"Eles andam aí
Na minha qualidade de patológico seguidor da evolução da política russa, deparei com uma peça interessante saída no passado dia 18 de Dezembro no Guardian, da autoria do jornalista Luke Harding, sobre a ofensiva propagandística do Kremlin, que pretende gastar cerca de 1,4 mil milhões de dólares no ano de 2010 em propaganda dirigida a audiências internacionais. Incidentalmente, e segundo o mesmo artigo, este montante é superior ao que o executivo russo planeia gastar em medidas de combate ao desemprego durante o mesmo período, sinal da importância que os responsáveis russos dão ao controlo do fluxo internacional de informação para facilitar a imposição da sua agenda.
Por ocasião da publicação do artigo, estava em curso uma campanha em meios impressos, contendo uma fotografia de Obama sobreposta com a de Ahmadinejad, e perguntando à audiência: “Oual dos dois constitui uma maior ameaça nuclear?”. O objectivo era dar visibilidade ao Russia Today, um canal de televisão em língua inglesa controlado pelo Kremlin, que, sob o pretexto de “corrigir” a informação veiculada pelos media ocidentais sobre o panorama sociopolítico na Rússia, apresenta uma versão dos acontecimentos inequivocamente pró-governamental. Além das emissões em inglês e em árabe, durante este mês terão início as emissões em espanhol, presumivelmente destinadas à América latina, zona onde o Kremlin tem um crescente interesse estratégico.
De acordo com o mesmo artigo, apesar da crise económica, o Kremlin triplicou os orçamentos das suas principais agências noticiosas, a Itar-Tass e a RIA-Novosti.
Sem grandes surpresas, ficamos também a saber que o executivo russo contratou duas prestigiadas firmas de relações públicas ocidentais, a Ketchum e a GPlus, recorrendo também aos serviços da Portland PR em Londres.
Segundo um conhecedor da estratégia de relações públicas do Kremlin, citado pelo jornalista, existe alguma confusão `entre os altos funcionários governamentais russos quanto à forma como o mundo ocidental funciona: “Eles pensam que chega haver boa publicidade para contrabalançar a má imagem causada pelos acontecimentos na Rússia. É óbvio que não é assim.” Indagada sobre o que resultaria, a mesma fonte responde: “Para começar, podiam parar de espancar os manifestantes da oposição.”
Também como seria de esperar, o artigo refere que a ofensiva propagandística do Kremlin não se limita à transparência dos veículos de comunicação convencionais. Num tom que parece reflectir alguns dos debates que por vezes ocorrem neste blog, Harding adianta: “…e depois há os bloggers encolerizados – um exército sombrio de nacionalistas russos activos nas páginas Web dos jornais ocidentais, incluindo a secção “Comment is Free” do Guardian. Todos os que se atrevem a criticar os líderes russos ou a apontar algumas das deficiências do país são imediatamente rotulados como espiões da CIA ou pior.”
Fica no ar então a pergunta aos leitores mais assíduos deste blog: não vos parece o cenário acima estranhamente familiar?
http://www.guardian.co.uk/world/2009/dec/18/russia-today-propaganda-ad-blitz "
Na minha qualidade de patológico seguidor da evolução da política russa, deparei com uma peça interessante saída no passado dia 18 de Dezembro no Guardian, da autoria do jornalista Luke Harding, sobre a ofensiva propagandística do Kremlin, que pretende gastar cerca de 1,4 mil milhões de dólares no ano de 2010 em propaganda dirigida a audiências internacionais. Incidentalmente, e segundo o mesmo artigo, este montante é superior ao que o executivo russo planeia gastar em medidas de combate ao desemprego durante o mesmo período, sinal da importância que os responsáveis russos dão ao controlo do fluxo internacional de informação para facilitar a imposição da sua agenda.
Por ocasião da publicação do artigo, estava em curso uma campanha em meios impressos, contendo uma fotografia de Obama sobreposta com a de Ahmadinejad, e perguntando à audiência: “Oual dos dois constitui uma maior ameaça nuclear?”. O objectivo era dar visibilidade ao Russia Today, um canal de televisão em língua inglesa controlado pelo Kremlin, que, sob o pretexto de “corrigir” a informação veiculada pelos media ocidentais sobre o panorama sociopolítico na Rússia, apresenta uma versão dos acontecimentos inequivocamente pró-governamental. Além das emissões em inglês e em árabe, durante este mês terão início as emissões em espanhol, presumivelmente destinadas à América latina, zona onde o Kremlin tem um crescente interesse estratégico.
