O primeiro-ministro e candidato à presidência da Rússia, Vladimir Putin, considera que a política de segurança dos Estados Unidos e da NATO é nociva para o resto do mundo pois mina a estabilidade.
“Os norte-americanos estão obstinados com a ideia de obter a segurança absoluta dos Estados Unidos, algo utópico e irrealizável tanto no plano tecnológico, como geopolítico, e isto é precisamente a essência do assunto”, escreve Putin num artigo hoje publicado no diário Moskovskie Novosti.
No seu artigo, onde expõe o seu programa eleitoral no campo da política externa, Putin considera que os Estados Unidos e os países da NATO têm uma conceção muito particular sobre a segurança que difere de forma radical da posição de outros países como a Rússia e a China.
“A invulnerabilidade absoluta para um país significa a vulnerabilidade total para o resto e não podemos compartilhar essa perspetiva”, frisou.
Putin sublinhou a postura dócil de muitos governos ocidentais face à estratégia de segurança norte-americana em numerosas ocasiões que não tem em conta os interesses nacionais ou regionais dos seus aliados.
Ao explicar a sua posição, o dirigente russo deixa claro que, se voltar ao Kremlin, Moscovo defenderá a sua política externa do ponto de vista da sua segurança e interesses nacionais.
“A Rússia chamará sempre as coisas pelos seus nomes de forma aberta”, prometeu.
Putin não esconde também a sua preocupação face à crescente ameaça de uma guerra contra o Irão.
“Se tal coisa ocorrer, terá consequências realmente catastróficas”, advertiu.
O candidato a Presidente da Rússia propõe que se reconheça o direito do Irão “ao desenvolvimento do programa nuclear civil”, incluindo o enriquecimento de urânio, a troco do controlo multilateral da Agência Internacional de Energia Atómica sobre todos os programas nucleares iranianos.
Para Putin, o postulado fundamental da política externa consiste em que a segurança de todos os países é um conceito indivisível.
Além disso, os países devem defender a recusa absoluta ao uso desproporcionado da força e proclamar como prioridade o cumprimento absoluto do Direito Internacional.
“A ignorância destes princípios conduz à desestabilização das relações internacionais”, adverte Putin.
O primeiro-ministro diz estar de acordo em que os direitos humanos estão acima de tudo e que os crimes contra a humanidade devem ser castigados pela justiça internacional.
“Quando se atenta contra a soberania nacional e se defendem os direitos humanos a partir do exterior, de forma seletiva, e, no processo dessa “defesa”, violam-se os direitos de muitas pessoas, incluindo o direito à vida, aqui não se pode falar de missões altruístas porque, na realidade, é pura demagogia”, considera ele.
Neste sentido, o primeiro-ministro russo critica a política do Ocidente em relação à Síria e põe em causa o êxito da “primavera árabe”.
Putin qualificou de “extremamente drástica, no limiar da histeria” a reação do Ocidente ao veto que a China e a Rússia impuseram no Conselho de Segurança da ONU ao projeto de uma resolução contra o regime de Bashar Assad.
“Gostaria de prevenir os nossos colegas ocidentais da tentação de recorrer ao esquema simplista que usaram anteriormente, ou seja, forjar uma coligação de países interessados à margem da aprovação no Conselho de Segurança”, acrescenta.
Nas actuais circunstâncias, continua ele, o mais importante é que a ONU e o Conselho de Segurança impeçam com eficácia todo o tipo de ações arbitrárias empreendidas por alguns países no campo internacional.
“Ninguém tem o direito de assumir as prerrogativas e poderes da ONU, especialmente no que se refere ao uso da força em relação a outros Estados soberanos”, frisou.
Dirigindo-se diretamente à NATO, Putin acusa essa aliança de, nos últimos anos, ter realizado ações que não se enquadra no seu caráter “defensivo”.
“Isso é muito sério. Na Rússia recordamos a forma como se pediu para respeitar as normas humanitárias elementares ao governo de um país que mais tarde se converteu em vítima de operações “humanitárias” com a exportação da democracia com bombas e mísseis”, disse Putin alegando à guerra que desencadeou a NATO na Jugoslávia.
Para Putin, a política externa da NATO em relação à Rússia não se enquadra na lógica do desenvolvimento contemporâneo e continua a basear-se em estereótipos obsoletos.
Referindo-se ao alargamento da NATO, escreve: “não me deteria neste tema se esses jogos não se realizassem junto das fronteiras russas, se não pusessem em causa a nossa segurança e não influísse negativamente no mundo”.
O dirigente russo considera inadmissível que as organizações não governamentais sejam financiadas e manipuladas desde o estrangeiro e aconselha o governo e a opinião pública russos a terem muita prudência com a Internet.
“Fundada em 2006, essa estrutura é um símbolo muito claro da unipolaridade para uma ordem mundial mais justa”, frisou Putin, num artigo hoje publicado no diário Moskovskie Novosti.
“O grupo BRICS terá uma influência bastante forte na economia e na política internacionais”, considerou.
Putin dedicou vários parágrafos à China, vizinha da Rússia e segunda economia do planeta. O seu crescimento, segundo ele, “não é uma ameaça, mas um desafio que implica um colossal potencial de cooperação económica, uma oportunidade para captar o “vento chinês” para as “velas” da economia russa”.
“A Rússia precisa de uma China próspera e estável, e vice-versa”, indicou.
