sexta-feira, dezembro 20, 2013

Ucrânia: Repetição do sonho colorido de 2004?


Texo enviado pelo leitor Pippo:
"Entrevista a Aymeric Chauprade* sobre a situação na Ucrânia, publicado no site Nouvel Arbitre a 06 de dezembro de 2013 .

1) O que acha dos eventos que ocorrem actualmente na Ucrânia?
Os eventos na Ucrânia são uma tentativa  de repetição da revolução colorida de 2004. Já naquele época , as forças euro-atlânticas tentaram separar a Ucrânia da sua parceria com a Rússia. Foi no momento da sucessão de Kuchma que havia aceite um ano antes, em 2003, uma parceria com Moscovo. Os americanos, usando agências como a Freedom House ou os subsídios de George Soros , e usando métodos de " revolução pacífica " desenvolvido por Gene Sharp (que fez cursos de formação para os alunos da Sérvia , da Geórgia e da Ucrânia nos Estados Unidos no início de 2000) , tentando assim trazer a Ucrânia para a NATO e a União Europeia , os dois processos de integração caminhando lado a lado . Em 2010, o parêntese da NATO foi resolvido por um retorno à Rússia, com a eleição de Vicktor Yanukovych. Portanto, estamos hoje a proceder a uma nova tentativa. As forças euro-atlânticas constaram que Putin estava em vias de reconstruir a esfera de influência russa através da União Aduaneira por si proposta e que a Arménia acabara de aceitar. É preciso dizer que os argumentos russos são concretos: a preços de energia preferenciais , o comércio bilateral real, o que representa mais de um terço do comércio ucraniano hoje. Face a isso, nada mas existe para além de miragens e ilusões. Para a Ucrânia, aderir à UE seria escolher a União Soviética, em 1989! A União Europeia está em crise, talvez a desaparecer. O que terá ela a oferecer a Ucrânia, um país de 45 milhões de habitantes ? Essa é a perspectiva de um colapso mútuo acelerado , provavelmente desejada por Washington.

2) Como interpreta a resistência das instituições ucranianas às forças da unipolaridade?

O presidente ucraniano , apoiado pelo Partido das Regiões , pró-Rússia , e que pode contar com, pelo menos, uma Ucrânia oriental, que representa dois terços do PIB do país não é, certamente, uma marionete da Rússia como nos querem fazer acreditar os nossos meios de comunicação . Caso contrário, por que é que ele teria tido repetidamente relações tensas com Moscovo, nomeadamente sobre o gás? O presidente tentou defender repetidamente os interesses ucranianos no dossier energético e tentou encontrar um equilíbrio entre a UE ea Rússia. A sua abordagem não é dogmática mas realista . Só que ele percebeu que os europeus , subservientes aos Estados Unidos, tinham apenas um objetivo obsessivo : o corte de Kiev cm Moscovo e o criar uma brecha entre os dois países. Ele pesou os prós e os contras e percebeu que não poderia correr o risco de secessão com o Leste que teria como resultado uma inversão unilateral em direcção à União Europeia .

3) Como classificaria a retransmissão mediática destes acontecimentos?

Tão caricatural como o foi em 2004! Temos agradáveis ucranianos pró- Europa que se opõe aos bandidos pró- russos. Como de costume, isto é propaganda do Financial Times copiado na íntegra pelos jornais franceses. Isso é triste. Não vemos, por exemplo, o interesse dos media pelos movimentos de extrema-direita que são, em proporções pelo menos tão fortes quanto a dos islâmicos radicais na oposição síria, uma grande parte dos manifestantes . Neste caso , há de repente uma "boa extrema-direita" , que é tornada invisível para o público francês. O tratamento desta crise revela uma vez mais a pobreza do jornalismo francês, miséria intelectual e submissão aos padrões transatlântistas. Eu, que leio imensa imprensa anglo-saxónica , estou chocado ao encontrar nela mais espírito crítico do que nos nossos próprios meios de comunicação.

* Professor de geopolítica e director da Revista Francesa de Geopolítica e do site www.realpolitik.tv, é autor do livro de referência "Geopolítica e constantes mudanças na história", ed. Elipses.

11 comentários:

MSantos disse...

