"Niilismo legal e banditismo oficial – O curioso caso da Hermitage Capital Management
Não há melhor exemplo que ilustre a risibilidade das promessas de Putin e Medvedev de combater a corrupção e o niilismo legal do que o tormento sinistro da Hermitage Capital Management. Em 2005, William Browder, fervoroso apoiante de Putin e um dos fundadores da extremamente bem-sucedida sociedade gestora de fundos Hermitage, tentava regressar à Rússia depois de uma viagem de negócios, tendo-lhe no entanto o visto de entrada sido negado. Mais tarde, veio a saber-se que o seu nome tinha sido incluído numa “lista negra de indivíduos perigosos para a segurança nacional”.
A empresa da qual foi co-fundador posicionava-se como um “fundo activista”, ou seja, adquiria posições em empresas nas quais depois expunha práticas corruptas e má gestão, por forma a reduzir a erosão dos lucros dos accionistas causada por tais comportamentos. De facto, a Hermitage foi parte activa na exposição de diversos escândalos de corrupção ao mais alto nível envolvendo a Gazprom e outras empresas proeminentes controladas pelo Kremlin. Para tal foram desenvolvidos procedimentos de auditoria extremamente eficientes, destinados a desmascarar práticas corruptas nas companhias das quais era accionista, passando depois a informação para a imprensa russa e internacional, no sentido de estimular a investigação e a condenação desses crimes. Terá sido provavelmente por isso que o seu destino ficou selado.
Tendo encontrado Medvedev num jantar no fórum de Davos em 2007, Browder apressou-se a expor o seu caso ao futuro presidente, pedindo-lhe que intercedesse para que o visto de entrada fosse emitido, tendo recebido do mesmo a promessa de que tal seria considerado. Poucos dias depois, é contactado telefonicamente por um funcionário policial de Moscovo, que o informa de que “a minha resposta aos seus problemas dependerá da forma como se comportar e do que oferecer […] quanto mais cedo nos encontrarmos e fornecer o que é necessário, mais depressa os seus problemas desaparecerão”.
Em Junho de 2007, a polícia irrompe pelos escritórios da empresa e dos seus advogados, tendo confiscado inúmeros documentos oficiais e equipamento informático. O tenente-coronel Artyom Kuznetsov, do departamento de crime fiscal do ministério do interior e autor da chamada telefónica acima, supervisionou pessoalmente a busca, baseada na alegação de que a empresa teria cometido fraude fiscal no valor de 44 milhões de dólares. Até agora, nada de novo: trata-se dos procedimentos oficiais que já todos conhecemos.
Após esta acção policial, três das empresas do grupo Hermitage mudam misteriosamente de dono, tendo sido atribuídas a uma empresa com sede em Kazan e cujo proprietário se veio a provar ser um assassino condenado pela justiça. De facto, todos os novos “directores” eram criminosos condenados e recentemente libertados. Imediatamente a seguir, surge num tribunal de São Petersburgo um processo judicial contra estas três empresas, alegando que as mesmas tinham defraudado uma outra empresa em milhões de dólares, numa transacção passada envolvendo acções da Gazprom. Todas estas alegações eram obviamente falsas. No entanto, o juiz, com base na transferência fraudulenta de propriedade e dos documentos falsos apresentados, decide em favor dos “queixosos”, atribuindo-lhes 1,26 mil milhões de dólares a título de indemnização.
Conhecedor do “clima empresarial” russo, Browder é suficientemente prudente para transferir entretanto os activos da Hermitage para fora da Rússia, a tempo de evitar a sua apropriação. Assim, os autores da fraude acabam por não conseguir a almejada “compensação”.
Tenho consciência de que a maioria dos leitores desta peça e que sejam menos versados na realidade empresarial e política russa deverão já estar de boca aberta. Mas o que sucedeu a seguir é incomparavelmente mais espantoso: face ao insucesso em sangrar “judicialmente” a Hermitage, os balanços das empresas roubadas são misteriosamente alterados para apresentarem prejuízos no ano de 2006, sendo submetido à administração fiscal um pedido de reembolso de 230 milhões de dólares em impostos, que as Finanças russas se apressam a conceder (3 dias depois do pedido), sem qualquer tipo de investigação prévia. Ou seja, os contribuintes russos são defraudados em 230 milhões de dólares por uma organização criminosa, com a conivência (e pior ainda, o apoio) de todos os organismos oficiais envolvidos: polícia, tribunais e finanças.
Das queixas fundamentadas submetidas pela Hermitage a todos os organismos estatais russos, incluindo o comité anti-corrupção estabelecido por Medvedev, nenhuma teve resposta. E como seria de prever, investigadores do ministério do interior russo apresentaram queixa contra um assessor jurídico da empresa, Sergei Magnitsky e, de acordo com o jornal Kommersant, terão emitido um mandato de captura e pedido de extradição sobre William Browder, por “crimes de evasão fiscal”.
Vladimir Putin tem fingido nunca ter ouvido falar de William Browder, que foi apenas o maior e mais bem sucedido investidor estrangeiro em acções de empresas russas durante vários anos. Numa entrevista ao jornal Le Monde, afirmou: “nunca ouvi falar nesse nome. […] se essa pessoa acha que os seus direitos foram violados, ele que vá a tribunal”.
Com amigos destes, quem precisa de inimigos?
Além de ter apresentado diversas queixas junto de organismos internacionais, Browder está a levar a sua luta para a internet. Acabou de ser produzido um pequeno documentário sobre as tribulações da Hermitage, que pode ser visto no Youtube.
Altamente recomendado aos candidatos a investidores na Rússia actual.
Links:
Em inglês:
http://www.youtube.com/watch?v=ok6ljV-WfRw&feature=player_embedded
Em russo:
http://www.youtube.com/watch?v=JW0AnZLSCcg&feature=player_embedded# "
Não há melhor exemplo que ilustre a risibilidade das promessas de Putin e Medvedev de combater a corrupção e o niilismo legal do que o tormento sinistro da Hermitage Capital Management. Em 2005, William Browder, fervoroso apoiante de Putin e um dos fundadores da extremamente bem-sucedida sociedade gestora de fundos Hermitage, tentava regressar à Rússia depois de uma viagem de negócios, tendo-lhe no entanto o visto de entrada sido negado. Mais tarde, veio a saber-se que o seu nome tinha sido incluído numa “lista negra de indivíduos perigosos para a segurança nacional”.
A empresa da qual foi co-fundador posicionava-se como um “fundo activista”, ou seja, adquiria posições em empresas nas quais depois expunha práticas corruptas e má gestão, por forma a reduzir a erosão dos lucros dos accionistas causada por tais comportamentos. De facto, a Hermitage foi parte activa na exposição de diversos escândalos de corrupção ao mais alto nível envolvendo a Gazprom e outras empresas proeminentes controladas pelo Kremlin. Para tal foram desenvolvidos procedimentos de auditoria extremamente eficientes, destinados a desmascarar práticas corruptas nas companhias das quais era accionista, passando depois a informação para a imprensa russa e internacional, no sentido de estimular a investigação e a condenação desses crimes. Terá sido provavelmente por isso que o seu destino ficou selado.
