sábado, setembro 18, 2010

(Blog do leitor)Não sei se sou um democrata mas estou certo que sou um homem livre

Texto traduzido e enviada pela leitora Cristina Mestre: 

"Dmitry Bábich, RIA Novosti
O presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, e os líderes de Itália e Coreia do Sul, reunidos recentemente numa conferência na antiga cidade russa de Yaroslav, debateram assuntos de importância crucial para a Rússia e para o mundo.
Na fase pública do fórum e na reunião de politólogos participaram os membros do Clube internacional de Debates Valdai, instituído pela RIA Novosti conjuntamente com o Conselho para a Política Externa e de Defesa.
Os participantes no fórum consideraram que um dos temas centrais tem a ver com os problemas e os erros na modernização da Rússia. Recordamos que o Clube Valdai dedicou grande parte dos seus debates a analisar a história da Rússia e a sua influência (muitas vezes negativa) na situação actual do país.
No seu encontro com especialistas, Medvedev disse que a inércia da história russa em grande parte determinou o futuro do país e que a Rússia, à excepção dos últimos 20 anos, nunca teve democracia.
“Temos mil anos de história autoritária. Somos um exemplo interessante de como a democracia se pode desenvolver com base numa história autoritária muito antiga”, disse Medvedev.
Significa isso que os russos nunca foram livres? Não, o que foi argumentado de forma muito convincente no Clube Valdai por Adam Michnik, redactor-chefe do jornal Gazeta Wyborcza e reconhecido especialista antisoviético.
A propósito, na Europa, durante os séculos mencionados por Medvedev, estabeleceu-se a prática de ver o povo e o Estado russo em separado.
Muitas vezes, esta visão é justa, ainda que também sirva de pretexto cómodo para os críticos da Rússia.
Quando afirmam que sentem simpatia pelo povo russo e repúdio pelo Kremlin, esses peritos tentam impor a sua posição antirussa tanto contra o Governo como contra o povo.
Mas até os adversários mais irreconciliáveis da Rússia não negam que os russos sempre lutaram pela sua liberdade individual.
Tal foi destacado também por outros membros do Clube Valdai, que recordaram o historiador Vassili Kliuchevski, cujas obras continuam actuais até hoje. A mesma tese mas de outra forma foi expressa pelo primeiro vice-presidente da Administração do Kremlin, Vladislav Surkov.
“Não sei se sou um democrata mas estou certo de que sou um homem livre”, disse Surkov, citado pelo jornal Rossiskaya Gazeta.
“Este paradoxo da história da Rússia, de um país livre com muita gente livre, encontrou a sua descrição no “Índice Valdai”, um documento que recolhe os critérios sobre o desenvolvimento da Rússia elaborado entre as sessões anuais do clube, com base nas avaliações e opiniões dos seus membros. 
O documento foi apresentado ao primeiro-ministro Vladimir Putin e também a Medvedev que provavelmente não desfrutou muito da sua leitura porque os aspectos mais criticados no índice referiam-se ao estado actual do sistema político da Rússia.
Há um ano, Medvedev no seu artigo “Rússia, avante!” propôs a sua variante de reforma política destinada a melhorar o sistema, que foi o tema principal do fórum político anterior.
Não obstante, passado um ano, 52% dos peritos do clube Valdai não viram nenhum avanço no estado da política russa, mais ainda, muitos falaram de uma “deterioração considerável”. Pois bem, a liberdade começa pela possibilidade de expressar opiniões negativas.
Curiosamente, os membros do clube valorizaram de maneira muito mais positiva outros aspectos: 74% deles qualificaram a actuação diplomática da Rússia como positiva; 69% destacaram o papel que a Rússia desempenha na segurança global.
Tanto as opiniões a favor como as críticas reflectem uma realidade objectiva: a Rússia de hoje é um país não agressivo e pragmático, que não tenta inculcar a ninguém o seu modo de vida e a sua ideologia. A avaliação do Clube Valdai relativamente os “recursos humanos” no desenvolvimento da Rússia também não foi alta. Somente 38% dos inquiridos viram alguns progressos, 12% considera que há uma deterioração e 50% não vêem quaisquer mudanças.
Neste sentido tem relevância a posição de Medvedev quando disse que o desenvolvimento da democracia não pode ir à frente do desenvolvimento do homem, da sua personalidade, educação e auto-estima. A auto-estima é um tema complexo, sobretudo nos últimos anos.
“Há muitos que, mesmo no século XXI, gostam de afirmar que não são livres, que estão humilhados e que não depende nada deles. Esta é uma postura muito cómoda já que, se não podes fazer nada, não se te pode exigir muito”, assinalou Medvedev no Fórum.
Segundo o presidente, um dos critérios importantes do desenvolvimento da democracia é a convicção de que os cidadãos vivem num país democrático. Esta certeza tem que ser máxima mas, na Rússia, é muito baixa. Em parte por razões objectivas, mas também devido à trivial tendência de fuga às responsabilidades.
Não nos devemos render às dificuldades objectivas e isso os membros norte-americanos do Clube sabem-no bem.
“Nós, os norte-americanos, temos muitos defeitos mas a maior parte dos cidadãos dos EUA continua a acreditar na democracia do seu país”, assinalou Timothy Colton, dirigente da cátedra de Administração Pública da Universidade de Harvard. “Pode ser que seja ingénuo, mas esta fé no sistema protege-nos das ditaduras. Graças a esta fé ingénua, os norte-americanos acreditam mais nas instituições e nos “bons” políticos, com competências extraordinárias”, disse Timothy Colton.
Foi talvez por isso que Colton perguntou a Vladimir Putin, em Sochi, como tencionava aumentar o papel das instituições na política russa sem mencionar o papel dos políticos.
Como se depreende do discurso de Medvedev, a Rússia continua a procurar sem êxito uma resposta para esta pergunta. Mesmo assim, tal não teve ser motivo para abandonar a busca.
http://sp.rian.ru/analysis/20100915/127757543.html
http://rian.ru/authors/babich/ "

