A nomeação de José Eduardo dos Santos para os cargos de secretário-geral do MPLA e de Angola, em 1979, foi bem recebida na capital soviética, não só porque ele tinha estudado na URSS, mas também devido às relações tensas com o seu antecessor nesses cargos: Agostinho Neto.
As divergências entre Agostinho Neto eram antigas, tendo começado logo após o estabelecimento de relações entre eles. Em 1963, Nikita Khrutchov esteve perto de reconhecer Holden Roberto e a FNLA, não fora a pronta intervenção de Álvaro Cunhal, secretário-geral do Partido Comunista Português, que na altura se encontrava em Moscovo.
Em 1972, os dirigentes soviéticos recebem com descontentamento a notícia da aliança feita entre o MPLA e o FNLA, bem como, no ano seguinte, a notícia de que Agostinho Neto ordenou o fuzilamento de cinco dirigentes do MPLA, tendo Joaquim Chipenda escapado à morte devido à intervenção das autoridades zambianas.
As relações entre Agostinho Neto e a URSS não melhoraram também depois da proclamação da independência de Angola em Novembro de 1975.
O general soviético Vladimir Varennikov, que realizou duas missões de serviço em Angola (1982 e 1983), explica nas suas memórias, as razões do isolamento a que Agostinho Neto e o seu movimento chegaram em Outubro-Novembro de 1975: “Porque Neto e os seus correligionários estavam sentados em Luanda e ele não estava em condições de impor a mais elementar ordem na vida e actividade desta enorme capital e, depois, tentar, através dela, influir na província”.
Karen Brutentz recorda outro facto que ilustra os atritos graves entre a direcção soviética e Agostinho Neto. Na véspera do Congresso do MPLA, realizado em Dezembro de 1975, Moscovo enviou a Luanda funcionários comunistas para darem orientação ideológica aos camaradas angolanos, mas estes não lhes prestaram ouvidos.
“Os nossos consultores, que tinham sido enviados para Angola na véspera do congresso constituinte do MPLA, aconselhavam insistentemente a não formar um partido,
mas a apostar no “movimento”, na “frente”, o que permitiria atrair para as suas fileiras outras forças. Porém, Neto não lhes deu ouvidos.
As relações entre o dirigente angolano e o Kremlin deterioraram-se ainda mais durante o chamado “golpe de Nito Alves”, em Maio de 1977, tendo Agostinho Neto considerado que o “levantamento” tinha sido inspirado pela União Soviética.
“Fomos apanhados de surpresa por esses acontecimentos. Nito Alves tinha participado no Congresso do Partido Comunista da União Soviética, o que era um sinal de inteira confiança de Moscovo”, declarou à Lusa um tradutor militar russo que se encontrava em Luanda na altura.
As divergências entre o dirigente angolano e o Kremlin levaram mesmo alguns, nomeadamente a sua esposa, Eugénia Neto, a avançar a versão de que Agostinho Neto não teria falecido de morte natural na mesa de operações em Moscovo, mas alguns dos soviéticos que estiveram envolvidos nesse caso afirmaram à Lusa que foi um erro operar Neto, porque “já não havia nada a fazer”.
As divergências entre Agostinho Neto eram antigas, tendo começado logo após o estabelecimento de relações entre eles. Em 1963, Nikita Khrutchov esteve perto de reconhecer Holden Roberto e a FNLA, não fora a pronta intervenção de Álvaro Cunhal, secretário-geral do Partido Comunista Português, que na altura se encontrava em Moscovo.
Em 1972, os dirigentes soviéticos recebem com descontentamento a notícia da aliança feita entre o MPLA e o FNLA, bem como, no ano seguinte, a notícia de que Agostinho Neto ordenou o fuzilamento de cinco dirigentes do MPLA, tendo Joaquim Chipenda escapado à morte devido à intervenção das autoridades zambianas.
As relações entre Agostinho Neto e a URSS não melhoraram também depois da proclamação da independência de Angola em Novembro de 1975.
O general soviético Vladimir Varennikov, que realizou duas missões de serviço em Angola (1982 e 1983), explica nas suas memórias, as razões do isolamento a que Agostinho Neto e o seu movimento chegaram em Outubro-Novembro de 1975: “Porque Neto e os seus correligionários estavam sentados em Luanda e ele não estava em condições de impor a mais elementar ordem na vida e actividade desta enorme capital e, depois, tentar, através dela, influir na província”.