Tudo isto resume-se apenas ao velho jogo geoestratégico Rússia-EUA. Os grandes inimigos. Sempre.
E esta UE é uma entidade não existente que apenas serve os propósitos dos Estados Unidos.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

E um texto impressionantemente magnífico e ilustrativo que um dos leitores do JM publicou no FB:

"EU JÁ VIVI O VOSSO FUTURO!

É surpreendente que, após ter enterrado um monstro, a URSS, se tenha construído outro semelhante: a União Europeia (UE).

O que é, exactamente a União Europeia? Talvez fiquemos a sabe-lo examinando a sua versão soviética.

A URSS era governada por quinze pessoas não eleitas que se cooptavam mutuamente e não tinham que responder perante ninguém. A UE é governada por duas dúzias de pessoas que se reúnem à porta fechada e também não têm que responder perante ninguém, sendo politicamente impunes.

Poderá dizer-se que a UE tem um Parlamento. A URSS também tinha uma espécie de Parlamento, o Soviete Supremo. Nós, (na URSS) aprovámos, sem discussão, as decisões do Politburo, como na prática acontece no Parlamento Europeu, em que o uso da palavra concedido a cada grupo está limitado, frequentemente, a um minuto por cada interveniente.

Na UE há centenas de milhares de eurocratas com vencimentos muito elevados, com prémios e privilégios enormes e com imunidade judicial vitalícia, sendo apenas transferidos de um posto para outro, façam bem ou façam mal. Não é a URSS escarrada?

A URSS foi criada sob coacção, muitas vezes pela via da ocupação militar. No caso da Europa está a criar-se uma UE, não sob a força das armas, mas pelo constrangimento e pelo terror económicos.

Para poder continuar a existir, a URSS expandiu-se de forma crescente. Desde que deixou de crescer, começou a desabar. Suspeito que venha a acontecer o mesmo com a UE. Proclamou-se que o objectivo da URSS era criar uma nova entidade histórica: o Povo Soviético. Era necessário esquecer as nacionalidades, as tradições e os costumes. O mesmo acontece com a UE parece. A UE não quer que sejais ingleses ou franceses, pretende dar-vos uma nova identidade: ser «europeus», reprimindo os vosso sentimentos nacionais e forçar-vos a viver numa comunidade multinacional. Setenta e três anos deste sistema na URSS acabaram em mais conflitos étnicos, como não aconteceu em nenhuma outra parte do mundo.

Um dos objectivos «grandiosos» da URSS era destruir os estados-nação. É exactamente isso que vemos na Europa, hoje. Bruxelas tem a intenção de fagocitar os estados-nação para que deixem de existir.

O sistema soviético era corrupto de alto a baixo. Acontece a mesma coisa na UE. Os procedimentos antidemocráticos que víamos na URSS florescem na UE. Os que se lhe opõem ou os denunciam são amordaçados ou punidos. Nada mudou. Na URSS tínhamos o «goulag». Creio que ele também existe na UE. Um goulag intelectual, designado por «politicamente correcto». Experimentai dizer o que pensais sobre questões como a raça e a sexualidade. Se as vossas opiniões não forem «boas», «politicamente correctas», sereis ostracizados. É o começo do «goulag». É o princípio da perda da vossa liberdade. Na URSS pensava-se que só um estado federal evitaria a guerra. Dizem-nos exactamente a mesma coisa na UE. Em resumo, é a mesma ideologia em ambos os sistemas. A UE é o velho modelo soviético vestido à moda ocidental.

Mas, como a URSS, a UE traz consigo os germes da sua própria destruição. Desgraçadamente, quando ela desabar, porque irá desabar, deixará atrás de si um imenso descalabro e enormes problemas económicos e étnicos.

O antigo sistema soviético era irreformável. Do mesmo modo, a UE também o é.

Eu já vivi o vosso «futuro»…" Vladimir Bukovsky

Anónimo disse...

Todos os povos do mundo grita: Fora a NATO fora a CIA e a Ucrânia quer a NATO e quer a CIA? São burros.

Fernando Negro disse...

Até que enfim, vejo nas colocações (na página principal) deste blogue uma denúncia do que está realmente por trás destas ditas "revoluções coloridas" - e que os média ocidentais nunca denunciam...