O candidato a Presidente acrescentou que a Rússia é parte inalienável e orgânica da Grande Europa e da ampla civilização europeia, e, por essa razão, “a Rússia propõe o avanço para a criação dos espaços económico e humano comuns no território desde o Atlântico até ao Pacífico”.
Ao abordar o tema das relações com os Estados Unidos, Putin reconheceu que se mantém a instabilidade na cooperação com os Estados Unidos.
“O principal é que o diálogo político bilateral e a cooperação não têm fundamentos económicos sólidos”, indicou.
Também não contribuem para o desenvolvimento da cooperação as tentativas dos EUA de dedicarem-se à “ingerência política” nas regiões tradicionalmente importantes para a Rússia.
Segundo Putin, suscitam receios em Moscovo os planos norte-americanos de instalar na Europa um sistema de defesa antimíssil, porque esse sistema “ameaça as forças de dissuasão nuclear” que só a Rússia tem neste região e altera o equilíbrio político e militar existente há décadas”.
Ao expressar a disposição da Rússia de examinar diversas variantes de como elaborar uma agenda conjunta em matéria de controlo de armamento. Putin considerou que a norma inabalável neste campo deve ser “o equilíbrio de interesses e a renúncia às tentativas de conseguir vantagens unilaterais através de conversações”.
Nas relações com os Estados Unidos, a parte russa “estaria disposta a dar um salto qualitativo, se os norte-americanos observarem realmente os princípios da cooperação equitativa com base no respeito recíproco”, concluiu Putin.
Este é mais um dos artigos que Putin publicou como programa de candidatura ao cargo de Presidente da Rússia, cujas eleições se realizam a 04 de março.
10 comentários:
Sábias palavras de um líder em ascensão!!!
Mudando de assunto: Sr. José Milhazes, sugiro fazer uma matéria sobre os cães de rua de Moscow, tenho lido bastante á respeito, sobre como estes animais estão infestando as ruas e o Metro de Moscow. Esses cachorros se reúnem em matílhas e vem ocorrendo ataques contra pessoas, pois segundo alguns artigos que venho lendo, estes cachorros estão perdendo a sua característica de animal doméstico e voltando á era selvagem!!!
Já li relatos de cachorros que atacaram uma idosa nos arredores de Moscow, e arrancaram as 2 pernas dela!!!
A prefeitura de Moscow iniciou um programa de castração á 2 anos atrás, mas não teve sucesso!!! Dizem que é comum pegar um metro e ter cachorros dentro dos vagões!!!
"Quando se atenta contra a soberania nacional a partir do exterior, de forma seletiva, violam-se os direitos de muitas pessoas, incluindo o direito à vida"
pois bem prega o criminoso contra a humanidade
e na foto deve querer estrangular alguém no exterior
tenho ideia de quem será
Voz da revolução, essa estória dos cães é muito exagerada. Sei que tem havido problemas nalgumas regiões e que as autoridades estão a tentar resolver o problema, que é agravado pelo facto de as pessoas abandonarem os animais.
Para quem ainda não tenha visto o seguinte video, eis o link:
http://youtu.be/v3KZPlsOfBc?hd=1
O video tem 20 minutos de duração, e é em Inglês.
Para quem ainda não tenha visto o seguinte video, eis o link:
http://youtu.be/v3KZPlsOfBc?hd=1
O video tem 20 minutos de duração, e é em Inglês.
O título é: "The Russian Spring".
Falou "bonito". Mas é demagogia de campanha.
Ora... por que então o governo russo ajuda os americanos no Afeganistão, com apoio logístico, cedendo até helicópteros para transporte de suprimentos?
"pois bem prega o criminoso contra a humanidade
e na foto deve querer estrangular alguém no exterior
tenho ideia de quem será"
Ó miúdo, larga a droga.
Pedro
desiste de chatear quem não te liga
olha o Pippo que tambem era Pedro
vai dar banho ao cão
Então Milhazes, que tem a dizer àquele anúncio nojento da virgenzinha de trança e franjinha a votar no Putin, com bola de cristal, carta de tarot do Imperador, e todas as insinuações possíveis de que para "primeiras vezes" só com ele? É a cena de macho canastrão do costume, ou melhor, a nova cena do ogre desflorador de carninha juvenil? Um vómito! A única carta de tarot que se lhe aplica é a do Enforcado, local onde devem acabar todos os torcionários.
"olha o Pippo que tambem era Pedro"
Opa, referiram o meu augusto nickname? :0) Só não percebi lá muito bem o sentido da frase mas... adiante.
Concordo com quase tudo o que disse Putin, à excepção do dossier nuclear iraniano e, até certo ponto, da Síria (a reacção violenta do regime face aos contestatários naturalmente levará a um natural apoio internacional aos revoltosos).
A Rússia deve bater-se pela soberania dos Estados e sobretudo pela igualdade destes na cena internacional, sob pena de se criarem Estados de 1ª categoria (EUA e acólitos) e Estados de 2ª, os "enxovalháveis". Neste capítulo, a existência de um sistema ABM poderá criar em certos Estados uma sensação de invulnerabilidade que os leve a tornarem-se mais intervencionistas, ingerindo-se manu militari em países terceiros (a existência de armas nucleares disseminadas por todo o território também poderá levar a um intervencionismo mais despudorado, que é o que se teme que venha a ocorrer com um Irão nuclear).
Quanto ao resto (NATO, EUA, alicerçamento da política económica russa nos BRICS e sobretudo na China, etc.), Putin está correcto, nada há a acrescentar.
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