"A Rússia votou a favor da resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o prolongamento da missão dos observadores na Síria depois dos parceiros ocidentais terem renunciado às suas exigências unilaterais face ao governo sírio, declarou o vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros.
“Perante a posição de princípio da Rússia, China e de outros correligionários, os parceiros ocidentais afastaram-se da sua posição de exigências unilaterais para com o governo sírio sobre a retirada de tropas e armamentos das povoações”, declarou Guennadi Gatilov, citado pela agência Interfax.
“No texto corrigido da resolução, essa exigência é dirigida às duas partes: ao poder e à oposição armada”, sublinhou.
“Desse modo, o CS apoiou a posição russa em relação ao prolongamento do trabalho da missão de observadores na Síria neste momento crítico”, concluiu."
A julgar por essas declarações, até parece que a Rússia, baluarte da paz no mundo, obteve uma forte vitória sobre os "agressores imperialistas" nas Nações Unidas.
Na era soviética, quando não existia Internet e a informação circulava com dificuldade devido à existência de "cortinas de ferro", estas palavras até podiam ter grande efeito, mas hoje, na época da globalização, parece claro tratar-se de uma tentativa de apresentar o desejo como uma realidade.
A política diplomática russa, no caso da Síria, colocou-se claramente num beco sem saída, criando uma situação muito comum na guerra fria, mas com uma diferença substancial: a Rússia não é a União Soviética.
Moscovo tenta disfarçar o seu complexo de inferioridade ao fazer renascer a política do antigo ministro soviético dos Negócios Estrangeiros, Andrei Gromiko, que se resumia à palavra "niet!" (não!). Os países ocidentais dizem sim a isto, por isso nós temos de dizer não. Neste sentido, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, parece seguir à risca a doutrina de um dos seus antecessores.
Com isto não pretendo dizer que a Rússia não tem razões para recear a queda do Presidente sírio, Bashar Assad. Já escrevi numerosas vezes sobre essas apreensões, mas volto a repetir. Moscovo receia perder o seu último aliado no Médio Oriente e, o que ainda mais importante, teme que o conflito saia das fronteiras da Síria e destabilize regiões próximas das suas fronteiras.
Putin tem também medo das "revoluções coloridas", alguns dos exemplos das quais são a chamada "Primavera Árabe", como o diabo da cruz, pois receia que isso possa acontecer na Rússia. As últimas leis repressivas aprovadas pelo Parlamento Russo são um sinal claro disso.
Além disso, o Kremlin radicalizou de tal forma o seu não a todas as iniciativas dos países ocidentais, que a mudança de posição colocará o Presidente Putin em maus lençóis, no campo interno e externo, tanto mais que ele não gosta de fazer figura de fraco.
Parece já ser impossível chegar a um acordo no CS da ONU sobre uma transição política na Síria e a única saída é um banho de sangue com grandes dimensões, mas com um resultado muito provável: a queda do regime de Bashar Assad e a perda por parte da Rússia de qualquer influência no Médio Oriente.
Não deixa também de ser relevante a forma como a China aproveita a Rússia na realização da sua política no Médio Oriente. É Moscovo que avança, que dá a cara, enquanto Pequim continua a política do macaco que observa ao combate de tigres e espera para ver quem irá vencer.
Com isto não pretendo dizer que a política realizada pelos países ocidentais seja a melhor. A situação política na Tunísia, Egipto, Líbia, Líbano é ainda muito indefinida e não se pode excluir o desencadeamento, no Médio Oriente, de guerras religiosas entre shiitas e sunitas, onde as minorias relogiosas, nomeadamente os cristãos, estão completamente desprotegidos.
Nunca tive ilusões de que nas relações internacionais não há moral, ética e amigos, mas apenas interesses. Mas tudo tem limites, e essa política imoral dos países ocidentais já provocou sérios estragos no século XX.
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