Fiquei extremamente espantado quando me disseram que alguns jornais ingleses falaram da possibilidade de a Rússia voltar a enviar os seus soldados ao Afeganistão. Mais perplexo ainda fiquei ao ler no jornal Público que o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, "manifestou a expectativa de conseguir firmar uma maior e mais próxima colaboração com Moscovo, incluindo uma participação activa das forças militares russas na guerra do Afeganistão". Compreendo que alguns políticos possam estar mal informados, mas o dirigente da Aliança Atlântica?!
Pode não se gostar da política interna e externa da Rússia, mas isso não é razão, nem motivo para pensar que o Kremlin enlouqueceu e decidiu envolver-se directamente na guerra do Afeganistão. Se tal acontecesse, suspeito que o povo russo, tão calmo até agora, perderia a paciência. Além disso, se a primeira aventura nesse país asiático significou o fim da União Soviética, a segunda desintegraria irremediavelmente a Rússia.
Estou longe de ser um simpatizante de Dmitri Rogozin, embaixador russo junto da NATO, mas, desta vez, não posso deixar de concordar com ele quando afirmou à agência Ria-Novosti: “Talvez alguém gostaria que a Rússia enviasse “carne para canhão” para o Afeganistão, mas penso que devem moderar os apetites. Os soldados russos permanecerão onde devem estar, no território da Federação da Rússia”, declarou ele.
E frisou: “já estivemos no Afeganistão e não gostámos nada de ter lá estado”.
Por isso, não imagino o que a NATO poderá oferecer à Rússia para que o Kremlin mude de ideias.
Porém, torna-se cada vez mais premente uma colaboração mais estreita entre elas no que respeita ao Afeganistão e Moscovo já fez propostas: treino de polícias afegãos para combater o tráfico de droga, mas realizado fora do país; o trânsito de mercadorias e equipamentos, mas não de armas e soldados, da NATO através do território russo para o Afeganistão e o fornecimento de cerca de 20 helicópteros às forças armadas afegãs.
Esta cooperação é imperativa, porque se a NATO sair do Afeganistão vencida, terá de ser a Rússia a aguentar a fúria dos talibãs, primeiramente na Ásia Central e, depois, talvez até no seu próprio território. Essa onda é particularmente perigosa tendo em conta a complexa situação no Cáucaso do Norte, onde as tropas russas enfrentam uma forte guerrilha islâmica.
Numa situação como estas, é especialmente importante manter a calma e não fazer afirmações desprovidas de fundamento.
E frisou: “já estivemos no Afeganistão e não gostámos nada de ter lá estado”.
Por isso, não imagino o que a NATO poderá oferecer à Rússia para que o Kremlin mude de ideias.
Porém, torna-se cada vez mais premente uma colaboração mais estreita entre elas no que respeita ao Afeganistão e Moscovo já fez propostas: treino de polícias afegãos para combater o tráfico de droga, mas realizado fora do país; o trânsito de mercadorias e equipamentos, mas não de armas e soldados, da NATO através do território russo para o Afeganistão e o fornecimento de cerca de 20 helicópteros às forças armadas afegãs.
Esta cooperação é imperativa, porque se a NATO sair do Afeganistão vencida, terá de ser a Rússia a aguentar a fúria dos talibãs, primeiramente na Ásia Central e, depois, talvez até no seu próprio território. Essa onda é particularmente perigosa tendo em conta a complexa situação no Cáucaso do Norte, onde as tropas russas enfrentam uma forte guerrilha islâmica.
Numa situação como estas, é especialmente importante manter a calma e não fazer afirmações desprovidas de fundamento.
17 comentários:
Caro Milhazes,
No penúltimo parágrafo tem a resposta. Depois da retirada do Iraque, há que estabelecer condições para sair do Afeganistão. Uma retirada gradual depois de tantas baixas.
joão moreira
Por isso, não imagino o que a NATO poderá oferecer à Rússia para que o Kremlin mude de ideias.
Nada.
A NATO é que precisa desesperadamente da mais alguém no Afeganistão, porque aquilo este ano piorou a olhos vistos.
