quinta-feira, julho 28, 2011

Emancipação da mulher na União Soviética




Estou a ler uma recente edição da “História da Rússia: 1894-2007 e deparei com o seguinte documento, no mínimo curioso.

Decreto do Soviete Distrital de Saratov dos Comissários do Povo sobre a abolição da propriedade privada das mulheres

O casamento legal, que tinha lugar até recentemente, é, sem dúvida, um produto da desigualdade social que deve ser completamente arrancado na República Soviética. Até agora, os casamentos legais eram uma arma séria nas mãos da burguesia na luta contra o proletariado, graças aos quais todos os melhores exemplares do sexo maravilhoso eram propriedade dos burgueses, dos imperialistas, e semelhante propriedade não podia deixar de ser uma violação da continuação correcta do género humano. Por isso, o Soviete Distrital de Saratov dos Comissários do Povo, com a aprovação do comité executivo do Conselho Regional de Deputados dos Trabalhadores, Camponeses e Soldados, decretou:
1. A partir de 1 de Janeiro de 1918 é abolida a posse constante das mulheres entre os 17 e os 32 anos…
3. Os anteriores proprietários (maridos) conservam o direito de utilização extraordinária da sua esposa…
4. Todas as mulheres abrangidas por este decreto deixam de ser propriedade privada e são propriedade de toda a classe trabalhadora.
5. A distribuição das mulheres retiradas é da competência do Conselho de Deputados de Operários, Soldados e Camponeses…
8. Cada homem que deseje utilizar um exemplar do património popular deve apresentar uma declaração sobre a sua pertença à classe trabalhadora, passada pelo comité operário da fábrica ou pelo sindicato…” (Za prava tcheloveka”. M., 1999. Nº45, pág.8).

21 comentários:

Epsy disse...

Esta muito bem apanhada esta crónica. É impossível não ficar "sensibilizado" com o esforço, destes revolucionários, em acabar com a desigualdade entre homens e mulheres.

Esta crónica aliás motivou-me para escrever um artigo num blog.

MSantos disse...

Ou seja, os sovietes estavam preocupados com a justa distribuição desse recurso escasso chamado...gajas boas!

:D

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

O comunismo realmente é uma lepra.

Pippo disse...

É impressão minha ou esse decreto impõe o regabofe sexual, estilo "filha, anda cá!"?

MSantos disse...

Claro que não Pippo.

Também não era assim. Se vir o decreto:

"Cada homem que deseje utilizar um exemplar do património popular deve apresentar uma declaração sobre a sua pertença à classe trabalhadora, passada pelo comité operário da fábrica ou pelo sindicato…”

Provavelmente tinha de apresentar o formulário preenchido em 3 exemplares, depois reunia-se o Conselho de Deputados de Operários, Soldados e Camponeses sobre o qual deliberava sobre se o camarada pertencia à classe trabalhadora, atribuindo-lhe então temporariamente essa propriedade da mesma classe trabalhadora.

Enfim...o eterno problema da burocracia na Rússia.

;)

Cumpts
Manuel Santos

José Leite disse...

Enfim, a apropriação pela classe operária da máquina procriadora em ordem a uma coletivização da sexualidade...

Bem achado... e com piada... eles tinham cada legislorreia...Deus me livre!

Rússia Press disse...

Este post é um fantástico exemplo da loucura a que o comunismo pode chegar... se o deixarem ir para o poder.
Hilariante mas muito esclarecedor...
Enquanto estão na oposição, os comunistas são bem-comportados e civilizados... Mas deixem-nos governar, que transformam a sociedade numa barbárie ....
Alguém precisa de mais exemplos?
Cristina Mestre

Ricardo disse...

Sinceramente eu achei foi engraçado, mas 1918 eram outros tempos também.

Anónimo disse...

Bom, sobre os comunistas, é bom lembram que não são os únicos que aprontam, as potências capitalistas também adoram uma guerrinha no país dos outros, sem falar que a europa imperial aprontou todas aqui pelos lados da América do Sul, África e àsia.

Francisco Lucrécio disse...

Já está deslindado o segredo porque a demografia na URSS não sofreu qualquer quebra, mesmo os comunistas "assassinando" 166 milhões de pessoas numa população de 200 milhões, morreram mais 6 milhões durante a guerra civil e +- 26 milhões na II GG, mesmo assim a população não deixou de crescer sempre.

Faltava o Doutror Milhazes para revelar o segredo.

Conclusão; as mulheres na URSS eram obrigadas a parir por decreto.

Não existia nesse tempo a inseminação artificial senão eram mais que os Chineses e os Indianos juntos.

Uma pergunta. Mas não foi a URSS o país que mais direitos concedeu às mulheres depois da Revolução?

Era muito util esclarecer também os leitores deste Blogue do que se tratou no respeitante à emancipação da mulher na URSS.

Fico à espera de uma resposta.

Anónimo disse...

Isso é no planeta Terra?

Pedro disse...

Neste caso junto-me livremente á opinião sarcástica mas quanto a mim inteligente e correcta do Francisco Lucrécio embora eu não alinhe nessa velha trapaça esquerda vs direita.

No caso concreto da URSS, se fossem verdade aquelas coisas coisas que alguns autores publicaram, onde incluo o analfabeto do Pacheco Pereira, a Rússia hoje matematicamente não podia ter habitantes dado que Stalin matou 100 Milhões, Lenine 50 Milhões e os outros lideres da URSS mataram mais uns 50 Milhões.
Ou seja como é possível a Russia Hoje ter 140 Milhões? Além disso o Putin Já matou mais uns 20 Milhões.....