9 comentários:

António disse...

Cristina,

Este texto menciona uma série de temas importantes, que merecem seguramente ser comentados. Em primeiro lugar, o autor faz questão de referir a prática de ver o estado e o povo russo em separado, mas depois enquadra-a num contexto onde dá a impressão que essa visão é exclusiva de estrangeiros hostis ao país e não dos próprios russos, embrulhando esta característica num pacote de "russofobia" à laia de alfinetada a estrangeiros, que deviam estar caladinhos em vez de andarem a falar mal de sua santidade o Czar. Evidências disso são as referências pouco claras a um "pretexto cómodo para os críticos da Rússia", ou a tentativa de imposição de uma "posição antirussa tanto contra o governo como contra o povo". Seria talvez mais interessante que o autor explicasse como é que manifestar opiniões críticas, partilhadas por estrangeiros e por muitos russos, poderá ir contra os interesses da população, em vez de apenas atirar para o ar estas referências vagas.

Pela mesma ordem de ideias, este jornalista está a afirmar que a própria oposição russa, que está alinhada com a visão desses peritos "antirussos" estrangeiros, assume ela própria uma posição "antirussa" e está a agir contra os interesses do país. E agora sim, começamos a perceber com mais clareza os verdadeiros objectivos destes comentários.

A "pérola" de Surkov é ainda mais reveladora: ele sente-se um homem livre. Mas livre para fazer o quê? Exercer o seu direito constitucional de se manifestar livremente sem se arriscar a levar uma bastonada na cabeça pela polícia? Postar vídeos no YouTube e não ser perseguido pelas autoridades pela sua posição? Tentar usar o sistema judicial para corrigir injustiças sem que o mesmo, usado pelos acusados, se volte contra si? Beneficiar de eleições e ter a certeza de que os resultados não são viciados? Pagar impostos e ter a garantia de que o seu dinheiro é usado de forma transparente em seu benefício, em vez de ir parar aos bolsos de funcionários corruptos? Ouvir as notícias e ter a certeza de que elas reflectem fielmente a realidade? Esperar que os organismos de protecção civil, financiados pelo erário público, estejam funcionais quando são precisos? Criar uma associação ambientalista ou de defesa dos direitos humanos e não ser assediado quase diariamente pelas autoridades?

