguirem ler obras de Chalamov (eu traduziu os Contos de Kolimá para a Relógio de àgua), verão que o trabalho de denúncia feito por ele e por outros escritores, entre os quais está Soljenbitsine, é nobre.

Unknown disse...

Todo mundo que fala mal do paraíso comunista trabalha pra CIA e é pago pelos americanos...
Se é assim, o vice-versa também vale né? Todos que falam mal dos americanos e do paraíso capitalista trabalham pra Cuba, para a China, são pagos pela esquerda etc. Ainda bem que sou apolítica!
Eu admirava Soljenítsin, não o idolatrava. Mas li 3 livros dele - termino de ler o quarto - e não o considero um publicista. "Um dia na vida de Ivan Denisovich" é assombrosamente enxuto.

José Leite disse...

Todos os escritores são alvo de calúnias e de infâmias por vezes hipertrofiadas por facções que se sentem feridas pelas suas denúncias.

Também sou escritor e sei do que falo.

Já fui perseguido, insultado, ameaçado de morte, esperado à porta de assembleia municipal, enfim, sei que quem tem a coragem de enfrentar a corrupção e o arbítrio não pode esperar que os apoiantes acéfalos desses regimes lhe lambam as botas!

José Leite disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Um merda espanhol? compara Guantanamo com o Gulag do comunismo judeu dos capitalistas judeus Marx,Engels,Lênin,Trotsky e outros bandidos comunistas que exterminaram 100 milhões de pessoas!

Anónimo disse...

Apenas em uma boa reportagem do Estadao, me fascinei sobre esse último grande escritor...que praticamente participou de quase todas as mudanças políticas da União Soviética e a sua transição de governo...esse foi mais que qualquer político de renome...porque ele se aventurou, sofreu,lutou, foi guerreiro e acima de tudo patriota.

FranzE. disse...

Ninguém é perfeito! Soljenitsine também não. Admiro o seu estoicismo, a sua dedicação, o seu empenho para que não se apague a memória do sofrimento de quem esteve no GULAG.

Tenho duas dúvidas, a primeira muito simples.

Do Arquipélago de GULAG, conheço o volume 1. Significa que existe outro volume ou que esse não foi terminado?

Soljentsine refere-se a Máximo Gorki como tendo escrito, juntamente com outros, um vergonhoso livro que enaltecia o trabalho forçado. Conheço Gorki de "A Mãe", nada mais, desconhecia que tivesse participado na propaganda Stalin, que comentário merece?

FranzE.