Tendo encontrado Medvedev num jantar no fórum de Davos em 2007, Browder apressou-se a expor o seu caso ao futuro presidente, pedindo-lhe que intercedesse para que o visto de entrada fosse emitido, tendo recebido do mesmo a promessa de que tal seria considerado. Poucos dias depois, é contactado telefonicamente por um funcionário policial de Moscovo, que o informa de que “a minha resposta aos seus problemas dependerá da forma como se comportar e do que oferecer […] quanto mais cedo nos encontrarmos e fornecer o que é necessário, mais depressa os seus problemas desaparecerão”.
Em Junho de 2007, a polícia irrompe pelos escritórios da empresa e dos seus advogados, tendo confiscado inúmeros documentos oficiais e equipamento informático. O tenente-coronel Artyom Kuznetsov, do departamento de crime fiscal do ministério do interior e autor da chamada telefónica acima, supervisionou pessoalmente a busca, baseada na alegação de que a empresa teria cometido fraude fiscal no valor de 44 milhões de dólares. Até agora, nada de novo: trata-se dos procedimentos oficiais que já todos conhecemos.
Após esta acção policial, três das empresas do grupo Hermitage mudam misteriosamente de dono, tendo sido atribuídas a uma empresa com sede em Kazan e cujo proprietário se veio a provar ser um assassino condenado pela justiça. De facto, todos os novos “directores” eram criminosos condenados e recentemente libertados. Imediatamente a seguir, surge num tribunal de São Petersburgo um processo judicial contra estas três empresas, alegando que as mesmas tinham defraudado uma outra empresa em milhões de dólares, numa transacção passada envolvendo acções da Gazprom. Todas estas alegações eram obviamente falsas. No entanto, o juiz, com base na transferência fraudulenta de propriedade e dos documentos falsos apresentados, decide em favor dos “queixosos”, atribuindo-lhes 1,26 mil milhões de dólares a título de indemnização.
Conhecedor do “clima empresarial” russo, Browder é suficientemente prudente para transferir entretanto os activos da Hermitage para fora da Rússia, a tempo de evitar a sua apropriação. Assim, os autores da fraude acabam por não conseguir a almejada “compensação”.
Tenho consciência de que a maioria dos leitores desta peça e que sejam menos versados na realidade empresarial e política russa deverão já estar de boca aberta. Mas o que sucedeu a seguir é incomparavelmente mais espantoso: face ao insucesso em sangrar “judicialmente” a Hermitage, os balanços das empresas roubadas são misteriosamente alterados para apresentarem prejuízos no ano de 2006, sendo submetido à administração fiscal um pedido de reembolso de 230 milhões de dólares em impostos, que as Finanças russas se apressam a conceder (3 dias depois do pedido), sem qualquer tipo de investigação prévia. Ou seja, os contribuintes russos são defraudados em 230 milhões de dólares por uma organização criminosa, com a conivência (e pior ainda, o apoio) de todos os organismos oficiais envolvidos: polícia, tribunais e finanças.
Das queixas fundamentadas submetidas pela Hermitage a todos os organismos estatais russos, incluindo o comité anti-corrupção estabelecido por Medvedev, nenhuma teve resposta. E como seria de prever, investigadores do ministério do interior russo apresentaram queixa contra um assessor jurídico da empresa, Sergei Magnitsky e, de acordo com o jornal Kommersant, terão emitido um mandato de captura e pedido de extradição sobre William Browder, por “crimes de evasão fiscal”.
Vladimir Putin tem fingido nunca ter ouvido falar de William Browder, que foi apenas o maior e mais bem sucedido investidor estrangeiro em acções de empresas russas durante vários anos. Numa entrevista ao jornal Le Monde, afirmou: “nunca ouvi falar nesse nome. […] se essa pessoa acha que os seus direitos foram violados, ele que vá a tribunal”.
Com amigos destes, quem precisa de inimigos?
Além de ter apresentado diversas queixas junto de organismos internacionais, Browder está a levar a sua luta para a internet. Acabou de ser produzido um pequeno documentário sobre as tribulações da Hermitage, que pode ser visto no Youtube.
Altamente recomendado aos candidatos a investidores na Rússia actual.
Links:
Em inglês:
http://www.youtube.com/watch?v=ok6ljV-WfRw&feature=player_embedded
Em russo:
http://www.youtube.com/watch?v=JW0AnZLSCcg&feature=player_embedded# "
35 comentários:
Sr. Milhazes, que dizer?
Infelizmente, já vamos tendo por aqui escândalos e negociatas desse género ou coisa parecida.
Parece que há um pouco disso em muitos outros locais do Mundo, o crime, sofisticou-se, e muito.
Por curiosidade fui ver quem era esse tal William Browder e a Wikiepedia (fonte nem sempre confiável) diz que ele é neto de Earl Browder, ex-leader do Partido Comunista Americano.
Cresceu em Chicago, Illinois [como se sabe, tradicionalmente uma zona 100 % livre de gangsterismo (risota)] e estudou Economia na Universidade de Chicago.
Recebeu um MBA da Stanford Business School in 1989. Mais tarde naturalizou-se cidadão britânico.
Trabalhou na Eastern European practice of the Boston Consulting Group in London and managed the Russian proprietary investments desk at Salomon Brothers.
Com uma receita, ou, mistura, destas (estudos nas escolas capitalistas americanas, pragmatismo inglês, e a malícia judaica (Solomon Bothers) que fórmula mais perfeita, para fabricar um patife e um bandido?
Quantas às incríveis actuações e perplexidades que se mostram (tal como reveladas na peça) por parte das autoridades e dos tribunais russos, isso é outro lado da suja realidade mafiosa. Como se sabe, o banditismo e a mafiocise é uma doença altamente contagiosa.
Texto enviado pelo leitor António Campos
"Não há melhor exemplo que ilustre a risibilidade das promessas de Putin e Medvedev de combater a corrupção e o niilismo legal do que o tormento sinistro da Hermitage Capital Management."
Não houve "promessas". Há uns 2 meses Medvedev declarou a luta contra a corrupção como uma das partes do seu programa. Não quero gastar meu domingo procurando informação na internet, por isso vou responder mais tarde. Por enquanto só quero dizer:
1. Nada acontece "sem mais nem menos". Por isso duvido da dignidade indiscutivel do empresário mencionado. Devia haver alguma razão para os mais altos dirigentes russos não o ajudarem (como no caso de algum Khodorkovsky, por exemplo), e não foi porque tinham medo de alguma coisa.
