Chamou-me a atenção, por motivos óbvios, um artigo publicado no semanário SOL, em 16 de Julho, com o título "Russos quebram acordo com a TAP" (ler em: http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=24236).
Na realidade, a Transportadora Aérea Portuguesa está a ser alvo de concorrência desleal no mercado russo, sendo agravada a situação pelo facto das entidades portuguesas responsáveis não atuarem em uníssono.
Graças a um bom trabalho publicitário feito pela TAP e algumas operadoras turísticas russas que vendem Portugal como destino turístico, a linha aérea Lisboa-Moscovo-Lisboa mostrou ser extremamente rentável e despertou a cobiça da concorrência russa.
Não é segredo para ninguém que um dos concorrentes é a empresa aérea privada russa "Transaero", que pretende agora dividir o bolo preparado pela companhia portuguesa.
A atitude tomada pelas autoridades portuguesas competentes neste caso é surpreendente, para não dizer algo mais forte. É sabido, e isso no citado artigo fica claro, que existe um acordo bilateral entre o INAC e a FATA (autoridade aérea russa) que permite a realização de 14 voos semanais pelas companhias designadas, ou seja, pela Aeroflot e a TAP.
Porém, quando as autoridades russas violaram o acordo e não permitiram o aumento do número de voos semanais da TAP de cinco para nove, o Instituto Nacional de Aviação Civil continuou a passar à Transaero (companhia aérea não designada) licenças para realizar voos para o Funchal (um) e Lisboa (dois). Ao fazer isso em relação a uma empresa russa não designada, o INAC perdeu uma das alavancas de pressão mais importantes nas conversações com a FATA russa.
Além disso, parece não haver uma política coordenada neste campo entre o INAC e o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, fator que contribui muito para o enfraquecimento do poder negocial da TAP. Ninguém em Lisboa quer irritar o Kremlin, ao ponto de abandonarem as empresas portuguesas num mercado complicado como é o russo.
A não autorização do aumento do número de voos está a prejudicar fortemente a imagem da TAP no mercado russo, pois já havia centenas de bilhetes vendidos para voos diretos e os passageiros vêem-se agora obrigados a fazer a viagem via Francfurt, etc.
Nesta situação, era justificável uma política ativa das autoridades portuguesas, pois o mercado turístico russo é promissor, mas, segundo consegui apurar, a única iniciativa prevista consiste numa reunião entre representantes do INAC e da FATA, marcada para Agosto.
Sendo assim, a batalha para esta época balnear foi perdida em todas as frentes pela TAP. E se as autoridades portuguesas continuarem com a mesma política, a transportadora portuguesa arrisca-se a perder ainda mais dois voos no Outono e Inverno.
Sei, de fontes bem informadas, que as autoridades russas envolvidas no processo estão surpreendidas com a facilidade com que os portugueses cedem posições.
Quero deixar bem claro que não sou adepto de uma declaração de guerra à Rússia para defender os interesses nacionais, nem a composição de um novo hino nacional, mas é necessário conservar alguma dignidade, mesmo estando nós numa situação económica difícil.
Até porque o nosso povo diz: "quem muito se baixa, ...", o resto todos nós sabemos.
Escusado será dizer que não se conhece qualquer apoio ou iniciativa da União Europeia na solução do problema, embora outras companhias aéreas europeias já tenham passado pela mesma situação. Cada um que se desenrasque!
1 comentário:
Muito interessante.
Obrigado e continuação de bom trabalho.
João Carlos Osório
Chefe de Cabine da TAP Portugal
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