"Tomando uma atitude que poderá enfurecer um aliado vital na Guerra do Afeganistão, o Pentágono adjudicou um grande contrato de venda de combustível para aviões à Mina Corp., uma empresa com laivos de secretismo e que se recusa a revelar quem são os seus donos, mas que ainda assim tornou-se uma parceira fiável junto das forças armadas norte-americanas.
O contracto, que poderá valer algo na ordem dos 600 milhões de dólares, diz respeito ao abastecimento da base aérea da U.S. Air Force no Quirguistão, uma empobrecida república ex-soviética onde a agitação popular relativa à alegada corrupção nos contratos de venda de combustível para aviões já ajudou a servir de mote para a deposição de dois Presidentes nos últimos cinco anos. Todas as tropas norte-americanas que vão ou vêm do Afeganistão passam por essa base, nos arredores da capital quirguize, Bishkek. Nessa base também estão estacionados os aviões-tanque que reabastecem os aviões norte-americanos que operam sobre o espaço aéreo afegão.
O acordo estabelecido entre o Pentágono, a Mina Corp. e uma empresa associada, Red Star Enterprises, tem estado sob investigação pelo Subcomité de Segurança Nacional e Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes nos últimos seis meses. Desde a Guerra no Afeganistão que estas empresas ascenderam do nada para contratos no valor de 3 biliões de dólares.
Os investigadores do Congresso, próximos ao caso, afirmam não ter encontrado provas ou infracções, mas num relatório que deverá ser entregue no final do mês, criticarão o processo de contratação efectuado pelo Pentágono, dado este ter prestado pouca atenção às negativas consequências diplomáticas e estratégicas destes contratos assinados sob o véu do secretismo.
O anúncio, na Quarta-Feira, de um novo contracto com a Mina Corp., a qual está regitada em Gibraltar, vem no seguimento de um conflito entre a Casa Branca e o Comando Central norte-americano sobre que quantidade de informações deverão ser reveladas sobre estes contratos de fornecimento de combustível. Quando, no ano passado, o Pentágono adjudicou um contrato à Mina, citou “razões de segurança nacional” não especificadas para não efectuar o mais competitivo concurso público. O contracto anunciado Quarta-Feira, ao invés, seguiu-se à revisão de várias outras propostas por parte de outras empresas.
"Nós entendemos a imagem que isto dá. Estamos a tentar mudar o aspecto disto… Não estamos a ocultar nada de extraordinário”, afirmou um alto funcionário do Departamento da Defesa que falou sob condição de anonimato. O objective, afirmou ele, é a "máxima transparência."
Numa declaração pública, o Pentágono afirmou que a Agência de Defesa e Logística seleccionou a Mina Corp. de entre outras nove companhias concorrentes ao contracto, cuja duração inicial é de um ano e tem o valor de 315 milhões de dólares mas que inclui a possibilidade de ser prorrogados por mais um ano. Contractos anuais anteriores com a Mina e a Red Star foram habitualmente prorrogados.
O Representante John F. Tierney, do Massachussets, que lidera o Subcomité que investiga os contractos, disse numa conferência na Quarta-Feira que os concursos públicos representavam um “importante passo em frente”. Ele solicitou ao Pentágono e às autoridades quirguizes que “trabalhassem em conjunto de forma a garantir a transparência” e “maximizar a confiança mútua… na integridade das contratações”.
Segundo os regulamentos contratuais, as empresas não carecem de esclarecer quam são os seus sócios, ainda que as leis norte-americanas estuam que é illegal realizar negócios com empresas que sejam propriedade de determinados indivíduos ou países.
A recusa da Mina Corp. e da Red Star em revelar quem são os seus proprietários segundo o funcionário do Pentágono, “origina fumo. Coloca questões. O que é que eles estão a tentar esconder? Nós reconhecemos este problema”. Mas ele prontamente acrescentou que não há quaisquer provas de haver um “fogo” que desqualificaria as duas empresas.
Segundo pessoal familiarizadas com a questão, a Mina Corp. e a Red Star são controladas por Douglas Edelman, um esquivo empresário californiano que geria um bar e hamburgeria em Bishkek, e um jovem sócio quirguize, Erkin Bekbolotov. Bekbolotov, numa recente entrevista ao Washington Post, disse que a sua empresa tinha cerca de 450 empregados. Contudo, recusou-se dizer onde estes estavam, alegando razões de segurança.
O secretismo destas empresas ajudou a alimentar alegações de corrupção, nomeadamente de funcionários no Quirguistão. Representantes das duas companhias têm repetidamente negado essas alegações, afirmando que o seu “low profile” é essencial para empresas que operam em países onde há hostilidade relativamente aos interesses norte-americanos.
