É daquelas previsões em que gostaria muito de me enganar, mas não parece ser o caso: a Geórgia caminha novamente para um perigoso confronto, que poderá não só desestabilizar a situação no país, mas também em toda a região do Cáucaso.
Como seria de esperar, as conversações entre Mikhail Saakachvili e a oposição falharam e os adversários do Presidente da Geórgia prometem mobilização geral para o afastar do cargo.
O dirigente georgiano considerou o encontro uma "vitória da democracia" e espera a "continuação do diálogo", tendo aberto perante a oposição a possibilidade de ocupar altos cargos nas estruturas do poder.
A oposição recusa as propostas de Saakachvili e declara "mobilização geral".
"A partir de hoje, temos o direito cívico legítimo total de tornar as nossas acções ainda mais agudas, alargar a sua geografia e fazer com que o maior número de cidadãos da Geórgia participe neste processo”, declarou Levan Gatchetchiladzé, um dos dirigentes da oposição, durante o comício da oposição que decorre há um mês junto do Parlamento.
“Mikhail tornou-se absolutamente virtual, vive num mundo virtual e, por isso, no encontro, disse coisas que nada tinham a ver com a realidade”, declarou Salomé Zurabichvili, antiga ministra dos Negócios Estrangeiros da Geórgia e uma das dirigentes da oposição.
“Talvez hoje o nosso diálogo com Saakachvili tenha terminado de uma vez por todas”, concluiu.
A oposição promete bloquear todas as vias de comunicação do país, isolar Saakachvili e obrigá-lo a demitir-se. Mas será que o Presidente georgiano irá permitir semelhante desenrolar dos acontecimentos? A julgar pela história mais recente deste país, o mais provável é que esta disputa se transforme num confronto violento.
Mas vamos imaginar que a oposição consegue afastar Saakachvili por meios mais ou menos pacíficos. E depois? Os catorze ou dezassete partidos da actual oposição irão elaborar novas regras de jogo limpas de forma a que se realizem eleições realmente livres e democráticas? Ou este círculo vicioso irá continuar eternamente?
Recordamos que a maioria dos dirigentes da actual oposição são antigos "companheiros de luta de Saakachvili" e co-responsáveis por muitos dos erros e até crimes de que acusam o Presidente.
A comunidade internacional, particularmente os Estados Unidos, União Europeia, Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, tem sérias responsabilidades nesta crise, pois foram os seus observadores que, em 2007, consideraram "democráticas" e "legítimas" as eleições que levaram Saakachvili ao poder, embora a oposição tivesse falado de "falsificações massivas".
E, agora, Washington e Bruxelas vão aceitar os resultados de levantamentos de rua caso eles conduzam ao derrube do Presidente eleito?
Se assim for, apenas irão eternizar o arbítrio e a ilegalidade.
Mas, por outro lado, parece ser cada vez mais difícil manter por muito mais tempo no poder o Presidente Saakachvili e, por isso, talvez a única saída seja conseguir que as partes do confronto calendarizem eleições presidenciais e parlamentares antecipadas como forma de encontrar uma saída pacífica para a crise. Mas, desta vez, o controlo internacional do escrutínio tem de ser mesmo a sério, para que a crise não se repita como se repetiu no Quirguistão, Moldávia, Arménia, etc.
No que respeita ao papel da Rússia em todo este processo, o Kremlin ficará feliz com a queda de Saakachvili, especialmente se ela ocorrer de forma humilhante, mas não terá na oposição um parceiro de diálogo fácil, pois esta não aceita a separação da Ossétia do Sul e da Abkházia em relação à Geórgia, tece duras críticas à política externa russa no Cáucaso.
A não ser que Moscovo volte atrás na sua decisão de reconhecer a independência das duas regiões separatistas da Geórgia, o que é, actualmente, impensável.
Como seria de esperar, as conversações entre Mikhail Saakachvili e a oposição falharam e os adversários do Presidente da Geórgia prometem mobilização geral para o afastar do cargo.
O dirigente georgiano considerou o encontro uma "vitória da democracia" e espera a "continuação do diálogo", tendo aberto perante a oposição a possibilidade de ocupar altos cargos nas estruturas do poder.
A oposição recusa as propostas de Saakachvili e declara "mobilização geral".
"A partir de hoje, temos o direito cívico legítimo total de tornar as nossas acções ainda mais agudas, alargar a sua geografia e fazer com que o maior número de cidadãos da Geórgia participe neste processo”, declarou Levan Gatchetchiladzé, um dos dirigentes da oposição, durante o comício da oposição que decorre há um mês junto do Parlamento.
