Texto enviado por Cristina Mestre:
"Caros leitores, posso estar enganada mas acho que estamos perante um artigo histórico. O editorial de ontem do jornal Gazeta.ru afirma algo que muitos esperavam há muito que fosse dito publicamente: que a Rússia só andará para a frente quando reconhecer que não é “continuadora”nem “herdeira” do regime soviético. Pois isso acaba agora de ser afirmado abertamente, pela boca de Konstantin Kossachov, dirigente do Comité de Assuntos Internacionais na câmara baixa do Parlamento russo, que começou por publicar um texto no seu blogue na rádio Ekho Moskvy, depois reproduzido pela Interfax e agora pelo jornal.
Diz ele que “se a Rússia se demarcar da actuação de Estaline e de outros ditadores do período soviético, poderá preservar o seu orgulho nacional e não complicar a vida com repentinos embargos sanitários e guerras verbais com países do antigo bloco socialista”.
O deputado propõe adoptar para tais efeitos “uma espécie de doutrina histórica”, que evite à Rússia a necessidade de “reacção a cada provocação”. N opinião de Kossachov, a Rússia deverá “cumprir os compromissos do Estado soviético em matéria de acordos internacionais, de dívida externa etc., mas sem assumir a responsabilidade jurídica nem moral pela actuação daquele regime”, ou seja, não aceitar as exigências políticas, financeiras ou legais pelas violações do direito nacional e internacional cometidas na época soviética. “Os países do Báltico, Geórgia, Moldávia e Ucrânia levaram a cabo nos últimos anos reiteradas tentativas de reavaliar a História que partilharam com a Rússia durante o período soviético. Moscovo reagiu a isso com campanhas públicas de protesto, declarações ameaçadoras por parte do Parlamento e do Ministério dos Negócios Estrangeiros e até com embargos comerciais praticamente simultâneos a essas reavaliações. Mais que impressionar os países vizinhos, este tipo de respostas confirma que a Rússia se sente vulnerável no seu orgulho nacional”.
O jornal qualifica a iniciativa de Kossachov como “pensada, suficientemente rigorosa, inequívoca e benéfica para a imagem da Rússia”.
Esta conclusão a que Kossachov chega (e à qual muitos já haviam chegado dentro e fora da Rússia, embora não publicamente) termina, mesmo assim, numa nota pessimista. Ora vejam:
“Em caso de adopção oficial da Doutrina Histórica, ela, infelizmente só terá influência na esfera internacional. Dentro do país não há nem haverá qualquer consenso sobre a responsabilidade moral e jurídica pelas acções do poder soviético, nem sequer uma tolerância mínima entre os que discutem sobre este tema. Uma vez que nós não temos uma entidade política ou social que possua suficiente autoridade moral para não reagir aos que fazem escândalos e remetê-los para tal documento aprovado, não são de esperar mudanças.
/Não haverá mudanças/ enquanto a maioria dos cidadãos não encontrar outra coisa de que se orgulhar para além das conquistas reais ou imaginárias da defunta União Soviética”.
Fonte: http://www.gazeta.ru/comments/2010/06/30_e_3392654.shtml"
10 comentários:
Perguntem aos iraquianos aos afegãos, aos paquistaneses que são bombardeados todos os dias na fronteira com o Afeganistão quem é o verdadeiro tirano...
Se não sabem quem é, posso dar uma dica: Entrem no GOOGLE EARTH e digitem 38°53′51.61″N 77°2′11.58″W...
É alí a toca da tirania!!!
Mais um coitadito que ainda não percebeu que querem entrar com a NATO pela Rússia adentro, e, consequentemente com o saque, pelo imperalismo (donos dessa organização) das suas matérias-primas.
Concordo com o autor do texto.
Os Russos, se querem andar para a frente, têm de olhar para o futuro, e não estarem, sempre, a lembrar as partes positivas do passado (esquecendo as negativas, ou, pior ainda, efabulando-as).
O que está lá para trás está lá para trás. Não podem ficar presos ao passado.
Para estar sempre a olhar para o passado, já bastamos nós, os portugueses. E olhem bem ao que isso nos tem levado ...
Pelos vistos, esse indivíduo acompanha algumas das questiúnculas deste blogue!
A Rússia herdou os deveres políticos da URSS na esfera internacional porque, dos Estados herdeiros da URSS, a Rússia era o único com capacidade (poder) para o fazer, e era (e continua a ser) necessário manter a representatividade do espaço pós-soviético na ordem internacional.
Contudo, é óbvio que as acções cometidas pela URSS não podem ser moral e criminalmente imputadas à Federação Russa. A URSS já não existe, as suas acções foram cometidas em nome de uma política que já não existe, e não existe uma continuidade directa exclusiva entre a URSS e a Rússia.