2. Todo o texto é apenas opinião de uma das partes. È preciso saber os factos reais.
3. Levando em conta tudo o que sr. Campos já escreveu neste blog, já começo a duvidar tambem daquilo que escreveu desta vez.
Leitor anónimo russo, quanto às promessas de combate à corrupção pelo Presidente Medvedev, devo recordar-lhe que esse era um dos principais pontos do programa político do anterior sucessor no cargo. E qual foi o resultado?
É óbvio que houve muitas razões por detrás deste episódio. Especialmente as dezenas de queixas que a Hermitage submeteu relativamente a casos de corrupção na Gazprom, UES, Sberbank, Surgutneftgaz e muitas outras.
Sobretudo, custa a crer como é que um reembolso fiscal de 230 milhões de dólares é autorizado no mesmo dia (na Rússia, é comum esperar-se anos por reembolsos fiscais) e pago dois dias depois sem qualquer auditoria ou inquérito. Se eu fosse presidente ou ministro das finanças de um país, estaria extremamente preocupado sobre como é que tal pode acontecer e já estariam cabeças a rolar, especialmente se é a credibilidade institucional de um país que está em jogo. Mas aparentemente, tal não tira o sono de nenhum dos protagonistas dos poderes vigentes na Rússia. Aliás, outra coisa não seria de esperar.
Também é curioso o facto de se começarem logo a lançar suspeitas sem qualquer fundamento sobre o CEO da Hermitage, um bandido a operar na Rússia desde 1996, responsável por atrair a maior fatia de sempre de investidores estrangeiros para o mercado de capitais russo, e cujo fundo tinha como depositário apenas um dos mais importantes bancos britânicos, o HSBC. A verdade é que os protagonistas deste caso seguem o textbook da corrupção à letra (aliás, tal como os anónimos russos, os poodles da praxe...hmm se calhar poodle não é a melhor comparação: os poodles costumam ser inteligentes) mas não há dúvida de que os responsáveis máximos do país deram mais um tiro no pé, afectando a credibilidade da Rússia e lesando os seus constituintes por inacção ou, ainda mais sinistro, por conivência.
Ao jornalista Mark Steyn saiu-lhe uma frase impagável a este respeito: “"Russia is the sick man of Europe, and would still look pretty sick if you moved him to Africa."
Para os interessados, seguem alguns links com informação detalhada adicional sobre o caso.
Testemunho de William Browder à CSCE
http://www.csce.gov/index.cfm?Fuseaction=Files.Download&FileStore_id=1283
Depoimento do advogado Neil Micklethwaite, assessor jurídico da Hermitage, junto do tribunal de Nova Iorque
http://www.robertamsterdam.com/Hermitage%20Micklethwaite%20Declaration.pdf
Parecer da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa
http://assembly.coe.int/CommitteeDocs/2009/20090623_abusesJUR_E.pdf
António Campos
Por alguma razão os dois últimos links saíram cortados. Aqui vão de novo com as minhas desculpas:
http://www.robertamsterdam.com/
Hermitage%20Micklethwaite%20
Declaration.pdf
http://assembly.coe.int/Documents/
WorkingDocs/Doc09/EDOC12038.pdf
...(aliás, tal como os anónimos russos, os poodles da praxe...hmm se calhar poodle não é a melhor comparação: os poodles costumam ser inteligentes)...
Você precisa de recorrer ao insulto, para quem não concorda com as suas opinões?
Você sabe que é exactamente por situações deste género que temos os posts moderados?
Insulto gera insulto, e a conversa degrada-se. Você deveria pedir desculpas por esse seu comportamento ao visado, ao dono deste blogue e a todos nós leitores.
E deveria ter em mente que uma discussão ganha-se com argumentos e não com insultos.
Relativamente ao artigo em si e dado que foca principalmente a Gazprom, vou tecer um comentário, pois eu tenho falado bastante desta empresa.
Relativamente a corrupção, não tenho dúvidas que ela exista e num país como a Rússia, que tem atravessado várias fases políticas e sérias dificuldades económicas, essa corrupção andará saudável e é coisa que custa a acabar. E acabar com a corrupção é algo difícil, pois também é inegável que ela exista seja em que país fôr com maior ou menor grau de gravidade.
Agora também não podemos esquecer que na Rússia existe um outro tipo de batalha, a batalha do controlo dos recursos energéticos do país.
A Rússia é o nº 1 em reservas de gás mundial, é o maior produtor mundial e a Gazprom é a maior empresa de gás do mundo.
O controlo da energia faz parte do plano estratégico do governo russo e obviamente colide com os interesses estrangeiros e os seus investimentos nos momentos conturbados dos anos 90.
A Rússia ao longo destes anos, mostrou que pretende controlar as suas riquezas naturais e usar os lucros no próprio país.
Essa estratégia demonstrou estar correcta, pois com o aumento do preço da energia, o aumento dos lucros não vai para o estrangeiro, principalmente empresas ocidentais, ficando antes disponível internamente. Se a Rússia hoje detém as 3ªs maiores reservas de dinheiro a nível mundial foi exactamente graças a esta política. Foi com esta política que a Rússia limpou a sua dívida ao FMI e que está a permitir hoje, neste periodo económico grave, investir fortemente no estrangeiro, adquirindo empresas em dificuldades e importando o know-how para dentro da Rússia.
Se a Hermitage é um fundo que pretende maximizar os investimentos dos seus clientes, a Gazprom é uma boa aposta, dado a previsão do preço da energia para os próximos anos.
Se o fundo Hermitage é algo mais, com vista a algum tipo de influência na Gazprom, então já perdeu essa batalha, quando o governo passou a deter a maioria do capital da Gazprom em 2006.
Portanto neste momento, qualquer pessoa pode investir na Gazprom e sabe exactamente quem está aos comandos, o governo russo.
Não pondo em causa em nada a veracidade e dimensão da corrupção, mas...
...geralmente não se associa à presente luta Ocidente-Rússia o factor ideológico pois trata-se de dois sistemas capitalistas mas há óbvias diferenças entre ambos. Em particular entre as políticas de mercados ultra-liberalizados e desregulados vindas do pensamento neo-conservador que previligia o domínio económico global das multinacionais ocidentais através do abaixamento salarial pelos países de mão de obra barata e aumento substancial dos lucros a troco de nada(vulgo globalização) e o sistema de capitalismo de estado russo que teve origem na longínqua perestroika de Gorbachov e tinha como objectivo dinamizar e liberalizar a economia num sistema de mercado, mantendo as empresas estratégicas sob domínio estatal e algum proteccionismo de modo a perservar a soberania do país.
Tudo isto depois da catástrofe que foram os anos Ieltsin e dos seus jovens reformadores.
É perfeitamente notória a guerra surda que existe entre estas duas facções.
