domingo, outubro 12, 2008

Rússia mostra que ainda tem pólvora nos paióis


Enquanto a economia mundial se afunda numa das suas mais graves crises, os submarinos russos descem às profundezas de mares e oceanos e disparam mísseis que vão atingir alvos a muitos milhares de quilómetros de distância.
Parafraseando um ditado russo, diríamos que a Rússia mostrou que ainda tem muita pólvora nos seus paióis para queimar.
Pois bem, logo de manhã, o Presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, anunciou que o míssil balístico intercontinental Topol, lançado hoje do Norte da Rússia, atingiu o alvo no polígono Kura, no Extremo Oriente do país.
“Acabaram de me informar que a ogiva do míssil Topol caiu na zona do polígono Kura”, declarou Medvedev num encontro com a unidade militar que realizou o lançamento do míssil a partir do Cosmódromo Plisetski.
O Presidente russo sublinhou que a “tarefa foi realizada, e realizada com qualidade”, acrescentando que “isto mostra que a nossa tecnologia funciona, tal como tinha sido planeado”.
Medvedev aproveitou a oportunidade para declarar que a Rússia “irá reforçar a sua componente de combate”.
“Claro que iremos optar por novos tipos de forças e meios de combate. Mas também é claro que continuaremos a realizar lançamentos dos tradicionais mísseis balísticos, que temos à nossa disposição”, afirmou.
“A sua eficácia foi demonstrada pelo tempo, e isso é muito bom, isso mostra que o nosso escudo está em ordem”, concluiu.
O Topol é um míssil balístico que possui um alcance extremamente elevado (superior a 5.500 km) e pode portar armas nucleares.
Algumas horas depois, foi anunciado mais um recorde das armas russas.
O submarino nuclear Tula, da Armada do Norte da Rússia, lançou pela primeira vez, a partir do Mar de Barentz, um míssil balístico Sineva contra um alvo no Oceano Pacífico.
O lançamento foi presenciado pelo Presidente Medvedev a bordo do cruzador Admiral Kuznetsov.
“Pela primeira vez na história da Marinha da Rússia, o lançamento foi feito não para o habitual polígono Kura, na Kamtchatka, mas para a região equatorial do Oceano Pacífico. Trata-se de verificar o nível de preparação das forças nucleares navais com o lançamento de um míssil balístico a uma distância aumentada, no quadro das manobras estratégicas Stabilnost-2008”, anunciou Igor Digalo, porta-voz da Marinha russa.
Segundo ele, “todas as medidas de segurança foram respeitadas e foram encerradas à navegação aérea e naval regiões do Oceano Pacífico durante o lançamento do míssil”.
“Durante um dos episódios das manobras, realizou-se o lançamento de um míssil intercontinental Sineva de longo alcance. Devido ao êxito do lançamento, foi fixada a distância de 11 547 quilómetros. É o melhor resultado alcançado por um míssil balístico deste tipo”, considerou o Presidente Medvedev.
“O que nós vimos é uma garantia para um longo período no futuro. Hoje, ainda ninguém mostrou resultados semelhantes em distância”, sublinhou o dirigente russo, que é também comandante supremo das FA da Rússia.
Além disso, durante as manobras, “o navio de combate a submarinos Admiral Levtchenko rechaçou ataques de um submarino inimigo com o emprego de armas anti-torpedo”.
O mesmo Igor Digalo anunciou que dois submarinos nucleares da Marinha da Rússia lançaram com êxito, a partir do Mar do Norte e do Pacífico, mísseis balísticos.
“Os lançamentos foram feitos quando os submarinos se encontravam submersos”, sublinhou. O submarino nuclear Zelenograd lançou um míssil do Mar de Okhotsk, no Extremo Oriente russo.
“O lançamento visou um alvo que se encontrava no polígono Tchija, no Norte da Rússia”, declarou Digalo.
“Por sua vez, o lançamento de outro míssil, também de posição submersa, foi realizado pelo submarino Ekaterimmburg, da Armada do Norte. O lançamento foi feito das profundezas do Mar de Barentz e atingiu o alvo no polígono Kura, na Kamtchatka”, acrescentou.
Igor Digalo sublinhou que “as ogivas dos mísseis atingiram os alvos em ambos os polígonos”.
Ao fim da tarde, chegou a notícia de que tripulações de dois aparelhos da aviação estratégica russa realizaram, no quadro das manobras militares Stabilnost-2008, pela primeira vez depois do fim da União Soviética, lançamentos de mísseis de cruzeiro, informou o Serviço de Imprensa da Força Aérea da Rússia.
“As tripulações dos aviões Tupolev-95MC e Tupolev-160 da aviação de longo alcance levantaram voo, hoje de manhã, de aeródromos para treinar lançamentos tácticos e práticos de mísseis de cruzeiro e realizar manobras com vista à preparação dos aparelhos para participar na liquidação de conflitos armados, de actividade terrorista, de catástrofes naturais e tecnogénicas, na dissuasão estratégica, na garantia da segurança da Federação da Rússia. As tripulações estiveram no ar 11 horas”, lê-se no comunicado publicado.
Segundo o Serviço de Informação da Força Aérea da Rússia, “os mísseis de cruzeiro de treino atingiram com precisão os alvos no polígono”.
“A particularidade do exercício militar de hoje consistiu em que, pela primeira vez depois do fim da URSS, foi lançado um conjunto completo de mísseis de cruzeiro a partir de cada um dos aviões que participou nas manobras”, sublinha o comunicado.
Os aviões realizaram também uma missão de patrulhamento planeada nos Oceanos Glaciar Árctico e Atlântico.
“Os aparelhos da aviação de longo alcance foram acompanhados, durante o voo, por caças da NATO. As tripulações treinaram também o reabastecimento dos aviões no ar”, informa a Força Aérea russa.

