quarta-feira, junho 17, 2009

“Guerra do leite” azeda relações bilaterais


A Bielorrússia começou hoje a intensificar os controlos aduaneiros nas principais passagens fronteiriças rodoviárias e ferroviárias com a Rússia, o que constitui mais um sinal da degradação das relações bilaterais.
Minsk justifica esta medida com o facto de através da fronteira russo-bielorrussa entrar “contrabando”, mas também não esconde que esta medida é uma resposta ao que considera ser “restrições comerciais discriminatórias” da parte de Moscovo.
No princípio do mês de Junho, a Rússia proibiu a entrada de cerca de 500 produtos leiteiros bielorrussos, lista que foi aumentada para 800. Segundo as autoridades sanitárias russas, essa proibição deve-se ao facto de os rótulos dos produtos leiteiros bielorrussos não estarem em conformidade com as exigências técnicas nesse campo. Por exemplo, Moscovo exige que os produtores bielorrussos vendam não como leite, mas como “bebida láctea” os produtos feitos a partir de leite em pó.
A “guerra do leite” provocou uma nova deterioração das relações entre a Rússia e a Bielorrússia, cujo Presidente, Alexandre Lukachenko declarou recentemente ser “necessário procurar a felicidade noutras paragens”, uma alusão ao programa Parceria Oriental, proposto por Bruxelas a seis antigas repúblicas soviéticas.
No passado Domingo, o dirigente bielorrusso suspendeu a sua visita à capital russa, onde deveria participar na Cimeira da Organização do Tratado de Defesa Colectiva.
“Quando um dos participantes da organização realiza acções que minam a segurança económica, é impossível falar de segurança militar”, declarou uma fonte da presidência bielorrússia à agência Ria-Novosti.
A Organização do Tratado de Defesa Colectiva reúne países do antigo espaço soviético como a Arménia, Bielorrússia, Cazaquestão, Quirguistão, Rússia, Tadjiquistão e Uzbequistão. Na cimeira, os presidentes desses países deveriam assinar “as normas de funcionamento das Forças Colectivas de Reacção Rápida”, o que não veio a acontecer porque as decisões nesta organização só podem ser aprovadas por unanimidade.
Na véspera, Elena Skrinnik, ministra russa da Agricultura, deu por terminada a “guerra do leite”, anunciando que Moscovo e Minsk tinham chegado a acordo, mas as autoridades bielorrussas têm uma opinião diferente.
Alexandre Lukachenko também não esconde o seu descontentamento face ao facto do Kremlin lhe recusar um crédito de cinco mil milhões de dólares, pressionar Minsk a aceitar as exigências russas em matéria de privatizações e a reconhecer a independência das regiões separatistas georgianas: Abkházia e Ossétia do Sul.
A política do dirigente bielorrusso cria mais um problema a Moscovo no momento em que a Rússia, Bielorrússia e Cazaquestão decidiram unificar as regras e tarifas aduaneiras no quadro da criação de uma União Aduaneira. Há uma semana atrás, os dirigentes dos três países decidiram aderir à Organização Mundial do Comércio como zona aduaneira única.
“Alexandre Lukachenko é conhecido por tirar proveitos das contradições entre a Rússia e a União Europeia em torno da Bielorrússia, país com uma posição estratégica entre elas. Até agora, tem tido êxito, mas a corda pode rebentar”, declarou à Lusa uma fonte diplomática em Moscovo.
Segundo esta fonte, “a paciência do Kremlin tem limites, mas as posições de Lukachenko são sólidas. Por exemplo, parte do sistema de defesa anti-aéreo da Rússia está instalado na Bielorrússia, num dos sectores mais sensíveis, a fronteira com a Polónia, e a desestabilização no país vizinho poderá ter sérias consequências”.
“A Rússia arrisca-se a deteriorar gravemente as relações com a única antiga república soviética que considerava aliada sua nas fronteiras ocidentais”, frisou.
Ao princípio da noite de terça-feira, a Bielorrúsia anunciou o levantamento das barreiras alfandegárias e Moscovo prometeu resolver a "guerra do leite", mas os conflitos entre Minsk e Moscovo são cada vez mais frequentes e complexos.

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