sexta-feira, setembro 11, 2009

Blog dos leitores (Viagem à Rússia) Parte 3




O leitor Manuel R. Ortigão esteve recentemente na Rússia e decidiu compartilhar as suas impressões e fotografias com os restantes leitores. Aqui fica a continuação.





"O 4º dia foi de viagem para S. Petersburgo. Fomos de táxi para o aeroporto de Domodedovo, com alguma antecedência pois queríamos ficar a conhecer o aeroporto já que no último dia iríamos passar ali parte da noite. Ficamos a perceber que o aeroporto é muito moderno e com excelentes locais para passar uma horas de espera, seja de dia ou de noite. Viríamos aliás a perceber no último dia, quando ali estivemos das 22:00 até às 05:00 do dia seguinte que todo o aeroporto se mantém em funcionamento 24 horas por dia, com lojas, cafés e restaurantes abertos e muita gente em movimento, sendo que às três da manhã por exemplo quase parecem três da tarde. A razão para isto tem a ver com o facto de deste aeroporto partirem e chegarem voos durante toda a noite para vários pontos do mundo, nomeadamente os mais remotos destinos asiáticos, como Uzbequistão, Kazaquistão, Sibéria, Vladivostok, etc. etc.

Viajamos para S Petersburgo numa companhia chamada Sibéria Airlines, abreviadamente conhecida como S7. Tínhamos algum receio do tipo de companhia que íamos encontrar mas afinal viemos a constatar que esta é bem moderna, com poucos anos de existência, sendo os aviões novos, com excelente aparência e transmitindo muita segurança. O voo de ida e volta não podia ter corrido melhor, com pontualidade e muito bom serviço. Em S. Petersburgo aterramos no aeroporto de Pulkovo 1, pois Pulkovo 2 destina-se aos voos internacionais. Pulkovo 1 é um aeroporto antigo, com um estilo marcamente soviético, mas em óptimo estado de conservação. Viríamos a passar ali umas horas antes do voo de regresso para Moscovo, durante as quais pudemos apreciar os detalhes da decoração dos edifícios, tentando imaginar como seria aquele aeroporto nos anos do poder soviético, com a frequência dos homens carrancudos de sobretudo e chapéu escuro.

Fomos de táxi do aeroporto para o hotel Dostoievsky em S. Petersburgo onde iríamos ficar nos próximos 5 dias, partilhando o carro com um jovem Ucraniano com quem meti conversa no avião. O Andrey ia a S. Petersburgo em negócios, concretamente para tentar vender e comprar petróleo e gás. Segundo ele, muita gente anda a tentar fazer negócios desse tipo, situação que eu francamente não entendi pois pensava que estas matérias-primas só se negociariam em larga escala e entre grandes empresas, mas pelos vistos não é bem esse o caso.

O Hotel Dostoievsky era bastante estranho, desde logo pela sua localização: ocupava os 5º e 6º pisos de um grande edifício havendo nos restantes andares um centro comercial. Apesar de recomendado pelos guias e agência de viagens não gostamos do hotel: é barulhento, pouco simpático e o pequeno-almoço é caótico. A localização não é má, pois dá acesso a pé à Nevski Prospect. Check-in feito lá fomos a caminhar até essa mítica avenida, palco das grandes manifestações de massas que estiveram na origem da Revolução de Outubro de 1917.

S. Petersburgo fundada em 1703 por Pedro o Grande que ali estabeleceu a capital do país, passou a chamar-se Petrogrado em 1914 quando a guerra eclodiu, tendo em 1924 assumido a designação de Leninegrado nome que manteve até 1991, até ser rebaptizada com o seu nome original.

A caminhar pela Nevski Prospect, uma larga e comprida avenida ladeada por enormes edifícios, fomos apreciando a monumentalidade da cidade enquanto nos cruzavamos com uma pequena multidão em circulação, composta por gente muito diversificada num movimento que viríamos a perceber ser uma constante no centro da cidade.

Finalmente chegamos à Praça do Palácio onde o Palácio de Inverno de Pedro o Grande, actual Hermitage, se impõe em toda a sua grandiosidade. A entrada no museu é um assunto complicado pelas filas que existem e por isso deixamos a visita para um outro dia.

O resto do dia foi preenchido com várias caminhadas pela cidade o que nos permitiu ir ganhando uma ideia genérica da mesma. À noite, extenuados, voltamos ao hotel para recuperar forças no bar, à volta de umas cervejas."

3 comentários:

Sergei Korolev disse...

fascinante , continue o bom trabalho

Anónimo disse...

Crónica com jeito de suspense... fico à espera..

Anabela Teixeira

Jacob disse...

"...tentando imaginar como seria aquele aeroporto nos anos do poder soviético, com a frequência dos homens carrancudos de sobretudo e chapéu escuro."
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A mídia brasileira diuturnamente afirma que os cubanos não possuem liberdade, que é um povo escravizado, que os comunistas cubanos oprimem o povo, etc.
Fui visitar Cuba em 1988 e encontrei um povo alegre, que adorava música e dança; mulheres muito bonitas, sensuais, com uma ótima educação. O que mais me impressionou foram os dentes dos cubanos: são perfeitos. Percebe-se também claramente que as pessoas são bem alimentadas, não são desnutridas e que recebem um ótimo atendimento médico, pois são saudáveis. Pode-se andar à noite pelas ruas tranquilamente, sem nenhum medo de ser assaltado. Na praia, deixava dinheiro dentro do bolso da minha bermuda e quando voltava do mar tudo estava intocado.

Moro aqui no Brasil, no bairro do Horto Florestal, zona norte da cidade de São Paulo; basta andar um ou dois quilometros da minha casa para ver um quadro deprimente: pessoas loucas, delirando, deitadas na rua e sem atendimento médico; outras com os dentes todos estragados; outras visivelmente subnutridas, ou passando fome mesmo. Evidentemente, para ir nesses bairros, deve-se tomar todo o cuidado e ir somente de dia, pois à noite é certeza ser assaltado.

Devo dizer que a maioria do povo brasileiro é assim, quem vem aqui pela Internet visitar e opinar em blogues é classe média no mínimo.

Gostei muito deste artigo, ele me interessou muito, afinal sempre quis conhecer a Rússia, mas lendo a frase que destaquei acima, veio-me a mente essa contradição entre o que diz a mídia brasileira e a realidade cubana à época. E fiquei pensando: será que nosso turista não se deixou levar pelo que diz a mídia ocidental sobre o período soviético?