Karen Brutentz recorda outro facto que ilustra os atritos graves entre a direcção soviética e Agostinho Neto. Na véspera do Congresso do MPLA, realizado em Dezembro de 1975, Moscovo enviou a Luanda funcionários comunistas para darem orientação ideológica aos camaradas angolanos, mas estes não lhes prestaram ouvidos.
“Os nossos consultores, que tinham sido enviados para Angola na véspera do congresso constituinte do MPLA, aconselhavam insistentemente a não formar um partido,
mas a apostar no “movimento”, na “frente”, o que permitiria atrair para as suas fileiras outras forças. Porém, Neto não lhes deu ouvidos.
As relações entre o dirigente angolano e o Kremlin deterioraram-se ainda mais durante o chamado “golpe de Nito Alves”, em Maio de 1977, tendo Agostinho Neto considerado que o “levantamento” tinha sido inspirado pela União Soviética.
“Fomos apanhados de surpresa por esses acontecimentos. Nito Alves tinha participado no Congresso do Partido Comunista da União Soviética, o que era um sinal de inteira confiança de Moscovo”, declarou à Lusa um tradutor militar russo que se encontrava em Luanda na altura.
As divergências entre o dirigente angolano e o Kremlin levaram mesmo alguns, nomeadamente a sua esposa, Eugénia Neto, a avançar a versão de que Agostinho Neto não teria falecido de morte natural na mesa de operações em Moscovo, mas alguns dos soviéticos que estiveram envolvidos nesse caso afirmaram à Lusa que foi um erro operar Neto, porque “já não havia nada a fazer”.
14 comentários:
Para os angolanos, há efectivamente uma percepção de dois regimes políticos. Um antes da morte de A.Neto, e outro, depois da nomeação de J.E.dos Santos.
Quem lêr (parece-me)as memórias do general Vladimir Varennikov, será levado a pensar que os Comissários Russos de Politica Soviética eram pouco ouvidos ou menosprezados durante o consulado de A.Neto, e que por consequência seriam melhor escutados pelo poder da 2ª vaga ou seja a época de J.E.dos Santos.
Para quem conhecer a realidade angolana dos últimos 20 anos, sabe que os angolanos têm uma memória da tragédia que representou o regime sob a autoridade de A.Neto e alto patrocinio sem reservas de Bresniev.
A aplicação das práticas politicas soviéticas (apreendidas como boas) cometidas pelas estruturas criadas pelos comissários politicos do MPLA supervisionadas pelos tais Consultores Politicos russos, e alguns militantes do PC português, ficaram na memória do povo de forma indelével tais como os Julgamentos Populares; os Fuzilamentos nos Estádios; as perseguições e extorções das Milicias Populares, os assassinatos de presumiveis militantes da UNITA e da FNLA etc.
Este primeiro periodo, hoje é reconhecido pela extrema politização e influência soviética.
O segundo periodo, ou mandato de J.E.dos Santos é reconhecido numa primeira fase,mais pela influência militar cubana; pelo abandono das nefastas práticas do controlo do MPLA e pelo fim das milicias populares.
Numa segunda fase, com ajuda de governos amigos tenta negociar a paz com a UNITA, incrementa o estabelecimento de parcerias relevantes para a economia, nomeadamente com portugueses, espanhois, brasileiros, americanos, coreanos etc.
Não era raro vêr-se a Holdbrecht ou Mota-Engil a construir, a Exxom ou Shell a sondar, a D'Beears ou Escom a garimpar; a Gabrielitos ou
Kim-burg a pescar e a tropa cubana ou angolana a montar segurança a essas operações.
Neste segundo periodo de governação angolana,assistimos a uma 3ªfase, que corresponde à implementação em grande estilo da China.
Nestes últimos 30 anos os angolanos aprenderam muito com o convivio de muitos povos!
Caro José Milhazes:
cada vez mais a historia "oficial" da II Guerra Mundial esta a ser posta em causa.
Parece-me que aquilo que aprendemos na escola, que Portugal foi o "papão" que ficou diplomaticamente isolado porque impedia a autodeterminação dos povos, isso não passa de outra "historia" que nos querem contar.
Começo a acreditar que os acontecimentos foram do seguinte modo: as potências isolam Portugal para acederem às suas colonias. Senão repare, a rainha de Inglaterra continua a reinar no Canada no sec XXI!