Geralmente as tentativas estratégicas de incursão na economia russa vêem sempre da mesma direcção (ex: Chicago School of Economics) patrocionadas sempre pelos mesmos elementos e orgãos de comunicação social sempre prontos a apontar qualquer deslize russo mesmo que isso aconteça em qualquer país do mundo.
E o governo russo é particularmente incompetente na sua resposta pois devia deixar-se de subterfúgios a la KGB, perder os velhos hábitos e ter a frontalidade de assumir a sua política seja ela qual fôr e impôr claramente os limites aos pretensos investidores.
A própria Europa devia também combater esta globalização caso contrário casos como o da gestão criminosa da FRANCE TELECOM tornar-se-ão a regra e serão banalizados.
Infelizmente grande parte dos media não berra aos 4 ventos este caso brutal e escandaloso.
Porque será?
Cumpts
Manuel Santos
Sobre os insultos, apelo ao proprietário do blog, José Milhazes que a nível de comentários e a bem da manutenção da credibilidade e qualidade deste blog tenha o descernimento de os cortar venham de onde vierem, sejam proferidos por quem forem, que estou certo não irá falhar (nesse mesmo descernimento).
Disso depende a motivação de muitas pessoas comentarem e contribuirem para a riqueza deste blog.
Cumpts
Manuel Santos
Sobre a questão da economia russa, ver um elucidativo artigo (embora de um orgão parcial) que esclarece muito bem a postura de criar primeiro internamente as condições de força e combate e abrir as portas só depois:
http://en.rian.ru/russia/20091011/156428675.html
Cumpts
Manuel Santos
Num estado de direito (que obviamente a Rússia não é), uma empresa pública aberta à participação de capitais privados tal como a Gazprom, e independentemente do facto de ser “estratégica” ou não, teria que explicar muito bem explicadinho aos seus accionistas (os contribuintes na parte pública, bem como os privados) um grande número de coisas, entre as quais os detalhes da sua estrutura accionista, porque é que os seus custos operacionais dispararam em flecha apesar de a produção estar aos níveis do início do século, porque é que tem que importar gás de países terceiros praticamente a preços de mercado estando sentada em cima das maiores reservas de gás do mundo e porque é que 80 mil milhões de dólares desapareceram dos seus activos através de spinoffs discutíveis e manipulação de acções.
Convém não esquecer que, por mais estratégico que seja o negócio, os seus órgãos de gestão dispõem apenas de um mandato conferido pelos seus accionistas, que neste caso são a população russa em geral e quem decidiu investir na empresa através da compra de participações. Como tal, os mandatários têm o dever de explicar aos accionistas, em detalhe, todas as decisões que tomam, especialmente as que afectam negativamente a rentabilidade da empresa e, consequentemente, o valor accionista. Neste contexto, nenhum accionista no seu juízo perfeito tolerará corrupção ou gestão danosa na empresa na qual detém participações.
E aqui está o busílis da questão e o verdadeiro tema central do artigo (que não é, obviamente, a Gazprom, como alguns pensam): fundos activistas tais como o Hermitage são absolutamente instrumentais no combate à corrupção, uma vez que tentam maximizar os seus lucros eliminando práticas corruptas e a gestão danosa (um pouco como fez Joe Berardo no caso BCP). Aliás, uma das razões do sucesso do fundo foi ter investido em empresas corruptas e mal geridas mas com elevado potencial, pressionando depois para que as práticas danosas fossem erradicadas. Com bastante sucesso.
Assim, um governo que faz questão de combater a corrupção deveria, em teoria, beijar o chão que a Hermitage pisa. Mas mau grado a sociedade gestora de fundos ter apresentado queixas fundamentadas praticamente em todas as instâncias oficiais russas de alto a baixo, relativamente a um caso que deveria acender luzes vermelhas por todo o lado e até na presidência (uma vez que tal afectaria seriamente a tão necessária credibilidade institucional para o desenvolvimento económico e, a provar-se, revelaria uma fraude que afectou o erário público em proporções colossais) os poderes vigentes estiveram-se nas tintas. E mais, agora o feitiço vira-se contra o feiticeiro, à boa maneira mafiosa.
Em países civilizados, este escândalo seria suficiente para fazer um governo inteiro cair.
Ao final do dia, o que é que isto demonstra? Que o governo não tem a mínima intenção de controlar a corrupção. Pelo contrário, serve-se dela para manter as suas garras no poder.
Assim, é bom lembrarmo-nos de casos como este quando voltarmos a ouvir as cantilenas presidenciais sobre corrupção e niilismo legal.
António Campos
Jose Milhazes disse...
"Leitor anónimo russo, quanto às promessas de combate à corrupção pelo Presidente Medvedev, devo recordar-lhe que esse era um dos principais pontos do programa político do anterior sucessor no cargo. E qual foi o resultado?"
Quanto aos programas politicos de Putin e Medvedev, não me lembro que Putin falasse tanto e distinguisse tanto o problema da corrupção como o faz Medvedev. Na época da sua presidéncia (de Putin) os desafios eram diferentes, especialmente durante o primeiro mandato. Esses males, como a corrupção, eu acho, não se combatem em alguns 2-3 anos, especialmente nos anos quando a Rússia praticamente lutava pela sua existencia, quando até não era o objetivo mais importante.
O caso é de tal maneira corriqueiro na Rússia actual, que só pode surpreender os adoradores da RF, mais ninguém (basta lembrar quem e de que maneira ficou com a grande maioria dos activos do Khodokkovsky)…
...teria que explicar muito bem explicadinho aos seus accionistas...
Não tem, deveria. O principal accionista (governo) sabe o que se pretende com a companhia.
...porque é que os seus custos operacionais dispararam em flecha apesar de a produção estar aos níveis do início do século...
Será assim uma coisa tão estranha com uma companhia que tem que fazer manutenção à maior estrutura de pipelines do mundo?
...porque é que tem que importar gás de países terceiros praticamente a preços de mercado estando sentada em cima das maiores reservas de gás do mundo...
Eles não importam gás, para consumo interno. Eles revendem esse gás.
...Convém não esquecer que, por mais estratégico que seja o negócio, os seus órgãos de gestão dispõem apenas de um mandato conferido pelos seus accionistas, que neste caso são a população russa em geral e quem decidiu investir na empresa através da compra de participações. Como tal, os mandatários têm o dever de explicar aos accionistas, em detalhe, todas as decisões que tomam, especialmente as que afectam negativamente a rentabilidade da empresa e, consequentemente, o valor accionista. Neste contexto, nenhum accionista no seu juízo perfeito tolerará corrupção ou gestão danosa na empresa na qual detém participações...
