No dia 10 de Fevereiro de 1837, falecia Alexandre Puschkin, o maior dos poetas russos. Dois dias antes, Puschkin tinha ficado mortalmente ferido num duelo com o oficial francês d'Anthes e acabou por falecer na casa de uma senhora de origem portuguesa: Juliana Strogonova, filha da grande poetisa lusa Marquesa de Alorna.
Como um dos capítulos da minha tese de doutoramento foi dedicado aos contactos entre Puschkin e portugueses ou pessoas com raízes lusas residentes em São Petersburgo, decidi publicar aqui o trecho relativo a esse episódio.
"Puschkin manteve também estreitas relações com descendentes de Dona Leonor de Almeida de Portugal Lorena e Lencastre, a poetisa Marquesa de Alorna.
A família deste grande vulto da literatura portuguesa do séc. XIX, incluindo a própria Dona Leonor, fora vítima da justiça implacável do Marquês de Pombal. O seu pai, o Segundo Marquês de Távora, passou dezoito anos nas masmorras da Junqueira por conivência no atentado contra o Rei D. José I. Ela própria, bem como a sua mãe e irmã, estiveram longamente enclausuradas no Convento de Chelas.
Mas a poetisa estava condenada a sofrer golpes ainda mais cruéis enquanto mãe e patriota portuguesa. Foi profundo o desgosto que lhe deu o facto de o seu irmão, D. Pedro de Almeida Portugal, combater às ordens de Napoleão Bonaparte no mesmo período em que ela, exilada na Inglaterra, utilizava todos os dons da sua palavra para criticar o Imperador Francês.
Além disso, o conde de Ega, que estava casada com a sua filha Juliana Maria Luísa Carolina de Oyenhauser e Almeida (20.08.1782 – 02.11.1864), colaborou activamente com os generais napoleónicos que tinham invadido Portugal em 1807-1808. Mas o que ainda lhe trazia maiores mágoas eram os boatos de que sua filha mantinha relações íntimas com o general Junot, o que escandalizou a Lisboa da época.
Quando os franceses abandonaram o nosso país, a Marquesa de Alorna ordenou à filha que se fosse juntar a ela em Inglaterra, mas Juliana e o conde de Ega decidiram embarcar num dos barcos da esquadra russa, comandada pelo almirante Seniavin, que se encontrava ancorada em Lisboa, e refugiaram-se em Paris. Em 1827, o conde de Ega falecia e Juliana, pouco tempo depois, casou-se com o diplomata russo, o conde Gregori Stroganov.
A ligação amorosa entre Juliana e Gregori Stroganov começara antes, em 1805, em Madrid, quando ele representava o Império Russo junto da Corte de Espanha, e a portuguesa se encontrava na capital espanhola com o marido, que aí representava Portugal. Dessa ligação ilegítima nasceu Idália Obortei (entre 1807 e 1810 – 27.11.1890), mulher que muito contribuiu para a morte trágica de Alexandre Puschkin, num duelo com o oficial francês Georges-Charles d’Anthés.
A família deste grande vulto da literatura portuguesa do séc. XIX, incluindo a própria Dona Leonor, fora vítima da justiça implacável do Marquês de Pombal. O seu pai, o Segundo Marquês de Távora, passou dezoito anos nas masmorras da Junqueira por conivência no atentado contra o Rei D. José I. Ela própria, bem como a sua mãe e irmã, estiveram longamente enclausuradas no Convento de Chelas.
Mas a poetisa estava condenada a sofrer golpes ainda mais cruéis enquanto mãe e patriota portuguesa. Foi profundo o desgosto que lhe deu o facto de o seu irmão, D. Pedro de Almeida Portugal, combater às ordens de Napoleão Bonaparte no mesmo período em que ela, exilada na Inglaterra, utilizava todos os dons da sua palavra para criticar o Imperador Francês.
