A Rússia e a China assinaram um memorando sobre compreensão mútua na esfera da extracção e transporte de gás natural depois do encontro dos Presidentes dos dois países, Dmitri Medvedev e Hu Jintao, realizado hoje no Kremlin.
Em Maio passado, Igor Setchin, vice-primeiro-ministro russo, anunciou que a Rússia planeava revelar as suas propostas sobre os fornecimentos de gás à China durante a visita de Hu Jintao a Moscovo.Segundo ele, a Rússia está disposta a fornecer as quantidades de gás que o país vizinho quiser comprar.
O Programa de Gás Oriental, que está a ser coordenado pela gasífera russa Gazprom, prevê a criação, na Sibéria Oriental e no Extremo Oriente, de um sistema único de extracção, transporte e fornecimento de gás tendo em conta as possibilidades de exportação de combustível azul para os mercados da China e de outros países da região da Ásia e Pacífico.
Porém, Alexandre Ananenkov, vice-director da Gazprom, reconheceu que os fornecimentos de gás russo à China não começarão em 2011, como estava previsto, mas mais tarde, devido a divergências face ao preço do combustível.
“As conversações continuam, ainda não chegamos a acordo sobre os preços, já não podemos falar do início em 2011, trata-se de um trabalho cuja envergadura já não se enquadra nesse ano”, declarou Ananenkov, numa conferência de imprensa hoje realizada em Moscovo.
“Logo que haja preço, começaremos a construção (de gasoduto rumo à China), mas esta questão não é simples, o vendedor quer vender sempre mais caro e o comprador quer comprar mais barato”, sublinhou.
Os dirigentes russos e chineses assinaram também um memorando de compreensão mútua sobre cooperação na esfera carbonífera.
Segundo esse documento, as empresas russas passam a poder participar na construção de uma central eléctrica a carvão na China.
Foi também assinado outro memorando entre o consórcio russo Renova e a Empresa Pública de Extracção de Ouro da China.
Medvedev e o seu homólogo chinês assinaram uma declaração conjunta, onde propõem uma nova volta de conversações para “verificar a distribuição de quotas no Fundo Monetário Internacional”.
“É necessário realizar atempadamente uma nova volta de conversações para verificar a distribuição de quotas no FMI e elaborar um projecto de reforma do Banco Mundial, que aumente consideravelmente o direito de voto e a representação dos novos mercados e Estados em desenvolvimento nas estruturas financeiras mundiais”, sublinha-se na declaração.
“Faremos tudo para que os ritmos da cooperação económica se mantenham este ano e para minimizar a influência da crise”, declarou Dmitri Medvedev, no encontro com o seu homólogo chinês.
O Presidente russo frisou que, em 2008, as trocas comerciais superaram os 50 mil milhões de euros.
Hu Jintao recordou que este ano se comemora o 60º aniversário do estabelecimento de relações entre a Rússia e a República Popular da China.
“Durante estes 60 anos, as nossas relações percorreram um caminho complicado. O Governo e o povo da China jamais esquecerão que o Governo da União Soviética foi o primeiro a reconhecer a República Popular da China e a estabelecer relações diplomáticas”, concluiu o Presidente chinês.
6 comentários:
Velhos laços não se esquecem. Parece que até os Chineses veem nos Russos os seus velhos aliados/inimigos Soviéticos.
Mas os também aprendem, mas tarde, que os chineses copiam quase tudo.
Então na área da defesa, nem se fala.
Sabe JM,
Estes acordos energéticos entre Moscovo e Pequim são positivos para ambos. Mas isto não traz nada de bom para a Europa.
A diversificação de clientes por parte de Moscovo aumenta ainda mais o seu poder negocial (e político) sobre a Europa. Enfim a nossa velha conversa sobre a guerra do gás.
Agora o outro assunto que refere, o FMI e Banco Mundial estão em linha com o assunto dos BRIC.
É um verdadeiro ataque aos centros de poder ocidental e novamente à moeda de referência o dólar. O FMI e Banco Mundial vão mais tarde ou mais cedo mudar o seu sistema e repare quem tem andado a ocupado a sanear as suas dívidas ao FMI e faz agora pressão, Rússia e Brasil, que também são dois membros do BRIC, não sei se se recorda mas eu já tinha chamado a atenção que esta era uma das estratégias da Rússia (saneamento da dívida do FMI) e que foi seguido por outros países. Os BRIC neste momento saltam de nível e em vez de pedirem dinheiro ao FMI, fazem exactamente o contrário. Vão querer mais poder de decisão dentro do FMI/Banco Mundial.
Você reparou que a Rússia em 2007 (depois de ter saneado as suas dívidas ao FMI), desafiou o sistema de escolha de candidatos, tendo indicado um? Na altura foi um escândalo porque o sistema de escolha de candidatos para estas duas instituições é partilhada pelos os EUA/UE, quando um escolhe o candidato para o FMI o outro escolhe do do Banco Mundial, o resto do mundo aceita os resultados.
Mas agora os BRIC, estão a começar a agir em bloco e uma das coisas que de certeza vai ser posta em causa vai ser o esquema de escolha de candidatos e a moeda usado por estas duas instituições.
Voltamos ao mesmo, estamos a assistir a um ataque ao dólar e aos EUA por via económica. E a força de um país não assenta unicamente na sua força militar, mas sim na capacidade de sustentar essa força.
Estamos a assistir a mudanças enormes no mundo como o conhecemos hoje, a grande questão é se elas serão pacíficas.
Complementaria ainda o que o PM disse, destacando o investimento russo da China. Ou seja, não só favorece o crescimento económico desta país como ainda participa nesse crescimento, daí tirando dividendos.
E como a Rússia, tanto quanto sei, não baseia a sua economia no crédito (que foi o que os EUA fizeram durante anos, originando a presente crise), a sua base de desenvolvimento é, á partida, mais sólida.
Ou a UE se independentiza em termos energéticos e começa a produzir (sim, produzir!) a sua energia; começando também a impor barreiras à competitividade desleal por parte da China, ou então estamos tramados.
negócios da China
Concordo completamente com PM, como em outros comentários que tem produzido neste blog.
O ataque ao dolar não é de agora e não sei se não será até desejável.
Só não é mais incisivo porque outros paises estão presos às reservas que têm nessa moeda (sobretudo a China)e porque não se sabe sabe muito bem o que vai surgir depois.
Na perspectiva dos países que o desejam mais vale um mal que se conhece que um possível bem que se desconhece.
A substituição do dolar como moeda de referência trará consequências imprevisíveis para o mundo e implicará a queda dos EUA como única potência. E apesar de isso me parecer inevitável também não sei se será pacífico.
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