terça-feira, novembro 16, 2010

Victor But, o “senhor da guerra” que fala português

O notório traficante de armas Victor Anatolevitch But poderia ser um dos muitos oficiais que abandonaram as Forças Armadas da União Soviética e foram aumentar o número de desempregados ou de malfeitores após a desintegração da URSS em 1991.
Tal não aconteceu, porque conseguiu “orientar-se” nas novas condições criadas após aquilo a que o atual primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, considerou “a maior catástrofe geopolítica do séc. XX”.
Victor But foi extraditado hoje da Tailândia para os Estados Unidos depois de um processo que se arrastou durante meses.
But nasceu a 13 de janeiro de 1967 em Duchambé, então capital da República Socialista Soviética do Tajiquistão, na Ásia Central. Na escola interessou-se pelo estudo do inglês, alemão e esperanto, esta última língua ligada ao romantismo revolucionário.
Em 1984, terminou a Escola de Cadetes de Kazan e em finais dos anos 80, tentou ingressar no Instituto de Relações Internacionais de Moscovo, onde se preparava a elite diplomática soviética, mas não conseguiu, tendo então optado pelo Instituto Militar de Línguas Estrangeiras.
Aluno exemplar, segundo alguns dos colegas com quem a Lusa falou, Victor But tencionava estudar francês, mas acabou por dedicar-se à língua de Camões, porque naquela altura a União Soviética necessitava de quadros militares que falassem português para trabalharem como conselheiros nas ex-colónias portuguesas que passaram a fazer parte da órbita soviética.
Terminado o curso, o jovem oficial foi prestar serviço militar em Angola e Moçambique, onde trabalhou sob as ordens de Igor Setchin, agente dos serviços secretos soviéticos que atualmente ocupa o cargo de vice-primeiro-ministro, controla o sector petrolífero russo e é o “braço direito” do chefe do governo, Vladimir Putin.
Após a queda da URSS, But segue para a África do Sul, onde cria uma empresa de aviões de transporte, que, segundo as autoridades norte-americanas, foi utilizada para transportar ilegalmente armas para o Afeganistão, Angola, Togo, Ruanda, Libéria, Burkina Faso, bem como para fornecer armamentos aos talibãs e à Al-Qaida.
Angola foi a alavanca para o negócio. No início dos anos 90, a aviação de transporte na Rússia estava praticamente paralisada devido à falta de combustível e But decidiu aproveitar essa situação, alugando aviões por 400 dólares a hora no seu país, para os colocar em serviço em Angola, a 1200 dólares por hora.
Para rentabilizar o negócio, os seus pilotos trabalhavam para o Governo do MPLA, mas forneciam armas à UNITA em troca de diamantes. Em pouco tempo, But passou a ter uma frota de 50 aparelhos.
As actividades ilícitas do russo fizeram dele modelo para a personagem principal do filme “O Senhor da Guerra”, do romance “O Vingador” de Frederick Forsyth e do jogo de computador “Far Cry 2” (Chacal).
Os Estados Unidos começaram a investigar os negócios de But em finais dos anos 90 e, em 2006, o Presidente George W. Bush congelou as suas contas bancárias, porque considerou que as suas ações ameaçavam a política externa norte-americana na República Popular do Congo.
A 6 de março de 2008, o poderoso barão do contrabando de armas foi detido na Tailândia a pedido das autoridades norte-americanas, que exigiram a sua extradição.
Moscovo desenvolveu grandes esforços diplomáticos e políticos para não permitir a entrega do seu cidadão à justiça americana. Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, considerou que a decisão de extradição “não é jurídica, mas política”.
Fontes da Lusa na capital russa consideram que este empenho da diplomacia russa se deve ao fato de Victor But poder vir a colaborar com a justiça norte-americana e a revelar ligações entre atuais dirigentes russos e atividades ilícitas como tráfico de armas e diamantes.



8 comentários:

Alex disse...

Optimo post.
Empreender o nosso amigo tajique...

xicoribeiro disse...

Os EX-de tudo,transformaram a Russia (um belo Pais)na maior CAMORRA mundial. Não há nenhum novo-rico que não seja um ex-KGB.Alias controlam todo que mexe.
Putin, foi o homem que deu a mão a essa gente sem escrupulos, gananciosos e criminosos.
O povo Russo depois do que sofreu as maõs dos tiranos,era merecedor de um poder politico limpo e democratica.