E que papel desempenhava Cunhal neste assunto? Quais eram os interesses que ele estava a defender ao aconselhar os soviéticos? Esta figura tb tem que fazer objecto de reavaliação. Não faltam para aì livros de ex-camaradas a desmistificarem a historia deste senhor, nomeadamente, no que diz respeito ao (suposto) período russo.
Agostinho Neto foi um grande poeta, dos melhores em língua portuguesa.
*
Criar
Criar criar
criar no espírito criar no músculo criar no nervo
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
sobre a profanação da floresta
sobre a fortaleza impudica do chicote
criar sobre o perfume dos troncos serrados
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
gargalhadas sobre o escárnio da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiro
força no esfrangalhado das portas violentadas
firmeza no vermelho sangue da insegurança
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
estrelas sobre o camartelo guerreiro
paz sobre o choro das crianças
paz sobre o suor sobre as lágrimas do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar com os olhos secos
Criar criar
criar liberdade nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor
sons festivos sobre o balanceio dos corpos em forças
simuladas
criar
criar com os olhos secos
*
Noite
Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.
Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escuridão
ao meu desejo de ser.
São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.
Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.
Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braços dados com fantamas.
Também a noite é escura.
*
Adeus a hora da largada
Minha Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis
Mas a vida
matou em mim essa mística esperança
Eu já não espero
sou aquele por quem se espera
Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos partidos para uma fé que alimenta a vida
Hoje
somos as crianças nuas das senzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além onde não chega a luz elétrica
os homens bebados a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos
Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura
Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.
Leitor Jacob, não estou em condições de avaliar a herança poética de Agostinho Neto, mas, como político, entra na história como um ditador e assassino.
A propósito, Estaline, na juventude, também escrevia poesia, e nada má...
Sr. Jose Milhares,
este e o meu primeiro comentario ao seu blog (muitas vezes tendencioso). "como político, entra na história como um ditador e assassino" - infelizmente o Sr. como jornalista demonstra a sua total ignorancia sobre Angola apesar de ter ido para Moscovo, a custos de talvez outros comunistas como Neto. Quem era o bonzinho nesta guerra, Holden Roberto? Savimbi? E triste ver frazes do tipo "Agostinho Neto ordenou o fuzilamento de cinco dirigentes do MPLA" diga os nomes do dirigentes aponte factos historicos. Luanda em 1974 uma enorme capital? Com 400 mil habitantes? Comparado a que a Moscovo? O problema e que os consultores russos excepto a andarem todos os dias embriagados pois o vodka com 30 graus tem outro peso, nao conhecem nada de Angola nem da nossa cultura. Neto nao foi um anjo, mas e triste ver um artigo escrito tao vagamente. Contudo, obrigado pelo seu blog, apesar de nem sempre estar de acordo consigo. Melhores cumprimentos
Leitor anónimo, para sua informação há muito que me dedico às relações entre a URSS e Angola. Como é sabido, aquele que manda matar ou mata é um assassino. Eu só dei apenas um exemplo do tipo de actuação de Agostinho Neto, pois, como é sabido, ele mandou executar milhares de pessoas.
Pergunta-se se Savimbi ou Holden Rovberto são melhores? Não sei, porque eles não dirigiram Angola, mas os crimes de Savimbi e Holden Roberto não justificam os crimes de Agostinho Neto.
A propósito, dentro em breve, será publicado um livro em Portugal sobre o tema, escrito por mim. Quando estiver a chegar às livrarias portuguesas, eu avisarei, pois lá há muitos mais factos.
Quanto aos especialistas russos, deve precisar que a vodka não tem 30 graus, mas 40 e não fui eu que os convidei, foi um senhor que se chamava Agostinho Neto. Se foi má política, foi de A.Neto
desculpe nao ter sido mais preciso os 30 graus referem-se e a temperatura em Luanda.
quantos anos o Sr. viveu em Angola ou esteve em Angola?
Caro leitor anónimo, nunca estive em Angola e não sei se posso entrar nesse país. Isso não significa que eu não possa escrever sobre esse país, tanto mais quando se trata das relações entre a URSS/Rússia e Angola.
Eu, quando escrevo, tenho muito cuidado em confirmar os fsctos. Em 2001, Pedro Rosa Mendes e eu escrevemos um artigo no Público sobre o Kremlingate, ou seja, contrabando de armas e outras trafulhices realizadas com a participação de dirigentes angolanos e "homens de negócios" do tipo de Arkadi Gaidamak.