“Mikhail tornou-se absolutamente virtual, vive num mundo virtual e, por isso, no encontro, disse coisas que nada tinham a ver com a realidade”, declarou Salomé Zurabichvili, antiga ministra dos Negócios Estrangeiros da Geórgia e uma das dirigentes da oposição.
“Talvez hoje o nosso diálogo com Saakachvili tenha terminado de uma vez por todas”, concluiu.
A oposição promete bloquear todas as vias de comunicação do país, isolar Saakachvili e obrigá-lo a demitir-se. Mas será que o Presidente georgiano irá permitir semelhante desenrolar dos acontecimentos? A julgar pela história mais recente deste país, o mais provável é que esta disputa se transforme num confronto violento.
Mas vamos imaginar que a oposição consegue afastar Saakachvili por meios mais ou menos pacíficos. E depois? Os catorze ou dezassete partidos da actual oposição irão elaborar novas regras de jogo limpas de forma a que se realizem eleições realmente livres e democráticas? Ou este círculo vicioso irá continuar eternamente?
Recordamos que a maioria dos dirigentes da actual oposição são antigos "companheiros de luta de Saakachvili" e co-responsáveis por muitos dos erros e até crimes de que acusam o Presidente.
A comunidade internacional, particularmente os Estados Unidos, União Europeia, Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, tem sérias responsabilidades nesta crise, pois foram os seus observadores que, em 2007, consideraram "democráticas" e "legítimas" as eleições que levaram Saakachvili ao poder, embora a oposição tivesse falado de "falsificações massivas".
E, agora, Washington e Bruxelas vão aceitar os resultados de levantamentos de rua caso eles conduzam ao derrube do Presidente eleito?
Se assim for, apenas irão eternizar o arbítrio e a ilegalidade.
Mas, por outro lado, parece ser cada vez mais difícil manter por muito mais tempo no poder o Presidente Saakachvili e, por isso, talvez a única saída seja conseguir que as partes do confronto calendarizem eleições presidenciais e parlamentares antecipadas como forma de encontrar uma saída pacífica para a crise. Mas, desta vez, o controlo internacional do escrutínio tem de ser mesmo a sério, para que a crise não se repita como se repetiu no Quirguistão, Moldávia, Arménia, etc.
No que respeita ao papel da Rússia em todo este processo, o Kremlin ficará feliz com a queda de Saakachvili, especialmente se ela ocorrer de forma humilhante, mas não terá na oposição um parceiro de diálogo fácil, pois esta não aceita a separação da Ossétia do Sul e da Abkházia em relação à Geórgia, tece duras críticas à política externa russa no Cáucaso.
A não ser que Moscovo volte atrás na sua decisão de reconhecer a independência das duas regiões separatistas da Geórgia, o que é, actualmente, impensável.
38 comentários:
Caro JM, a Rússia voltar atrás no reconhecimento da independência das duas regiões é basicamente impossível. Seria um "perder a face" com consequências inimagináveis para a credibilidade do país e dos seus dirigentes, quer a nível externo, quer a nível interno.
Quanto à legitimidade da tomada de poder nas ruas, recordo-lhe a legitimização que ocorreu com as revoluções laranja e rosa. Nada a que não estejamos habituados, portanto.
De resto, obviamente, partilho da sua opinião (o que não seria difícil): SE, repito, SE a "comunidade internacional" se tornar séria e honesta. certamente que fará todos os possíveis por monitorizar as futuras eleições, que ocorrerão com ou sem o Saakashvili, e ajudarão os novos governantes a dirigir o país de forma digna, da forma que a Geórgia merece. E, quem sabe, talvez a Rússia até possa dar uma mão amiga para a resolução dos problemas, quem sabe?
Abraço,
Caro Pippo, concordo em pleno consigo. Um abraço.
Enquanto isso, está a NATO a desenrolar seu inoportuno jogo de guerra....
SE a "comunidade internacional" se tornar séria e honesta. Com os EUA dando as cartas, sob os auspícios de ingleses, sionistas e japoneses? jamais.
Numa ordem onde há crime de opinião e revisionistas são perseguidos?? Jamis
Só gostava de acrescentar mais uns pensamentos.
A meu ver, Saakachvili está de saída a bem ou a mal. Ao fim e ao cabo também foi de maneira semelhante que ele entrou.
O que me preocupa é se existe motivos para os militares estarem preocupados com a saída dele. Isto porque os militares ganharam muito com a entrada dele, devido ao investimento americano nas forças armadas. Principalmente ordenados.
