Texto traduzido e enviado pelo leitor Pippo:
"Numa recente viagem a Moscovo, aprendi que muitas pessoas dentro do aparelho de Política Externa russa se surpreenderam com o facto de algumas pessoas em Washington encararem a política de “reajuste” [de relações com a Rússia], ou como uma grande conquista, ou como uma enorme concessão para a Rússia. Assim, elas parecem desapontadas quando a Rússia não segue cegamente a liderança dos EUA sobre a questão do Irão.Os russos não estão inclinados a subestimar as melhorias [nas relações com os EUA], mas também não as sobrestimam. Acima de tudo, a Rússia considera que o "reajuste" promoveu concessões significativas para os Estados Unidos. Estes incluem o compromisso sobre a Líbia, a ajuda no Afeganistão e na pressão sobre o Irão. O "reajuste", tal como é visto pelo lado russo, é uma tentativa de normalização do diálogo e um instrumento através do qual ambos os lados se possam ouvir. Eis alguns pontos sobre este assunto.
"Numa recente viagem a Moscovo, aprendi que muitas pessoas dentro do aparelho de Política Externa russa se surpreenderam com o facto de algumas pessoas em Washington encararem a política de “reajuste” [de relações com a Rússia], ou como uma grande conquista, ou como uma enorme concessão para a Rússia. Assim, elas parecem desapontadas quando a Rússia não segue cegamente a liderança dos EUA sobre a questão do Irão.Os russos não estão inclinados a subestimar as melhorias [nas relações com os EUA], mas também não as sobrestimam. Acima de tudo, a Rússia considera que o "reajuste" promoveu concessões significativas para os Estados Unidos. Estes incluem o compromisso sobre a Líbia, a ajuda no Afeganistão e na pressão sobre o Irão. O "reajuste", tal como é visto pelo lado russo, é uma tentativa de normalização do diálogo e um instrumento através do qual ambos os lados se possam ouvir. Eis alguns pontos sobre este assunto.
Primeiro, temos de tomar a posição da Rússia sobre o Irão como um dado adquirido: A Federação Russa tem afirmado repetidamente que é contra o Irão adquirir uma arma nuclear. A Rússia apoia o uso de energia nuclear para fins civis, e é por isso que se envolveu nas conversações a seis com o Irão, para ajudar a concretizar a sua ambição para o uso de energia nuclear pacífica. A posição russa sobre o Irão é a mesma: que a acumulação por parte do Irão de armas nucleares vai contra a política russa na região. A liderança russa tem continuamente apoiado o Conselho de Segurança e votou uma resolução sobre o Irão a reforçar as sanções contra o regime de Ahmadinejad. A Rússia opõe-se a um apertar das sanções com base em precedentes: Numa proposta favorável aos Estados Unidos, não vetou as acções militares contra a Líbia, acções essas que, num efeito “bola de neve”, acabaram em mudança de regime, com consequências claras e guerra civil entre facções (além de perdas de contratos para a Rússia ). Quando se trata do Irão, a Rússia não quer correr o risco de ter um Estado instável nas suas fronteiras com todas as incertezas e da guerra civil em potencial de um novo regime implica. Onde está a garantia de que não teremos uma crise ainda pior junto às nossas fronteiras se se impuserem mais sanções? E segundo o entendimento de lado russo, ainda há espaço para a diplomacia; muitos especialistas dizem que o Irão ainda está longe de obter uma arma nuclear real.
Em segundo lugar, os esforços para retratar o “reajuste” como uma espécie de favor à Rússia e ao tratado START sobre armas nucleares como um presente pelos Estados Unidos estão equivocados. Os russos vêem estes como os esforços para normalizar as relações entre os dois países, as relações que quase se desintegraram sob a administração Bush. Se os Republicanos têm um problema com a pressão da Administração Obama para recomeçar o START, isso não é por causa do “reajuste” com a Rússia. O adversário mais proeminente do START no Congresso dos EUA, o senador Jon Kyl do Arizona, diz que sua oposição ao START deriva do seu desejo de forçar a Administração Obama a investir mais dinheiro na modernização do arsenal nuclear dos EUA, e não porque ele se opôs à melhoria das relações com a Rússia . Na diplomacia russo-americana, ambos os países têm seus interesses, e eles não podem convergir em cada questão. Por exemplo, a retirada de tropas dos EUA do Médio Oriente, provavelmente, promoverá graves tumultos no Afeganistão, Iraque e Paquistão, enquanto a ameaça iraniana de aquisição de armas nucleares permanece como pano de fundo. A cooperação russa, assim, será ainda mais crucial para os Estados Unidos. Os analistas da política americana devem aceitar que as boas relações são benéficas para ambos os lados e que os americanos não podem punir a Rússia pela sua falta de cooperação, uma vez que, com isso, Washington ficaria a perder.