Só que já existe sérios problemas entre a NATO e a Rússia, o sistema anti-missil tem que ser visto, a situação da Geórgia continua algo estranho, a questão das tropas americanas na Àsia, a questão de forças da NATO perto da fronteira com a Rússia, as vendas de armas, a activação de centrais nucleares, o Àrtico, etc, etc, etc,...
A NATO já está completamente entalada no Afeganistão, as coisas estão a correr cada vez pior e à medida que o tempo passa, cada vez estão mais dependentes dos russos.
Rotas de abastecimento via Rússia, aviões de carga russos, helicópteros russos, armas russas, os ingleses e americanos estão usar helis russos para tudo e os americanos estão a comprar helicopteros russos para fornecer as forças afegãs...
...Esta cooperação é imperativa, porque se a NATO sair do Afeganistão vencida, terá de ser a Rússia a aguentar a fúria dos talibãs, primeiramente na Ásia Central e, depois, talvez até no seu próprio território...
Voltamos ao mesmo, a NATO não tem como vencer este tipo de guerra, não tem dinheiro, motivação e homens. Isto é uma guerra de atrito para durar anos e anos.
Agora é péssimo o que está a acontecer, mas também é péssimo para a Rússia, estarem os americanos na Ásia Central. Para a Rússia a saída dos americanos é imperativa e eles já andam a insistir nisso e o facto dos americanos estarem a ser cilindrados no Afeganistão, é bom para a Rússia, a drenagem de recursos financeiros para os EUA é imenso. O esforço para manter rotas de abastecimento é uma verdadeira loucura. Todas estas dificuldades americanas fortalecem a posição russa em qualquer mesa negocial.
E vem aí a cimeira de Lisboa.
Caro PM, estou de acordo com a sua análise, mas o mundo não deve ser uma mesa de jogos de cartas. Começam a surgir perigos maiores para a Humanidade do que a partilha de zonas de influência, mas os políticos fazem de conta que nada veem.
Peço desculpa pela analogia e salve-se as escalas, mas as potências internacionais até parecem o PS e o PSD a discutir o OE. Não acha?
...mas o mundo não deve ser uma mesa de jogos de cartas...
Mas é meu caro e vai continuar a ser.
Cada país deste mundo, tenta puxar a brasa à sua sardinha. E meu caro isso é o que se passa exactamente com as pessoas. E são as pessoas que governam os países. E se a pessoa é pequenina, tem que puxar a sua sardinha com cuidado, se fôr um brutamontes, empurra os pequeninos, apanha a sua sardinha e ainda leva a dos outros.
Não é assim a vida para tudo?
...Peço desculpa pela analogia e salve-se as escalas, mas as potências internacionais até parecem o PS e o PSD a discutir o OE. Não acha?...
Sim, salvando-se as escalas é isso.
Esta questão do OE, realmente aborrece-me, as coisas estão más, vão ficar piores e andam todos embrulhados para vem quem não fica tão mal na fotografia.
Políticos.
Caro JM,
Um reparo acerca dos contratos de gás entre a Rússia e a Polónia que estão a ser tratados agora:
EU: Poland-Russia gas deal still unseen
On Wednesday the European Commission announced that it was still waiting to see the contract signed by Gaz-System and EuRoPol Gaz governing the Yamal gas pipeline in Poland.
The European Union stated that, without seeing the contract, it was unable to affirm the legality of the entire Russian-Polish gas agreement, negotiated on October 17 in Moscow, according to daily Dziennik Gazeta Prawna.
EU Spokesman Michele Cercone stated that when the EU sees the document, it will give its opinion within 48 hours.
However, the Polish government does not wish to hand over the contract, stating that it is a matter of civil law and that state-owned Gaz-System has the right to keep its trade secrets to itself.
After a previous deal was declared illegal by Brussels, the contract was rewritten to include clauses that made Gaz-System responsible for ensuring the free flow of gas and for ensuring third-party access to the pipeline.
In the opinion of the Polish government, the amendments to the deal are enough to bring it into line with EU regulations.
http://www.wbj.pl/article-51813-eu-poland-russia-gas-deal-still-unseen.html
Repare meu caro, como são as regras de "transparência de mercado":
Quando o problema não é nosso, apontamos o dedo seja a quem fôr e exigimos tudo "by the book".