Saakachvili em desespero pode tentar usar os militares e estes vão ter que decidir qual a melhor maneira de agir e por aqui tanto passa pensamentos de patriotismo como de conforto monetário/poder.
Por outro a saída dele implica o quê para todos os investimentos feitos até aqui?
Muitos militares foram treinados pelos os EUA e também estiveram no Iraque, o que significa que foram criadas ligações. Isto implica que os EUA podem usar estas ligações de modo a garantir que Saakachvili é realmente protegido pelos militares.
E se tivermos divisões dentro da estrutura militar e se aquele quartel significa algo mais, o país arrisca-se a algo grave. Porque a existir algo parecido como uma guerra civil, o pipeline vai ter que ser protegido, mas isto obrigaria a uma intervenção dos investidores, e isso é complicado porque a Rússia está ali ao lado.
A Geórgia é de facto um ponto muito perigoso, porque estamos a assistir à convergência das duas super-potências.
Se as super-potências forem espertas tentarão chegar a um acordo. Recuando mil e tal anos na História, e mais ou menos para a mesma zona, recordo-vos que os Impérios Romano e Parto (e depois também o Sassânida) conseguiram fazer da Arménia um palco neutro (até então passavam a vida em guerra por causa deste território).
Os reis da Arménia seriam da Dinastia Arsácida (que era parta), mas manteriam uma estrita neutralidade nos assuntos regionais. Por seu turno, romanos e "persas" evitariam interferir no território a fim de evitar as guerras altamente destrutivas que consumiam os dois impérios (e que, ao fim ao cabo, acabaram por ditar o fim dos dois impérios orientais).
Será possível "neutralizar" a Geórgia, tornando-a um palco neutro para o Ocidente e a Rússia, quem sabe talvez permitindo uma participação russa nos negócios petrolíferos e gasíferos da Geórgia e que tornam este país tão importante?
Caro Zé Milhazes,
Tem futuro como vidente! :-D
Só lhe falta arranjar um escritório.
O texto está cheio de banalidades e não diz absolutamente nada. Haja paciência.
Que tal se escrevesse sobre aquilo de que é suposto saber, ou seja, a Rússia.
Cumpts.
Zé Pinto
Leitor Zé Pinto, apenas lhe posso pedir que dê o seu contributo para que eu fique mais inteligente e deixe de escrever banalidades. Não quer enviar um texto com os seus sábios conselhos? Seria bem vindo.
Considero que se chegou a um ponto em que nem Rússsia nem USA podem descongestionar a situação. Quem o fizer perderá a face e o futuro de quaisquer relações entre ambos já está condicionado por isto. Não esquecer que não se trata só dos pipelines e da famosa Rota da Seda. Trata-se também de uma base de extrema importancia para um futuro conflito contra o Irão
Lukin
Bom, espero que a dita cuja oposição levará mais um pouco de cargas policiais e quando acabarem os seus fundos, eles vão para casa, contar aos filhos, netos e namorados sobre a sua participação na tentativa do golpe do estado.
Abençoados sejam as balas da borracha do MINT georgiano!
Quem sabe ler russo, vem ai um interessante verso, “Eu que fuzilei Che Guevara”, estou a trabalhar na sua tradução portuguesa.
Em língua russa:
http://yun.complife.ru/1st.htm
Em língua siberiana:
http://volgota.com/rasstrieliavshy-ia-sam-chie-gievaru
Já acompanho este blog à algum tempo mas decidir apenas postar comentarios hoje. Como blog entendo que os textos são uma visão pessoal e passional dos temas e não a visão desligada do jornalista. Parabéns pelo blog e boa continuação
Lukin
"Será possível "neutralizar" a Geórgia, tornando-a um palco neutro para o Ocidente e a Rússia, quem sabe talvez permitindo uma participação russa nos negócios petrolíferos e gasíferos da Geórgia e que tornam este país tão importante?"
Na minha opinião, não.
A Geórgia é perigosa, porque é a porta de entrada para o Cáspio. Nesta àrea quem reina é a Rússia. Esta está a "jogar" em casa e está à defesa.
Quero eu dizer que o objectivo da Rússia é impedir o acesso aos EUA ao Cáspio e os EUA tem como objectivo abrir um corredor, para tal precisam de bases e a melhor e mais efectiva maneira de fazer isso é a Geórgia ser integrada na NATO. Cada país que entra na NATO é menos uma zona onde a Rússia pode actuar.
