sexta-feira, novembro 12, 2010

Blog do leitor (Um Ano Depois)

Texto enviado por António Campos:

 
"O dia 16 deste mês marca a estreia de um documentário sobre a vida e morte do advogado Sergei Magnitsky, realizado pelos jornalistas holandeses Hans Hermans e Martin Maat. A data foi escolhida para coincidir com o aniversário da sua morte às mãos das autoridades prisionais russas. Como se sabe, Magnitsky, a trabalhar para a sociedade de advogados Firestone Duncan, contratada pela gestora de fundos Hermitage Capital para investigar a razão dos "raids" à empresa pelas autoridades fiscais, desmascarou um esquema de fraude fiscal de dimensões tão colossais que nunca poderia ter passado despercebido pelas autoridades máximas do país: apossando-se fraudulentamente dos documentos da empresa criminosos ligados à administração russa venderam a mesma a entidades fantasmas, usando-a depois para obter o maior reembolso fiscal de que há memória na Rússia: 230 milhões de dólares reembolsados 2 dias após o pedido.
Após ter prestado testemunho contra os funcionários estatais envolvidos na fraude, Magnitsky foi encarcerado durante um ano sem julgamento e sujeito às mais variadas formas de coacção psicológica e física, destinadas a que o mesmo alterasse o seu testemunho. Apesar da violência a que foi sujeito, que incluiu recusa de assistência médica, encarceramento em condições horríveis (celas húmidas sem janelas, corte de água quente e/ou aquecimento, entupimento das instalações sanitárias - Magnitsky submeteu, enquanto preso, 450 queixas formais ao juiz em protesto pelas condições sub-humanas a que foi submetido), recusou-se sempre a alterar o seu testemunho.
Sergei Magnitsky morreu na prisão no dia 16 de Novembro de 2009, por complicações decorrentes de condições médicas não tratadas.
Como era de esperar, o comité de investigação encarregado de determinar as causas da morte do advogado declarou, em peça recente saída no jornal oficial Rosiiskaya Gazeta, "não ter encontrado razões para crer" que o ocorrido tenha tido alguma relação com actividades dos funcionários encarregados do caso contra o mesmo. Um ano depois do ocorrido, ninguém foi indiciado nem acusado.
William Browder, presidente da Hermitage Capital, tem vindo a desenvolver esforços no sentido de divulgar a fraude de que a sua empresa foi vítima e chamar a atenção para o caso de Sergei Magnitsky. Estes parecem estar a dar alguns resultados no plano político: o Parlamento Europeu está a considerar propor uma proibição de emissão de vistos para os funcionários russos implicados, e alguns estados-membros da UE e outros, tais como o Reino Unido, a Polónia e o Canadá, estão já a considerar a introdução de legislação nacional nessa matéria. Por seu lado, um grupo de parlamentares americanos propôs legislação destinada a congelar os bens e proibir a emissão de vistos para os mesmos indivíduos.
Numa demonstração de solidariedade sem precedentes, no dia 16 o documentário será exibido numa série de órgãos parlamentares em vários países do mundo (EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Estónia e Parlamento Europeu).
Talvez esta iniciativa constitua um passo importante no sentido de apelar à consciência dos líderes mundiais que continuam a considerar "business as usual" lidar com um estado criminoso, fazendo vista grossa sobre a monstruosidade do regime. Tal como Estaline quando ajudou a Alemanha nazi nos seus esforços de guerra em 1939-1940, porventura consideram que é do seu interesse fazê-lo. Queira então o destino que o escorpião não os pique quando o estiverem a ajudar a atravessar o rio.
Segue abaixo link para o trailer do documentário "Justice For Sergei", o qual poderá ser visto na íntegra no site http://www.journeyman.tv/.
Nota de José Milhazes: Os dirigentes da prisão onde morreu Magnitsky foram condecorados no passado dia 11 de Novembro.








Mais informações sobre o caso:







www.lawandorderinrussia.org



5 comentários:

Cristina disse...

Este caso é gritante, de facto, mas eu juraria que há centenas de outros casos semelhantes na Rússia que não são conhecidos. Há dias, li uma frase num jornal russo, a propósito do futuro da empresa Inteko, que me deixou de boca aberta: "Na Rússia ainda ninguém conseguiu manter o seu negócio caso exista alguém que o queira arrebatar" (В России еще никому не удавалось сохранить бизнес при наличии желающих его отнять) — Maxim Rozemlit, um dos directores da companhia de investimento russa Metropol.
Onde está o Estado de direito?

Anónimo disse...

Coitadinha da sociedade gestora de fundos

Anónimo disse...

Alguém sabe se esse documentário vai passar em Portugal ?

Cristina disse...

Serguei Magnitsky foi hoje condecorado pela Transparência Internacional (Prémio para a Honestidade), a título póstumo. A distinção será entregue à mãe do advogado numa cerimónia durante a Conferência Internacional Anticorrupção, em Bangkok.

António disse...

O documentário está disponível em regime de pay per view no site da produtora. Acho que por um euro ou uma libra. Mas provavelmente não tarda vai aparecer um download nos sites de torrents.

António Campos