segunda-feira, março 08, 2010

Modernização da sociedade russa é impossível sem cidadãos



“A modernização da Rússia não deve ser apenas realizada no plano tecnológico e económico, mas, antes de tudo, social”, declarou Mikhail Gorbatchov, antigo Presidente da União Soviética, à Lusa.

Respondendo à pergunta: “Que preciso fazer para que a Rússia recupere os princípios da “perestroika” (política de reformas realizada entre 1985-91)?”, o iniciador dessa política disse que “é indispensável criar uma economia de mercado socialmente orientada, avançar para uma social-democracia”.

“Além disso, e isto é o mais importante, é preciso modernizar a sociedade e os seus institutos de forma a não deixar de fora o povo. Não se pode democratizar a sociedade sem cidadãos”, acrescentou.

Na conferência de imprensa dedicada ao 25º aniversário da “perestroika” (reestruturação), o reformador soviético chamou a atenção para o perigo da atual direção russa de “monopolizar o poder”, considerando isso “primitivo”.

“Parece que temos um Parlamento, parece que temos tribunais, mas a Rússia está muito longe dos institutos democráticos”, considerou.

No que respeita à política do dueto Putin-Medvedev, Gorbatchov não esconde alguma ironia ao afirmar: “Esse dueto nasceu. Tudo foi feito segundo a Constituição. Como se conhecem e são amigos, devem falar abertamente dos problemas. Se não o fizerem, poderão cair numa armadilha”.

“Hoje, não há razões para estarmos preocupados com as relações entre o primeiro-ministro e o Presidente”, disse, mas acrescentou: tentam trabalhar, mas sem êxito”.

Comentando uma notícia divulgada pela imprensa russa de que Vladimir Putin alegadamente esteve envolvido em casos de corrupção quando era vice-presidente da Câmara de São-Petersburgo, no início dos anos 90, Gorbatchov apenas notou: “Os jornais escrevem coisas terríveis, mas ninguém investiga, nem reage”.

No plano externo, Gorbatchov defende a continuação da política de “abertura aos países estrangeiros”, de “exclusão de acções militares e guerras frias”.

“Devemos avançar na via da cooperação e a Rússia não deve deixar escapar essa possibilidade”, disse o último Presidente soviético à Lusa.

Mikhail Gorbatchov vê potencialidades nas relações russo-americanas, confiando que o Tratado de Redução de Armamentos Nucleares Estratégicos (STAR-2) acabe por ser assinado.

A sala da conferência de imprensa da Fundação Gorbatchov não estava cheia como no passado, mas nem isso, nem a idade levam o antigo dirigente soviético a desistir da atividade política e social, pois considera que a “perestroika” não terminou, mas apenas foi suspensa em 1991 e é preciso voltar a ela e desenvolvê-la.

4 comentários:

MSantos disse...

Gorbachov está queimado!

Pode até defender os melhores ideais do mundo (que na minha opinião de facto, defende) mas a sua imagem está gasta e conotada com o pior que a Rússia sofreu nos últimos 20 anos.

Para os comunistas será o inimigo nº1 dado ter acabado com o "paraíso dos trabalhadores" na terra.

Para os ultraliberais foi e há-de ser sempre um comunista encapuçado dado ter tê-los combatido e ter tentado refrear a selvajaria que assolou a Rússia nos anos 90.

Seria mais produtivo criar um novo partido verdadeiramente social democrata com novas caras e líderes ainda que com os ditames e alguma orientação ideológica do pai da Perestroika.

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

Gorbachov não tem moral para falar de nada!

Jest nas Wielu disse...

off top

No dia 9 de Março de 1930, na cidade de Kharkiv, no edifício de Teatro de Ópera, começou o processo judicial contra os militantes da (suposta?) União de Libertação da Ucrânia (SVU) (http://en.wikipedia.org/wiki/Union_for_the_Freedom_of_Ukraine_process)

Como recorda Borys Matushevskiy (um dos acusados), um dos investigadores no processo do SVU, Solomon Brook, repetia durante os interrogatórios: “Temos que colocar toda a inteligentzia ucraniana de joelhos, isso é a nossa tarefa – e essa tarefa será cumprida; a quem não rebaixaremos – então fuzilaremos”. Ao Hryhoriy Holoskevych, o autor do “Dicionário da língua viva ucraniana”, o mesmo Solomon Brook dizia: “É, pá, se deveria fuzilar toda a Ucrânia, mas, infelizmente – não é possível. Mas vocês, os intelectuais ucranianos serão todos exterminados”.

Fonte:
http://orestsokhar.livejournal.com/27304.html

Maquiavel disse...

Afinal parece que os russos näo mudam! Em 25 anos näo houve progressos? O que terá de acontecer para os russos se tornarem "cidadäos" e näo apenas "residentes"?

Muito bom comentário MSantos, subscrevo a 200%!

E caro Milhazes, por favor mova o comentário do Jest para sítio próprio. Já enoja meter comentários fora de tópico!