Ora o objectivo final não é a Geórgia, a Geórgia é simplesmente o ponto de entrada. É necessário entrar também no Azerbeijão que também já recebe muitos investimentos e algum material americano. E neste também temos tido umas eleições muito engraçadas, mas dado que não está para entrar para já na NATO nem na UE, mal se dá por ela.
Tendo estes dois, fica estabelecido um corredor para o Cáspio, podendo controlar e influenciar todos os países em redor. E isto é também necessário, porque não basta construir um pipeline, tem que ser garantido o fornecimento e o facto de estar ali um pipeline não quer dizer que a energia passe por ali. Se os EUA não controlam pelo menos a Geórgia e o Azerbeijão, toda a sua estratégia/investimento fica em perigo, isto porque não é só deste lado que estão a aparecer pipelines, são do lado asiático, e estes têm o suporte da Rússia.
A única coisa que eu vejo ali que "neutralize" a Geórgia é um acordo em que aquele e só aquele pipeline (ocidental) existirá na zona e não haverá adesão à NATO nem os EUA poderão estabelecer bases tanto na Geórgia como no Azerbeijão.
O pipeline BTC terá sempre petróleo para ele, em troca não poderá haver mais tentativas de chegar ao Cáspio.
É uma situação que não é boa para o Ocidente, pois coloca em xeque toda a estratégia para esta zona.
Mas a alternativa é bem pior. A não haver um acordo entre as potências, a Geórgia arrisca-se a ser terra queimada de modo a garantir que não sejam abertas bases americanas(já nem falo da NATO, pois haverá países europeus pronto a vetar a adesão) a iniciativa a haver terá que ser americana.
Resumindo, enquanto os EUA acharem que ainda é possível obter acesso ao Cáspio, não vão fazer acordos e enquanto não houver um acordo, é a Geórgia que vai sofrer.
Na minha opinião, se a Georgia abdicasse da NATO e se tornasse aliada da Rússia reaveria as suas regiões separatistas de volta.
Provavelmente a Rússia está a guradar esse trunfo para esse efeito.
Cumpts
Manuel Santos
PM, chegou precisamente onde eu queria que chegasse :o)
A "neutralização" adviria de acordos mediante os quais O Ocidente deixaria de querer a Geórgia na NATO, os investimentos em pipelines no Caucaso não avançariam muito mais e a Gazprom ou similar entraria no consórcio de exploração daqueles. Todos ganhariam, ninguém ficaria a perder.
Sim eu percebo o que quer dizer, mas a questão é quanto tempo vai demorar o Ocidente a perceber que isso será a melhor solução, para lidar com a situação tal como ela está hoje?
Não era isto que o Ocidente tinha em mente, quando começou a construir o pipeline.
E enquanto não se decide qual a melhor solução o que irá acontecer na Geórgia?
O que acontecerá? Revolução.
Agora que as conversações, aparentmente, falharam, e sabendo a oposição que não é com manifestações que vai lá, provavelmente terá de avançar para outros métodos. A insurreição parece-me o passo mais óbvio.
Quanto aos militares, creio que não é pelo facto de terem estado no Iraque que eles irão apoiar o governo. Os militares sabem o que o povo quer e sabem o quanto foram humilhados por causa das parvoices do Saakashvili.
desaguar é excelente verbo para aplicar à situação, pois mete água por todo o lado
Pippo,
O facto de ter falado no Iraque, é apenas para pensar em ligações entre soldados. Uma ligação adicional e ainda por cima num teatro de guerra.
O preocupante nos militares é que Saakachvili "engordou" a estrutura. Eles estão a ser bem pagos e eles sabem muito bem de onde está a vir o dinheiro.
Dê uma olhadela a isto e veja as implicações:
Artigo de 2004
...The state of the military had degraded to the point of near mutiny in May 2001, after lacking basic necessities like new uniforms and enough food. According to statements made by then defense minister Davit Tevzadze in March of that year, the soldiers had not received salaries in over a year. The defense department was reportedly receiving less than 20% of funds promised by the budget that year...Saakashvili announced plans to eventually convert the conscript army into one made up of professional soldiers on a contract basis. There was no date given for the change.
http://www.cacianalyst.org/?q=node/2653
Artigo de 2007:
President Saakashvili instructs defence minister to raise servicemen's salarie...
...The Georgian president charged the defence minister with increasing the salaries of all military personnel serving on a contract basis from the start of 2008...
http://www.president.gov.ge/?l=E&m=0&sm=1&st=350&id=2186
Julho 2008
Georgia increases troops, budget for military
Georgia's parliament unanimously approved an increase of 5,000 soldiers and a 26.8 percent rise in military spending on Tuesday, days after Russia's air force admitted to flying over Georgian airspace...
