segunda-feira, agosto 30, 2010

Ou estás quietinho, ou levas na cabeça



O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, concedeu uma entrevista ao diário Kommersant onde aponta as prioridades da sua política interna e externa.
Putin afirma desconhecer quem é Iúri Chevtchuk e que a oposição se reúne periodicamente na Praça do Triunfo de Moscovo, mas apoia as ações da polícia contra os manifestantes.
Iúri Chevtchuk, tal como Putin, nasceu e vive em São Petersburgo, e é um dos maiores nomes da música rock soviética e russa dos últimos 30 anos. Quanto às manifestações da oposição, elas realizam-se no dia 31 dos meses que têm esse número de dias para protestar contra a violação do art.31 da Constituição, que prevê a liberdade de expressão, mas sempre reprimidas pela polícia.
O artº 31 da Constituição da Rússia reza: “Os cidadãos da Federação da Rússia têm o direito a reunir-se pacificamente, sem armas, a relizar reuniões, comícios e manifestações, marchas e piquetes”.
A oposição considera que, por conseguinte, não precisa de pedir autorização às autoridades, mas deve apenas informar atempadamente das iniciativas; mas o poder considera que esse direito só pode ser feito com a sua permissão.
 “Digo sinceramente, dou-lhe a palavra de honra de membro do partido! Eu não conheço Chevtchuk e desconheço que eles (oposição extra-parlamentar) se reúnem na Praça do Triunfo... regularmente”, reconheceu Putin.
O primeiro-ministro diz não compreender porque é que a oposição se manifesta onde “não lhe é permitido”.
“Em Londres, (as autoridades) definem o lugar. Onde não podem manifestar-se, levam cacetete pela cabeça abaixo. Não se pode? Vieste? Levas a tua medida. E ninguém fica indignado”, acrescentou.
Putin dá conselhos à oposição de como se comportar: “Convidar os jornalistas, duas ou três câmaras, ocidentais, orientais, russas, reunirem-se-se todos, levantarem a bandeira com ossos e caveira, dizerem que o poder vá para o lugar que querem e que irão criticar enquanto não conseguirem o seu objetivo”.
“O que há de bom no mundo moderno? Pode-se falar numa esquina de uma casa de banho pública e todo mundo vai ouvir porque lá estão todas as câmaras! Disseram e tudo bem, que se dirijam para o mar fazendo barulho com os cascos”, acrescentou.
Segundo ele, a oposição tem por objetivo dizer que “fazemos o que queremos e iremos provocar-vos para que nos dêem com um cacetete na cabeça. Pintam-se com tinta vermelha e dizem que o poder antipopular se comporta de forma indigna e esmaga os direitos humanos”.
“Se o poder faz cedências, ela (oposição) encontrará motivo para outras provocações. E isso continuará eternamente”, frisou.
 Putin afirmou que desconhecia que Mikhail Khodorkovski, antigo dono petrolífero da YUKOS, estava a ser julgado pela segunda vez, mas sublinhou que foi bem condenado.
“Ele cumpre a pena merecida. Quando sair em liberdade, será um homem livre. Não, não fui eu que o encostei à parede”, considerou.
“Quando soube do segundo processo, fiquei muito surpreendido, perguntei que processo era aquele se ele já estava na cadeia. Mas que segundo processo? Mas se esse processo tem lugar, isso é necessário do ponto de vista da lei. Não sou eu que conduzo o processo”, frisou.
Quanto às presidenciais em 2012, Putin voltou a afirmar que “iremo-nos reunir e resolver”.
Putin não vê progressos no processo de “reinício” das relações com os Estados Unidos, acusando Washington de continuar a defender a instalação do escudo antimíssil na Europa e rearmar a Geórgia.
“Eu quero acreditar muito nele. Segundo, eu quero muito. Terceiro, são visíveis as intenções da atual administração dos Estados Unidos de melhorar as relações com a Rússia. Mas há outro aspeto. Por exemplo, tem lugar o rearmamento da Geórgia. Para quê?”, interroga ele.
“Parece que tínhamos chegado a um acordo para na Polónia não ser instalado o sistema antimíssil e na República Checa ainda não foi decidida a questão dos radares. Fantástico! Mas, na prática, anunciam que se planeia o mesmo noutros países da Europa. Onde está o “reinício”?, conclui o primeiro-ministro russo.
Analistas russos consideram que Vladimir Putin deu início à campanha eleitoral para as parlamentares de 2011 e as presidenciais de 2012, deixando claras as suas posições face aos problemas internos e externos do país.
Esta entrevista provocou uma forte onda de indignação e revolta entre a oposição. Ela não esperava que Putin fosse tão longe nas palavras.
Pessoalmente, acho que o primeiro-ministro russo nada disse de novo. Disse  apenas o que pensa e na linguagem que ele considera que o povo entende e gosta.
Se utilizarmos o mesmo nível linguístico no português, o discurso de Vladimir Putin pode ser traduzido com as palavras da canção: “Ou estás quietinho, ou levas no focinho! Ou estás quietinho e caladinho, ou levas no focinho”.

8 comentários:

Cristina disse...

Alguém perguntou há dez anos "Who is Mr. Putin?".
Aqui está a resposta dada pelo próprio, para quem ainda não sabia...

Jest nas Wielu disse...

Não tendo muita confiança em produto nacional, pelo sim, pelo não a comitiva do Putin teve 3 Ladas igualmente amarelas, todas aparecem neste vídeo, última carregada por cima de um camião (2’10’’):

http://www.youtube.com/watch?v=
y7T1b7z25Ww

Pippo disse...

Isto só prova duas coisas: que Putin não acompanha processos judiciais e que Putin não é melómano :O)

Jest nas Wielu disse...

Mais violência policial em Moscovo:
http://kpax.livejournal.com/56721.html

MSantos disse...

Grandes Trabalhadores do Comércio.

Bons tempos.

:o)

Cumpts
Manuel Santos

Zuruspa disse...

Dado carácter neo-nazi dos opositores (Natzbol? mas qué isto?)... pois eu também concordo que se lhes dê no focinho! Näo é como nos EUA, onde os nazis fazem manifestaçöes à vontadinha, em nome da "liberdade de expressäo"!

Parece que infelizmente para a Rússia o Valdemiro Pudim é o melhor que se pode encontrar! Já diz bastante...

Jest nas Wielu disse...

Os adeptos e membros do partido Nacional Bolchevique (do Eduard Limonov) são gente especial, sem dúvida, mas dai chamar eles de nazis acho que é um abuso intelectualmente desonesto.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Jest, essa gente não é "pêra doce". A participação dos nacional-bolcheviques nas manifestações da oposição não fazem aumentar a popularidade desta. Bem pelo contrário.
Eu não gostaria de viver num país governado por Eduard Limonov e a sua gente.
O problema da oposição extra-parlamentar russa é precisamente ter dirigentes pouco credíveis.