Além disso, o conde de Ega, que estava casada com a sua filha Juliana Maria Luísa Carolina de Oyenhauser e Almeida (20.08.1782 – 02.11.1864), colaborou activamente com os generais napoleónicos que tinham invadido Portugal em 1807-1808. Mas o que ainda lhe trazia maiores mágoas eram os boatos de que sua filha mantinha relações íntimas com o general Junot, o que escandalizou a Lisboa da época.
Quando os franceses abandonaram o nosso país, a Marquesa de Alorna ordenou à filha que se fosse juntar a ela em Inglaterra, mas Juliana e o conde de Ega decidiram embarcar num dos barcos da esquadra russa, comandada pelo almirante Seniavin, que se encontrava ancorada em Lisboa, e refugiaram-se em Paris. Em 1827, o conde de Ega falecia e Juliana, pouco tempo depois, casou-se com o diplomata russo, o conde Gregori Stroganov.
A ligação amorosa entre Juliana e Gregori Stroganov começara antes, em 1805, em Madrid, quando ele representava o Império Russo junto da Corte de Espanha, e a portuguesa se encontrava na capital espanhola com o marido, que aí representava Portugal. Dessa ligação ilegítima nasceu Idália Obortei (entre 1807 e 1810 – 27.11.1890), mulher que muito contribuiu para a morte trágica de Alexandre Puschkin, num duelo com o oficial francês Georges-Charles d’Anthés.
Como já tivemos oportunidade de ver, Juliana era uma mulher que facilmente se deixava envolver em romances amorosos extraconjugais, mas Gregori Stroganov também estava longe de ser considerado um anjo. Quando representava o seu país em Madrid, ficou famoso pelas suas aventuras amorosas, tendo recebido a alcunha de “diabo”. O grande poeta inglês Lord Byron, que estava ao corrente da sua fama, descreve-o num dos seus poemas como um autêntico “Don Juan”.
Juliana e Gregori oficializaram as suas relações amorosas mais tarde, na Rússia, para onde a portuguesa partira depois da morte do primeiro marido em Paris. Entretanto, o conde russo ficou também viúvo, o que lhes permitiu realizar o casamento ortodoxo, passando ela a chamar-se Iulia Petrovna Stroganova.
Iulia era uma mulher bela e a sua filha, Idália Polética (o apelido russo vem do seu casamento com o coronel de Cavalaria, Alexandre Polética), herdou dela não só os dotes físicos, mas também a sede de aventuras sentimentais e de intrigas amorosas".
Iulia era uma mulher bela e a sua filha, Idália Polética (o apelido russo vem do seu casamento com o coronel de Cavalaria, Alexandre Polética), herdou dela não só os dotes físicos, mas também a sede de aventuras sentimentais e de intrigas amorosas".
Cont.
10 comentários:
Que história fabulosa, senhor Milhazes!
Caro Hugo, ainda só vai no princípio. Tenho um pouco de paciência.
Desculpe, quis dizer: tenha
Que mulher linda!
Vou copiar o retrato.
Está-se a ver que Pushkin era doido por uma portuguesa. Quem diria!
Conte o resto depressa.
Já agora não tem nenhum retrato da mãe? E onde se pode ler mais sobre ela? Essa senhora vale um bom artigo num jornal risso, ò dr. Milhazes. Quem saberá disto na Rússia?
Leitor, tenho um retrato da mãe, mas em papel e, nesta altura, não tenho scaner. Quanto ao ler mais, aguente e leia os próximos capítulos.
Excelente iniciativa para assinalar a efeméride relativa a Pushkin! Está de parabéns, caro José Milhazes.
sabe-se do papel desta poletica na intriga?
Muito interessante. Só fico curiosos de saber como obteve as informações de que Idalia é filha de Juliana e de que Puchkin morreu em casa da mesma Juliana. Cofesso que tenho as maiores dúvidas em relação à primeira, tendo em atenção a correspondência da própria. Mas ela pode-nos ter mentido ...
Enviar um comentário