The increase in Georgian troops will take its armed forces to 37,000. Last year it increased from 20,000 to 32,000.
The extra $209.2 million for defence takes total military expenditure for the year to $989.3 million.
http://uk.reuters.com/article/latestCrisis/idUKL1573777820080715
repare que os valores aproximam-se dos 1000 milhões, mas há coisa de uns 6 anos atrás, nem chegava a 80 milhões. Será que toda a gente na Geórgia teve este aumento de qualidade de vida em poucos anos?
Não é preciso olhar muito, para ver que os militares passaram a ter uma vida muito melhor com Saakachvili, houve aumentos brutais para o Orçamento de defesa nos últimos anos, uma fatia enorme de dinheiros públicos estavam a ir para a defesa.
Será que estes vão morder a mão que os alimenta?
Pois, de facto os aumentos foram brutais, mas até que ponto quererão eles lutar contra o seu próprio povo para defender aquele que lhes deu dinheiro para a mão e depois os fez passar por provações humilhantes?
Para os militares da (se não estou em erro) 4ª Brigada de Infantaria, a sua vontade de apoiar Saakahvili não deve ser grande.
Amigos,
Hoje o fato da Georgia entrar na Otan ou não já não é mais a questão principal, com o controle sobre a Ossétia do Sul a Rússia estrangulou 55 km do pipeline, a construção de um desvio levará 5 anos e até que seja concluído a Rússia providenciará outros pontos de estrangulamento. Infelizmente as atitudes adotadas pela Otan nos últimos anos já disseminaram a total falta de confiança para os russos, e os interesses ocidentais nos recursos da Ásia Central e do Caucáso já são evidentes há muito. A Rússia não aceitará nenhum acordo que implique na perda do controle destes recursos e muito menos na abertura de um corredor que torne vulnerável o seu quintal. Para Geórgia existem duas soluções a UE e os Estados Unidos continuarem injetando dinheiro a fundo perdido e sustentarem sucessivos governos instáveis ou a mesma buscar um acordo de boa vizinhança com a Rússia e afastar seus anseios de integrar a Otan, mesmo que as relações voltem a se tornar amistosas a Rússia não concordará com a reintegração das repúblicas separatistas pois passaram a representar um importante componente estratégico.
http://www.echo.msk.ru/programs/razvorot/591333-echo/
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Pra quem entende russo aí vai a entrevista de Saakashvili à rádio Eco de Moscou.
Caro JM,
Como de certo modo para mim existe ligação, dê uma olhadela a este artigo:
Japan, Russia to Sign Siberian Oil Exploration AccordJapan Oil, Gas & Metals National Corp., a state-owned explorer, and Russia’s Irkutsk Oil Co. will jointly develop two fields in eastern Siberia as Japan seeks to reduce reliance on supplies from the Middle East...Japan’s government has been lobbying for the completion of the oil pipeline to link the Russian coast with untapped reserves in eastern Siberia.
http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20601072&sid=ayKTcOwtAQGQ
O quero chamar a atenção disto é que o 2º e 3º maiores importadores de energia (China e Japão) estão a fazer cada vez mais negócios com a Rússia de modo a que seja canalizado para eles a energia de que tanto necessitam. Para estes é uma óptima vantagem todos os problemas que surgem com os actuais fornecimentos á Europa. Se a Europa cria tantos problemas para o fluxo de energia, canalizem para nós países asiáticos, que estamos dispostos a investir o necessário.
Ter em mente que o Japão tem enormes necessidades de energia, tendo sido duramente criticado pelos os EUA, por ter feito um contrato enorme de fornecimento de gás com o Irão. Os EUA exerceram pressão, mas o Japão ignorou.
Volto a dizer que é mais fácil à Rússia encontrar clientes do que a Europa encontrar alternativas, para um fornecedor do tamanho da Rússia e se a Gazprom tiver dificuldades de liquidez para fazer face aos investimentos que estão a ser feitos, os clientes avançam tal como a China já o fez recentemente.
Toda esta situação de problemas em direcção ao Ocidente, favorece os pipelines em direcção à Àsia.
Caro Portuguese Man, é evidente que discordo da tese de Milhazes.
"A Geórgia é de facto um ponto muito perigoso, porque estamos a assistir à convergência das duas super-potências."
