Texto enviado pelo leitor Jest:
“Ainda existe na Europa o povo que conta com mais de trinta milões de habitantes, e à quem, sob o pretexto da necessidade estatal, retiram a língua… O direito sagrado da separação nacional é a base primordial para a paz”.
por: Ihor Derevyaniy *
Assim escrevia Børnstjerne Bjørnson (1832-1910), o poeta norueguês, prémio Nobel da Literatura de 1903, ativista da luta de libertação da Noruega, autor do seu hino nacional “Sim, nos amamos essa terra” (Ja vi elsker dette Landet, 1859) e criador da Noruega moderna.
Após a proclamação da independência da Noruega em 1905, Bjørnstjerne Bjørnson se tornou a autoridade política e motor dos processos político-sociais do reino, arbitro no diálogo entre os cidadãos e o poder, verdadeiro líder e a face da Nação.
Sentindo a drama do seu próprio povo que durante 400 anos vivia sob a ocupação estrangeira, poeta declarava que “via os camponeses noruegueses como vikings das sagas e os vikings das sagas como camponeses noruegueses”. Este sentimento nobre permitia ao Bjørnstjerne Bjørnson entender a tragédia dos outros povos que sofriam com ausência do seu próprio Estado.
Bjørnson conheceu a questão ucraniana em 1904, através do Roman Sembratovych, o editor da revista “Ruthenische Revue”, publicada em Viena nos anos 1903-1905. Sembratovych distribuía a revista gratuitamente entre a imprensa europeia, estadistas e políticos da Europa Ocidental.
Pela primeira vez o poeta escreveu sobre Ucrânia em 1906, nas páginas do semanário “Le Courrier Europeen”, fundado por ele em Paris. Autor criticou as repressões russas e polacas contra os direitos culturais dos ucranianos:
“Ainda existe na Europa o povo que conta com mais de trinta milões de habitantes, e à quem, sob o pretexto da necessidade estatal, retiram a língua e a nacionalidade, o perseguem e humilham com diversos meios.
Onde estão os cristãos moscovitas e polacos? Eles deveriam criar uma comunidade de justiça e de misericórdia.
O direito sagrado da separação nacional é a base primordial para a paz. Será que Rússia se tornará mais poderosa mantendo em cativeiro e explorando todo o povo? Será que os polacos austríacos poderão melhor defender a sua nacionalidade entre os povos diversos, ao mesmo tempo perseguindo quatro milhões de ucranianos?”.
Bjørnstjerne Bjørnson difundia e estudava a história e a cultura ucranianas, protestava contra as repressões do czarismo russo, criticava a política polaca, principalmente nas páginas da revista “Ukrainishe Rundschau”, editada em Viena desde 1906 pelo Volodymyr Kushnir. Em março de 1907 revista publica o artigo do Bjørnson, “Polacos-Opressores”, dedicada aos aspetos económicos e culturais da vida dos ucranianos no império Austro-Húngaro. O artigo também foi publicado na revista austríaca “Die Zeit” e parisiense “Le Courrier Europeen”, na Galiza ucraniana foi largamente citado no jornal “Dilo”.
Os polacos famosos, compositor Ignacy Jan Paderewski e escritor Henryk Sienkiewic, responderam ao Bjørnson nas páginas do “Die Zeit”. Ambos defendiam a tese do “atraso” do povo ucraniano, que “vive apenas com as tradições nacionais e não criou os intelectuais e a elite social e política”. Por isso os polacos eram “obrigados” a servir de elite para os ucranianos, pelo bem dos interesses estatais.
A posição ucraniana foi defendida pelo poeta ucraniano Ivan Franko, que escreveu o ensaio “Drei Reisen im Kampfe um einen Zwerg” (Três gigantes lutando por um anão), publicado no “Dei Zeit” em 29 de junho de 1907.
Ainda em janeiro de 1907, Bjørnstjerne Bjørnson, sabia da greve de fome dos estudantes ucranianos de Lviv, que exigiam o direito de estudar em língua ucraniana (desde 1871 existia o decreto do imperador austríaco sobre o bilinguismo na Universidade de Lviv, que na prática dava as preferências aos estudantes polacos, aumentando o clima de tensão entre os polacos e ucranianos). O poeta norueguês ficou indignado quando soube que polícia deteve os ucranianos pela defesa do seu direito natural e protestou nas páginas da imprensa europeia. O escândalo foi repercutido na Europa de tal maneira, que os estudantes foram libertados. Eles, ainda estando nas cadeias, enviaram ao Bjørnson a carta de agradecimentos pela sua ajuda e solidariedade.
Até a sua morte em 1910, Bjørnstjerne Bjørnson ativamente defendia os direitos dos ucranianos, recebendo meritoriamente o título informal de “amigo dos ucranianos”.
* historiador, colaborador científico do Museu Memorial Nacional “Cadeia na Lonckoho”
Fonte:
http://www.istpravda.com.ua/articles/2012/07/4/89533"
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