segunda-feira, setembro 12, 2011

Blog do leitor (Para a Abkházia, o reconhecimento vem peça a peça )

Texto traduzido e enviado pelo leitor Pippo                                                       

"Por Michael Schwirtz
Artigo publicado no New York Times a 08 Setembro 2011

Sukhumi, Geórgia - Depois de quase duas décadas de uma vã busca de aceitação internacional, a Abkházia, uma minúscula região rebelde na ex-república soviética da Geórgia, encontrou um aliado incomum.

Embora desprezada por todos excepto por um punhado de países, a Abkházia é considerada uma respeitada - ou melhor, alardeada - potência global entre os entusiastas da competição mundial de dominó.

Mesmo antes da Rússia se tornar o primeiro país a reconhecer o território como soberano, em Agosto de 2008, a Federação Internacional de Dominó, que organiza as competições de dominó em todo o mundo, ignorou os protestos da Geórgia e recebeu a Abkházia nas suas fileiras como membro de pleno direito.

E no próximo mês, a Abkhazia será a sede do Campeonato Mundial de Dominó, a ter lugar na capital, Sukhumi.

A honra, normalmente reservada para os membros das Nações Unidas, é um reflexo da proeza nesta região obscura num jogo que permanece em grande parte ofuscado por jogos de mesa de alto perfil tais como as damas ou o xadrez. Os 25 países membros da Federação optaram pela Abkhazia em votação unânime no ano passado em Las Vegas.

Não importa que apenas outros quatro países, dois dos quais são pequenas ilhas do Pacífico, tenham seguido a Rússia no reconhecimento da independência da Abkházia. A partir de 17 de outubro até ao dia 21, a Abkházia será o centro do universo do dominó.

"Para nós isso é muito significativo, não apenas como uma competição atlética", disse Ruslan Tarba, jornalista e entusiasta do dominó na Abkházia. "As pessoas virão aqui e serão capazes de ver que não somos homens selvagens que sobem a palmeiras, carregando armas automáticas. O mais importante para nós é que as pessoas fiquem convencidas do fato de que a Abkházia foi, é e será um país aberto e amigável. "

Embora possuidor de uma beleza natural gritante, a Abkhazia, um local de férias da antiga União Soviética, no Mar Negro, de modo nenhum se parece com um lugar para acolher competições internacionais de qualquer tipo.

Quase 20 anos se passaram desde que os rebeldes da Abkházia expulsaram as tropas georgianas num dos conflitos mais sangrentos desde o colapso da União Soviética. Nos edifícios aqui em Sukhumi permanecem visíveis os danos provocados pelas balas e pelos estilhaços. Vários hotéis e restaurantes mais antigos ainda estão em ruínas, e a casa queimada da sede do governo anterior permanece como um monumento à ferocidade dos combates.

Mas o matraquear das kalashnikovs há muito foi substituído por um outro som: o som das peças de dominó de cor marfim a bater nas mesas. Isolada em grande parte do mundo exterior, a Abkházia voltou-se para o dominó - na maioria dos países o jogo é referido no singular - como um remédio para lidar com a apatia endêmica.
Alguns, contudo, começaram a ver o jogo como uma ferramenta que a Abkhazia poderia usar para lutar em prol da sua legitimidade.



"Após a guerra pela qual a Abkhazia passou, cada passo em frente que fazemos, seja em áreas de dominó ou de outra, é importante", disse Artur Gabunia, presidente da Federação de Dominó da Abkházia.

Desde que se tornou internacionalmente competitiva em 2007, a equipa da Abkházia de dominó tem gradualmente subindo no ranking, tendo obtido o 10º lugar nos campeonatos de 2009 e 2010 que tiveram lugar, respectivamente, no Panamá e na República Dominicana. A equipa espera alcançar um dos três primeiros lugares na competição em Sukhumi, no próximo mês.

"Eles são muito competitivos", disse Manuel Oquendo, presidente da Federação Nacional de Dominó dos Estados Unidos, que viajou para a Abkhazia no ano passado para verificar a equipa da Abkházia. "O desporto do dominó está concentrado principalmente na América Latina, por isso fiquei surpreendido ao ver as pessoas jogando dominó no Mar Negro. Fiquei impressionado."

Se o merecia ou não, o dominó tem a reputação de ser um jogo para ociosos, e nesse sentido, a Abkhazia é um terreno fértil. Depois de anos de isolamento político e económico, a taxa de desemprego por aqui é alta, e há muita gente com muito tempo livre nas suas mãos.

Num determinado dia, veteranos de guerra de cabelos brancos e jovens homens com enormes óculos escuros e vestidos “à moda” reúnem-se em frente ao mar, diante do Hotel Ritsa, um dos poucos edifícios totalmente restaurado na cidade. Abastecido por cigarros e café doce pegajoso com a consistência do crude, os homens jogam horas a fio à sombra dos pinheiros.

As competições podem ser muito competitivas, pouca simpatia sendo dispensada aos “empatas” ou aos indecisos.

