A Empresa de Transformação de Peixe de Murmansk, porto marítimo situado no norte da Rússia, decidiu criar uma “seca” para o bacalhau a fim de o exportar depois para Portugal, Espanha e França.
Até agora, a Rússia, um dos maiores exportadores de bacalhau, exportava, directamente ou através da Noruega, “fiel amigo” congelado ou salgado, sendo Portugal o mais importante cliente desse peixe russo.
“A maioria dos habitantes do norte da Rússia talvez já se tenham esquecido do que é bacalhau seco, duro como a pedra. Antes já era difícil encontrá-lo nas lojas, mas agora é mesmo impossível: como se costuma dizer, tem um cheiro específico e por isso não goza de procura”, escreve hoje o jornal Murmanski Vestnik”.
“Falando sinceramente, não como bacalhau seco. Nós desabituámo-nos a esse peixe, preferimos fresco. Talvez sirva de petisco para a cerveja, mas é salgado demais”, declara Tamara Malakhova, a chefe da nova produção.
“Mas, em Portugal e Espanha, o bacalhau seco é considerado uma especialidade fantástica”, revela o diário, sublinhando que isso levou a um investimento de cerca de 160 mil euros na seca do bacalhau, que irá criar 50 novos postos de trabalho em Murmansk.
“Os trabalhadores estão agora a estagiar em Portugal”, declarou ao diário Mikhail Zub, director da Fábrica de Transformação de Peixe de Murmansk.
Segundo Mikhail Zub, “a produção já começou e, dentro em breve, teremos o primeiro lote de bacalhau seco. Segundo os nossos cálculos, isto começará a dar lucro dentro de um ano. Os principais mercados de escoamento são Portugal, Espanha e França. Neste momento, realizamos conversações sobre fornecimentos para esses países”.
Até agora, a Rússia, um dos maiores exportadores de bacalhau, exportava, directamente ou através da Noruega, “fiel amigo” congelado ou salgado, sendo Portugal o mais importante cliente desse peixe russo.
“A maioria dos habitantes do norte da Rússia talvez já se tenham esquecido do que é bacalhau seco, duro como a pedra. Antes já era difícil encontrá-lo nas lojas, mas agora é mesmo impossível: como se costuma dizer, tem um cheiro específico e por isso não goza de procura”, escreve hoje o jornal Murmanski Vestnik”.
“Falando sinceramente, não como bacalhau seco. Nós desabituámo-nos a esse peixe, preferimos fresco. Talvez sirva de petisco para a cerveja, mas é salgado demais”, declara Tamara Malakhova, a chefe da nova produção.
“Mas, em Portugal e Espanha, o bacalhau seco é considerado uma especialidade fantástica”, revela o diário, sublinhando que isso levou a um investimento de cerca de 160 mil euros na seca do bacalhau, que irá criar 50 novos postos de trabalho em Murmansk.
“Os trabalhadores estão agora a estagiar em Portugal”, declarou ao diário Mikhail Zub, director da Fábrica de Transformação de Peixe de Murmansk.
Segundo Mikhail Zub, “a produção já começou e, dentro em breve, teremos o primeiro lote de bacalhau seco. Segundo os nossos cálculos, isto começará a dar lucro dentro de um ano. Os principais mercados de escoamento são Portugal, Espanha e França. Neste momento, realizamos conversações sobre fornecimentos para esses países”.
15 comentários:
Olhe que não, Milhazes. Nada se compara ao bacalhau norueguês, mas os portugueses deviam deixar de comer bacalhau e dedicar-se aos peixes nacionais. É sempre perigoso estarmos dependentes de outros para termos peixe no prato. Comam sardinhas, mais baratas, mais saudáveis e nacionais. Quem são os heróis do mar, afinal? Russos? Deixa-me rir: LOL. O único que sabe pescar no alto mar por ali é o grande tsar, o resto são pescadores de fim de semana, que vomitam as tripas em águas revoltas. e como Putin gosta mais de sardinhas do que de bacalhau (foi o que ouvi, de boa fonte) acho que as relações de pesca com a Rússia estarão bem asseguradas e até intensificadas se não formos nesta negociata de bacalhau com mau cheiro. Bem, é o que me parece. Uma opinião que vale o que vale.
Leitor Anónimo, parte significativa do chamado bacalhau norueguês é pescado por barcos russos. Além disso, em prol da verdade, devo dizer-lhe que os russos foram e são bons marinheiros.
Nessas parcerias russas-norueguesas não nos devemos meter. Agora quanto aos heróis do mar, quer comparar com os portugueses? Tenha juízo.
