segunda-feira, junho 14, 2010

França suspeita que Rússia pretende construir centro de espionagem em Paris



Texto traduzido e enviado pela leitora Cristina Mestre:


"Gazeta.ru
Os serviços secretos franceses estão preocupados com o aumento da actividade dos espiões russos, informa o jornal britânico Daily Telegraph.
O jornal relaciona esta notícia com a construção no centro de Paris de uma igreja russa, insinuando que, na realidade será um centro de espionagem russo.
Os britânicos citam o semanário francês Le Nouvel Observateur, que publica um artigo sobre a construção de uma igreja russa no centro da capital francesa. O jornal afirma que o terreno foi comprado pelo chefe do Gabinete civil do presidente da Rússia, Vladimir Kojin e que outros países, nomeadamente a Arábia Saudita, ofereceram 70 milhões de euros. 
O jornal afirma que Kojin é um ex-agente do KGB e acrescenta que na França se regista um crescimento da actividade da rede de espionagem russa.
“Os receios dos serviços secretos franceses são reforçados pelo facto de se ter registado um aumento significativo da actividade dos espiões russos em França desde a eleição para a presidência de Nicolas Sarkozy, em 2007”, lê-se no artigo.
Desta forma, os jornalistas consideram que a igreja pode vir a ser uma base para os espiões da Rússia.
O local para a construção deste centro foi muito bem escolhido: próximo encontra-se um conjunto de edifícios governamentais franceses, onde residem muitos assessores de Sarkozy.
Vladimir Kojin já desmentiu as acusações. Por seu lado, o secretário do Gabinete civil do presidente da Rússia, Viktor Khrekov, considerou os receios dos franceses como não tendo qualquer fundamento, transmite a rádio Ekho Moskvy

Vincent Jauvert, o autor do artigo “Operação Igreja” no Nouvel Observateur, escreve:

“Os serviços secretos geralmente não divulgam comunicados de imprensa. Nós, jornalistas, temos as nossas fontes. Segundo os meus dados, a contra-espionagem francesa está preocupada pelo facto de o local, situado bastante perto de anexos do Palácio do Eliseu, ser posto à disposição de um país estrangeiro – A Rússia. Mas isso não significa que o objectivo da igreja seja a espionagem. O templo será construído junto ao Palácio de l’Alma, junto ao Eliseu, onde se encontram os escritórios dos assessores do Gabinete do presidente francês, os apartamentos de serviço do conselheiro diplomático, chefe do Estado-Maior para Encargos Especiais do presidente. Por outro lado, a igreja ficará no centro do quarteirão onde estão situados os ministérios, nomeadamente o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Ministério da Defesa”. (…)  

“Com a ajuda do Kremlin (e por ordem deste?) a Igreja russa tenta, após a eleição de Putin, apoderar-se de um imenso património: os múltiplos locais de culto construídos pela aristocracia czarista antes da revolução de 1917 e geridos, depois, pela emigração russa e seus descendentes. O objectivo é triplo: aumentar o património da Igreja no estrangeiro, impedir que a nova emigração russa abandone a orientação espiritual de Moscovo e voltar a ter o controlo da velha emigração.
Nos anos 20, os russos que abandonaram a URSS decidiram não depender mais do Patriarcado de Moscovo que se tornara, por força das circunstâncias, cúmplice do poder comunista. Muitos destes emigrantes reuniram-se sob o Patriarcado de Constantinopla. Oitenta anos mais tarde, os seus descendentes não querem, na sua grande maioria, voltar atrás. Eles querem praticar uma ortodoxia mais “liberal”, menos nacionalista do que aquela que existe hoje na Rússia. Ora, segundo a lei francesa, só os paroquianos podem decidir sobre uma mudança de obediência. Para tal é necessário o voto e o acordo dos conselhos paroquiais, onde são maioritários. Face a tal obstáculo, o Patriarcado de Moscovo e o Kremlin primeiro procuraram um compromisso mas depois decidiram passar à força.  
Em Dezembro de 2004, em Biarritz foi organizado um “putch” contra o conselho paroquial local. Eles fizeram vir (com a ajuda dos serviços secretos russos?) “fiéis” da Espanha vizinha, organizaram um conselho paralelo, que se apressou a votar a obediência a Moscovo.  (…)
Para o presidente russo, ter um lugar de culto no centro de Paris vale bem um tal esforço: a “Operação Igreja” é prioritária. Ela faz parte de uma estratégia global, determinada há muito: a legitimação do regime de Putin através da Igreja. Construir uma catedral russa em Paris – a primeira desde a queda dos Romanov – permitirá ao actual poder apresentar-se como continuador da Grande Rússia imperial.
http://hebdo.nouvelobs.com/sommaire/enquete/098559/operation-cathedrale.html "

11 comentários:

Pippo disse...

