quinta-feira, abril 21, 2011

Ucrânia/Chernobyl: Consequências ainda se farão sentir por muito tempo





As consequências da catástrofe de Tchernobyl ainda se farão sentir no território da Ucrânia durante muito tempo e a situação complica-se por o Estado não conceder praticamente meios para as combater.
A explosão do quarto reator da Central Nuclear de Tchernobyl, a 26 de abril de 1986, provocou fugas de radioatividade que poluíram numerosas áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia.
Numa mesa-redonda por ocasião do 25.º aniversário da catástrofe, médicos ucranianos disseram que o Orçamento de Estado da Ucrânia financia apenas o tratamento de seis pacientes com doenças cancerosas por ano, enquanto que o número de doentes graves é de 594.
Vladimir Bebechko, diretor do Centro Científico de Medicina Radiológica da Ucrânia, sublinhou que a situação é particularmente grave entre crianças e jovens.
“Hoje, considera-se que existem seis mil casos de cancro da tiróide entre crianças e jovens provocados pela avaria. Além disso se, até 1986, 40 por cento das crianças ucranianas eram consideradas saudáveis, atualmente, esse número não é superior a 15 por cento”, precisou.
Este cientista calculou que a tiróide foi o principal alvo da radiação de Tchernobyl, pois mais de 80 por cento dos isótopos, lançados para a atmosfera devido à explosão, são de iodo radioativo que se acumula precisamente nas células dessa glândula.
Elena Stepanova, diretora da secção de pediatria do Centro de Patologia de Kiev, apresentou números ainda mais assustadores.
“Comparando o número de crianças doentes existente em 1992 e hoje, constata-se que o número de crianças com doenças do sistema digestivo quintuplicou, com doenças ósseas e musculares mais do que quintuplicou”, enumerou.
“O número de crianças com comportamento psíquico alterado aumentou quatro vezes, crianças com problemas cardíacos 3,9 vezes, com doenças do fígado 3,6 vezes, com problemas respiratórios 1,5 vezes”, acrescentou.
“Os problemas de Tchernobyl continuarão não só porque não aprendemos tudo, mas também porque nem sempre podemos fazer o que queremos devido à falta de financiamento do Estado”, lamentou Bechenko.
Porém, o Conselho de Estudo do Meio Ambiente da Ucrânia considerou que os dados avançados pelos médicos são exagerados.
Peritos deste conselho consideraram que a ação da radiação de Tchernobyl é tão mortífera quanto os excessos na alimentação. Na sua opinião, o acidente de 1986 aumentou o risco de morte em 1 por cento, tal como a poluição do ar, o tabaco ou o consumo exagerado de gorduras.
O número de vítimas mortais provocado pela catástrofe de Tchernobyl continua também a ser objeto de discussão.
Em 2000, a Organização Mundial de Saúde calculou que Tchernobyl pode ter sido a causa de 50 mil pessoas. Mas em 2005 o “Fórum Tchernobyl” das Nações Unidas, do qual faz parte a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), considerou que a catástrofe provocou 56 mortos e cancro da tiróide em quatro mil, 90 por cento dos quais foram curados.
A organização não governamental Greenpeace refutou os números da ONU ao informar que apenas na Bielorrússia foram registados 273 mil casos de cancro, 90 mil dos quais fatais.
A Organização Médicos pela Paz considerou que a catástrofe de Tchernobyl pode matar entre 50 e 100 mil pessoas.

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