“Os trabalhadores estão agora a estagiar em Portugal”
O que me preocupa é que, durante este estágio, o pessoal russo irá provar Bacalhau à Gomes de Sá, à Zé do Pipo, no Forno, com Natas, Espiritual, etc., e depois resolverão ficar com o "fiel amigo" só para si :o)
Agora mais a sério, desconhecia o facto dos russos pescarem e exportarem bacalhau para cá. Sempre pensei que eram só os noruegueses, os espanhois (galegos e cantábricos) e nós.
Leitor anónimo, não se trata de comparar. A saga dos bacalhoeiros portugueses, de que fazem parte numerosos membros da minha família, é única. Acho tratar-se das páginas mais cruéis da nosssa história do séc. XX.
Mas os russos têm também uma forte tradição marítima.
"O que me preocupa é que, durante este estágio, o pessoal russo irá provar Bacalhau à Gomes de Sá, à Zé do Pipo, no Forno, com Natas, Espiritual, etc., e depois resolverão ficar com o "fiel amigo" só para si :o)"
Pippo,
Este apelo gastronômico é difícil de aguentar, assim como o saudosismo de Portugal, quanto ao bacalhau dá para resolver por aqui mas o resto não.
Grande abraço,
Caro José Milhazes:
Concordo perfeitamente consigo, relativamente à dureza extrema da vida do bacalhau.
Estou também de acordo consigo, quando diz que os Russos têm uma forte tradição marítima. No que diz respeito à pesca do bacalhau, nos anos 70 a frota Soviética era, provavelmente, a maior frota de navios de pesca de bacalhau do mundo, formada por modernos arrastões-fábrica, de grande tonelagem.
Jorge Lopes
Boa notícia, talvez dessa maneira o preço do bacalhau poderá descer, em Moçambique 1 kg já chega a uns 20 – 30 USD, dependendo da qualidade. Quando ao sabor, não há que se preocupar, assim como a grande maioria dos portugueses não entende o prazer do caviar, a maioria dos russos não gosta de bacalhau.
Os russos reclamam do bacalhau seco porque não sabem preparar. O fresco eu acho um tanto sem graça.
Pareceu-me interessante citar aqui neste espaço algumas passagens de um livro escrito por um autor americano (que com outra obra ganhou um prémio Pulitzer) e que nos anos setenta do século XX se interessou pela problemática da pesca e dos pescadores no Atlântico Norte, tendo para o efeito embarcado em arrastões das frotas alemã ocidental, espanhola, inglesa, americana e russa. No livro é possível comparar procedimentos, filosofias e métodos de trabalho, cultura e mentalidade das tripulações das frotas dos vários países que pescavam nesta zona, bem como de políticas neste sector levadas a cabo pelos governos respectivos. Embora não falando directamente da frota portuguesa do bacalhau, o livro faz, com alguma frequência, referência a ela e aos homens do mar portugueses, que aqui trabalhavam em navios nacionais ou mesmo em navios estrangeiros (normalmente alemães ocidentais).
Vejamos este pequeno excerto do livro, onde é revelada a simpatia que os pescadores portugueses suscitam:
“Pela sua parte, os habitantes de S. João [da Terra Nova] em geral estão de acordo em que as frotas que os visitam dão à cidade, afinal de contas, uma certa distinção ou “um toque de colorido local”. Eles gostam de classificar as tripulações por nacionalidades, de facto, assim como as tripulações gostam de classificar os portos [que escalam].
“Oh, eles não são um bad lot! - diz-me um motorista de táxi. “De quem eu mais gosto é dos Portugueses. Eles são alegres, está a ver. E então é uma animação quando chega a grande frota branca (os navios à linha Portugueses)! Bandeiras ao vento, os homens a cantar, alguns deles mais tarde a jogar futebol mesmo no cais!”
“Os Russos são os mais corteses, não há problema nenhum” - observa um lojista. “Sempre com o seu melhor comportamento, pode ter a certeza, e compradores muito cuidadosos.”
“Bem, outros dão-nos uns problemazinhos” - confessa um agente de navegação. “As tripulações Britânicas pensam que têm que destruir (“tear up”) a cidade. É uma tradição, parece, com eles. E os Noruegueses, como eles bebem !”
“Oh, they're not a bad lot”, a taxi driver tells you. “I like the Portuguese best. They are the merry ones, you know. And isn't it a bright time when the great white fleet (the Portuguese dory schooners) comes in! The flags flying, the men singing, and some are after playing football right on the dock!”
“The Russians are the most polite, no problem at all”, a storekeeper observes. “Always on their best behavior, you can be sure, and very careful shoppers.”