Top of Form

"Mais rápido, mais rápido, mais rápido!". Leonid Lolua, um ex-Presidente da Câmara de Sukhumi, repreendeu um adversário mais pensativo durante um jogo. "Realmente, é uma pena que não me deixem entrar na equipa nacional", disse o Sr. Lolua, 67, batendo a sua última pedra para para obter a vitória.
Outros homens podem ser vistos a jogar xadrez e, às vezes cartas, mas os jogadores de dominó parecem ter o comando do calçadão. As mulheres nesta sociedade altamente patriarcal raramente estão presentes nas mesas, mas os moradores insistiram que elas também jogam nas suas cozinhas e pátios.
"Na Abkházia, quase toda a gente joga dominó", disse Armen Mkrtchyan, duas vezes campeão da Abkházia de dominó e que estará competindo em Outubro.
A Geórgia, país que considera a Abkházia  como parte do seu território soberano, está aparentemente irritada sobre o campeonato. Funcionários da Federação Internacional de Dominó disseram que os enviados da Geórgia tinha-nos abordado várias vezes para tentar persuadi-los a mudar o evento para outros lugares. A Geórgia não é um membro da federação.
Giorgi Kandelaki, um parlamentar da Geórgia, disse que as autoridades georgianas tentaram dissuadir os futuros participantes de assistir, informando-os sobre a situação dos georgianos da Abkházia, muitos dos quais foram expulsos do território durante a guerra na década de 1990 e a quem foi recusada a reentrada.
Ele não disse se a Geórgia iri tomar medidas mais ostensivas para parar o evento, por exemplo, negando permissão aos participantes para entrarem na Abkhazia através da região de fronteira controlada pela Geórgia. Eles poderiam, em alternativa, entrar na Abkházia através da Rússia, apesar disso violar a lei georgiana.
Os funcionários da Federação comprometeram-se a avançar com os campeonatos em Sukhumi, e as autoridades da Abkházia prometeram não os decepcionar. Os organizadores esperam mais de 200 jogadores de quase duas dúzias de países, incluindo os Estados Unidos, para participar. Segundo os funcionários  da Federação , o governo da Abkházia, que é largamente dependente da Rússia para o apoio, disse que vai destinar US $ 100.000 em dinheiro do prêmio para o campeão, a maior bolsa da história do evento.
Não é ainda certo se a decisão de conceder tal reconhecimento da Abkházia vai ajudar os entusiastas do dominó no seu objectivo de grangear reconhecimento internacional. Após os campeonatos em Sukhumi, a Federação Internacional de Dominó planeia reiniciar uma campanha de longa duração para fazer do dominó um desporto olímpico."

9 comentários:

Jest nas Wielu disse...

Mais de 5.000 pessoas (georgianos e abecasos) foram executados pelos separatistas da Abecasia após a queda da cidade de Sukhumi, cerca de 300.000 georgianos se tornaram refugiados, ninguém consegue viver feliz sob um crime cometido em 1993...

anónimo_russo disse...

Jest nas Wielu disse...
Mais de 5.000 pessoas (georgianos e abecasos) foram executados pelos separatistas da Abecasia"



Segundo eu sei, ninguem executou abkhazes lá (alem dos georgianos que mataram uma certa quantidade deles). Não há "separatistas abkhazes" na abkházia, todos os abkhazes são separatistas (consideram impossivel ser parte da Geórgia). Não vale a pena iludir as pessoas que pouco sabem do assunto.

Jest nas Wielu disse...

2 anónimo_russo 19:50
Aconselho ler mais sobre os massacres de Sukhumi: http://en.wikipedia.org/wiki/
Sukhumi_massacre, apenas alguns nomes dos abecassos executados pelos separatistas: Mamia Alasania e Raul Eshba.

Também aconselho ler este artigo:
http://en.wikipedia.org/wiki/
Ethnic_cleansing_of_Georgians_in_Abkhazia
Nem todos os abecassos eram (são) separatistas, e mesmo se fossem, eles eram uma minoria étnica no território…

Jest nas Wielu disse...

Mikheil Saakashvili visita Svanétia:
http://svan68.livejournal.com/81881.html

Jest nas Wielu disse...

Geórgia, região de Svanétia, abertura da nova estrada (198 km), esquadra da polícia, edifício da Justiça, novo hostel e nova ponte: http://cyxymu.livejournal.com/1021866.html

Anónimo disse...

Interessante.

Apesar de não ser reconhecida pela maioria dos países, a Abecásia vai conseguindo, aos poucos ("peça a peça", como diz o título da reportagem), obter algum reconhecimento internacional.

Pode ser o desporto venha a tornar-se uma "Lança em África" de Sukhumi na arena internacional.

Jest nas Wielu disse...

Hoje, 16.09, é o aniversário da ocupação da cidade de Sukhumi pelas forças separatistas: http://cyxymu.livejournal.com/1023271.html

MSantos disse...

Acho piada as "ânsias" de independências serem muito aceites estimuladas quando estão de determinado lado e tão condenadas quando estão no campo oposto.

Os "estimuladores" ainda não se aperceberam da Caixa de Pandora que abriram.

Cumpts
Manuel Santos

Jest nas Wielu disse...

Mikheil Saakashvili criticou na ONU a chantagem russa contra Ucrânia, Belarus e Moldova:
http://zik.ua/ua/news/2011/09/23/310434