Milhares de pessoas exigem, na Avenida Sakharov, no centro da capital russa, a realização de novas eleições parlamentares na Rússia e a demissão do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin.
Segundo os organizadores do evento, não obstante o frio que se faz sentir em Moscovo, no comício de protesto já se juntaram muito mais de 120 mil pessoas e os manifestantes continuam a chegar. Porém, a polícia fala em mais de 29 mil.
No entanto, a polícia suspendeu temporariamente o acesso à Avenida Sakharov devido ao grande número de manifestantes concentrados no local.
Vladimir Rijkov, um dos organizadores do comício, abriu esta iniciativa de protesto lembrando que o poder não satisfez qualquer cedência às reivindicações apresentadas pela oposição no passado 10 de dezembro: libertação dos presos políticos; elaboração de uma nova legislação eleitoral não para 2013, como prometeu o Presidente Dmitri Medvedev, mas para a realização de um escrutínio antecipado em 2012, e demissão de Vladimir Tchurov do cargo de presidente da Comissão Eleitoral da Rússia.
“Não abandonaremos as praças enquanto as nossas reivindicações não forem cumpridas”, frisou Rijkov.
O escritor Boris Akunin declarou que o poder tentou dividir a oposição, mas não conseguiu.
“O que nos une é mais importante do que o que nos divide”, sublinhou, acrescentando que “na avenida encontram-se mais de cem mil pessoas”.
”Medvedev respondeu à nossa primeira manifestação com promessas vagas e Putin com insultos. Por isso, nas eleições presidenciais, nenhum de nós deve votar nele”, concluiu.
Artiom Troitski, conhecido crítico musical russo, subiu ao palco vestido de preservativo “para me proteger de doenças transmitidas pelo sistema eleitoral russo infetado”.
Espera-se ainda a intervenção de conhecidos políticos como Mikhail Gorbatchov, antigo Presidente da União Soviética, Alexei Kudrin, ex-ministro das Finanças do governo de Vladimir Putin, e Mikhail Prokhorov, magnata que tenciona participar nas eleições presidenciais de 04 de março de 2012.
7 comentários:
poderia informar o pessoal sobre o que puseram na cabeça de Putin num cartaz da manifestação? aquilo é uma cabeleira, um xaile, ou quê? como ele falou em preservativo ainda pensei que fosse isso que pusessem, o que sem dúvida merece...
No dia 25 de dezembro de 1991 chegava ao fim a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), acontecimento que anos mais tarde o ex-presidente e agora primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, chamou de “a maior catástrofe geopolítica do século XX. Fruto de ações políticas e econômicas adotadas na década de 1980, o episódio citado viria a mudar completamente o frágil equilíbrio mundial existente desde o final da segunda grande guerra, alterando da bipolaridade e antagonismo entre as ideologias e interesses de duas superpotências, para a condição perigosa de existência de uma única superpotência reinante. Propagado pela mídia como a vitória inerente da democracia sobre a ditadura e opressão do regime comunista, as conseqüências desde acontecimento mostraria alguns anos mais tarde mais efeitos negativos do que positivos para a ordem mundial e por isto ganhou a projeção de uma catástrofe. Afinal, o firme equilíbrio que antes garantia limites políticos para a atuação dos Estados Unidos não mais existia. Analisar suas conseqüências sem um olhar ideológico é fundamental para a compreensão de fatos recentes.
O caos que se seguiu foi de proporções catastróficas. A queda no padrão de vida da população, o desaparecimento da hiper-estrutura estatal que supria as necessidades dos cidadãos, a decadência econômica, a perda sobre o controle das forças armadas e o fato de que a Rússia não mais era uma grande potência foi algo extremamente desmoralizante para a população daquele país, tido como herdeiro do Império Soviético. A crise econômica corroeu os pilares da sociedade e a levou ao abismo. Em menos de dez anos, a segunda maior economia do planeta havia desabado para a além da décima quinta posição. Aliado a isto, as forças armadas russas, outrora motivo de orgulho nacional, foram desmoralizadas, abandonadas e sucateadas. As derrotas contra os separatistas chechenos no conflito que durou de 1994 a 1996 agravaram a situação. O estilo de gestão de Boris Yeltsin (1991-1999) possibilitou um aprofundamento da crise, já que este, demonstrando extrema falta de capacidade para governar uma nação, solapou a moral do povo e da própria Rússia, ridicularizou a imagem do país e o levou a um cenário de instabilidade econômica e política, além de submeter os interesses da Federação Russa (FR) aos interesses externos.