Foi. Já passou. Os Estados Unidos perderam, e não é este cobarde "tree-hugging" do Obama que vai enfrentar Putin e companhia.
Os Estados Unidos perderam, a Geórgia está nas mãos da Rússia.
É imperioso - para todos - que Saakashvili seja corrido do poder. Quem virá a seguir é um problema dos Georgianos.
E mais uma coisa: "destabilizar o Cáucaso"? Como assim? Só se for através do Pipeline mas, mesmo que destruam o Pipeline, o que vão fazer?
O perigo aqui já passou. Para todos menos os Georgianos.
Caro PM, olhe com atenção para o mapa e para as dimensões da Rússia. Seria um erro estratégico se Moscovo apostasse em se virar para um dos lados, a Europa ou o Oriente. O petróleo e o gás que correm para a Europa são do Norte da Rússia e da Sibéria Ocidental, enquanto que os hidrocarbonetos que vão para o Oriente são extraídos na Sibéria Oriental e Extremo Oriente. Ou seja, não se coloca a alternativa de se não vender para um lado, vende-se para outro. Claro que a diversificação é importante e deve ser levada em conta, mas um lado não substitui outro.
A cooperação com a Europa é um factor incontornável para a Rússia, e vice-versa, o resto são meras especulações teóricas.
Caro Recuperado, se fosse assim tão simples o mundo...
Caro JM,
Olhe para as dimensões do mundo. Desde quando é que a distância é factor para transporte de energia?
Não é um erro estratégico. É uma resposta a movimentações da NATO. A Rússia prepara-se para escolher os seus clientes. Existe procura, cabe à Europa o quanto quer comprar, respeitando o fornecedor.
Existirá cooperação com os países da Europa que respeitem as necessidades de segurança da Rússia. Com os outros, estes terão que decidir.
Em relação a distãncias, é bom não esquecer o seguinte, estão a ser construidos/planeados novos pipelines pela Àsia Central e quantos países da Àsia central, têm ligações com a Rússia? muito do petróleo destinado à Europa pode ser desviado.
Da mesma maneira que barcos transportam petróleo pelos mares, os comboios fazem isso por terra. Você tem acompanhado os projectos de caminho de ferro que ligam a Europa à Coreia do Sul? Que têm andado atrasados porque a situação piorou com a entrada de Bush e que colocou a Coreia do Norte como um dos países do eixo do mal? Esta linha passa pela Rússia e está a crescer de importância.
Caro PM, eu estou de acordo consigo, mas não vou ao ponto de pensar que a Rússia possa ditar as regras do jogo, reconhecendo, porém, que o seu poder de negociação aumenta.
Além disso, há mais uma nota. A exportação de conbustível, por si só, pode não resolver os problemas fundamentais. Tal como tem acontecido até hoje, a Rússia poderá continuar a exportar mais e mais combustíveis, mas o dinheiro por isso originado ser esbanjado. O fundamental é que se não esqueça a modernização e a diversificação do tecido produtivo e económico. Se este último factor for levado em conta pelos dirigentes russos, maior importância adquirirá a cooperaçáo com a Europa.
Saakachvili colheu os ventos que semeou.
"Rússia possa ditar as regras do jogo, reconhecendo, porém, que o seu poder de negociação aumenta."
Eu também não vou dizer que dita as regras do jogo e é como diz, o seu poder de negociação está a aumentar. e muito.
"O fundamental é que se não esqueça a modernização e a diversificação do tecido produtivo e económico."
Mas eu acho que isso está a ser feito. Agora este tipo de mudanças requer persistência/estabilidade política, tempo e dinheiro.
Caro Recuperado,
"O perigo aqui já passou. Para todos menos os Georgianos"
Não passou. Estamos a falar de energia, uma necessidade vital para todos. Ainda vamos ver mais uns episódios desta novela.
Vocês lembram-se do arquiduque Francisco Ferdinando, ...desencadeou a Primeira Guerra Mundial. no jogo do poder entre nações qualquer motivo pode levar a guerras...
Gostaria de entender qual a real importância da Geórgia tanto para os russos, quanto para a OTAN. É simplesmente militar ou são seus campos de petróleo (ou ambos)? Como a Rússia mantêm tanta influência na Geórgia se nem governo nem oposição são pró-russos?
Caro JM, O "problema" aqui deriva do facto da Rússia ser o "Hearthland", o "pivot geográfico da História", nas palavras acertadas do H. Mackinder. Nessa posição, ela pode optar para qualquer um dos lados pois, na verdade, está no meio. É uma verdadeira bicefalia estratégica que está na génese da ascenção de Moscóvia ao estatuto de potência.