De acordo com o mesmo artigo, apesar da crise económica, o Kremlin triplicou os orçamentos das suas principais agências noticiosas, a Itar-Tass e a RIA-Novosti.
Sem grandes surpresas, ficamos também a saber que o executivo russo contratou duas prestigiadas firmas de relações públicas ocidentais, a Ketchum e a GPlus, recorrendo também aos serviços da Portland PR em Londres.
Segundo um conhecedor da estratégia de relações públicas do Kremlin, citado pelo jornalista, existe alguma confusão `entre os altos funcionários governamentais russos quanto à forma como o mundo ocidental funciona: “Eles pensam que chega haver boa publicidade para contrabalançar a má imagem causada pelos acontecimentos na Rússia. É óbvio que não é assim.” Indagada sobre o que resultaria, a mesma fonte responde: “Para começar, podiam parar de espancar os manifestantes da oposição.”
Também como seria de esperar, o artigo refere que a ofensiva propagandística do Kremlin não se limita à transparência dos veículos de comunicação convencionais. Num tom que parece reflectir alguns dos debates que por vezes ocorrem neste blog, Harding adianta: “…e depois há os bloggers encolerizados – um exército sombrio de nacionalistas russos activos nas páginas Web dos jornais ocidentais, incluindo a secção “Comment is Free” do Guardian. Todos os que se atrevem a criticar os líderes russos ou a apontar algumas das deficiências do país são imediatamente rotulados como espiões da CIA ou pior.”
Fica no ar então a pergunta aos leitores mais assíduos deste blog: não vos parece o cenário acima estranhamente familiar?
http://www.guardian.co.uk/world/2009/dec/18/russia-today-propaganda-ad-blitz "
4 comentários:
O cenário parece-me mesmo muito familiar.
Os nossos estimados e sombrios anónimos russos sabem que este blog tem bastante audiência e, naturalmente,fazem os seu "trabalho". Trabalho que, presumo,terá ainda muito maior visibilidade nos media ocidentais em língua inglesa, porque há muitos mais russos a dominar bem o inglês do que o português.
Enfim, caros amigos, estamos perante uma nova Guerra Fria, ou melhor,uma "guerra" informativa entre o império europeu e o império russo.
O interessante é que temos todos a oportunidade de participar nessa "guerra" e de demonstrar quem é mais justo.
José L.
Não deixa de ser deliciosamente curioso e incompreensívelmente ridículo ver esta cambada de comunas reformados, que desdenham aqueles que lhes apresentam argumentos válidos que abalam as suas ideias e noções fabolosas chamando-lhes de "Espiões do FSB", ... acusarem os outros de usar os esquemas que eles desejariam poder tomar.
Por favor! Os Russos querem lá saber deste bloguezinho...
Já me dizia o meu avô: Comuna ou é muito ingénuo, ou muito burro mesmo.
Fantuchada. Este artigo é completamente apalhaçado. Eu tenho simpatia pela Rússia. Não tenho medo, tenho algum medo dá America(Não as pessoas mas os governantes). A Rússia, esse saco de pancada neste blog foi muitas mais vezes agredida que agressor (Embora já tenha cometido atocidades - Tipo Katyum, Finlandia etc). Foi invadida por Napoleão, Pelos Polacos, Pelos Nazis e muitos outros. Não estranho portanto o comportamento politico Russo em relação ao ocidente. Não obstante é evidente que a Rússia tem problemas e males, que são ainda reflexo da era Ieltsin e da tentativa de americanização. O mundo (ao contrário do que os Antónios Campos dizem) não necessita de uma Rússia Ocidentalizada, mas sim de uma Rússia forte mas com a sua própria identidade que é muito rica, uma riqueza cultural das maiores do mundo.
António Campos, não sei quanto ao resto dos media internacionais russos, mas se o orçamento da Rádio Voz da Rússia aumentou, isso não se fez sentir nas secções de Português e de Castelhano (que são as que ouço nas Ondas Curtas), para já não falar de que a qualidade de escuta das emissões tem baixado ao longo dos anos, pelo menos aqui em Portugal.
Paulo, a era Ieltsin gerou os seus problemas, mas a maior parte dos problemas actuais da Rússia já se faziam sentir nos tempos da URSS.
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