António disse...

Parte 2

Talvez Surkov se sinta livre de fazer o que lhe apetece e o seu comentário se circunscreva unicamente à sua própria pessoa. Faz mais sentido. Mas o melhor mesmo seria que ele explicasse um bocadinho melhor que tipo de liberdades é que ele entende que a população realmente beneficia. Eu cá não estou a ver. Dar uma voltinha no parque? Ir ao cinema?

Outra opinião hilariante veiculada pelo jornalista é a de que a Rússia é um país "não agressivo e pragmático que não tenta inculcar em ninguém o seu modo de vida e a sua ideologia". Gostaria de perceber como é que um estado que afirma incessantemente que tem pretensões a uma "zona de influência" onde só ele tem o "direito" de interferir, e que usa a torto e a direito mecanismos de pressão económica (e militar) sobre os seus vizinhos pode afirmar uma coisa destas.

Medvedev tem razão numa coisa: a percepção democrática da população é extremamente baixa. E sabemo-lo porquê. Porque quem tem o atrevimento de achar que pode usar a sua voz para melhorar a sociedade é cilindrado por uma barragem de agressividade estatal. As pessoas estão desanimadas porque sentem, com carradas de razão, que lutar contra o estado uma perda de tempo inútil e perigosa. Assim, talvez a melhor forma de inculcar uma verdadeira consciência democrática seja provar que a voz do povo conta realmente para alguma coisa. E tal tem que vir de cima e está muito longe de acontecer.

A solução para todos estes problemas é muito fácil e está ao alcance de todos. Não são precisas buscas complicadas nem filosofias rebuscadas sobre a alma russa, as centenas de anos de autoritarismo e a alegada passividade da população.

O verdadeiro entrave é que essa mesma solução serve o povo, mas não serve o estado.

António Campos

Jest nas Wielu disse...

A invasão soviética da Polónia (Ucrânia Ocidental):
http://www.youtube.com/watch?v=
jWo1ml8kWpA

Anónimo disse...

O comunismo acabou com grande parte da evolução no mundo nas ultimas decadas.Mataram dezenas de milhões de pessoas e hitler e os nazis é que ficaram com as culpas.Não existe ninguem excepto os lideres comunistas que goste do comunismo.
Os comunistas mataram milhares de portugueses nas ex colonias e eu nunca lhes hei-de perdoar isso(olho por olho).
M.

Cristina disse...

Julgo que este texto é muito revelador das posições da actual elite russa. Por um lado, reconhecem o autoritarismo e a falta de democracia na história da Rússia (o que já não é mau) mas, por outro não aceitam que a última década seja considerada autoritária. Naturalmente, quem está dentro do sistema ( e espera continuar a estar) não tem nenhum interesse em criticá-lo e em chamar as coisas pelos seus verdadeiros nomes. Dizer que o actual sistema russo é "uma democracia imperfeita, em desenvolvimento" é bastante cómodo.
Quanto à liberdade que o Sr. Surkov não tem problemas em experimentar, é óbvio que na Rússia é muito mais fácil ser livre para quem tem muito dinheiro. Há muitas coisas, desagradáveis impedimentos e contingências para o comum cidadão, que se resolvem facilmente com dinheiro.
Tal como escreveu o António, era interessante saber o que entendem os russos por ser livre. Desconfio que é algo diferente daquilo que nós entendemos.
Reconheço que uma das coisa que os russos mais detestam é ouvir estrangeiros a criticar o seu país. Povo orgulhoso, não gostam de ser ensinados. Mas nós agora não estamos a fazer mais do que eles já fizeram connosco, portugueses, no tempo da descolonização. Acho que para bom entendedor, meia palavra basta.

