O dirigente que presidiu ao fim da União Soviética afirmou, em declarações à imprensa russa, que a Alemanha Federal, os Estados Unidos e outros países ocidentais lhe prometeram que, depois da reunificação da Alemanha em 1990, “a NATO não se alargaria nem sequer um centímetro para Leste”.
“Mas os americanos não cumpriram essa promessa e os alemães revelaram indiferença para com isso. Talvez tenham mesmo esfregado as mãos de alegria, por terem conseguido enganar os russos”, lamenta Gorbatchov, sublinhando que isso levou a que “os russos não acreditem nas promessas ocidentais”.
A politóloga russa Alla Iarochinskaia adianta que “tudo não passou de palavras: o fim de todos os blocos e das suas bases militares, a não difusão de armas nucleares no seu território e a retirada de armas nucleares pelos Estados Unidos, a criação de uma nova arquitectura da segurança europeia e mundial tendo em conta as novas realidades geopolíticas e, o principal, uma ajuda financeira significativa”.
Para Alla Iarochinskaia “a URSS foi simplesmente enganada e a aliança militar e política NATO não só não desapareceu, mas já está às portas de Brest (cidade bielorrussa na fronteira com a Polónia”.
Mikhail Gorbatchov não está, no entanto, arrependido de ter contribuído para o fim do Muro de Berlim, que caiu em 09 de Novembro de 1989.
“O Leste e o Ocidente desejavam então a mais rápida reunificação”, lembra Gorbatchov nas suas memórias, onde revela que o Kremlin começou a pensar na reunificação no início dos anos 80.
“Ideias a esse propósito existiam já na altura quando Brejnev me chamou para a direcção soviética. Eu sabia que a história originou o problema da divisão da Alemanha e a história devia resolvê-lo”, considera.
O antigo Presidente soviético assinala, todavia, que em Junho de 1989 o chanceler alemão Helmut Kohl e ele próprio estavam convencidos de que a reunificação da Alemanha seria “uma questão para o séc. XXI”.
12 comentários:
Em vez de utilizar a palavra "ocidente" eu diria nesse caso mais concretamente: EUA, que a uns 90% têm a responsabilidade por tudo isso. Claro, é política, claro, a política é uma coisa cínica, mas o que os EUA fizeram no mundo nos últimos 20 anos ultrapassou todos os limites. Para mim pessoalmente, o cúmulo do cinismo e de padrões duplos foi a história com a antiga Jugoslávia. Será que isso tambem correspondia aos interesses da Europa? Até o caso do Iraq para mim é mais compreensível, lá tudo se explica com o petróleo.
A queda do muro, e as respectivas celebrações deram a oportunidade a muitos comentadores deste blog, de finalmente perceberem que os "bons" agiram de má fé, e os "maus" foram estupidamente naïves para acreditar nas suas promessas. Curiosamente, já no post anterior, não vi nenhum comentário específico dos acérrimos defensores das NATOs políticas e económicas, ao valor das promessas de mundo melhor que foram feitas na altura, e são feitas hoje, dia após dia.
Daqui a vinte anos, não estaremos nós a discutir quão erradas foram as decisões que tomamos hoje baseados na corrente dominante? Fica a pergunta.
Cumps.
Hércules de Santarém
Traído e bem traído. Mas pagam-lhe umas conferências, o que dá para os alfinetes.
Mas é claro que esse Ocidente safado e arrogante não iria perder sua chance. É característica deles.
Eu.
E o Barroso anda a brincar com o empréstimo da EU à Ucrânia. Putin já avisou que ficam sem gás de novo. Depois queixem-se. Desconfiança russa com razão, infelizmente.
Para mim, que vivi muitos anos na URRS, o socialismo pode ser comparado a noite de Natal!
Noite, em que muitos alcoolizados e imbuídos de uma falsa alegria se esquecem do personagem principal dessa festa... JESUS!
E incrível como aqui aparecem viúvas do muro!
Hipócritas que vivem bem no ocidente e enchem a barriga às custas do capitalismo, mas adoram falar mal dos EUA...
Perdedores, mudem-se pra Cuba ou pra Coréia do Norte!
2 Ítalo
Muito bem dito, todos acham que comunismo era muito bom (vivendo no Ocidente ou na URSS como turistas & pessoas VIP), mas ninguém hoje quer viver e TRABALHAR na Correia do Norte ou Cuba, casos do socialismo bem real.
Caros Italo e Jest, talvez possamos organizar uma ida à Coreia, ou para Cuba, ou EUA (neste último caso é melhor que não estejamos mentalmente doentes, porque esses são, pelo menos eram até há pouco tempo, muitas vezes internados em prisões por causa da redução de custos, individualismo sim, mas com moderação). Pela forma como lidam com opiniões diferentes da vossa,
tenho a certeza que teriam lá (nos dois primeiros, aos quais tanta publicidade fazem) uma carreira política brilhante. Quanto ao viver às custas do capitalismo, esteja descansado, eu justifico bem o meu ordenado, oxalá o senhor faça o mesmo.
Quanto à viuvez, não creio. Não pode ser viúvo quem nunca foi casado.
Abraços tolerantes, e não levem a coisa assim tanto a peito
Hércules de Santarém
Bem, se o Ocidente e os EUA garantem condições boas a seus cidadãos é reflexo de SÉCULOS de exploração a bilhões de outras almas que viveram o drama do colonialismo e que continuam até hoje de outras formas. E sem falar que as diferenças entre ricos e probres no 1° Mundo está a aumentar. E defender a Mãe Rússia não é necessariamente ser contra o capitalismo.
Uma excelente e elucidativa entrevista a Mikhail Gorbachov no Euronews, em português.
http://pt.euronews.net/2009/11/05/mikhail-gorbachev-antigo-presidente-da-urss/
Cumpts
Manuel Santos
Num país (URSS e derivados) em que um contrato escrito é apenas o ponto de partida das (próximas) negociaçöes (bomaga, bomaga...), como é que o Gorby se fiou apenas e só na palavra de honra dos americanos? Mais näo bebia...
Tenho muita pena dele, se o sonho dele fosse avante, estaríamos a celebrar o seu 25.o aniversário no poder com um mundo mais justo, mais fraterno, mais solidário, mais democrático (que é a democracia com trabalho, comida na mesa, e dinheiro no bolso), em vez de celebrar quedas de muros com mais muros (EUA-México... até na praia! Israel-Palestina) e com o início de uma bela crise económica motivada pelo capitalismo selvagem.
Ai o capitalismo selvagem näo é täo bom? O interessante é que os governos puxaram por medidas muito "socialistas" para safar os bancos... e o pagode aplaude...
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