O dono da empresa é o governo russo. ponto final. tendo a maioria das acções mandam. Os restantes accionistas investem na empresa se quiserem. Nenhum accionista no seu juízo perfeito manterá o seu investimento numa empresa que não se perspective lucro no futuro, se lá estão é porque procuram obter lucros.
...o verdadeiro tema central do artigo (que não é, obviamente, a Gazprom, como alguns pensam)...
No entanto é a única focada e parece-me a mim que os grandes problemas da Hermitage (para não dizer o único problema) é com a Gazprom.
...Aliás, uma das razões do sucesso do fundo foi ter investido em empresas corruptas e mal geridas mas com elevado potencial, pressionando depois para que as práticas danosas fossem erradicadas...
Quais são as empresas que faz referência?
...Assim, um governo que faz questão de combater a corrupção deveria, em teoria, beijar o chão que a Hermitage pisa...
O problema é se a Hermitage se dedica únicamente a limpar a corrupção ou se tem planos mais sinistros como adquirir posições chave em empresas estratégicas russas, principalmente as de energia, dado o enorme valor que elas têem e onde muitas acções foram compradas a preços de saldo, devido aos problemas da transição da URSS para a Rússia. Ou será que só foram russos que compram clubes de futebol é que se lembraram disso?
Em países civilizados, este escândalo seria suficiente para fazer um governo inteiro cair.
Ora... temos para aí países a fazerem guerras baseados em mentiras e não caem, quanto mais por isto.
Corrupção? Mas onde é que não existe? Aliás se os accionistas quisessem saber, como é que certas empresas energéticas conseguem contratos fabulosos a explorar países do 3º mundo, com lucros brutais, descobriam rápidamente que é à custa da miséria das populações locais, basta pagar aos ditadores reinantes.
Alguém quer saber? claro que não, isso iria comer os lucrozinhos...
Caro António Campos
Foi um prazer trocar ideias consigo pessoalmente. Permita-me algumas observações.
Tudo o que você diz estaria correcto se a Rússia fosse um país europeu e não euro-asiático.
Por maior utilidade que a actividade da Hermitage tivesse tido (que não discuto), há uma coisa que os russos não gostam e que nós, europeus, não entendemos lá muito bem: eles não gostam que os estrangeiros lhes mostrem as suas mazelas, preferindo viver com elas. Os russos eles próprios podem fazer as maiores críticas ao seu regime mas detestem que tal seja feito por estrangeiros. Neste caso, a luta contra a corrupção só pode ser admitida a partir de dentro, o que equivale a uma luta inglória, como sabemos.
Esse empresário não é único a sofrer tais atribulações. Digamos que qualquer empresário poderá fazer negócios na Rússia desde que "não toque em coisas sagradas", ou seja, não financie grupos de oposição, não diga mal do Governo, não dê entrevistas "inconvenientes", etc.etc. Para além disso, deverá conhecer os "hábitos locais", adaptar-se a eles e esquecer-se daquilo que aprendeu no Ocidente. Como vê, acho que Earl Browder agiu de forma diferente e, como tal, pagou por isso.
Cristina Mestre
Errata: onde está Earl Browder, ler William Browder.
Já agora:
Os russos ainda gostam menos que os seus problemas internos sejam revelados e "a informação seja passada para a imprensa russa e internacional". Até existe uma lei, aprovada há uns anos, que pune judicialmente quem descridibilize as instituições ou cause danos à imagem pública da Rússia.
Segundo a informação que encontrei até agora:
1. O fundo em questão infringiu as leis russas, transferindo dinheiro para offshores evitando pagamento de impostos ao criar as estruturas, registradas na Rússiia e formalmente dirigidas pelos russos. Não sei como isso corresponde às intenções tão boas e impunes, como combate à corrupção etc.
2. Na imprensa russa existe a opinião de que isso pode ser exatamente o começo da limpeza de esquemas obscuras que existiam na área de compra e venda das acções.
Finalmente, vi o "material" do Youtube. Então, toda esta "peça", apresentada por sr. Campos, é apenas a tradução para portugues daquele filme ao estilo da propaganda norte-americana? Aquele filme com imagens de Moscovo como nos filmes de Hollywood? Maravilha. O cúmulo de imparcialidade. Queria perguntar, porque é que devemos acreditar em tudo isso? Nas palavras de uma das partes. Na Rússia há corrupção, ninguem nega isso, mas deve haver uma forte razão para os dirigentes mais altos do estado não terem ajudado o empresário mencionado.
Achei muito engraçado este parágrafo que incluído no texto original não me tinha chamado a atenção:
"...Convém não esquecer que, por mais estratégico que seja o negócio, os seus órgãos de gestão dispõem apenas de um mandato conferido pelos seus accionistas, que neste caso são a população russa em geral e quem decidiu investir na empresa através da compra de participações. Como tal, os mandatários têm o dever de explicar aos accionistas, em detalhe, todas as decisões que tomam, especialmente as que afectam negativamente a rentabilidade da empresa e, consequentemente, o valor accionista. Neste contexto, nenhum accionista no seu juízo perfeito tolerará corrupção ou gestão danosa na empresa na qual detém participações..."
Recordam-se do rebentar da crise? Foi precisamente isto que aconteceu em muitas empresas ocidentais em que os mandatários (gestores) usaram e abusaram dos seus previlégios ao mesmo tempo que exerciam a prática de gestão danosa e fraudulenta.
Até cá em Portugal aconteceu exactamente isto no BPN e BPP.
Estranho só chocar quando é na Rússia.
Cumpts
Manuel Santos
Este PM é um prato que dá imenso gozo a ler. Não sei de que Gazprom ele estava a falar, mas não deve ser aquele “activo estratégico propriedade do governo russo” que todos conhecemos, porque esta Gazprom, por crónica falta de investimento na exploração no próprio país, tem vindo a ter que preencher a lacuna entre a sua própria produção e as necessidade DOMÉSTICAS (98,1 mil milhões de m3 em 2005, 115,8 em 2006 e uns explosivos 131,8 em 2007) com gás importado de países da Ásia central, a preços que em 2009 se aproximarão dos valores de mercado. Só para dar uma ideia, o gás importado do Turquemenistão para consumo doméstico custava à Gazprom 30 dólares/1000 m3 em 2003, passando para 150 em 2007, apontando estimativas para o valor de 250 ou mais dólares no corrente ano.
Assim, o disparar dos custos operacionais tem pouco ou nada que ver com manutenções ou coisa que o valha. Em 2003, a Gazprom gastava em compras de petróleo e gás a terceiros mil milhões de dólares. Em 2007, já gastou 15 mil milhões (11,7 mil milhões em importações de gás da Ásia central) , ou seja, 25% dos seus custos operacionais. Por outro lado, os custos com o pessoal TRIPLICARAM desde 2003.
