terça-feira, janeiro 20, 2009

Perguntas em russo, respostas em ucraniano


Publico aqui um artigo que escrevi para a Agência Lusa com vista a dar uma ideia da liberdade de expressão na Ucrânia, bem como de um fenómeno, para mim insólito, como o "bilinguismo" na televisão ucraniana.

"Na Ucrânia pode faltar muita coisa, mas ninguém se pode queixar de falta de pluralismo na informação.

Dez canais televisivos chegam aos lares da maioria dos ucranianos e a luta entre os grupos políticos e financeiros que os controlam garantem um raro pluralismo no campo informativo.

“Esse é talvez um campo onde deixamos a Rússia muito para trás”, declarou à Lusa o editor ucraniano Igor Tkalenko, sem esconder o seu orgulho.

“A imprensa escrita, sendo muito numerosa e plural, pode não chegar a todos os cantos do país, mas a televisão e a rádio chegam, podendo os ucranianos fazer uma ideia do que se passa no país e no mundo”, acrescentou.

A televisão ucraniana oferece diariamente programas de informação e talk-shows políticos em directo, alguns dos quais com uma duração de quatro horas e mais.

“Claro que é impossível ver tudo, mas, em épocas de crise, tento não perder os mais interessantes”, reconheceu Larissa, professora universitária de Kiev, em declarações à Lusa.

Mas se algum telespectador tiver dúvidas sobre a imparcialidade dos canais televisivos ucranianos em relação, por exemplo, à “guerra do gás” com a Rússia, pode sintonizar canais televisivos russos que, a partir de Moscovo, transmitem uma imagem unilateral e tendenciosa, ao gosto do Kremlin.

“Ao compararem a forma como é dada a informação, os telespectadores concluem quem e onde limita a liberdade de expressão”, sublinhou o editor ucraniano.

Outro aspecto curioso e inédito é o facto de os programas, nos canais da Ucrânia, poderem ser transmitidos numa mistura de línguas russa e ucraniana. Por exemplo, o jornalista que conduz o talk-show político faz perguntas em russo e os convidados respondem em ucraniano, saltando a conversa de uma língua para outra sem que surjam problemas para qualquer um dos interlocutores.

“As línguas russa e ucraniana são muito próximas, como o espanhol e o português. Todos os ucranianos falam russo e não ficam ofendidos se tiverem de passar para a língua do país vizinho”, explicou Vladimir Dolin, jornalista russo do canal televisivo Ukraina.

Isto faz com que alguns conhecidos jornalistas russos, que começam a ter problemas políticos na Rússia, venham trabalhar para órgãos de informação ucranianos.

Recentemente, as autoridades ucranianas tentaram obrigar, através da aprovação de novas leis, a dobragem para língua ucraniana de filmes e programas russos, mas elas não são cumpridas.

Uma autêntica “salada russa”!, pensa qualquer estrangeiro ao tomar contacto com tão insólita realidade."

9 comentários:

Jest nas Wielu disse...

Quem é ortodoxo, pode participar na escolha democrática do novo Metropolitano da Igreja Ortodoxa Russa, a minhe escolha é Daniil, o Arcebispo do Japão!

http://www.zapatriarha.ru/vote.php?id=180

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor, isso é que era bom! Eu, não sendo ortodoxo, tenho quase a certeza de que Kirill será o próximo patriarca. O Kremlin assim o quer.

Anónimo disse...

Sr. Milhazes, o nosso amigo ukraniano parece estar a escarnecer, e o sr. leva tudo a sério. A eleiçao parece que nao tem nada a ver com a igreja ortodoxa russa, deve ser um projeto tipo "anti-nome da Russia".

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Leitor anónimo, estou ao corrente da famosa "eleição" do Arcebispo do Japão, mas olho com simpatia para ele. POrque é que ele não pode ser eleito Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa se é um hierarca eminente dela? Ou a escolha ´só pode ser entre Kliment e Kirill?

Anónimo disse...

Jose Milhazes

Porque ainda é cedo Portugal eleger um presidente negro :)
P.S. De maneira nenhuma duvido dos méritos do bispo, pode ser até que seja realmente mais cincero nos seus atos como membro da igreja.

Gilberto disse...

Vou votar no que tiver a barba mais longa!(risos)

Unknown disse...

Caro José, na expressão:

"...é o facto de os programas, nos canais da Ucrânia, puderem ser transmitidos..."

penso que o correcto seria "...poderem ser transmitidos..."

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Aliocha, tem razão, caro amigo. Vou já emendar. A idade não perdoa!

Anónimo disse...

Parcialidade praticamente não existe na imprensa em geral, pelo simples fato que o ser humano não é um ser imparcial, todos tem sua opinião e seu ponto de vista sobre um assunto