sexta-feira, janeiro 14, 2011

Estamos de regresso à Rússia!


Caros leitores, peço desculpa por este intervalo, o mais longo da história deste blogue, mas a vida é feita de altos e baixos, há momentos em que apetece desistir de tudo. Fui a Portugal juntar forças para mais um ano de trabalho, mas a situação é deprimente, nunca vi o meu país numa situação assim.
Mas há sempre bons momentos: o encontro com a família e, desta vez, a festa do 10º aniversário da SIC, uma oportunidade para rever amigos jornalistas.
Chegado à Rússia, já pude constatar que este será um ano de muito trabalho para mim neste país. Além de ser um ano de eleições parlamentares, mais lá para o fim, este país continua a enfrentar graves problemas com consequências imprevisíveis.
A guerra civil no Cáucaso do Norte continua. Embora de "fraca intensidade", nessa região registam-se diariamente ataques da guerrilha separatista islâmica, assassinatos de polícias, políticos e dirigentes religiosos. Além disso, problemas como o desemprego e a corrupção continuam por resolver.
Em Moscovo, é extremamente preocupante a actividade de forças nacionalistas, sob a capa de adeptos de futebol. Os confrontos de 11 de Dezembro na Praça Manejnaia mostram que a capital russa se encontra sentada num barril de pólvora que poderá provocar uma explosão de confrontos entre etnias, neste caso, convencionalmente falando, entre os nacionalistas russos e todos os outros que eles considerem diferentes.
O jogo das autoridades com essas forças apenas faz aumentar o perigo da explosão, que, se ocorrer, Vladimir Putin, que ainda não se apresentou vestindo as fardas de sapador ou bombeiro, terá grande dificuldade em conter.
Não obstante as promessas de liberalização proclamadas pelo Presidente Dmitri Medvedev, Mikhail Khodorkovski apanhou mais 14 anos de prisão e, segundo alguns jornais russos, as autoridades judiciais preparam-se para lhe fazerem novas acusações, incluindo assassinatos, etc.
 Depois da tirada televisiva de Putin. "O ladrão deve continuar na prisão", a sentença transformou-se numa farsa e ridicularizou uma vez mais a justiça russa. Resta esperar agora pelas decisões do Tribunal Europeu de Direitos Humanos em relação a tudo isso.
Uma coisa é certa, essa sentença voltou a provocar uma forte saída de capitais do país e não contribuiu para o melhoramento da imagem da Rússia.
Não se pode também deixar de sublinhar a onda de repressão contra a oposição liberal ao Kremlin. Um dos seus dirigentes, Boris Nemtsov, está a cumprir uma pena de 15 dias de prisão sem saber porquê. 
Pode-se simpatizar ou não com os dirigentes da oposição liberal, mas o facto é que irritam Vladimir Putin, sim, Putin, porque Dmitri Medvedev é cada vez mais transformado numa espécie de rainha de Inglaterra.
Quanto à corrupção, ela continua a ser total e omnipresente, facto que é reconhecido por todos, incluindo Dmitri Medvedev.
E, para terminar no que respeita ao campo interno, quero recordar que Vladimir Putin encontra-se no poder há 11 anos, tempo suficiente para esperar resultados.
No campo internacional, o reinício das relações entre a Rússia e os Estados Unidos continua a ser uma incógnita. A rectificação do START-3 corre sérios riscos. Se o Congresso dos Unidos considera não existir ligação entre a redução de armamentos estratégicos e a instalação de sistemas de defesa antimíssil, o Parlamento russo tem uma opinião contrária. 
Vamos ver também como irá continuar a aproximação entre a Rússia e a NATO, entre a Rússia e a União Europeia, bem como se irá desenvolver a situação em torno da Coreia do Norte, Irão e Médio Oriente.
Concluindo, vamos ter temas suficientes para discutir.






7 comentários:

Nuno B. disse...

Nem tudo está mau para a Rússia, ainda há a FIFA que acredita no futuro do país.

Já quanto ao nosso...

Votos de um bom retorno ao trabalho!

MSantos disse...

"Em Moscovo, é extremamente preocupante a actividade de forças nacionalistas, sob a capa de adeptos de futebol."

Só mesmo na Rússia tal coisa poderia ser!

Ainda bem que não estamos em Moscovo e não temos este flagelo de claques nacionalistas com designações e símbolos pró-nazis, adeptas da violência.

;)

Cumpts
Manuel Santos

Pippo disse...

Sim, sim, essa ligação entre adeptos de futebol e nacionalistas ou mesmo nazis ocorre apenas na Rússia!

Por exemplo, aqui ao lado não há qualquer ligação entre claques do Real Madrid e grupos neo-nazis...

Num tom mais humorista, deixo-vos aqui um link para a mensagem de Ano Novo do Duo Dinâmico:

http://www.youtube.com/watch?v=j7oBv4LItNs

pedro disse...

MSantos infelizmente não é só na Rússia, este fenómeno é cada vez mais comum um pouco por todo o lado, dou como exemplo a Bulgária em que os movimentos pró-nazis e as claques de futebol se podem considerar exactamente o mesmo.
O mesmo se passa em Itália, onde o caso mais conhecido é a claque da Lázio, ou em Espanha e a claque do Real Madrid, portanto é um problema global e não "só mesmo na Rússia..."

MSantos disse...

Caro Pedro

Eu apenas estava a ser irónico pois embora muitas vezes se queira transmitir uma exclusividade mais negativa da sociedade russa, esta infelizmente só está a padecer das enfermidades das sociedades modernas

As claques dos principais clubes portugueses costumam fazer saudações nazis.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Caro Pippo

Está pura e simplesmente genial!

Seria engraçado o Rui Unas convidá-los para o seu programa.

:D

Cumpts
Manuel Santos

Pippo disse...

O link foi-me enviado por uma amiga "russa" (isto é, uma das que estava no Pushkin a estudar língua russa)