quarta-feira, março 10, 2010

“Sem reformas, seremos todos corridos"

Meia hora antes de ser eleito dirigente do Partido Comunista Soviético, a 11 de Março de 1985, Mikhail Gorbatchov disse a Andrei Gromiko, ministro dos Negócios Estrangeiros da União Soviética, que o partido tinha de mudar, ou as pessoas sairiam para a rua.
Num encontro com os jornalistas na passada semana em Moscovo, Gorbatchov antecipou algumas das revelações que irá publicar num livro a publicar dentro em breve, quando se assinalam 25 anos da sua chegada à liderança do PCUS. "Eu chamei por ele [Gromiko] e disse: ou o Partido começa as reformas, ou seremos corridos do poder pelo povo. E ele concordou comigo", descreveu o ex-Presidente soviético.
O apoio de Gromiko foi fundamental para que Gorbatchov fosse eleito secretário geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), pois a 'velha guarda' tinha outros candidatos.
Porém o influente chefe da diplomacia soviética compreendeu a necessidade de mudanças.
Gorbatchov considera que a política de reformas começou com Iúri Andropov, antigo dirigente da política secreta soviética KGB e secretário geral do PCUS durante pouco mais de um ano, que "criou grupos de trabalho com vista a estudar a situação real no país e elaborar reformas".
"Em 1982, a economia soviética, não obstante o que mostravam as estatísticas oficiais, teve um crescimento negativo", acrescenta.
"Viemos a saber mais tarde que o Presidente americano, Ronald Reagan, pediu ao rei da Arábia Saudita para descer o preço do petróleo, o que fez com que a União Soviética tenha perdido dois terços dos seus rendimentos originários da exportação do petróleo", lembra ainda.
Às dificuldades externas, o dirigente soviético acrescenta as perdas económicas e sociais da "campanha anti-alcoólica" realizada na URSS.
"Era necessário combater o alcoolismo no país, e continua a ser premente fazer isso agora, mas os métodos adoptados foram errados", recorda Gorbatchov, sublinhando que essa campanha afectou duramente os cofres públicos, que tinham na produção de álcool, monopólio de Estado, uma das maiores fontes de rendimento.
Além disso, o antigo Presidente soviético reconheceu ter-se atrasado na reforma do Partido Comunista e da União Soviética, sublinhando que, nessas áreas, devia ter sido mais "decidido".
Porém, acusa políticos como Boris Ieltsin, ex-Presidente da Rússia, de terem fomentado o processo de "desintegração do país" para chegarem ao poder.
Gorbatchov também não poupa críticas aos dirigentes ocidentais, que, além de não terem apoiado economicamente as suas reformas, não cumpriram os compromissos assumidos.
"Por exemplo, prometeram não alargar a NATO. Agora, justificam-se: nós comprometemo-nos com a União Soviética, mas esse país já não existe. Boa explicação", ironizou.

5 comentários:

Anónimo disse...

Esse cara e uma sonhador babaca.Não sei porque a Russia ainda não excecutou ele por crime contra o povo russo.

MSantos disse...

Afinal sempre foi Mikhail S. Gorbachov a acabar com o totalitarismo comunista pois em muitas versões actuais da História, teriam sido Margaret Tatcher, Ronald Reagan, João Paulo II, ou até Lech Walesa.

Obviamente tudo o que fez mover Ieltsin foi o mais abjecto oportunismo pois até surgirem os primeiros laivos da Perestroika e Glasnost, este era um comunista convicto e bem sucedido naquele mesmo regime.

A pergunta que se deverá pôr é como teria sido se em 1985 tivesse subido ao poder a linha dura e não o reformador Gorbachov.

Como encarariam o colapso inevitável e inadiável de um regime e de um país moribundos?

Cumpts
Manuel Santos

Jest nas Wielu disse...

Sobre a campanha anti - álcool Gorbachov é "modesto" demais, na Crimeia e em outros lugares sob as ordens suas, as autoridades locais destruiram parcialmente as vinhas, algumas com mais de 100 anos de existência.

off top

Mais de 500 cossacos que professam a Antiga Fé (ortodoxa), anunciaram que vão abdicar da cidadania russa, optando pela cidadania belarusa em protesto contra a quebra da promessa do governo russo em realoja-los na província (oblast) de Tomsk.

Artigo em russo:
(www.sobkorr.ru/news/4B978125E5BA0.html).

Zuruspa disse...

Pois é, pinheiro e videira säo os dois vegetais, mas têm ciclos diferentes.

Vinhas com 100 anos produzem muito pouco, e muitas das vezes mau. Este jest nada sabe sobre vinhas e vinhedos.

Jest nas Wielu disse...

2 Zuruspa

De facto, não sou especialista em vinhos, embora aprecio um bom tinto espanhol ou sul – africano...

Esqueuci mas é de dizer outra coisa, se a Rússia tem que responder por crimes da URSS (Holodomor, Katyn, etc), então se diz que isso não vale, pois “a URSS já não existe”. Mas se for assim, enão Gorby não tem a razão de queixa, se a URSS já não existe, as promessas dados aos seus dirigentes também já não valem. Como se reza a famosa anedota de Odesa: “Monja, ou tire o cricifíxio, ou veste as calsas”...