Ao final do dia, quando a informação contabilística da Gazprom começou a ser apresentada segundo critérios internacionais (sim, porque senão não havia mercado de capitais para ninguém…azar), chegou-se à conclusão de que em 2007, um aumento de 8% nas receitas resultou numa redução dos lucros de 11%! Não admira assim que a dívida da empresa tenha atingido uns astronómicos 61,6 mil milhões de dólares em 2007, ou seja, dois terços das suas receitas anuais totais.
Todos estes dados podem ser consultados nos relatórios e contas da empresa.
Quem é que no seu juízo perfeito engoliria o argumento de que o TRIPLICAR dos custos operacionais em 4 anos se deve à manutenção dos pipelines, já de si a cair de podres por manutenção deficiente, tipo Sayano-Shushenskaya? Só mesmo o PM e quem lhe paga para escrever estes disparates.
Não sei se me hei-de rir ou chorar com a tirada imperdível de que a Gazprom é “propriedade do governo ponto final”. Talvez na república das bananas que é a Rússia actual muita gente não tenha outra alternativa senão engolir tal enormidade de bico calado, mas quando tal é regurgitado por alguém que supostamente (e atenção, caros leitores, que aqui este “supostamente” tem mais importância do que parece) vive num estado de direito, e ainda por cima dito de forma tão grave e séria, põe-nos os cabelos em pé e faz-nos ter pensamentos de nashista à porta da casa do Podrabinek. Um governo não é proprietário de coisa nenhuma. Um governo tem um MANDATO de uma população de um determinado estado para ADMINISTRAR os bens públicos (e é por isso mesmo que se chamam públicos, porque pertencem ao público) e, como tal, não só deve, como TEM que prestar contas relativamente à sua administração. E ser despedido nas próximas eleições se a sua gestão for danosa, como é manifestamente o caso.
Mas pensando melhor, acho que finalmente a boca do PM lhe fugiu para a verdade. A ideia é exactamente essa: tornar o erário público propriedade do governo. Ou seja, dos seus membros.
António Campos
Cara Cristina,
Quando li o seu comentário, lembrei-me de uma tirada do Igor Stravinsky que dizia assim:
“Não abandonei a Rússia de livre vontade, ainda que não gostasse de muitas coisas na minha Rússia e no país em geral. No entanto, o direito de criticar a Rússia é meu, porque a Rússia é minha, eu amo-a e não dou esse direito a nenhum estrangeiro.”
Mas a verdade é que nenhum povo, sem excepção, gosta de ser criticado por estrangeiros. Tal não é exclusivo da Rússia. Nós odiamos que os espanhóis venham aqui dizer que o país deles é mais limpo que o nosso. O problema de Browder foi que a páginas tantas terá pisado nos calos de alguém detentor de interesses e poder suficiente para perceber a “utilidade” deste golpe. O fundo esteve activo durante nove anos (desde 1996 até ao início dos problemas, em finais de 2005) e os muitos casos de corrupção que desmascarou nunca lhe causaram problemas. Por outro lado, o próprio Browder era o primeiro a crer na necessidade de um governo autoritário para “limpar” a economia, pelo que o seu apoio a Putin sempre foi incondicional.
Por outro lado, a prática de “reiderstvo” da qual a Hermitage foi alvo, é de facto (tal como mencionou Jest num comentário anterior) um esquema extremamente corriqueiro na Rússia e as vítimas são quase sempre empresas russas. O que é verdadeiramente espantoso neste caso é como, impedidos de pilhar os activos do fundo, os criminosos se voltaram para o tesouro russo e roubaram 230 milhões aos contribuintes com o aval do governo. Este é, do meu ponto de vista, o ponto fulcral da história, o que prova que os poderes vigentes, além de não terem vergonha nenhuma na cara, têm pouco ou nenhum interesse em combater a corrupção.
Ao final do dia, a Hermitage saiu praticamente incólume deste golpe, se não contarmos com os incómodos, as despesas legais e os espancamentos aos pobres advogados russos da sociedade que lhes dava apoio jurídico. O fundo está activo de novo e em força, tendo-se virado para mercados um pouco menos “niilistas legais”.
Quem se tramou mesmo foi o povo russo. Para variar.
António Campos
"...esta Gazprom, por crónica falta de investimento na exploração no próprio país, tem vindo a ter que preencher a lacuna entre a sua própria produção e as necessidade DOMÉSTICAS (98,1 mil milhões de m3 em 2005, 115,8 em 2006 e uns explosivos 131,8 em 2007) com gás importado de países da Ásia central, a preços que em 2009 se aproximarão dos valores de mercado..."
Dado que você está tão bem por dentro destas coisas, pelos dados que mostra, explique como é que a Gazprom ainda consegue exportar para a Europa. Ou como é que a Gazprom é a maior produtora a nível mundial. Não precisa de explicar mais nada apenas isto. Se fôr capaz, claro...
"Só para dar uma ideia, o gás importado do Turquemenistão para consumo doméstico custava à Gazprom 30 dólares/1000 m3 em 2003, passando para 150 em 2007, apontando estimativas para o valor de 250 ou mais dólares no corrente ano."
O gás importado do Turquemenistão, faz parte da actual guerra do gás, que está a existir entre alguns países, a Rússia ao comprar a produção do Turquemenistão, coloca em xeque outras rotas que se pretendem implementadas, sendo uma delas o Nabucco. A Rússia luta para dar preferência aos seus pipelines e inviabilizar outras rotas, isso tem custos, como por exemplo referênciado neste artigo de 2007:
Turkmenistan gas price rises 50%
Russia has agreed to pay Turkmenistan up to 50% more for its gas, Russia's gas export monopoly, Gazprom, has said.
Analysts say the increase will push up prices for Ukraine, which has had past disputes with Russia over gas supplies.
Gazprom buys almost all the gas exported by Turkmenistan and sells it on to other countries...
http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/7116218.stm
"...Em 2003, a Gazprom gastava em compras de petróleo e gás a terceiros mil milhões de dólares. Em 2007, já gastou 15 mil milhões (11,7 mil milhões em importações de gás da Ásia central) , ou seja, 25% dos seus custos operacionais. Por outro lado, os custos com o pessoal TRIPLICARAM desde 2003..."
Santa paciência, também é preciso explicar isto? seja.
Você por acaso, tem reparado no que tem acontecido ao preço da energia nos últimos anos? talvez não, mas pelo menos será que reparou que passou a gastar muito mais quando vai à bomba meter gasolina no carro? Você tem reparado no custo do barril de petróleo nos últimos anos? nem me vou dar ao trabalho de meter aqui uma fonte, o que não falta são gráficos por todo o lado.
A Gazprom está a pagar mais aos seus fornecedores? certo. Agora diga-me uma coisa, está a cobrar o mesmo aos seus clientes?
Em relação aos salários. os custos com o pessoal triplicaram desde 2003? aposto em como você aqui não vai mostrar qual tem sido o aumento salarial desde 2003, ou será que vai?