A aproximação do fim desta trágica década para o povo russo viu surgir no cenário político um ex-agente do antigo Comitê de Segurança do Estado (Комитeт госудaственной безопaсности, КГБ, ou KGB): Vladimir Putin. A vitória na segunda intervenção na Chechênia, em 1999, permitiu ao então primeiro-ministro Putin ascender ao cargo de presidente. Putin, durante seu governo, conseguiu recuperar não apenas a economia e o padrão de vida da população, mas também o orgulho nacional. Este foi o primeiro passo para a recuperação russa. Depois de quase uma década imerso em um profundo sono repleto de pesadelos, o urso agora dormia tranquilamente.
Após os trágicos eventos de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos da América (EUA), sob o argumento que pregava a necessidade de uma guerra global contra o terrorismo, há uma aproximação entre Moscou e Washington. Enquanto isto há uma recuperação econômica na Rússia, possibilitando a gradual estabilização e posterior recuperação do seu padrão social, econômico e moral. Com o advento da guerra no Iraque, em 2003, há uma clara oposição ao início da beligerância, apresentada principalmente por alemães, chineses, franceses e russos. É possível afirmar que este foi o marco inicial da retomada de firmes posições antagônicas entre a Rússia e os EUA.
O movimento de recuperação russo se tornou mais evidente no último ano do governo Putin, quando foi preparada a transição de poder para Dmitri Medvedev, aliado do ex-presidente. Merece destaque neste período a retomada dos vôos da aviação estratégica da força aérea daquele país e a retirada deste do Tratado de Forças Convencionais da Europa (FCE), que limita a quantidade de equipamentos militares que podem ser permanentemente desdobrados em solo europeu, o que inclui a Rússia ocidental. Com a declaração de independência de Kosovo, província sérvia, em fevereiro de 2008, mesmo sob fortes críticas de Moscou, estava aberta a porta que permitiria o definitivo retorno de Moscou a arena global. A invasão da Ossétia do Sul, república separatista georgiana apoiada pelos russos, por forças de Tblisi em 08 de agosto do mesmo ano e a conseqüente contra-ofensiva russa foram os marcos definitivos do ressurgimento da Rússia e da retomada de firmes posições antagônicas entre esta e o Ocidente, em especial os EUA. O urso, enfim, despertava de seu sono de mais de uma década e meia. Muito foi dito a respeito de um ressurgimento da Guerra Fria. Outros, entretanto, afirmavam a impossibilidade do mesmo devido às características únicas do embate ideológico que marcou o período de 1945 a 1991. De fato, o retorno da Guerra Fria propriamente dita é extremamente improvável. Entretanto, a retomada de um estado contínuo de beligerância entre Moscou e o Ocidente é perfeitamente possível, bastando para isto apenas a adoção de medidas inflexíveis por ambas as partes, o que, com a chegada de Barack Obama a Casa Branca tornou-se menos provável. Para muitos ficou a seguinte pergunta: o que é a nova Rússia?
Com a recuperação econômica, a Rússia obteve as ferramentas necessárias para a completa reestruturação da honra nacional e de parte da influência que era exercida pela então União Soviética na época da chamada Guerra Fria (1945-1989). O meio mais efetivo e rápido de demonstrar recuperação foi a adoção de uma política externa que alguns apontam como agressiva, embora o mais adequado seja chamá-la de condizente, se levados em conta os interesses russos. Com a recuperação da sua máquina militar, Moscou acredita poder reconquistar ao menos parte da influência soviética.
Gostei do texto, Wandard.
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