Mas quando estamos entalados, como a Polónia está em relação a energia, a transparência de contratos é mandada para as urtigas.
E aí estamos nós a assistir preto no branco, um país a AUMENTAR a sua DEPENDÊNCIA de energia russa. Sabe qual tem sido a conversa do polacos nos últimos anos, em relação a essa matéria? Qual foi dos países que mais entraves tentou colocar no nord-stream?
Onde está agora a conversa de diversificação e da necessidade de reduzir a nossa dependência do gás russo? Tudo varrido para debaixo do tapete. Porquê? porque a Rússia em breve não vai precisar da Pólónia para enviar gás para a Alemanha e a partir daí, a Polónia deixa de ter garantias energéticas.
Se há dúvidas se a Polónia se enfiou num buraco energético, basta ver o que andam eles a acordar com a Rússia. E lentamente a imprensa vai começar a ver uma nova realidade, não é a Rússia que depende dos clientes europeus é a Europa que cada vez está mais dependente do fornecedor russo.
E isto eu já venho aqui dizendo desde que participo neste blogue.
E agora como é que se explica a opção política de um país, ao decidir albergar um sistema anti-míssil americano que é considerado uma ameaça de segurança nacional ao seu maior fornecedor de energia?
Agora estão a pagar pelas suas opções.
A Rússia não vai mover um músculo para ajudar no atoleiro do Afeganistão, quanto mais os Estados Unidos e a Otan se enrolarem melhor para a Rússia. Que continue a "coligação" a desperdiçar recursos financeiros em sua guerra sem fim, pois enquanto isso, a Rússia vai se fortalecendo e lucrando em várias situações. Os que aproveitaram para chutar o urso ferido nos anos 90 aos poucos vão pagando o preço pelo que fizeram.
Neste momento a Rússia deixa a NATO afundar-se e sair derrotada para poder dizer "TOOOOOOOOMA LÀ QUE JÁ ALMOÇASTE! TANTA ARROGÄNCIA, E AFINAL..."
Uns meses depois, como seria "a Rússia a aguentar a fúria dos talibãs, primeiramente na Ásia Central e, depois, talvez até no seu próprio território", oferece-se para uma "coligaçäo, parte II" em pé de igualdade (...), que continuará a presença militar estrangeira no Afeganistäo, haja carne para canhäo e maneira de aumentar o défice para os países da NATO.
portugueseman..deixa de ser ignorante...não faça interpretações precipitadas, a mudança de postura da polonia é porque os nacionalistas da turma do kazinski nao ganharam a ultima eleicao...o atual presidente e primeiro ministro do país sempre foram abertos à conversação com a Rússia..leia o perfil dos dois. Inclusive o próprio Tusk diz que está mais do que na hora de promover a fraternidade eslavônica.
Isso ocorre porque a Polonia é um país democrático, bem o contrário da Rússia.
Aliás, de qualquer forma, apesar da chorrrradeira russa...os mísseis americanos serão instalados..queira a Rússia ou não.
Enquanto isso, o povo russo continua mergulhado numa pobreza cruel..será justo isso? Onde está a grandeza dessa país?
Ogivas atômicas não alimentam...
Portugueseman, vou explicar só mais uma vez:
A Polônia cobre 30 por cento de suas necessidades do energético com seus próprios recursos, mais de 40 por cento são importados da Rússia e o resto provém de outros países da região.