A Presidente quirguize Roza Otunbayeva, ex-embaixadora em Washington que subiu ao actual cargo após violentos protestos em Abril, denunciou a Mina e a Red Star e exigiu que essas empresas fossem banidas, devendo ser substituídas em favor de um consórcio estatal russo-quirguize. Ela levantou esta questão numa reunião em Setembro com o Presidente Obama em Nova Iorque.
Um alto funcionário do Departamento da Defesa afirmou, em, Washington, que “não desconsidera essas preocupações” e ainda poderia realizar contratos com esse proposto consórcio estatal russo-quirguize. No entanto, segundo ele afirmou, “para nós, a questão essencial é que tenhamos um fornecimento seguro e ininterrupto de formaa que possamos continuar o nosso esforço de guerra.”
O anúncio de um novo contracto com a Mina Corp. chega numa altura sensível no Quirguistão, pois o país está a braços com o problema de formar um novo governo após as eleições parlamentares no mês passado.
O resultado final, anunciado Segunda-Feira após semanas de atraso, aumentou o número de políticos que se opõe aos acordos com a Mina e a Red Star. Entre estes está incluído Omurbek Babanov, que detém uma companhia abastecedora rival.
Andrew Higgins and Walter Pincus
7 comentários:
Já existem muitos precedentes a esta triste situação.
Uma das principais razões, que obviamente não é mencionada nos media ocidentais, para o levantamento dos insurgentes no Iraque teve também a ver com o facto dos construtores civis iraquianos terem sido totalmente arredados da reconstrução do seu próprio país, tendo havido adjudicações directas a empresas como a CH2M Hill e outras, além claro de ter havido algumas migalhas para os aliados (aquilo a que Durão Barroso na altura mencionou ser bom para a economia portuguesa, para justificar o injustificável).
Todo o historial das intervenções norte-americanas por esse mundo fora nos últimos 20 anos estão pejadas destes outsorcings com contornos obscuros envolvendo empresas como a DynCorp, Carlyle Group, Vinnel e outras tantas tendo sempre os mesmos diplomatas e enviados como os tenebrosos Richard Holbrooke, Paul Bremer & CIA (com os dois significados) com obscuras ligações a empresas e corporações com serviços secretos e agências de segurança à mistura.
O mais chocante versa as ditas empresas de segurança que mais não são que exércitos privados de mercenários conduzidos por lunáticos extremistas, exercendo todo o seu poder ao abrigo de qualquer convenção internacional ou legislação.
Em resumo, os neoliberais conseguiram piorar mil vezes o maior pesadelo do Presidente Eisenhower.
Cumpts
Manuel Santos
7 de Novembro de 2010: Saudamos o 93º aniversário da Revolução de Outubro.
...Texto traduzido e enviado pelo leitor Filipe Martins...
Obrigado caro Filipe Martins, traduções de artigos para português são sempre bem vindas.
"Obrigado caro Filipe Martins, traduções de artigos para português são sempre bem vindas."
You're wellcome! :o)
José Manuel
Eu hoje, se fosse homem, punha uma gravata preta.
Caro Pippo,
Desconhecia que era você. Vá mandando.
Cumprimentos,
PortugueseMan
Mas se as intenções e os objectivos dessas intervenções militares nunca foram honestas e muito menos claras, como se pode esperar que tudo o que está na sua envolvente seja transparente?
Há relativamente pouco tempo li um artigo de Robert Fisher em que dizia que mais de 50% dos fundos enviados para o Afeganistão são para alimentar a corrupção.
Por isso como se pode esperar moral onde ela não existe?
Podemos começar por colocar a questão deste modo.
Foram atingidos alguns dos objectivos que alegadamente provocaram as agressões do Afeganistão e do Iraque? Existe democracia, existe liberdade, as mulheres são mais livres, terminaram as torturas, o povo vive melhor?
O que se mostra são fachadas para iludir a opinião publica. O Iraque está sem governo desde Março, no Afeganistão a fraude eleitoral atingiu proporções medonhas.
E os países da região ou se resignam a colaborar ou sofrem ameaças. Que é o caso do Irão e da Síria e aqueles mais fracos próximo do epicentro do conflito são desestabilizados por guerras internas. O Paquistão teve que ceder porque lhe levaram a guerra até à capital, O Tajiquistão quando pensou em aproximar-se do Irão começou logo a sentir as consequências. E o Quirguistão é cobiçado por os dois contendores que estão de acordo em tudo menos em abdicar dos seus interesses.
As populações a quem tudo é prometido e em nome de quem se cometem todas as barbaridades, é marginalizada, definhando cada vez mais na miséria.
E no meio desta jigajoga de interesses das multinacionais do armamento e do petróleo, a China silenciosamente vai somando pontos na região.
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