No mínimo isto da demonização da URSS a mais recentemente da Rússia é apenas para parolos que não procuram informação, mas sim aqueles que passivos que comem propaganda e nunca questionam nada desde que tenham uns tostões para comprar hamburgeres MCDonalds.

MSantos disse...

Não sendo propriamente um simpatizante dos sistemas comunistas, não consigo apesar de tudo ficar a leste de algumas inverdades que são atiradas para o ar, ainda para mais no clima dos últimos 20 anos em que o cadáver comunista tem servido malévolamente os propósitos do extremismo político e económico que nos está a arrastar a todos para o abismo.

Isto porque penso, será perceptível para qualquer pessoa que os correntes artigos têm a ver com o momentâneo fervor revolucionário caractrístico da anarquia destes momentos independentemente da ideologia, onde o completo absurdo salta para a rua. Existe até o exemplo contrário de Alexandra Kolontai.

Tenho como imagem da sociedade soviética, uma postura conservadora em termos de costumes, como aliás é caractrístico de qualquer regime totalitário e avesso às posições libertárias. Além do mais e honra seja feita, a URSS até tinha alguma preocupação propagandística no que refere aos direitos das mulheres.

Mas posso estar enganado e aí talvez a leitora Cristina Mestre que viveu na URSS ou até outro leitor possa apresentar evidências da afirmação que proferiu.

Cumpts
manuel Santos

Jest nas Wielu disse...

Se bem me lembro, este decreto não era da responsabilidade dos bolcheviques, mas de socialistas revolucionários (EsEr) de esquerda, que eram, diga-se de passagem, aliados mais próximos dos comunistas...

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro MSAntos, está redondamente enganado. O exemplo de Kolontai é prova exatamente disso. Esteve na vanguarda de muitas loucuras no campo da emancipação feminina.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Jest, não tem razão, trata-se de um decreto bolchevique, pois os socialistas revolucionários, no campo da emancipação, não foram tão longe. Está a fazer confusão.

Jest nas Wielu disse...

Bem, não existe uma única visão sobre este Decreto, os historiadores discutem a versão do que o Decreto não passa de falsidade (http://www.rusproject.org/node/205), e que os seus autores eram anarquistas, ou então ao contrário, as pessoas que pretendiam comprometer os anarquistas.

No entanto, é verdade, que em alguns províncias o Decreto era tomado à letra, dai o telegrama do Lenin ao Comite executivo do Simbirsk e ao CheKa de Simbirsk: “Imediatamente verifiquem ... caso se confirmar detenham os culpados e se for preciso castigem as canalhas severamente e rapidamente e informem a população” (V. I. Lenin e VcheKa, 1987, páginas 121 - 122).

Bolcheviques verteram mais sangue do que qualquer outra ditadura ao nível mundial, mas essa não me parece (admito que posso estar equivocado) uma culpa deles...

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Jest, eu citei a fonte de onde retirei o documento e trata-se de uma fonte credível. Além disso, este documento vem também publicado no livro. História da Rússia. 1894-2007. Moscovo, 2010.

MSantos disse...

Caro JM

Eu queria referir-ma ser esse exemplo contrário ao dos artigos.
Estes tinham o absurdo sob a perspectiva masculina. O de Kolontai era sob o ponto de vista da emancipação feminina e da abolição da família.

Contrários em género.

Cumpts
Manuel Santos

Maria Nazaré de Souza Oliveira disse...

Milhazes, obg por publicares aqui este documento histórico.
É fantástico poder constatar o quanto se caminhou no sentido da emancipação da Mulher, aí como aqui e noutros países. Mas ainda há muita confusão em muitas cabeças quando se analisam e divulgam, estes documentos! Vê-se pelos comentários!Descontextualizam-nos, pervertem completamente o objectivo do trabalho do historiador e prendem-se ao estaticismo das frases feitas. A História é uma descoberta constante. Deslumbra, deslumbrando-nos para aprendizagens e descobertas do TEMPO e dos HOMENS e "dos Homens no Tempo"!
Obg por mais este contributo para a História da Rússia e para a História das Mentalidades.

Anónimo disse...

Como historiador, posso dizer que já fui capitalista, comunista e até anarquista! Não defendo nenhum regime, mas é de admirar o quanto as pessoas adoram criticar o Comunismo em qualquer quesito, como se o que está ali fosse uma boa realidade.

Onde está a emancipação da mulher no Capitalismo? Quantas ficam casadas porque senão morrem de fome? Onde estão as leis para defender as agressões assassinatos das mulheres no Brasil? Isso que temos uma mulher presidente!

O que dizer das traições depravações que no Comunismo, ao menso de meu conhecimento, não existiam ou eram raras? Havia pedofilia por lá?

Aqui se algum rapaz quer uma bonitinha tem de jogar na loteria e torcer para ganhar, pelo menos lá todas mulheres trabalhavam (a maioria) de igual maneira e não havia discriminação como aqui; você é gorda, então é faxineira, é negra? então vai ser lixeira, é gostosa? dá uma boa secretaria... Ou vão dizer que não existe preconceito nesse mundinho insano onde as mulheres exploram os homens por dinheiro se sujeitando a tudo, até acobertando traições e sendo, por conta própria, objeto sexual?

Tudo isso destrói a família, meus caros. Pelo menos na URSS existia família, algo que na Rússia atual está decaindo visto o aumento dos divórcios.

Pensem melhor antes de demonizar o regime da URSS pois no nosso regime não muda quase nada e , se muda, é para pior. Infelizmente...