JM, como disse noutro comentário, não há grandes razões para a Rússia aceitar esse "convite" da NATO. Há várias razões para isso:
1. A Rússia tem uma amarga experiência nesse país. Qualquer intervenção no Afeganistão despertará velhos fantasmas e não me parece que a população (militares incluídos) aceite tal intervenção;
2. A Rússia já tem problemas militares que cheguem no Cáucaso, não precisando de desviar recursos para combater um inimigo estrangeiro. Para mais, recordemos que a NATO hostilizou Moscovo na questão georgiana, pelo que me parece inverosímil que a Rússia venha agora a ajudar um ainda adversário;
3. Enquanto mantiver a sua presença no Afeganistão, a NATO continuará a exaurir-se em recursos, vidas e credibilidade militar e política. Isso é positivo pois enfraquece a única aliança que ainda é capaz de fazer frente à Rússia e que, frequentemente, assume atitudes francamente hostis face aquele país. Note-se que, em virtude da crise económica, todos os países da NATO estão a reduzir enormemente os seus gastos militares mas, como não podem simplesmente sair do Afeganistão, os gastos militares continuarão a avolumar-se; note-se também que se sair derrotada do Afeganistão, a NATO poderá entrar numa crise irreversível, ou seja, esta guerra poderá ser mais vital para a NATO do que à primeira vista nos parece;
4. No Afeganistão, existe uma estrutura montada e controlada pela NATO. As estruturas políticas afegãs são controladas pela NATO, até as regras de empenhamento são definidas pela NATO. Se a Rússia fosse para o Afeganistão, seria uma parceira menor a gastar vidas e recursos para benefício na NATO;
5. Não existem razões estratégicas imediatas para Moscovo participar no esforço militar com meios humanos. Durante anos a Rússia apoiou as forças da Aliança do Norte contra os Taliban e os EUA e a NATO não ligaram nenhuma, talvez porque esperavam que os Taliban, com ligações aos Paquistão, fossem radicais amigáveis que permitissem o acesso aos hidrocarbonetos da Ásia Central.
6. Se os Taliban recuperarem o controlo do Afeganistão, não há garantias de que eles espalharão a sua influência pelo Tajiquistão e Uzebequistão. Não o fizeram antes, provavelmente não o farão depois, nomeadamente porque os Talibans são fortes entre os pashtunes mas não entre os uzebeques ou os tajiques, o que dificulta a sua expansão além fronteiras.
7. O que a Rússia poderá fazer (e isso certamente será discutido em Lisboa) é vender material e treino às forças afegãs. Já venderam helicópteros Mil-17 aos EUA (parece que são melhores do que os Black Hawk) e certamente poderão vender enormes quantidades de material não sofisticado, dos tempos soviéticos, ao governo de Kabul. A cooperação também poderá envolver participações pontuais, como a que ocorreu no caso da droga, ou o envolvimento de elementos do GRU na recolha de informações, mas sinceramente não vislumbro muito mais que os russos possam fazer no Afeganistão.
Pois é Pippo.
Pelos vistos os nossos amigos americas ficaram traumatizados com a expressão "Black Hawk down".
Cumpts
Manuel Santos
boris45,
Vai ter que explicar mais uma vez, pois não percebo o que está a querer dizer.
Não rebaixe nem ridicularize aqueles que há décadas o defendem sr Santos, mesmo fazendo o sr a apologia dos socialismos falhados e desumanos.
Foi graças aos "américas" como lhes maldosamente chama, que o sr hoje escreve com liberdade abusando dela para cuspir no prato onde come e são eles que zelam para que a ameaça comunista não torne o seu maravilhoso "paraíso" no maior pesadelo que alguma vez poderá viver.
Faça-nos um favor a todos e emigre de vez para a sua querida Rússia ou então para o Brasil onde terá uma terrorista vermelha para o sr sentir na pele o que defende.
Anónimo das 00:25, presumo que eu tenha dito ou agora ou antriormente alguma coisa que o espicaçou para me escolher entre os críticos dos EUA que por aqui andam.
Quanto ao seu comentário e a natureza do mesmo, não me vou pronunciar dado ser ele próprio uma resposta a si mesmo.
Melhores cumprimentos
Manuel Santos
Deveremos apoiar a entrada da Rússia no Afeganistão, pois geralmente a Rússia vive uma revolução após cada guerra em que participa: guerra russo – japonesa e a revolução de 1905; I G. M. e as revoluções de 1917; guerra de Afeganistão e o fim da URSS em 1991.
Também há o reverso da medalha:
Guerras russo-turcas e a anexação da Criméia e do Cáucaso;
Guerras russo-polacas e a anexação da Ucrânia;...
Sim, se calhar deveria entrar no Afeganistão mesmo, para anexar a Ucrânia de vez!
rs
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