“Well, now, some do give us a little trouble” - a shipping agent confesses. “The British crews think they have to tear up the town. It's a tradition, like, with them. And how the Norwegians can drink!”Jorge Lopes
O livro dedica dois dos nove capítulos à frota soviética e às suas tripulações. Achei bastante interessante a passagem que se segue, que se refere ao ensino náutico soviético. (A tradução do original americano é feita por mim, pelo que apelo à compreensão do José Milhazes e dos leitores para alguma falta de qualidade da mesma... As citações dentro de parênteses rectos são minhas):
“(...) Igualmente orientado para a sua carreira estava o piloto [do arrastão-fábrica Seliger,] Vladimir Alexandrovich Petrov, um jovem de 27 anos (...). Uma pessoa de falar suave e bem-humorado (...), Petrov era o único entre os oficiais – e possivelmente entre toda a tripulação do Selig - que tinha o pai a trabalhar num arrastão-fábrica. Como ele próprio explicava, no entanto, isto não era muito surpreendente, considerando que a frota de pesca soviética era um fenómeno demasiado recente para ter o tipo de sucessão geracional que se encontra em (...) nações com tradições de pesca mais antigas [como é o caso de Portugal, e que o José Milhazes bem refere]. “Mas o meu pai não me encorajou” - afirmava sempre Petrov. “Eu próprio escolhi a carreira. Terminei a escola secundária aos dezassete anos e matriculei-me directamente num instituto superior”. Com isto, ele queria dizer que tinha saltado um degrau naquele que é provavelmente o currículo de formação em pescas mais completo do mundo. Na União Soviética, a maior parte dos candidatos ao posto de oficial de ponte ou de máquinas [da marinha mercante] conclui a sua formação em uma das vinte e cinco escolas superiores náuticas espalhadas por toda a nação, as quais ministram uma formação vocacional [profissional] excelente, aproximadamente do calibre que se encontra na technische Hochschule (1) alemã, complementada com uma formação geral que é o equivalente de uma boa junior college (2) americana. Um número mais reduzido [de oficiais] irá, no entanto, frequentar os institutos superiores de nível universitário, os quais são obrigatórios apenas para capitães [comandantes], imediatos e chefes de máquinas. Petrov tinha feito esta formação um pouco mais jovem e mais rapidamente que a maioria dos alunos, formando-se após cinco anos de ensino com períodos de ensino teórico na sala de aula alternando normalmente com períodos de formação no navio, no mar. Mas não só: ele frequentou uma carga horária de dois cursos e obteve dois diplomas, um de oficial de ponte e outro de professor do ensino secundário. Este último pode parecer ilógico e um pouco fora do vulgar, admitiu ele, mas como qualificação adicional e certificada dava-lhe o proveito de um pagamento extra. (...)”
(1)[Escola Superior Técnica]
(2)[escola de nível universitário com formação de dois anos, após os quais os alunos se transferem para outra college (faculdade), para obterem o Bachelor's Degree.]
- William W. Warner - Distant Water – The Fate of the North Atlantic Fishermen – Ed. Atlantic – Little, Brown & Co. - 1977, 1983.
Jorge Lopes
Muito interessante, Jorge, muito interessante. Obrigado.
caro anonimo poderia-nos facultar o nome do autor e respectivo livro.
Em relação á tematica do bacalhau seco, reparei que em toda a europa central e de leste que tenha visitado, desde os balticos até á bulgaria o normal é aparecer o bacalhau na forma fresca, a tradição portuguesa deriva da necessidade de salgar os alimentos para as viagens maritimas(frigorificos não eram propriamente parte do mobiliario até finais do sec.XIX nos navios de pesca).E como devem estar recordados o mesmo que hoje e um peixe nobre, até finais de setenta era aparentemente o peixe acessivel as classes mais pobres da sociadade portuguesa.
Caro Milhazes,
Na minha terra, haviam 3 secas de bacalhau. (hoje estão inoperativas)
E toda aquela azafama da descarga do pescado e sucedaneos, assim como o regresso dos pescadoras ás suas respectivas terras (no caso Gafanha,Aveiro etc) ainda aparecem de vez enquanto no "displey" das minhas memórias.
Mas para resumir e não tomar demasiado tempo, sou impluido a afirmar categoricamente que as "lascas" do bacalhau dessas eras, nada tinha a haver com o actual e insonço bacalhau noruegues/russo.
Será por causa dos lixos tóxicos, carcaças de submarinos nucleares, varas de uranio já consumidas (?) pelas centrais nucleares de produção de electricidade que de forma displicente são afundadas pelos russos precisamente nas imediações de Murmansk !!!
Pelo sim pelo não, antes de o comprar vou testá-lo com um leitor gueizer para apuramento da radiotividade residual.
Errata:
1-impluido : impelido
2-insonço : insonso
3-radiotividade : radioactividade
As minhas desculpas aos leitores
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