sábado, janeiro 23, 2010

Política externa ao serviço da política interna


O principal objectivo da política externa da Rússia em 2010 consiste em criar condições favoráveis para o desenvolvimento do país, declarou Serguei Lavrov, numa conferência de imprensa sobre a balanço das actividades da diplomacia russa em 2009.
“O eixo central de todo o trabalho será a tarefa colocada pelo Presidente (Medvedev) de ligar o mais estreitamente possível toda a política externa com as necessidades da modernização multilateral do país e da transição da economia para a via da inovação”, precisou.
O dirigente da diplomacia russa prevê um “ano difícil” nas relações internacionais e não acredita na sinceridade da NATO sobre a indivisibilidade da Europa.
“Se os nossos parceiros da NATO olham com desconfiança para a ideia do tratado sobre a segurança europeia, por nós proposto, isso significa uma coisa: no seio da NATO existem compromissos jurídicos que garantem que a segurança é indivisível para seus membros. Se consideram que esse privilégio só se alarga a eles, isso significa que todas as declarações de que na Europa não há e não haverá linhas divisórias não foram sinceras”.
Serguei Lavrov anunciou que as conversações entre Moscovo e Washington sobre a assinatura de um novo tratado de redução de armas nucleares estratéticas (START-2) irão recomeçar no início de Fevereiro, mas, antes disso, o Kremlin “espera receber explicações sobre a instalação de mísseis Patriot junto das fronteiras da Rússia.
Na quarta-feira, as autoridades polacas anunciaram a intenção de instalar mísseis norte-americanos a cem quilómetros da fronteira do enclave russo de Kalininegrado.
Segundo ele, continua de pé a proposta russa de utilização conjunta da sua central de radares em Gabala, no Azerbaijão, mas acrescentou que essa questão irá ser resolvida “depois da determinação conjunta das ameaças de mísseis”.
O ministro russo lamentou o facto de o Irão não ter aceite a proposta da Agência Internacional de Energia Atómica sobre a produção de combustível para o reactor de ensaios em Teerão.
A AIEA tinha proposto a Teerão o enriquecimento do urânio iraniano no estrangeiro, mas as autoridades iranianas recusaram essa proposta, alegando que o seu programa nuclear visa apenas satisfazer as necessidades do país em energia eléctrica.
Moscovo manifesta-se pelo reatamento rápido das conversações sobre o Médio Oriente e reafirma a intenção de manter contactos com o movimento radical palestiniano HAMAS.
“Estamos convencidos que em qualquer conflito é necessária a participação de todas as partes no diálogo. Os nossos contactos com o Hamas vão continuar. Só uma Palestina unida pode garantir condições óptimas para a realização de conversações que, espero eu, Mahmud Abbas conseguirá reiniciar com os seus parceiros israelitas”, defendeu Lavrov.
Segundo ele, o principal obstáculo ao diálogo é “a actividade quotidiana de Israel”, acrescentando que as decisões tomadas pelo primeiro-ministro israelita, Beniamin Netaniahu, “vão no sentido certo, mas são insuficientes”.
Desta vez, o ministro russo não falou da proposta russa de realização de uma Conferência Internacional sobre o Médio Oriente em Moscovo.
No que respeita às eleições presidenciais na Ucrânia, Lavrov não escondeu que o principal obstáculo à normalização das relações entre Moscovo e Kiev foi superado: o Presidente Victor Iuschenko não serás reeleito.
“Agora que sabemos quem vai participar na segunda volta das eleições na Ucrânia, temos razões para crer, com base nas declarações dos dois candidatos, que mudará a atitude da Ucrânia em relação ao desenvolvimento da cooperação com a Russia”, declarou.
“Essa relação irá ser menos ideologizada, a ideologia sairá das nossas relações mutuamente vantajosas”, frisou.
Nos últimos dias, o Kremlin não esconde que espera a vitória de Victor Ianiukovitch, dirigente do Partido das Regiões, na segunda volta, mas mostra-se aberto ao diálogo com a primeira-ministra Iúlia Timochenko, caso esta vença.
Ao abordar as consequências do sismo no Haiti, Lavrov recordou a proposta russa de criação de um sistema mundial de prevenção de situações de emergência.

2 comentários:

PortugueseMan disse...

...“Agora que sabemos quem vai participar na segunda volta das eleições na Ucrânia, temos razões para crer, com base nas declarações dos dois candidatos, que mudará a atitude da Ucrânia em relação ao desenvolvimento da cooperação com a Russia”, declarou...

Está a ver porque disse que a Rússia já estava a abrir o champanhe caro JM.

O outro está fora de cena. Agora venha quem vier, as negociações vão começar.

1º Tópico: NATO.

Nuno B. disse...

Caro José Milhazes,

(pergunta no final)

Temos assistido a um recrudescimento do nacionalismo nas politicas internas e externas dos países.

O falhanço das negociações climáticas em Copenhaga devido às lógicas nacionais terem-se sobreposto ao interesse mundial, foi um momento.

Um outro exemplo, é a mudança da divisa da politica externa portuguesa. Com efeito, o Ministro Amaro anuncia em Dezembro'09 que depois de a máxima ter sido, algo do género, 'inserimos-nos na economia europeia, e uma das vias passa pelo espaço ibérico'; sucede a nova máxima 'Portugal terá o peso na Europa da importância que tiver fora dela'. Isto para dizer que o nosso interesse estratégico passa agora pelas relações com Angola (antigo espaço colonial português), os e EUA (como o maior mercado mundial).

Enfim, um marco importante é a politica xenófoba contra os emigrantes do Presidente Berlusconi, em Itália.

A minha Questão é a seguinte: será que a Rússia segue a mesma tendência, e vira-se ainda mais para dentro? E se sim, Como é que o faz?

Cumprimentos,
Nuno.