Quem afirma que a Rússia, e só ela, deve responder pelos crimes soviéticos, padece de cegueira, cegueira essa motivada, a maior parte das vezes, por um nacionalismo bacoco, hipócrita, chauvinista e xenófobo, que vê o cisco no olho do vizinho mas não vê o lenho no seu próprio olho.
Afirmar que a Rússia é responsável pelos crimes da URSS só porque a capital da URSS era Moscovo, ou que a maioria dos soviéticos eram russos, é ignorar razões políticas óbvias (na escolha da capital, por exemplo), ou a demografia. É também ignorar que a maioria das vítimas do comunismo eram russas. E é ignorar que a responsabilidade de grande parte dos crimes e desmandos cometidos nos tempos soviéticos é atribuível a dirigentes não russos tais como Dzerzhinsky, Trostsky, Stálin e Béria.
Espero agora que os dirigentes máximos da Rússia prestem bastante atenção a estas afirmações, interiorizem-nas e teçam uma doutrina política e historiográfica conforme e adequada.
Medvedev quer ser presidente no segundo mandato, será uma luta interessante com a malta LiliPu...
Acho que o que está por trás da preocupação do autor deste artigo é que cada vez mais russos se conscientizam do erro histórico que cometeram ao deixarem ruir a URSS e seu sistema comunista (ainda que falho). Estão percebendo que as promessas da OTAN e dos neoliberais era mentirosa, e que o capitalismo não trouxe mais desenvolvimento, muito pelo contrário, houve muito retrocesso, e em praticamente todos os aspectos. Estão percebendo que o "desenvolvimento" somente veio para uma elite minoritária de magnatas, que são os mesmos que encabeçaram a queda soviética, objetivando "herdar" (saquear) as riquezas do Estado. O autor deste artigo é porta-voz justamente dessa elite. E sua real mensagem é a seguinte: "Nós enganamos vocês, vocês já perceberam, mas tudo já está perdido, não há mais volta. Vocês têm que seguir em frente!".
Diante do cenário de crise econômica atual, quem está cometendo o próximo erro histórico são os capitalistas, ao destruir o que restou do estado de bem-estar social, que servia de "escudo" contra a influência socialista. A miséria está chegando aos países desenvolvidos. As previsões para a economia mundial são de recessão longa e aumento da pobreza. O ciclo de expansão capitalista desde o final da 2a guerra se esgotou. O último fôlego do capitalismo mundial é o crescimento chinês. A mais-valia já está no limite. Só se vislumbra duas saídas no curto e médio prazo: ou uma grande queima de capital (uma guerra de grandes proporções), ou uma nova ordem econômica mundial, com levantes populares. A Grécia é só o começo...
Creio que a Rússia só será uma democracia sólida depois de resolver ou definir o seu passado. Pois perde-se muito com questionamentos históricos-políticos, seja por ideologia, orgulho nacionalista, que em certa parte apenas atrasa o país no aspecto político.
Um país moderno e maduro politicamente, não reprime o passado, mas não vive dele. A Rússia não sabe se reprime o seu passado ou se vive dele; aí surgem problemas internos e externos, como o geopolítico no Leste, pois o país comandou um império vermelho e seus satélites querem uma reparação moral que ainda não veio por parte da Rússia.
off top
Na Ucrânia, Yanukovich cospe na cara da mãe – pátria, dando um ultimato nacionalista ao ministro do Interior: aprender ucraniano até o mês do Setembro ou Ministro irá para a rua… Acho que o proFFssor foi envenenado pela NATO – Fundação do Soros, só pode:
http://www.segodnya.ua/news/
14149666.html
só o inteligente do Jest para não ver que Putin e Medvedev é tudo o mesmo, o que não significa que cada um não queira ter todo o poder
Anónimo 19:48
Acho que o anónimo acabou por responder brilhantemente a sua própria deixa: “o que não significa que cada um não queira ter todo o poder”.
p.s.
As activistas do Movimento Feminista Ucraniano FEMEN apresentaram a sua nova performance pública, dedicada à igualdade do género e à democracia.
A performance foi preparada para chamar a atenção máxima da imprensa, aproveitando a visita da Secretária de Estado norte-americano, Hillary Clinton a Ucrânia. As meninas, reunidas em uma das principais praças de Kyiv gritaram as palavras de ordem “Hillary, salva” e “Não há mulher forte, não há Ucrânia”. Além disso, as activistas do FEMEN seguravam os dísticos “Woman = democracy” e “Teach our President”.
No seu comunicado de imprensa FEMEN afirma que o novo poder na Ucrânia “prejudica os direitos de mulheres”, chamando a atenção para as constantes “afirmações sexistas do presidente (Yanukovich) e do primeiro – ministro (Mykola Azarov)”. FEMEN exorta Hillary Clinton “explicar ao Yanukovich que mulheres devem estar presentes na vida social e política”, o Movimento também pede que Hillary Clinton possa “dar uma lição da democracia ao Mykola Azarov: ensinando lhe os valores de igualdade do género”.
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