Sobre os planos dos EUA para implantar elementos de defesa antimísseis na Europa, alguns comentaristas americanos verão uma concessão EUA para a com Rússia no cancelamento dos planos dos EUA para instalar elementos de uma estação de radar na República Checa e escudos anti-míssil na Polónia. Mas a actual administração não parou os planos. Ela ainda planeia implantar elementos antimísseis em embarcações na Espanha, na Roménia e na Turquia, em vez de em território polaco e checo. E a Turquia está mais perto da fronteira com a Rússia do que na República Checa. Analistas na Rússia continuam a acreditar que o escudo antimíssil norte-americano se destina a contrariar a dissuasão nuclear da Rússia. Até agora, a NATO recusou-se a apresentar à Rússia garantias escritas de que o escudo antimíssil norte-americano não ameaça Moscovo. Mesmo o primeiro-ministro Putin expressou grande preocupação sobre o assunto. Por isso tem havido pouco “reajuste” nest questão.
Sobre a situação após a guerra com a Geórgia, é de salientar que as regiões separatistas da Abkházia e da Ossétia do Sul colocaram os seus territórios sob proteção russa e nunca tiveram qualquer desejo de fazer parte da Geórgia. As regiões foram colocadas dentro das fronteiras georgianas nos termos da Constituição da URSS de Stalin, mas mesmo antes do colapso da União Soviética elas votaram pela sua independência face à Geórgia. Dois conssecutivos presidentes da Geórgia entraram em guerra com as duas regiões sem qualquer sucesso. O fim da guerra russo-georgiana (a terceiro envolvendo um presidente georgiano) e o acordo de paz firmado entre o presidente francês Nicolas Sarkozy e o presidente russo Dmitry Medvedev estabeleceram a retirada das tropas russas dos territórios antes que estes declarassem a independência (e esta fosse reconhecida pela Rússia). A sua independência recém-adquirida começou com os tratados entre a Rússia de um lado e da Abkházia e Ossétia do Sul, por outro lado, através dos quais se estabeleceu que a Rússia iria fornecer tropas para a proteção [daqueles territórios]. No entanto, seria um erro considerar a Abkházia e a Ossétia do Sul como protetorados russos totalmente dependentes. Ambas as regiões realizaram eleições competitivas, e os eleitos não são lacaios ungidos pelo Kremlin. As tropas russas estão estacionadas ali pelo mesmo tipo de acordo que legitima as presença de tropas da NATO no Kosovo. Seguindo o precedente de Kosovo, não há justificativa no argumento de que a Rússia está a ocupar território georgiano, principalmente depois de uma guerra que foi provocada por Tbilisi (como foi confirmado pelas comissões de investigação, quer da UE, quer da OSCE). Além disso, é desconcertante que alguns analistas Washington vejam na limitada presença militar de Moscovo no Sul do Cáucaso um perigo para a segurança global.Estas modestas forças de Moscovo dificilmente se pode comparar com a multitão de sofisticadas bases militares dos EUA que se multiplicaram em todo o globo.
Independentemente de quem vencer as eleições presidenciais dos dois países, ambos podem encontrar muitas áreas de cooperação, se realmente desejarem fazê-lo. Talvez após as eleições, o “reajuste” pode ser reposto.
Andranik Migranyan é o director do Instituto para a Democracia e Cooperação em Nova York. Ele também é professor do Instituto de Relações Internacionais de Moscovo, um ex-membro da Câmara Pública e um ex-membro do Conselho Presidencial da Rússia.
3 comentários:
Este botão "reset" vai levar um grande pontapé depois das eleições de ambos os lados.
E este botão não inclui a China.
Vamos assistir a um grande aumento de atritos no mundo nos próximos anos.
Acho que este botão reset vai virar "on".
Pippo já corrigi o blog e o endereço de e-mail já está constando.
Fico no aguardo de sua confirmação.
Abraço,
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