Na minha opinião, o erro estará em Moscovo optar APENAS por um dos lados. Talvez por isso se estejam a seguir, de uma forma ou de outra, as teses eurasianistas do Dugin e afins. Porque a direcção russa compreende a sua posição geográfica e as oportunidades e desafios que isso lhes coloca.
Mas evidentemente, concordo consigo: para o país se desenvolver, ele tem de deixar de ser um mero exportador de energia (e esbanjador dos proveitos daí decorrentes) e apostar no sector secundário e terciário, nomeadamente da economia da informação.
Ab,
Sr.Milhazes e Pippo,
Concordo plenamente com vocês que a Rússia necessita diversificar sua indústria e também modernizá-la tornando-a compatível com as necessidades de uma economia de mercado. Só que o detalhe é que para fazer isso ela necessita dos dividendos gerados pelos recursos naturais e para ter estes dividendos ela necessita do controle destes recursos e tranquilidade para desenvolver estes projetos. Agora fica pergunta de quando foi que a Otan/UE, permitiu esta tranquilidade, já que desde a desintegração da União Soviética a organização e os Estados Unidos não deram trégua em avançar sobre a zona de influência econômica e estratégica da Rússia?
Desta forma não resta à Rússia outra alternativa que não a constante queda de braço que temos visto até agora.
Caro Pippo, esse tipo de Geopolítica foi chão que já deu uvas, estamos num mundo completamente diferente. As teses do Sr. Duguin podem ser muito atraentes para alguns, mas pouco têm a ver com a realidade. Toda a obra desse senhor fede a anti-ocidentalismo. E a aliança da Rússia e o mundo muçulmano mais ortodoxo que ele defende? A realização dessas ideias, no mínimo, atrasarão a aproximação da Rússia e da Europa.
Claro que a Rússia é uma enorme potência com saídas para Leste, Ocidente, Norte e Sul, e pode manobrar. No entanto, o que fazer no Extremo Oriente? Do lado russo da fronteira vivem apenas alguns milhões, mas do lado chinês vivem centenas de milhares de chineses. A Rússia está "partida" em duas partes, pelos Urais, e terá de fazer grandes esforços para a sua coesão. E o problema não está no "perigo amarelo", mas na incapacidade de Moscovo em desenvolver o Extremo Oriente e Sibéria Oriental e em reforçar as ligações com a parte europeia.
Quanto à Hearthland, poderemos continuar a discutir, mas a nível muito teórico.
Caro Pippo, poderemos também falar do princípio da "Anaconda", lembra-se?, só que deixou de funcionar com o aparecimento de bombas atómicas e mísseis balísticos.
Caro Felipe, a importância da Geórgia é estratégica. Não tem petróleo, nem gás, mas é um excelente corredor para a passagem de oleo- e gasodutos.
A Rússia está "partida" em duas partes, pelos Urais, e terá de fazer grandes esforços para a sua coesão. E o problema não está no "perigo amarelo", mas na incapacidade de Moscovo em desenvolver o Extremo Oriente e Sibéria Oriental e em reforçar as ligações com a parte europeia.Sem contar que a Rússia tem um grave problema de déficit populacional.
Lamento discordar de si, José Milhazes, mas o princípio eurazianista não só não foi chão que deu uvas como já deu o salto para a Turquia (Avrazia)!
Até há um interessante artigo (em pdf) da Jamestown Foudation sobre isso (autora Marlène Laruelle).
É curioso ter referido o "Cordão Sanitário" (ou política da Anaconda) que foi criado à volta da Rússia bolchevique. É que é, precisamente, o que a NATO/EUA procura fazer ao aproximar-se das fronteiras russas, a Oeste, e cortar-lhe o acesso ao Cáucaso e à Ásia Central (política essa que está a falhar).
No Leste, que pode ela (Rússia) fazer? A demografia não perdoa. Mas poderá desenvolver o território com fundos chineses, desde que saiba controlar, ou mesmo barrar as portas à imigração. Mas concordo consigo na medidem que a Sibéria será um desafio para Moscovo.
1. Essa coisa de “respeitar o fornecedor” não consigo entender. Então quando o PortugueseMan vai a um restaurante em Lisboa, ajoelha-se e beija a mão do servente? Exorta as virtudes masculinas do patrão do seu talho / peixaria? Ou apenas entra, come, paga e segue?
2. Dugin, meu deus Dugin, satanista mais ou menos disfarçado nos anos 80, agora promove o euro – asiatismo, aponta o Irão como exemplo a seguir, etc.