HAVOC disse...

O modelo de democracia imposta pelos Estados Unidos mataram milhões de pessoas desde que foi implementada, na independencia daquele pais!!!

a) Já nos primeiros anos de independencia, mataram milhões de índios apaches para covardemente se apossarem das terras e propriedades que era direito daqueles índios.

b) Roubaram do México o território que hoje compreende a California, Arizona, Texas e outros estados que não me recordo agora

c) Interviram em problemas internos de quase todos os paises, das Filipinas até a Nicarágua, matando milhões de pessoas, se somado todos esses conflitos.

d) Financiaram guerrilhas de esquerda, ditadores e até organizações terroristas para atender seus interesses de curto-prazo, o que ocasionou a criação do Taleban, da Al Qaeda, fortaleceu Manuel Noriega e existem até fotos de Donald Rumsfeld apertando a mão de Saddan Hussein, nos anos 80.

e) Mataram milhões de vietnamitas, bombardearam o Laos, mataram milhares de coreanos, lançaram 2 bomas nucleares contra o Japão

f) Utilizando os seus veículos-aéreos não tripulados do tipo Predator e Reaper, dizimam vilas inteiras, e dentro de um país aliado como o Paquistão, usando como justificativa derrubar a insurgencia do Taleban

g)Torturam prisioneiros de guerra, para roubar informações, desrespeitando todas as convenções que proíbem tal prática

h) Gastam mais de 600 bilhões de dólares só com o Ministério da Defesa, possuem bases militares em todos os continentes, fora a presença indesejada de seus porta-aviões e seus navios anfíbios de assalto, presente em todos os oceanos e em todos os mares...

i) Dizimaram milhares de mulheres, crianças e idosos afegãos e iraquianos, e também as próximas gerações,pois os americanos usam munições de uranio empobrecido em seus aviões do tipo A-10 THUNDERBOLT ( a munição daquele canhão GAU é fabricada envolta de uranio empobrecido e irá causar danos por várias gerações no IRaque e Afeganistão )

j) Criaram a 4ª Frota 1 mês depois de o Brasil descobrir as suas reservas do Pré-Sal e em livros de geografia americanos, a Amazonia não faz parte do território brasileiro.

Os Estados Unidos, sob a propaganda da "Democracia", é o país mais comunista da história da humanidade!!!!!

Pedro disse...

Isso mesmo Alone.
É bom lembrar a algumas pessoas as barbarides do "farol da Democracia".

Mas a cegueira normalmente faz com ignorem os crimes de uns e apontem o dedo aos dos outros, apenas porque vestem uma determinada camisola ideológica/Politica.

Jest nas Wielu disse...

Estimadíssimo, Alon Hunter, estou muitíssimo interessado em saber mais sobre o ponto d) “Financiaram guerrilhas de esquerda”. Conta lá como que aconteceu isso.

HAVOC disse...

Sr. Jest nas Wielu...

Os Estados Unidos financiaram a ditadura do Xá Reza Pahlavi durante, pois na época, os analistas americanos queriam manter o balanço estratégico da região. Naquela época existiam 2 potências petrolíferas: a Arábia Saudita e o Irã. E os Estados Unidos, na realidade, financiavam ambos, fornecendo os armamentos para garantir a soberania de ambos os países.

De quem você acha que o Irã comprou os F-14 TOMCAT's? Os F-4 PHANTON's? Os F-5 TIGER? Os AH-1 COBRA?

E quem forneceu mísseis anti-aéreos Stinger para os MUJAHEDINS, para abater os helicópteros de ataque soviéticos, no Afeganistão?

Quem financiou a Guerrilha dos Irã Contra, para levantar dinheiro e financiar a compra de armamentos para o Irã, que estava perdendo a guerra para o Iraque???

http://en.wikipedia.org/wiki/Iran_iraq_war

http://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Cyclone

Divirta-se com essas leituras!! E sinta o cheiro de podre que exala de dentro da Casa Branca!!!