Infelizmente, os governantes continuam a colocar Deus ao seu serviço.
A Rússia não é caso único.

PortugueseMan disse...

Cristina...

Uma notícia bombástica num jornal russo, que tem por fonte um jornal britânico, que fala dos serviços secretos franceses, devido a uma notícia num semanário francês sobre uma igreja russa...

Você gosta destas coisas? Olhe que há por aí muito lixo de informação a circular...

Por acaso ia questionar o JM, se por acaso reparou que depois da cimeira UE-Rússia, tivemos algo de muito interessante, uma já tinha reportado que foi o encontro posterior entre Medvdev e Merkel e agora o encontro entre Sarkozy e Putin.

As coisas podem andar mornas a nível UE-Rússia, e isso é normal pois são muitos paises com interesses opostos.

MAS o motor da Europa já fala de um modo completamente diferente. A França, Alemanha e Rússia estão de facto a convergir várias esferas de interesse.

E quanto li o seu artigo, não pude deixar de sorrir, é que há uma potência europeia que não está a gostar nada destes namoro a três, sabe quem é? A Inglaterra.

Os ingleses não estão a gostar nada da atenção especial que a França e a Alemanha dedicam à Rússia e como nada podem fazer, pelo menos vão largando umas notícias engraçadas...

MSantos disse...

É uma possibilidade!

No entanto também não podemos ser ingénuos. O presente bom relacionamento entre a França e a Rússia obviamente que está a incomodar muita gente.

Mais ainda: a eminência do fecho do contrato dos navios "Mistral" adicionado aos rumores que já correm de outras transferências de tecnologia militar também podem não ser alheios a estas ditas fugas.

Tal como na Rússia, a maioria dos serviços secretos ocidentais são controlados por hierarquias mais conservadoras.

E tal como em muitos países ocidentais, a Rússia não consegue enveredar pela laicidade do Estado.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Aliás, o assunto do Mistral bem como o consórcio da GDF com a Gazprom para o Northstream é mencionado no artigo do "Le Nouvel Observateur" e com uma conotação não muito positiva.

Cumpts
Manuel Santos

ARS disse...

Já estou vendo espiões pondo microfones em todos os cantos do Eliseu e das embaixadas, tudo ligado ao altar do Altíssimo!
Só que por definição o Altíssimo não precisa de escutas...
Parece ser um caso de conversa mole para burro dormir ou... de escutas à Portuguesa!

Cristina disse...

ARS
Não subestime as capacidades dos serviços secretos russos e, principalmente, não os compare com os portugueses. Nós, comparados com eles, somos uns amadores.

Anónimo disse...

Quando perceberem quem deitou abaixo o airbus pode ser que os francius abram a pestana. Entretanto vão rezando.

Ricardo disse...

Complicado, mas a atividade da FSB aumentou muito depois de 2007, não dúvido que a igreja tenha um proposito de aumentar a espionagem russa no exterior.

MSantos disse...

Caro PM

Eu não encararia isso como essa espécie de ciúme que dá a entender.

A Inglaterra tem como que uma aliança fixa com os Estados Unidos.

Não interessa a natureza política do governo que tenha, a Inglaterra primará sempre muito mais o seu relacionamento e laços com os EUA relegando qualquer país europeu para 2º plano.

Mesmo no caso da UE, os objectivos estratégicos americanos são sempre postos à frente.

Aliás, a Inglaterra é useira e abuseira em boicotes a decisões europeias.

Recorda-se da guerra entre a "velha Europa" e da "nova Europa"?

Para a Inglaterra, o mundo ocidental para subsistir tal como o conhecemos tem sempre de ter a liderança americana e sempre com os interesses americanos em 1º lugar.

Obviamente que a própria Inglaterra também lucra com isso.

Como tal não poderemos esperar deste país que valorize os interesses europeus num todo ou de outros países europeus.

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

"Inglaterra" não.

Reino Unido.


Grã Bratanha.

PortugueseMan disse...

Caro MSantos,

Falamos do mesmo. A Inglaterra não gosta desta aproximação entre estes três, porque o rumo que pretende é outro.