Não tenho ainda a certeza de que a 2º conferência sobre a Síria, convocada por EUA e Rússia, se irá realizar ou não, mas tenho ainda mais dúvidas de que termine com resultados concretos, pois as contradições das partes do conflito não foram resolvidas.
É verdade que Moscovo conseguiu travar a intervenção estrangeira na Síria ao conseguir um acordo sobre a destruição de armas químicas nesse país, mas não foi resolvido o principal problema: o problema do poder.
Em Genebra não irão estar representados todos os sectores da oposição e os que aceitaram participar não querem ouvir falar de acordos com o Presidente Bashar Assad. Os representantes do governo sírio também já fizeram saber que não participarão em reuniões se for exigida a demissão de Assad.
Ou seja, se não ocorrer um milagre, a 2ª Conferência sobre a Síria terminará como a 1ª e a guerra civil continuará espalhando a morte e a dor naquele país do Médio Oriente. E voltará a colocar-se a questão da forma como será posto fim a esse sangrento conflito.
Gostaria de propor o melhor e menos doloroso dos cenários possíveis. A Rússia e China conseguiam convencer Assad a abandonar o poder e o país na condição das forças que o apoiam continuarem a participar no processo político de normalização do país.
Estas forças aliar-se-iam às forças da oposição moderadas a fim de travarem o avanço de grupos terroristas e garantiriam assim uma transição para um sistema político mais aberto e equilibrado.
Porém, tendo em conta as várias posições das forças no terreno, bem como dos seus patrocinadores estrangeiros, este plano parece-me um tanto ou quanto lírico.
Ou talvez não se as relações entre o Ocidente e o Irão melhorarem e Teerão ser também chamado a participar na solução do conflito sírio.
Gostaria de errar quanto ao prognóstico sobre a Conferência Internacional, mas...
3 comentários:
Caro JM, apesar de não ser o "Leão de Damasco", o Bashar al-Assad não é parvo nenhum e sabe bem que se sair do poleiro poderá estar a assinar a sua sentença de morte, qual Rei Lear. O seu poder deriva única e exclusivamente de manter o poder sobre a Síria e sobre os seus (alauítas) pelo que, se abdicar, nada mais poderá fazer para controlar a evolução dos acontecimentos.
Saindo Bashar, a facção alauíta iniciará uma luta interna, o que a enfraquecerá irremediavelmente, possibilitando a sua queda.
Neste momento, a A. Saudita tem em vista financiar um grupo fundamentalista não associado à al-Qaida (ena, que grande alívio!) o qual espera vir a tornar-se o principal grupo da oposição. Por aqui já vemos que a alternativa aos grupos fundamentalistas serão... os grupos fundamentalistas! Não sei com que base é que se poderá negociar o que quer que seja.
Quanto ao Irão, o que é que ele pode fazer? Desapoiar Bashar? E depois, em que pé ficará a Síria e a seita alauíta? E o Hezbollah, terá alguma palavra a dizer, agora que até ajudou, e bem, a conquistar uma parte de Alepo e a libertar o seu aeroporto internacional?
Andam demasiados actores em cena, os seus interesses são díspares mesmo quando apoiam a mesma "facção", não sei bem onde é que isto poderá parar.
Caro JM,
Quanto à questão sobre resultados da conferência, concordo consigo que mesmo havendo conferência, nada de concreto irá sair de lá.
Quanto à questão da melhor maneira de resolver o conflito,já não concordo consigo.
No inicio da situação, era a minha opinião que a melhor maneira de evitar um conflito, seria Assad afastar-se para evitar uma possível destruição do país.
Mas agora, agora definitivamente não.
O país já está como está, mas com a queda de Assad e a quantidade de grupos radicais, cada um com a sua ideia do que deve ser a Síria, eles vão destruir-se completamente até nada restar do país.
Assad é neste momento uma figura central no país, o resto não. O resto são várias facções, vários líderes, vários interesses, vários objectivos, eles lutam contra Assad, contra quem discorde deles, contra quem lhes queira roubar o controle, etc, etc.
A saída de Assad, fará uma luta ainda mais aguerrida, para evitar que x, y, ou z consigam chegar ao poder.
E neste momento, parece-me que já existe muita gente lá com pensamentos semelhantes e já não lutam contra Assad.
Portanto acho que a melhor hipótese de acalmar a situação, será com Assad e mesmo nesta situação, a coisa vai ter anos de instabilidade.
Outro pormenor interessante e que francamente não pensei que a Rússia fosse por esse caminho, é o apoio que está a dar a Assad.
A Rússia está a traçar uma linha vermelha muito forte com esta força naval que tem no Mediterrâneo.
Para duas forças que não se podem confrontar directamente, russos e americanos vão ter que andar com muito cuidado para não haver asneira.
A Rússia está a colocar os navios mais potentes na zona, portanto a coisa está para lá da diplomacia.
Uma intervenção estrangeira na Síria poderá escalar a coisa para um novo e perigoso patamar.
Ambos têm que recuar, sem perderem a face.
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