12 comentários:

MSantos disse...

O submarino que o lançou, se for o da foto, é um gigantesco Typhoon, o maior submarino do mundo (dos 5 construídos, só está um no activo, o Dimitri Donskoy. Existem 2 em estaleiro aguardando modernização).

José Milhazes: uma pequena correção: o Admiral Kuznetsov é um porta-aviões (o único da armada russa) no sentido clássico do
termo. O engano provavelmente terá sido na tradução dado os russos não possuirem a designação "porta-aviões" mas sim "cruzador de aviação".

Cumpts

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Msantos, talvez você tenha razão. Reconheço não ser forte em assuntos de armamentos. Os russos têm os dois termos, mas eu não imaginava que fossem sinónimos, julgava que fossem naves de diferentes categorias. Vou ter em conta, obrigado.

Anónimo disse...

Estes submarinos, classe typhoon, foram construidos na decada de 80 com o objectivo de atravessar o artico e atingir os EUA dessa posição, nessa altura os EUA tinham uma tecnologia de sonar muito mais avançada do que a soviética e todos os submarinos nucleares soviéticos eram alvos faceis, porem no articos os americanos não os conseguiam interceptar.
Neste momento se estes submarinos estiverem equipados com uma tecnologia sonar ao nivel da americana são armas temiveis.
Cada submarino transporta 20 missies SLBM e cada missil tem 10 ogivas, são no total 200 ogivas, se um destes submarinos for utilizado com sucesso pode destruir por completo um país como os EUA.

bruno.

MSantos disse...

Os russos não utilizam o termo "porta-aviões" nos seus navios e só nos estrangeiros por uma simples razão:

Existe uma convenção (montreux ou qualquer coisa do género) que ainda vem de cerca da 1ª guerra mundial e proíbe o trânsito de porta-aviões no estreito de Dardanelos. O único estaleiro que pode assemblar porta-aviões para a Rússia, está em Nicolayiev, na Ucrânia. Ora ao mudar a designação, as naves russas podem sair do Mar Negro, rumo ás outras frotas, caso contrário, ficariam aí "engarrafadas".

Cumpts

Anónimo disse...

Apesar de toda esta demonstração do arsenal estratégico, a frase mais importante é a de Medvedev quando diz que “(...) iremos optar por novos tipos de forças e meios de combate”. É no campo convencional que se travarão as principais guerras russas do futuro, e é aqui que tem de haver investimento, o qual, aliás, está a ser feito. Mas mais do que equipamento, o que a Rússia precisa é de treino.

Obrigado Manuel Santos, tabém não conhecia esse pormenor de designação. A Convenção é mesmo a de Montreux.

Anónimo disse...