Pippo disse...

O tipo era apenas um homem de negócios! Ele não obrigava ninguém a comprar armas, e diga-se de passagem, se ele as vendia, alguém as produzia.

Curiosa, a carreira deste personagem tão... notável! Digna de um filme, de facto!

Quanto a essa suspeita de ele saber "podres", não tem nada de especial. Será a palavra de um traficante de armas contra a de um qualquer político sério e honesto. E se calhar, ele até saberá podres dos dois lados da barricada.

Gilberto disse...

É um personagem interessante.

E como disse Pippo, com toda absoluta certeza ele sabe de podres de ambos os lados.

E esses desses podres, nunca ficaremos sabendo.

MSantos disse...

Isto é apenas mais um episódio da nova guerra fria e surda existente entre os EUA e a Rússia. E há obviamente informação neste caso que não é do conhecimento da opinião pública.

Olhando para o percurso de Bout conforme o texto, este não é mais do que qualquer enterpreneur e negociante de armas no mundo, havendo uma multidão destes ditos empresários apoiados também por Washington alguns dos quais fizeram parte de administrações americanas como o caso daquele senhor que apoiou Sadam Hussein na guerra contra o Irão e mais tarde vendeu um reactor nuclear a Kim-Il Sung.

E claro que há também muita desinformação como é o caso de ter sido noticiado na CNN que Bout era um dos responsáveis do KGB em Roma em 1985, quando tinha...17 anos.

Um advogado norte-americano referiu que com as provas e evidências actuais, Bout tem tudo para ser ilibado num julgamento justo e em especial se for defendido por um "dream team" de advogados.

Cumpts
Manuel Santos

Jose da Crimea disse...

E quando é que prendem os comerciantes de armas americanos e quando é que pendm os oficiais e lticos americanos qu fornceram msséis Stinguer à escumalha dos talibans afegãs?

Custa-me a crer, mas ainda há muta gente que funciona mentalmente com as coordenadas erradas!

Cristina disse...

Ora bem, parece que houve aqui uma ligeira mudança na posição da Rússia. Vejam esta notícia:

"O apoio consular da Rússia ao cidadão russo Victor Bout, extraditado da Tailândia para os Estados Unidos, onde é acusado de tráfico ilegal de armamentos, não significa que Moscovo o absolva a priori, ele deve responder a todas as perguntas do inquérito americano, declarou quinta-feira Serguey Prikhodko, assessor do presidente da Federação Russa.
“Não temos nada a esconder, não vemos nisso quaisquer segredos militares ou de outro género, estamos interessados em que a investigação deste caso seja levada até ao fim. Ele deve responder a todas as perguntas da justiça americana”, disse Prikhodko aos jornalistas russos.
“Quanto ao apoio consular, continuaremos a concedê-lo, muitas pessoas, inclusive advogados e empresários, podem violar a lei ou encontrar-se em situações difíceis, mas, independentemente disso, vamos orientar-nos pelos princípios universais de ajuda aos cidadãos russos, o que não significa contudo que as absolvamos a priori e, muito menos, as glorifiquemos e, portanto, quaisquer especulações sobre este tema são descabidas”, acrescentou o assessor do presidente.
Prikhodko declarou que o caso de Bout atrai grande atenção e fez lembrar que, de acordo com a legislação russa, o necessário apoio é concedido a qualquer cidadão da Federação Russa que se encontre numa situação difícil no estrangeiro.
“Gostaria de ressaltar que os representantes das autoridades dos Estados Unidos apresentaram contra este cidadão da Federação Russa acusações muito sérias e, considerando a gravidade das acusações, estamos interessados em que esta investigação seja levada até ao fim. Sempre declarámos e continuaremos a declarar que os traficantes de droga, pessoas e armamentos merecem uma condenação incondicional”, disse o assessor do presidente.
(RIA Novosti)

Wandard disse...

"Isto é apenas mais um episódio da nova guerra fria e surda existente entre os EUA e a Rússia. E há obviamente informação neste caso que não é do conhecimento da opinião pública."

Caro M Santos,


Relembre como as armas chegaram aos Mujahideen, o total do investimento chegou à soma de 1 bilhão de dólares. No caso de But quando alguns milhares de AK-47 desapareceram de uma certa ex-república soviética, quem circulava pelas bases militares "fiscalizando" eram os prepostos da Otan.:)))) Quem tem muito a esconder não é a Rússia.