domingo, janeiro 23, 2011

Irão quer negociar diretamente com Rússia troca de combustível nuclear


O Irão está pronto a assinar um acordo para troca de combustível nuclear para um reator, mas prefere fazer isso diretamente com a Rússia, declarou hoje o embaixador iraniano na Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Ali Asghar Soltanieh.
“Se for conseguido um acordo, se conseguirmos receber combustível para este projeto humanitário, claro que isso exercerá uma influência positiva na mentalidade do nosso povo, será mais um momento positivo para a Rússia”, declarou Ali Asghar Soltanieh, numa entrevista à rádio Eco de Moscovo.
“Caso contrário, isso será um ponto fraco para a Rússia”, acrescentou.
O diplomata iraniano assinalou que o governo de Teerão está pronto para as conversações e espera a mesma prontidão da parte russa.
“Perguntem aos vossos responsáveis porque é que não se querem sentar à mesa das conversações”, sublinhou, rematando que “o Irão, nesta questão, só acredita na Rússia”.
Na véspera, o regime de Teerão afirmou estar disposto a chegar a um acordo sobre a troca de urânio com a comunidade internacional se receber 120 quilos de urânio enriquecido a vinte por cento como combustível para os seus reatores nucleares.
“Isto é claramente chantagem política e diplomática com vista a dividir o sexteto de intermediários. Não acredito que a Rússia aceite este tipo de discurso, tanto mais que tem compromissos assumidos no quadro do sexteto de intermediários e do Conselho de Segurança da ONU”, declarou à Lusa fonte diplomática russa.
No dia 22 de Janeiro, as conversações realizadas entre a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Catherine Ashton, em representação do sexteto (Rússia, China, Estados Unidos, França, Alemanha e Grã-Bretanha), e o secretário do Conselho Supremo da Segurança Nacional do Irão, Saidi Jalili, terminaram sem resultado.

6 comentários:

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caros leitores, entendo cada vez menos onde querem chegar os senhores do Irão.

MSantos disse...

"entendo cada vez menos onde querem chegar os senhores do Irão."

Tempo, caríssimo. Apenas ganhar tempo.

Cumpts
Manuel Santos

PortugueseMan disse...

Caro JM,

Eles fazem o seu jogo. Eles querem estar à vontade na área nuclear. E têm um forte poder negocial. Andamos nisto há anos e por muita pressão que façam eles continuam a avançar.

O Irão aposta em como não os conseguem obrigar a parar o seu enriquecimento e a meu ver têm alguma razão nisso.

Quem está disposto a entrar em guerra com o Irão? Nem os EUA que estão mesmo ali ao lado. E mesmo que decidam atacar o Irão, precisam de garantir que são capazes de proteger Israel de uma chuva de mísseis e ninguém neste momento tem essa capacidade.

Em última instância este é o grande trunfo do Irão, ninguém se atreverá ataca-los, porque eles têm a capacidade de atacar Israel.

São rondas atrás de rondas, negociações e mais negociações com um país cheio de gás, já viu onde anda o preço de energia? Mas quem quer ainda mais confusão agora? Anda tudo aflito economicamente, e vamos ainda ter uma crise energética ainda pior do que aquela que estamos a ter?

Como é que se consegue parar o Irão de conseguir o que quer?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caros, claro que este malabarismo pode demorar muito tempo, pois a solução militar do problema poderá ser desastrosa.
Mas acho que Teerão está a deixar a Rússia em situações cada vez mais incómodas.

PortugueseMan disse...

Eles tentam puxar a Rússia um pouco mais para o seu lado.

Repare que apesar de terem acabado por permitir o arranque da central nuclear, a Rússia acabou por negar claramente o fornecimento dos S-300. Isto teve impacto. Foi um sinal claro por parte da Rússia que o Irão está a ir por um caminho que os russos não são capazes de concordar.

Mas caro JM, as coisas não são nada simples para os russos, se por um lado não querem um Irão que domine o nuclear, por outro o Irão é um componente importante em vários assuntos:

O Irão está a causar problemas na área para os EUA, o que ajuda a enfraquecer a posição destes na Ásia Central.

O Irão também está no Mar Cáspio, uma zona muito rica energeticamente.

Estes problemas com o Irão, enfraquece o pipeline Nabucco, beneficiando os russos...

Os russos não querem demasiada aproximação entre a China e o Irão

Os russos vêem no Irão um cliente muito bom para a área nuclear, fornecimento de armas e devido ao embargo ocidental, o fornecimento de aviões civis.

Há muitos interesses e a Rússia tem e está a fazer um jogo de cintura em cima de uma corda...

A Rússia não quer afastar o Irão, mas também não quer dar carta branca na área nuclear.

Pippo disse...

A questão reside em sabermos qual a quantidade e qualidade das informações disponíveis aos israelitas.
Não duvido que eles estejam dispostos a atacar se não houver outro remédio. Já houve vários assassinatos de responsáveis pelo programa nuclear iraniano (como reportei há uma semana atrás aqui neste blog), mas receio bem que isso não seja suficiente.

As consequências militares e políticas de tal ataque (e já nem falo nas económicas!) serão terríveis: um Israel ainda mais isolado (apesar de aplaudido nos bastidores); a possibilidade de se espalhar uma núvem radioactiva por boa parte do Médio Oriente; uma retaliação iraniana e (garantidamente) do Hezbollah e Hamas; e é melhor nem pensarmos na reacção da "rua" árabe.