No início dos anos 70 do séc. XX, o artigo “Contra a Anti-história” de Alexandre Iakovlev (40), alto funcionário do sector ideológico do PCUS, dava início a mais uma onda anti-religiosa.
Criticando as vacilações ideológicas no seio de alguns escritores e poetas soviéticos de renome, Iakovlev escreveu: “Um tem saudade de templos e cruzes, outro chora por cavalos, e um terceiro defende galos... Em muitos poemas encontramos elogios aos templos e ícones, e esta questão já está longe de ser apenas poética... No fundo, por detrás disso está uma posição ideológica perigosa porque contém objectivamente uma tentativa de voltar ao passado”(41).
Além disso, a eleição de um cardeal polaco, Karol Wojtyla, para o cargo de Papa de Roma com o nome de João Paulo II, a sua visita triunfal à Polónia em 1979, bem como a “revolução islâmica” no Irão obrigaram as autoridades soviéticas a tomar novas medidas para travar as ideias religiosas na Rússia. A 21 de Agosto de 1979, o Secretariado do CC do PCUS aprova o decreto “Sobre as medidas para reforçar a propaganda ateísta e o trabalho educativo com os filhos dos crentes”, onde se lê: “O CC do PCUS considera inadmissível que, devido à educação ateísta insuficientemente orientada e eficaz, alguns alunos das escolas primárias, técnicas e superiores participem em cerimónias religiosas, são atraídos pelo clero para as orquestras e coros de música religiosa, escolas, círculos e campos de férias clandestinos”. Nos XVIII e XIX Congressos da Juventude Comunista (Komsomol), realizados entre 25-28 de Abril de 1978 e 18-21 de Maio de 1982, foi lançado o apelo de “não deixar sem castigo um só caso de participação de jovens comunistas em rituais religiosos”.
Mas estes documentos constituíram os últimos documentos anti-religiosos aprovados no período comunistas. As autoridades soviéticas preparavam mais uma campanha anti-religiosa por ocasião do milénio do Baptismo de Kiev, a celebrar em 1988, mas Mikhail Gorbatchov, eleito Secretário-geral do PCUS em Abril de 1985, enveredou pela via da normalização das relações entre o Estado e a Igreja.
Criticando as vacilações ideológicas no seio de alguns escritores e poetas soviéticos de renome, Iakovlev escreveu: “Um tem saudade de templos e cruzes, outro chora por cavalos, e um terceiro defende galos... Em muitos poemas encontramos elogios aos templos e ícones, e esta questão já está longe de ser apenas poética... No fundo, por detrás disso está uma posição ideológica perigosa porque contém objectivamente uma tentativa de voltar ao passado”(41).
Além disso, a eleição de um cardeal polaco, Karol Wojtyla, para o cargo de Papa de Roma com o nome de João Paulo II, a sua visita triunfal à Polónia em 1979, bem como a “revolução islâmica” no Irão obrigaram as autoridades soviéticas a tomar novas medidas para travar as ideias religiosas na Rússia. A 21 de Agosto de 1979, o Secretariado do CC do PCUS aprova o decreto “Sobre as medidas para reforçar a propaganda ateísta e o trabalho educativo com os filhos dos crentes”, onde se lê: “O CC do PCUS considera inadmissível que, devido à educação ateísta insuficientemente orientada e eficaz, alguns alunos das escolas primárias, técnicas e superiores participem em cerimónias religiosas, são atraídos pelo clero para as orquestras e coros de música religiosa, escolas, círculos e campos de férias clandestinos”. Nos XVIII e XIX Congressos da Juventude Comunista (Komsomol), realizados entre 25-28 de Abril de 1978 e 18-21 de Maio de 1982, foi lançado o apelo de “não deixar sem castigo um só caso de participação de jovens comunistas em rituais religiosos”.
Mas estes documentos constituíram os últimos documentos anti-religiosos aprovados no período comunistas. As autoridades soviéticas preparavam mais uma campanha anti-religiosa por ocasião do milénio do Baptismo de Kiev, a celebrar em 1988, mas Mikhail Gorbatchov, eleito Secretário-geral do PCUS em Abril de 1985, enveredou pela via da normalização das relações entre o Estado e a Igreja.