Caro Manuel,

Permita-me uma pequena correção. Foram construídos 6, 1 está em serviço como você disse, 3 foram desmontados na década de 90, no processo de desmantelamento comandado pela NATO e infelizmente sancionado por Ieltsin, porém existem 6 submarinos de grande porte em processo de modernização. Suspeita-se que os 3 Typhoons desmontados estão sendo remontados e modernizados, como já ocorreu com muitos armamentos que sofreram este processo na década referenciada.

A Convenção é datada de 1936,e da à Turquia o controle absoluto sobre o estreito, com concessão para os navios civis e limitações para belonaves e exclusão para porta-aviões. A Rússia mudou a designação do (Kiev) e Kusnetsov para obter o acesso e já vem fazendo isso desde 1991.

Abraço,

Anónimo disse...

Esta arma, o submarino typhoon ou akula, é um submarino(o unico) que pode lançar ataques do artico, nesta area, os EUA não têm capacidade maritima de os atingir, cada um tem 20 missies SLBM e cada um desses misseis transporta 10 MIRVS, resumindo, este submarino pode assumir 200 alvos distintos, se esses alvos forem 200 cidades americanas, imaginem o resultado.
Este tipo de armas foram contruidas apénas com o objectivo de destruir países, são armas dissuasoras, tanto a russia como os EUA não deveriam constuir armas deste genero, pois garantem a destruição mutua assegurada.
O capitão de cada um destes navios tem o poder de lançar um ataque nuclear quando lhe apetecer, sempre acreditamos que estas armas são controladas por ser humanos sãos, mas pode um dia alguem com graves disturbios mentais ter o controlo de uma destas armas e o resultado não vai ser bonito.
O mundo sobreviveu a uma guerra fria, mas já estão a abusar das probabilidades..

bruno

Maquiavel disse...

Mais uma vez voltamos a um tema da Guerra Fria: enquanto a economia estava a decair, nada como mostrar os músculos, para ao menos aumentar a auto-estima interna, e dizer aos "externos" para näo se aproveitarem da fraqueza económica.

Vem-me à ideia o difícil jogo "Crise no Kremlin" (Spectrum Holobyte 1991)... mas ao contrário! A única maneira em que cheguei ao fim do jogo (2018, após 33 anos de glorioso poder soviético) foi logo em 1985 cortar em 90% o orçamento militar e orientá-lo para bens de consumo.

Começo a pensar uma coisa... como o "Ocidente" sabe do "complexo de estrangulamento" de que sofre a Rússia, nada como manter a ameaça latente (OTAN às portas de Moscovo) para que os ganhos do petróleo e gás natural näo sejam investidos na melhoria das condiçöes de vida das populaçäo russa (que bem precisa), para que os desgraçados continuem a comprar os bens "ocidentais" feitos na China.
Porque pelos vistos häo duas maneiras de pör o povo orgulhoso:
1 - por "ter a barriga cheia"
2 - pelo respeito imposto pelas armas aos adversários externos

Mas isto sou eu a dizer... mas que tudo isto é triste, é!

MSantos disse...

Obrigado pelas vossas correcções

Cumpts

Anónimo disse...

Realmente a Rússia está a levantar a cabeça de novo mas não ignoremos outras potências. Os russos têm o dinheiro para o fazerem mas os outros de certeza que não passaram este tempo todo a dormir. Portanto essa coisa de nos fazer tremer de medo não é nova. Obviamente que temos de respeitar e deixar de pensar que eles são pobres e não têm nada a fazer... Eu tenho cuidado com eles mas o resto do mundo de certeza que não dorme.

Anónimo disse...

Realmente a Rússia está a levantar a cabeça de novo mas não ignoremos outras potências. Os russos têm o dinheiro para o fazerem mas os outros de certeza que não passaram este tempo todo a dormir. Portanto essa coisa de nos fazer tremer de medo não é nova. Obviamente que temos de respeitar e deixar de pensar que eles são pobres e não têm nada a fazer... Eu tenho cuidado com eles mas o resto do mundo de certeza que não dorme.

Anónimo disse...

Realmente a Rússia está a levantar a cabeça de novo mas não ignoremos outras potências. Os russos têm o dinheiro para o fazerem mas os outros de certeza que não passaram este tempo todo a dormir. Portanto essa coisa de nos fazer tremer de medo não é nova. Obviamente que temos de respeitar e deixar de pensar que eles são pobres e não têm nada a fazer... Eu tenho cuidado com eles mas o resto do mundo de certeza que não dorme.