Quando a União Soviética reconheceu a independência da Guiné-Bissau, declarada há precisamente 36 anos, Moscovo quis estabelecer relações diplomáticas com o novo país, mas, como a capital, Bissau, estava sob controlo português, a cerimónia realizou-se no mato.
Em 24 Setembro de 1973, a direcção do PAIGC declarou a independência da Guiné-Bissau nos territórios sob o seu controlo, acto que foi reconhecido por mais de 80 Estados até ao início de 1974.
Alguns deles - Argélia, Roménia, Jugoslávia, Guiné-Conacri e União Soviética - decidiram estabelecer relações diplomáticas ao nível de embaixadas.
Leonid Mussatov, então embaixador soviético em Conacri, foi nomeado representante por inerência na Guiné-Bissau, tendo sido encarregado de entregar as credenciais diplomáticas a Luís Cabral, Presidente do Conselho de Estado do novo país.
"Em Maio de 1974, recebi um convite do Governo da Guiné-Bissau para estar no dia 09 de Maio na cidade de Boké (Guiné-Conacri) a fim de ir para uma das regiões libertadas do país (...) Juntamente com os embaixadores da Argélia, Roménia, Guiné e Jugoslávia, cheguei a Boké na manhã de 09 de Maio", escreve Mussatov nas suas memórias "Viagens Africanas", publicadas em Moscovo.
A viagem rumo aos territórios libertados do PAIGC foi feita de noite por questões de segurança.
"Visto que a cidade de Boké se encontra a 60 km da fronteira, fomos até à Guiné-Bissau em camiões protegidos por soldados e comandantes guineenses. Eu ia num carro com o vice-ministro da Defesa da Guiné-Bissau, Pedro Pires [actual Presidente de Cabo Verde]", recorda o diplomata soviético.
"Entre as três e as cinco horas da manhã de 10 de Maio", continua Mussatov, "descansámos em tendas num acampamento militar e, depois, cansados, infiltrámo-nos no território da Guiné-Bissau", descrevendo "ruínas de aldeias guineenses queimadas pelos portugueses".
"Finalmente, às 10 horas, chegámos à residência do Presidente, constituída por vários "palacetes", cabanas no interior da selva. Fomos instalados no "hotel dos embaixadores", cabana construída de ramos e folhas de palmeiras e de outras árvores e anunciaram-nos que a entrega de credenciais começaria às 12.30", recorda o embaixador.
"De súbito", relata ainda o diplomata, "às 11 horas, no céu apareceram dois aviões militares portugueses e, depois de alarme aéreo, fomos obrigados a escondermo-nos. Felizmente, os aviões, depois de darem várias voltas por cima da selva, afastaram-se".
Leonid Mussatov, lembra que, no regresso a Conacri, no dia seguinte, soube que a "Voz da América" tinha noticiado esta expedição diplomática.
"A espionagem americana e os seus agentes na Guiné seguiram atentamente a nossa viagem e, pelos vistos, juntamente com os portugueses, tentaram assustar-nos", prossegue Mussatov.
Regressado a Conacri, o embaixador soviético seguiu depois para Moscovo para apresentar informação sobre a cooperação com a Guiné-Bissau, tendo mostrado aos membros do Colégio do MNE fotos daquela cerimónia pouco comum.
"O primeiro vice-ministro V.V.Kuznetsov declarou então: 'É o primeiro caso na História da Diplomacia em que embaixadores entregam credenciais não num palácio, mas na selva da guerrilha'", lembra Mussatov.
Em 24 Setembro de 1973, a direcção do PAIGC declarou a independência da Guiné-Bissau nos territórios sob o seu controlo, acto que foi reconhecido por mais de 80 Estados até ao início de 1974.
Alguns deles - Argélia, Roménia, Jugoslávia, Guiné-Conacri e União Soviética - decidiram estabelecer relações diplomáticas ao nível de embaixadas.
Leonid Mussatov, então embaixador soviético em Conacri, foi nomeado representante por inerência na Guiné-Bissau, tendo sido encarregado de entregar as credenciais diplomáticas a Luís Cabral, Presidente do Conselho de Estado do novo país.
"Em Maio de 1974, recebi um convite do Governo da Guiné-Bissau para estar no dia 09 de Maio na cidade de Boké (Guiné-Conacri) a fim de ir para uma das regiões libertadas do país (...) Juntamente com os embaixadores da Argélia, Roménia, Guiné e Jugoslávia, cheguei a Boké na manhã de 09 de Maio", escreve Mussatov nas suas memórias "Viagens Africanas", publicadas em Moscovo.
A viagem rumo aos territórios libertados do PAIGC foi feita de noite por questões de segurança.
"Visto que a cidade de Boké se encontra a 60 km da fronteira, fomos até à Guiné-Bissau em camiões protegidos por soldados e comandantes guineenses. Eu ia num carro com o vice-ministro da Defesa da Guiné-Bissau, Pedro Pires [actual Presidente de Cabo Verde]", recorda o diplomata soviético.
