quinta-feira, junho 25, 2009

Contributo para a História (Moçambique)


Logo após a proclamação da independência de Moçambique, o seu Presidente, Samora Machel, decidiu casar-se e convidou para a cerimónia numerosas pessoas, entre as quais estavam Arkadi Glukhov, encarregado de negócios da então URSS em Maputo.
"Perante mim e a minha esposa colocou-se uma questão difícil, que literalmente provocou uma dor de cabeça: o que oferecer aos noivos? Faltava cerca de uma semana até ao casamento e não tinha sentido esperar 'ajuda' de Moscovo: ainda não havia vôos da Aeroflot (linhas aéreas soviéticas) para Maputo", recorda Glukhov nas suas memórias "Os Nossos Primeiros Passos em Moçambique", publicadas em Moscovo.
"Meditações intensas", continua o diplomata soviético, "levaram-me a ter a ideia de telefonar para Dar-es-Salam, para o nosso embaixador na Tanzânia, S.A. Sliptchenko, que, no vôo seguinte da companhia aérea local, nos enviou, a título de empréstimo, um grande samovar".
O samovar é um volumoso vaso metálico utilizado normalmente para aquecer água para o chá.
"Quando o completámos com um colar de âmbar, encontrado entre um monte de colheres de pau da nossa própria 'reserva de oferendas', a prenda de casamento tomou um aspecto digno e prestigiante", recorda Glukhov.
O chefe máximo da representação diplomática soviética não esperava a reacção do dirigente moçambicano.
"Quando felicitámos os noivos e lhe entregámos as nossas prendas, o Presidente Samora Machel, depois de observar o samovar e de abrir a torneira, expressou perplexidade bem-humorada pelo facto de o samovar estar vazio e dele não correr 'stolitchnaia'", escreve Glukhov.
"Stolitchnaia" era uma das mais conhecidas marcas de vodka tanto na União Soviética, como no estrangeiro.
O dirigente moçambicano fez um ar sério e começou a recordar como, alguns anos antes, durante uma visita à União Soviética, lhe tinham oferecido "stolitchnaia" de um samovar.
"Ao som dos risos dos presentes tivemos de prometer para o Ano Novo encher o samovar com o devido conteúdo", sublinha o diplomata.
Além deste episódio, outra coisa ficou na memória do casamento de Samora Machel: "o vinho verde português, que, devagar, mas com certeza, privou os hóspedes do necessário equilíbrio".

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