"...Quem é que no seu juízo perfeito engoliria o argumento de que o TRIPLICAR dos custos operacionais em 4 anos se deve à manutenção dos pipelines, já de si a cair de podres por manutenção deficiente..."
Só uma chamada de atenção, para não pensar que encontrou pela 1ª vez uma falha na minha lógica... UMA das razões (e não a ÚNICA), é de facto a manutenção dos pipelines, que tal como refere, precisa de grandes investimentos.
"Só mesmo o PM e quem lhe paga para escrever estes disparates."
Sabe, nunca fui incorrecto aqui com ninguém e nunca precisei de dizer que alguém anda a soldo de outro ou outro tipo de provocações. Eu apenas coloco argumentos e ponho em causa certas coisas que são ditas. Ou você mostra que está certo ou não. Quem lê os nossos argumentos só pode ficar a ganhar porque fica a conhecer um pouco mais do assunto e um pouco mais acerca de quem escreve. Eu pelo menos estou a aprender bastante sobre o tipo de pessoa que você é.
Relativamente ao resto do post. Só tenho a dizer o seguinte, em vez de se dedicar à Gazprom, dedique-se antes à Galp. Compre umas acções e vá reclamar porque anda ali uma rebaldaria e andamos nós a pagar desta maneira. Não se arranja uma Hermitage para ver o que se passa com a Galp?
E volto a dizer, o governo manda na Gazprom e você pode fazer o pino as vezes que quiser que não muda esse facto.
1. O sr. Campos não foi capaz de encontrar alguma coisa mais recente?
"O que é verdadeiramente espantoso neste caso é como, impedidos de pilhar os activos do fundo, os criminosos se voltaram para o tesouro russo e roubaram 230 milhões aos contribuintes com o aval do governo. Este é, do meu ponto de vista, o ponto fulcral da história, o que prova que os poderes vigentes, além de não terem vergonha nenhuma na cara, têm pouco ou nenhum interesse em combater a corrupção."
Não tem reparado que hoje não é 2005, mas 2009? E até o presidente da Rússia já é outro? E as prioridades da politica interna mudam com o tempo em resposta aos desafios atuais?
2. Não tenho tempo agora para ver as estatisticas da Gazprom, mas se está tudo tão mal, o sr. Campos pode desde já ficar contente e começar a festejar a falencia desta empresa. Mas é que a verdade nós todos veremos daqui a alguns anos. E algo me diz que o sr. Campos não vai ter razões nenhumas para festejar.
Já agora, após esta conversa toda, para mim ficou tudo claro definitivamente. Reparem só numa coisa – há pouco, neste blogue, o Sr. António Campos escreveu: «Putin e Khodorkovsky devem trocar de lugar. Já». É muito significativa a atitude do Sr. Campos em relação ao tipo, que roubou bilhões de dólares alheios (do povo, mas não da “população”), aproveitando os tempos de desordem, cuja empresa nem sequer pagava os impostos ao estado, como devia ser (p.ex. no ano de 1999 TOMKNEFT, que fazia parte da YUKOS, pagou aproximadamente 8,50$ de uma tonelada (não é barril!) de petróleo, quando a outra empresa da mesma cidade pagou 120,00$), o tipo, que finalmente queria vende-la (empresa) aos estrangeiros (nomeadamente ao consórcio americano)! Vejam só, vender o recurso estratégico, que há pouco tinha pertencido ao estado (ao povo)! Não, meus Senhores, este gajo está no sítio certo. Aliás, na minha opinião, falta-lhe a companhia dos outros “novos russos”, que continuam a gozar da vida.
Agora o Sr. Campos procura a acusar a GAZPROM em todos os pecados possíveis, utilizando todos argumentos que consegue arranjar na Net (embora nem sempre óbvios). Mas a razão para tal comportamento é simples e é única:
PortugueseMan disse...
O dono da empresa é o governo russo. ponto final.
Já estamos a ver donde é que crescem os pés))
anónimo russo disse...
Mas é que a verdade nós todos veremos daqui a alguns anos. E algo me diz que o sr. Campos não vai ter razões nenhumas para festejar.
Isso mesmo, meu amigo, isso mesmo.
Mas também algo me diz que aí nunca mais veremos o Sr. Campos e Cº, nem apreciações deles)).
2 Roman
Se achas que Khodor é um ladrão, então o que dizes do Abramovich? Luzhkov? Elena Baturina?
Khodorkovsky está na prisão não por causa dos impostos, mas por causa da sua opção política: em vez de financiar a “Rússia Unida”, o grande malandro “anti – patriótico” e “pró – americano” resolveu financiar o “Yabloko”, nem sei como se atrevia lol.
p.s.
Vi ontem Sr. Browder na CNN dizer uma coisa acertada: “Os projectos da curta duração podem dar certo na Rússia, os projectos da longa duração não aconselho, pois nunca se sabe se o seu negócio não será apropriado por alguém, quem acha-lo atraente” (a minha tradução livre).
´Tá tudo dito…
Aliás, as acusações contra Khodorkovsky são tão forjadas como as contra Brodwer.
Tal como diz um comentário no blog da Reuters, "Given the circumstances, the latest allegations against Browder will command little credibility outside Russia. According to court documents recently submitted by Hermitage in the US, the criminal case against Magnitsky (o advogado russo da Hermitage) was initiated by the same police officers previously accused by Hermitage (o tal tenente-coronel Kuznetsov)"
Dá vontade de rir, não dá?
António Campos
Jest,
Só para relembrar:
Port of Houston accepts first direct shipment of Russian oil
HOUSTON The first shipment of Russian oil directly to the United States arrived in Houston on Wednesday, and U.S. officials hailed the delivery as a step toward reducing dependence on Middle East oil.
Mikhail Brudno, first vice president of the Russian oil company that made the shipment, said it would be the first of five or six to the United States this year.
The 200,000-metric-ton shipment arrived in the Port of Houston aboard the supertanker Astro Lupus.
Brudno said the shipment from Yukos, Russia's No. 2 oil producer, had been purchased by Exxon Mobil Corp. and another buyer, whom he declined to identify...
http://www.highbeam.com/doc/1P1-54074174.html
Isto foi no ano de 2002, em que ano começaram os problemas com a Yukos?
Relativamente a projectos de longo prazo, será necessário enumerar alguns entre a UE e a Rússia?
Jest nas Wielu disse...
2 Roman
Se achas que Khodor é um ladrão, então o que dizes do Abramovich? Luzhkov? Elena Baturina?
Trate por “tu” os seus amiguinhos democráticos, ainda não bebemos consigo “na bruderschaft”.
Quanto a companhia referida é mesmo essa, que queria ver ao lado do “Khodor” (reveja o meu post anterior, se leu mal), aliás, na minha opinião, faltam alguns indivíduos.