Penso que a falta de "respeito pelo fornecedor" refere-se à atitude de querermos um bitoque bem servido ao mesmo tempo que tentamos roubar o armazém do restaurante e passamos uma rasteira ao empregado que leva a travessa.
Já que o Sr. Duguin é suspeito. Então Alexandre Del Valle, Olga Maximov especialista em questões do Cáspio, ou Noam Chomsky outro especialista em desmascarar fantasmas inventados. Também são suspeitos?
Ando eu há tanto tempo enganado a gastar dinheiro nos livros destes trafulhas.
Afinal quem diz verdades? Gostava de saber? Talvez Pierre Kalfon? Samuel Huntington? Para melhor informação ainda Michael Voslensky?
A concepção estratégica da Heartland está tão actual como no tempo do seu criador (Mackinder), ou o Rimland da autoria Spykman. O que é a tentativa do controle absoluto de todos os mares, senão a chave do Rimland? Veja-se o que se está a acontecer no Golfo de Aden? Ou com a activação da 4ª Esquadra? O pensamento de Brzezinski inscreve-se na defesa desta mesma tradição geopolítica, portanto não é nada de novo que está apresentar, nem tão pouco a sua teoria da Trilateral.
Para mais consulte-se as opiniões do general Pierre-Marie Gallois se não vão todas no mesmo sentido? Veja-se também Kissinger? Tudo isso faz parte da politica de Containment implementada há muito por os estrategas de Washington, como Colin Gray, Kenan, Foster Dulles, etc. Que deveria ter desaparecido com o final da Guerra Fria, mas pelo contrário os vencedores sentiram-se encorajados para novas aventuras. Li um livro em tempos, de Daniel Bensaid ( Contos e Lendas da Guerra Ética) sobre os Balcãs em como os EUA com o pretexto da defesa das minorias se assenhoraram de uma região estratégica e impediram o regresso da Rússia à Europa e ao Mediterrâneo.
Guennadi Ziuganov além de dirigente do PCFR é um geopolitólogo (creio que se possa referir livremente todas as figuras politicas, na medida em que estamos num debate e não num Coro) disse: «o resultado da luta por esse espaço (Heartland) decidirá a sorte do mundo e o Ocidente deve portanto obrigatoriamente liquidar por todos os meios a “ dominação Russa” no núcleo Euroasiático».
O que está aqui em causa é que a Rússia apesar da sua debilidade continua a ser a única potência capaz de destruir os EUA.
A Rússia hoje como estado capitalista (há quem chame economia de mercado) tem as mesmas virtudes e os mesmos defeitos que os chamados países democráticos. Não é menos nem mais agressiva que os seus rivais. Quer sobreviver como estado por isso esforça-se por defender o seu território e dispor das suas riquezas da forma como lhe convém fora do alcance e da cobiça de forças estranhas à região. Também não constitui qualquer ameaça para os seus vizinhos, se assim fosse já tinha abocanhado a indefesa Bielorrússia.
Tudo o resto são pretextos e pantominas com o objectivo da pilhagem das matérias primas da região e do seu escoamento para Ocidente.
Acusam a Rússia de não respeitar a democracia. Temos que admitir que Putin e o seu sequito ficam muito a dever nesse sentido. E a U.E respeita os direitos dos seus cidadãos quando os intruja ao impor-lhe um tal tratado de Lisboa que já teve o nome de Constituição e foi rejeitado em referendos? Paga para os seus agricultores para não produzirem quando existem milhões dos seus cidadãos a passar fome? Constroem-se mansões Faraónicas e milhões de seres humanos vivem em bairros degradados sem a mínima dignidade? Há crianças que não dispõem de um copo de leite no entanto há poucos anos em Espanha pagou-se para abater 400mil vacas leiteiras. Ainda o ano passado pagaram aos agricultores Açorianos para abaterem milhares de vitelos à nascença por falta de escoamento de carne. Um cidadão que sofre de doença que requer tratamento urgente e continuado espera cinco anos por uma consulta, enquanto os hospitais privados prosperam como cogumelos? O estado do ensino, as condições laborais como estão a ficar na U.E? Entretanto grita-se aos sete ventos a prosperidade!
Afinal o que é democracia?
Essa coisa democracia tem um conceito muito vago assim como a defesa dos direitos humanos, serve por vezes apenas de quem deles pode tirar benefícios.
Depois andamos nós todos a barafustar, alimentando a esperança de amanhã sermos burgueses.
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