Reconciliação da Igreja e do Estado
A 29 de Abril de 1988, Gorbatchov recebeu no Kremlin Pimen, Patriarca de Moscovo e de Toda a Rússia.
“A perestroika tornou possível uma participação mais activa dos cléricos na vida da sociedade” – declarou então o pai da “perestroika” e da glasnost (42).
Em Junho do mesmo ano, durante as celebrações do Baptismo da Rússia, o Patriarca Pimen declarou: “os cidadãos crentes da nossa Pátria estão unidos com todo o povo soviético no seu envolvimento no processo positivo da reestruturação, no desenvolvimento da democracia e da transparência”(43).
A pouco e pouco, a Igreja Ortodoxa Russa libertou-se do controlo do Comité para Assuntos Religiosos junto do Conselho de Ministros da URSS, que acabou por ser extinto, e do KGB, dando início a uma profunda reestruturação interna, que ainda continua.
Não obstante os mais de setenta anos de perseguições, a Igreja Ortodoxa Russa conseguiu resistir, embora tenha sido extremamente enfraquecida da contenda com o regime ateu. Por isso, tenta recuperar terreno agora que tem novamente possibilidade.
Porém a hierarquia ortodoxa tende a cair num dos mesmos erros do passado, que é “colar-se” ao Estado a fim de conseguir para si um estatuto especial. Num país multicultural e multi-religioso como é a Federação da Rússia, onde coabitam ortodoxos e muçulmanos, budistas e judeus, católicos e protestantes, a Igreja Ortodoxa Russa pretende a “religião oficial” e não esconde que este país, bem como outros do antigo espaço soviético são seu “território canónico”.
Esta atitude da Igreja Ortodoxa tem criado atritos, nomeadamente, com o Vaticano, sendo a principal razão de o Papa João Paulo II não ter visitado a Rússia enquanto chefe da Igreja Católica.
A 29 de Abril de 1988, Gorbatchov recebeu no Kremlin Pimen, Patriarca de Moscovo e de Toda a Rússia.
“A perestroika tornou possível uma participação mais activa dos cléricos na vida da sociedade” – declarou então o pai da “perestroika” e da glasnost (42).
Em Junho do mesmo ano, durante as celebrações do Baptismo da Rússia, o Patriarca Pimen declarou: “os cidadãos crentes da nossa Pátria estão unidos com todo o povo soviético no seu envolvimento no processo positivo da reestruturação, no desenvolvimento da democracia e da transparência”(43).
A pouco e pouco, a Igreja Ortodoxa Russa libertou-se do controlo do Comité para Assuntos Religiosos junto do Conselho de Ministros da URSS, que acabou por ser extinto, e do KGB, dando início a uma profunda reestruturação interna, que ainda continua.
Não obstante os mais de setenta anos de perseguições, a Igreja Ortodoxa Russa conseguiu resistir, embora tenha sido extremamente enfraquecida da contenda com o regime ateu. Por isso, tenta recuperar terreno agora que tem novamente possibilidade.
Porém a hierarquia ortodoxa tende a cair num dos mesmos erros do passado, que é “colar-se” ao Estado a fim de conseguir para si um estatuto especial. Num país multicultural e multi-religioso como é a Federação da Rússia, onde coabitam ortodoxos e muçulmanos, budistas e judeus, católicos e protestantes, a Igreja Ortodoxa Russa pretende a “religião oficial” e não esconde que este país, bem como outros do antigo espaço soviético são seu “território canónico”.
Esta atitude da Igreja Ortodoxa tem criado atritos, nomeadamente, com o Vaticano, sendo a principal razão de o Papa João Paulo II não ter visitado a Rússia enquanto chefe da Igreja Católica.
Fim
2 comentários:
Caro José Milhazes, deixe-me felicitá-lo por este excelente artigo, pleno de riqueza histórica. Tenho estado a acompanhar a sua publicação parcial no seu blog e, simultaneamente, a divulgá-lo a terceiros.
Bem haja!
Caro Andre Zeferino, obrigado.
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