Vi ontem Sr. Browder na CNN dizer uma coisa acertada: “Os projectos da curta duração podem dar certo na Rússia, os projectos da longa duração não aconselho, pois nunca se sabe se o seu negócio não será apropriado por alguém, quem acha-lo atraente”
Ninguém obriga a ninguém. Não querem investir – não investem. Qual é o problema para a “humanidade progressiva” em geral e para si em particular?
Estes putinófilos da laia do PM fazem-me sempre ganhar o dia. Rebolo-me a rir com o que escrevem. Mas como infelizmente o assunto é mais triste do que jocoso e provavelmente a maioria dos leitores considera que este não é um blog de anedotas, vou tentar ser um bocadinho mais claro e muito, muito simples, para que até os putinófilos mais ferrenhos possam entender.
Claro que a Gazprom vende gás na Europa, que o paga bem pago. Se não o fizesse, o seu modelo económico, que depende fundamentalmente de um esquema de subsidiação cruzada entre clientes domésticos (que o compram a baixo custo e, por isso, se têm vindo a marimbar para a sua eficiência energética) e exportações (cobradas a preço de mercado), iria totalmente por água abaixo. E é por isso que tem que importar gás para satisfazer as necessidades domésticas. O problema aqui é que a Gazprom, em vez de explorar os depósitos locais, preferiu sifonar o seu capital não se percebe bem para onde, comprando em alternativa gás turcomeno ao preço da chuva e a maré agora está a virar. Uma das razões que poderão levar a que a Rússia concorde em pagar mais pelo gás é que o Kremlin ache que pode repassar o acréscimo de custos para os seus clientes. No entanto, tal só acontecerá se estes não tiverem alternativas viáveis. Caso tal se materialize (por exemplo, uma ligação TCP-Nabucco que faça um bypass total à Rússia), a Rússia ficará em muito maus lençóis. Esta é uma das razões pelas quais o Kremlin tenta por todos os meios inviabilizar o Nabucco.
Sem gás centro-asiático barato e sem novos investimentos no aumento da capacidade de produção, a Rússia enfrenta opções muito desagradáveis: repassar os custos para os clientes no mercado doméstico (lá se vai a “melhoria” da qualidade de vida da população); reformar a economia (não sabem como nem querem fazê-lo), ou, pior que tudo, vender ainda menos no mercado doméstico e mais no internacional. Quem os colocou nesta situação? Nada menos do que eles próprios.
Outro conceito simples que parece ser difícil de entender pelos putinistas é o da “eficiência”. O número de trabalhadores da Gazprom aumentou em 54.000 (cinquenta e quatro mil!) efectivos de 2003 para 2007, para produzir exactamente a mesma quantidade de gás. Uma equipa de gestão que se preza tenta por todos os meios extrair o máximo de rendas com o mínimo possível de mão-de-obra, e não o contrário, especialmente num contexto de acentuada actualização salarial. Com esta condicionante, a pressão é obviamente para o aumento da eficiência. Fazendo precisamente o contrário, a Gazprom, mais uma vez, lesou os seus accionistas, ou seja, em larga medida, a população em geral.
Ao final do dia, o colossal falhanço da gestão da Gazprom é-nos revelado pelas próprias palavras do ilustre PM, quando refere, e muito bem, os acentuados aumentos de preços que todos os consumidores engoliram. Em 2007, num contexto de elevado consumo internacional de hidrocarbonetos, no qual foi possível repassar aumentos de preços sem afectar a procura, a equipa de gestão da Gazprom cometeu a “proeza” de, com um aumento das receitas de 8%, ver os seus lucros descerem 11%.
Se a isto não se chama gestão danosa, vamos ter que inventar outro adjectivo para a performance do duo dinâmico.
António Campos
Claro que a Gazprom vende gás na Europa, que o paga bem pago.
A Europa PAGA a preços de MERCADO.
Se não o fizesse, o seu modelo económico, que depende fundamentalmente de um esquema de subsidiação cruzada entre clientes domésticos (que o compram a baixo custo e, por isso, se têm vindo a marimbar para a sua eficiência energética) e exportações (cobradas a preço de mercado), iria totalmente por água abaixo.
Acabou de demonstrar o que está a acontecer na Ucrânia, com uma agravante, estes estão dependentes do gás russo...
E é por isso que tem que importar gás para satisfazer as necessidades domésticas.
Disparate.
comprando em alternativa gás turcomeno ao preço da chuva
Disparate II.
Uma das razões que poderão levar a que a Rússia concorde em pagar mais pelo gás é que o Kremlin ache que pode repassar o acréscimo de custos para os seus clientes.
A Rússia vende a preços de mercado.
Caso tal se materialize (por exemplo, uma ligação TCP-Nabucco que faça um bypass total à Rússia), a Rússia ficará em muito maus lençóis. Esta é uma das razões pelas quais o Kremlin tenta por todos os meios inviabilizar o Nabucco.
Em maus lençóis está o Nabucco, que para tentar a viabilidade do projecto, até estão a tentar arranjar acordos com o Irão e Iraque.
E os pipelines que estão a receber mais apoio da UE são exactamente os pipelines russos, o Nord e South Stream.
O número de trabalhadores da Gazprom aumentou em 54.000 (cinquenta e quatro mil!) efectivos de 2003 para 2007, para produzir exactamente a mesma quantidade de gás
Bom meu caro, aqui você vai ter que meter as fontes de onde se baseia isto que diz. Ou você não as coloca por algum motivo?
Em 2007, num contexto de elevado consumo internacional de hidrocarbonetos, no qual foi possível repassar aumentos de preços sem afectar a procura, a equipa de gestão da Gazprom cometeu a “proeza” de, com um aumento das receitas de 8%, ver os seus lucros descerem 11%.
Fontes dos dados por favor.
2 Roman
Como não estas na sua casa (no seu próprio blogue), pfr, não esquece que não tens o privilégio de cá definir as regras, para isso existe José Milhazes.
Em Portugal se diz que “um homem prevenido, vale por dois”, por isso estamos a prevenir. Como já disse, não estas em sua casa para se indignar.
Obrigado.
p.s.
A nossa primeira – ministra Yulia Timoshenko foi eleita na Internet como a chefe do estado mais “quente”do mundo:
http://hottestheadsofstate.
wordpress.com/list
O Sr. Jest nas Wielu não deixa o tom inculto e discreto. Existem as regras de bom comportamento e não foi o Sr. Milhazes que as elaborou. Portanto não vale a pena apelar à autoridade dele. Responda da sua parte própria, em vez de bajular incongruentamente.
E também não é preciso agradecer, basta só não tratar por “tu” as pessoas desconhecidas (já não pretendo obter desculpas).
Será que tal comportamento é a parte inalienável da sociedade democrática? É de orgulho)).
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