"Entre as três e as cinco horas da manhã de 10 de Maio", continua Mussatov, "descansámos em tendas num acampamento militar e, depois, cansados, infiltrámo-nos no território da Guiné-Bissau", descrevendo "ruínas de aldeias guineenses queimadas pelos portugueses".
"Finalmente, às 10 horas, chegámos à residência do Presidente, constituída por vários "palacetes", cabanas no interior da selva. Fomos instalados no "hotel dos embaixadores", cabana construída de ramos e folhas de palmeiras e de outras árvores e anunciaram-nos que a entrega de credenciais começaria às 12.30", recorda o embaixador.
"De súbito", relata ainda o diplomata, "às 11 horas, no céu apareceram dois aviões militares portugueses e, depois de alarme aéreo, fomos obrigados a escondermo-nos. Felizmente, os aviões, depois de darem várias voltas por cima da selva, afastaram-se".
Leonid Mussatov, lembra que, no regresso a Conacri, no dia seguinte, soube que a "Voz da América" tinha noticiado esta expedição diplomática.
"A espionagem americana e os seus agentes na Guiné seguiram atentamente a nossa viagem e, pelos vistos, juntamente com os portugueses, tentaram assustar-nos", prossegue Mussatov.
Regressado a Conacri, o embaixador soviético seguiu depois para Moscovo para apresentar informação sobre a cooperação com a Guiné-Bissau, tendo mostrado aos membros do Colégio do MNE fotos daquela cerimónia pouco comum.
"O primeiro vice-ministro V.V.Kuznetsov declarou então: 'É o primeiro caso na História da Diplomacia em que embaixadores entregam credenciais não num palácio, mas na selva da guerrilha'", lembra Mussatov.
4 comentários:
já que falamos da história...
A Comissão Internacional de Investigação dos crimes contra a Humanidade de Estónia (criada onze anos atrás) editou a terceira parte dos seus conclusões, chamada: “A ocupação da Estónia pela União Soviética desde 1944” (em inglês, estónio e russo):
http://www.historycommission.ee/
temp/index.htm
Caro Jest, obrigado pela dica.
Sr. Milhazes, o facto de a viagem se ter efectuado de noite, por razões de segurança, e de se terem que esconder, perante a ameaça de 2aviões militares portugueses, demonstra bem "quão libertadas" essas áreas estavam.
Também bastante elucidativa, a natureza dos "edifícios" das áreas libertadas nada mais que "precárias palhotas".
Razão tinham os comandos africanos guineenses do Batalhão de Comandos Africanos, que diziam que os guerrilheiros viviam em palhotas e na maior das misérias.
Uma pena esse Luís Cabral ter morrido em Portugal (como sabe, veio refugiar-se aquí, após o golpe de estado do Nino Viera. O estado português é generoso demais, mesmo para com antigos inimigos.
Nino Vieira, também procurou aquí refúgio, após o golpe do Ansumane Mané, ocorrido em 1998.
Esteve aquí largos anos (com vivenda de luxo fornecida por um dos homens de negócios mais ricos do país e mais tarde, pese a proibição sobre ele independente de sair do país, andou pela Bélgica não se sabendo ao certo a fazer o quê) e depois voltou para a Guiné, sendo reeleito presidente em 2005.
Em 2 de Março de 2009, foi morto a tiro e à catanada, por um grupo de militares.
Ferido a tiro, foi depois morto à catana (feito em pedaços) e inclusive, capado (não se sabe se foi primeiro capado e só depois morto, se foi capado já depois de morto à catanada). Recebeu ainda uma rajada adicional de carregador de metralhadora Kalashnikov.
O padre holandês que foi buscar o cadáver, ficou chocado com o que viu.
A meu ver, teve a morte que merecia. E mais não digo.
Eu estive no sul da guiné em 68/69 e essa do "queimar as aldeias pelas tropas portuguesas", pelo menos nas operações em que participei, é uma farsa e uma mentira. Se existiam tabancas queimadas, é porque já não vivia lá ninguém. E, ao mesmo tempo, é bom lembrar a todos os "anti-fascistas" que afinal os Portugueses foram colonizadores e depois de 1974, quando deram a independência às colónias sob a sua dependência, os novos colonizadores desses países, quer queiram, quer não, foram russos e cubanos principalmente. Não sei se o Povo Guineense ganhou mais, se com os colonizadores portugueses se com os colonizadores russos ou os cubanos... E é bom também não esquecer que o "libertador" guineense, Nino Vieira, arrecadou fortunas e bens pessoais à custa da fome e da miséria do seu Povo e que pelos vistos ainda continua, com russos e cubanos, a ser um país miserável e sem previsões de avanço social e económico!
Enviar um comentário