José Eduardo dos Santos apresentou queixa contra nós por difamação num tribunal português e perdeu. Gaidamak repetiu a manobra e perdeu também.
Por enquanto, e espero continuar assim, nunca fui condenado por mentira ou difamação.
sobre o que escreve acerca de negocios escuros do Ze Du e outros ai talvez o Sr. tenha razao, nao duvido nada, mas chamar ditador ao Neto, um homen que esteve de 74 a a Setembro de 79 no poder num pais divido por uma guerra civil aonde governar era fazer a guerra, deixa-me muitas duvidas sobre a sua informacao sobre esse periodo. E mais Neto era muito incomodo para o establishment da altura em Moscovo, por isso aparece Nito Alves que se refugia na Embaixada russa apos o golpe falhado. Por, favor deixe um post sobre o seu livro que vai sair.
Ao Anónimo 13:48 que disse:
"chamar ditador ao Neto, um homem que esteve de 74 a a Setembro de 79no poder num pais divido por uma guerra civil aonde governar era fazer a guerra, deixa-me muitas duvidas sobre a sua informacao sobre esse periodo."
-Chamo a atenção do comentador para o facto de J.E.dos Santos ter governado Angola sob o mesmo paradigma de guerra civil generalizada, durante cinco vezes mais tempo do que A.Neto.
Mas existe uma diferença abissal quanto aos processos de controlo da sociedade, entre o periodo de A.Neto e o de J.E.dos Santos.
Negar este facto, é não conhecer Angola e o sentimento da esmagadora maioria da população, incluindo a intelectualidade livre do MPLA, ou mesmo a dos partidos da oposição (exepção feita talvez pelos opositores da UNITA que viviam no exterior à custa desta, os quais por imperativos da politica, sempre foram muito críticos, mas esses "esfumaram-se" após a morte de J.Savimbi, ou regressaram ao país na sua maioria).
Leitor Inácio Cristiano, não entendi bem o sentido do seu comentário. Quer dizer que J.E.S. é ditador também? Estou de acordo. A julgar pelo que se passa em Angola, ele parece não querer abandonar o cargo.
Apenas desejo que ANGOLA SE TRANSFORME NUM PAÍS DEMOCRÁTICO, PLURALISTA E COM ACESSO AOS ARQUIVOS PARA QUE OS HISTORIADORES POSSAM ESCREVER UMA HISTÓRIA MAIS PRECISA.
Caro José Milhazes,
O que eu quiz vincar, é o "rasto" de A.Neto no caminho que empreemdeu versus "rasto" do caminho empreendido por J.E.dos Santos !
Foram caminhos muito diferentes.
Não houve continuidade nos métodos de governação de um em relação ao outro.
Métodos banidos por J.E.dos Santos:
"Julgamentos Populares; os Fuzilamentos nos Estádios; as perseguições e extorções das Milicias Populares, os assassinatos de presumiveis militantes civis da UNITA e da FNLA etc." (paradigmáticos da era de A.Neto)
Nunca utilizei o termo "Ditador" por este não se quadunar com a acção desenvolvida por A.Neto, para além do que a palavra tem de subjacente na cultura europeia.
Chamar-lhe-ia talvez Marionete soviética, obrigado a um desempenho tirânico. Quanto a J.E.dos Santos, chamar-lhe-ia um "Déspota Iluminado" como um todo no resultado da sua acção.
Quanto à permanência no lugar de PR não sei se é por vontade dele, ou pela pressão da "entourage" do MPLA.
Quanto ao seu desejo:
"Apenas desejo que ANGOLA SE TRANSFORME NUM PAÍS DEMOCRÁTICO, PLURALISTA E COM ACESSO AOS ARQUIVOS PARA QUE OS HISTORIADORES POSSAM ESCREVER UMA HISTÓRIA MAIS PRECISA."
Então eu digo-lhe que bem pode esperar sentado, porque isso vai levar o seu tempo.
Em Africa "Sabedoria" é não importar modelos pré-defenidos noutras culturas, só por parecer "politicamente correto" !
...já houve desastres suficientes!
isso é uma porcaria deste que começou a politica no mundo por issi é que eu não vou chogar mei voto fora nas elições do ano que vem♥♥♥♥
alexssandro tavares da costa
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