terça-feira, janeiro 15, 2013

Tropas especiais angolanas "atacaram" Moscovo em 1988






O intérprete militar russo Ivan Lukachov recorda:
“Os agentes da polícia de trânsito soviéticos que se encontravam num dos postos à saída de Moscovo, na Estrada Leninegradiski, em 1988, ano ainda calmo do ponto de vista político, quando os soviéticos, e muito mais na capital, ainda não se tinham habituado a ver pessoas armadas, ficaram extremamente surpreendias, diríamos mesmo assustadas, quando viram na estrada vários negros envergando uniformes de combate e com metralhadoras Kalachnikov nas mãos.
O que mais os surpreendeu foi o facto de os negros estarem na berma da estrada a tentarem apanhar boleia (carona) para fora da cidade. O comandante do posto da polícia, o mais ousado, e o mais graduado: capitão, aproximou-se daquele estranho grupo e pediu aos negros que se identificassem.
Mas que poderia pedir mais um capitão, simples inspector da polícia de trânsito? Primeiro, ele via negros pela primeira vez tão perto e, segundo, com metralhadoras verdadeiras na mão. Talvez seja alguma filmagem, pensou.
Mas não era nada disso.
De entre o grupo saiu um negro enorme e informou, num russo macarrónico, que o grupo de reconhecimento, constituído por cinco pessoas, perdeu-se na floresta e, com a ajuda de um mapa, chegou à estrada para apanhar uma boleia (carona).
- De onde vêm? – perguntou o capitão.
- Isso é segredo, capitão. Precisamos de um carro, -respondeu o negro alto, talvez o chefe do grupo, com um grande sotaque.
- Nada mau, até conhece os nossos cargos e quer um carro, - pensou o inspector e voltou a perguntar:
- Têm documentos de identificação?
- No documento, - respondeu o negro alto.
- Então tenho de vos deter até esclarecer a vossa identidade. Pensam que se pode andar a passear assim por Moscovo, com metralhadoras? Acompanhem-me até ao posto.
Entretanto, os restantes membros do estranho grupo conseguiram fazer parar um “Volga” e até chegar a um acordo com o condutor. O negro alto afastou-se em direção aos seus e ignorou totalmente a proposta do capitão da polícia de trânsito.
- Ordeno que não se mexam! – gritou o capitão.
O negro alto baixou a metralhadora e disparou uma rajada contra o chão.
Uma nuvem de pó cobriu os polícias que se baixaram de medo. O carro arrancou do local e desapareceu rapidamente.
- Alguém decorou o número da matrícula? – perguntou o capitão aos seus colegas.
- Não, camarada capitão. “É preciso comunicar às instâncias superiores”, - pensou o capitão e dirigiu-se para o telefone. Ele marcou o número da Primeira Secção da Polícia de Trânsito, que controlava a estrada, e informou que um grupo de negros camuflados, armados com metralhadoras, se tinham aproximado do posto.
- Caro, quanto é que já bebeste? Negros com metralhadoras a passearem no nosso país. Vai dormir, - respondeu o oficial de serviço.
- É verdade! Os outros inspectores podem confirmar. Informe o comandante da secção.
“Com os diabos, apanharam todos uma borracheira e inventam estórias”, - pensou o capitão, mas informou o comandante da secção. Este decidiu livrar-se de responsabilidades, telefonou à Direcção Central do Ministério do Interior e informou que no posto da polícia de trânsito tinha aparecido um grupo armado estranho, e todos negros.
O coronel que tinha passado pelos tempos complicados da desconfiança estalinista, compreendeu que era preciso telefonar à direcção do KGB [polícia secreta soviética]. Se eram negros, então eram estrangeiros. Eles que tratem do caso. O chefe da direcção do KGB já sabia que ao campo de treino de estrangeiros nos arredores de Skhodnia não tinham regressado cinco homens depois de um treino. As metralhadoras eram verdadeiras, mas as balas não, por isso não constituíam perigo com as armas, além de acção psicológica. Ele também sabia que para a estrada tinham sido enviados vários automóveis para procurar o grupo, mas este apareceu por si próprio. Ele telefonou ao oficial de serviço que lhe comunicou que os cadetes perdidos tinham regressado ao campo.
- E que devo dizer aos polícias de trânsito?
- Diga-lhes que bebam menos. Assim será melhor, eles não precisam de saber pormenores…
… Esta história sobre o aparecimento de angolanos na estrada com metralhadoras foi-me contada por um camarada do mesmo ano [do Instituto Militar de Línguas Estrangeiras]”.
Memórias publicadas no dia 7 de Janeiro no diário russo KP.

1 comentário:

Pippo disse...

Ahahahah! Lindo!!! :0D

Lembra-me certas histórias ocorridas por cá com a malta dos Rangers :0)