(Estive uns bons meses sem consultar esta publicação, por isso, pode ser que me tenha escapado alguma coisa do mesmo género. Mas, é a primeira vez que aqui leio este tipo de denúncia...)

Quem quiser saber mais sobre estas repetidas operações de manifesto desrespeito pela ordem democrática em países estrangeiros, pode procurar por mais informação no excelente sítio GlobalResearch.ca, dirigido pelo conhecido Prof. Michel Chossudovsky.

E, de notar também algo sobre estas tentativas de "revoluções coloridas".

Não é apenas nos países limítrofes da Rússia que tais acontecem. Mas, também na própria Rússia...

Reparem em como também na Rússia se utiliza o habitual método de dizer que as eleições foram aldrabadas, quando o resultado não interessa aos interesses ocidentais, em como os principais opositores são apoiados pelo Ocidente - como é o caso do conhecido blogger Alexei Navalny[1], que recebe/recebeu dinheiro da norte-americana "National Endowment for Democracy" (NED) - e em como as Pussy Riot[2] assinam as suas acções com o mesmo símbolo que é usado noutras acções de desestabilização, que ocorrem em várias partes do Mundo não controladas pelo Ocidente.

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1. (formado em Yale, nos EUA)
2. (cujo porta-voz, casado com um dos elementos da banda, tem cidadania canadiana)

Anónimo disse...

Ainda estou à espera de um artigo seu da neo-kgb e do seu Eurasianismo que é o bolshevismo de direita. Ainda não o ouvi falar do ex-KGB aleksandr dugin que é o filósofo do Eurasianismo.... Ass: Falcão.

Operário Fascista disse...


Então o Pudin libertou o Kokorovski?

Que burrinho, putin, esse gajo á solta é altamente perigoso.

A EU recebeu-o de braços abertos.
É normal, na EU promovem-se corruptos, terroristas e perseguem-se patriotas.
Tudo normal.

Pippo disse...

MSantos, lembro-me sempre desse texto, que já li em várias ocasiões.

Agora foi a UE que, após várias semanas de um duro braço de ferro entre a Alemanha, de um lado, e a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, a França e a Itália, do outro, chegou a um "acordo" sobre um novo mecanismo para a liquidação ou reestruturação dos bancos falidos.

E em que é que consistiu esse acordo? Consistiu em... ceder em toda a linha às pretensões da Alemanha!

Viva a Democracia!

Anónimo disse...

O Pippo é pró-rússia, como a opinião dele pode servir de referência? Para mim, o Milhazes mudou de lado! Já foi comunista, virou ex-comunista, agora volto a se-lo de novo!

Anónimo disse...

A comparação entre a UE e a URSS é desonesta. Coisas da extrema-direita e da extrema-esquerda. Os líderes de cada país da UE sao eleitos democraticamente, a URSS era um prisão. E a Duma Russa não faz nada além de ratificar tudo o que o Putin quer, existe oposição na Duma? Não!

Fernando Negro disse...

MSantos,

A UE não é nenhuma não-entidade, que deva ser menosprezada, nem uma entidade-fantoche, nas mãos dos americanos...

Tal como Bukovksy denunciou numa outra ocasião, a UE foi montada nos bastidores por membros da Comissão Trilateral, que inclui pessoas de três continentes diferentes. E, tal como tem repetidamente denunciado um conhecido investigador - cujo primeiro livro foi censurado em Portugal e que tem sido repetidamente convidado para falar no Parlamento Europeu - foi também montada por outros importantes membros da elite política, económica e financeira da Europa e da América do Norte.

O que se passa, é que, quer a UE, quer os EUA, são fantoches dos mesmos interesses. Os quais, sabem as pessoas melhor informadas serem estes. E, o propósito da UE é, conjuntamente com uma União Norte-Americana, que está a ser criada, uma União Asiática, uma União Africana etc, serem um passo na direcção da criação de um Governo Mundial único, a partir do qual mais facilmente se poderá controlar toda a gente, ao mesmo tempo.

Anónimo disse...

Do amigo O Jumento transcrevo:

Pobres ucranianos

«Duarte Marques foi convidado pela organização da manifestação de hoje a discursar, "em representação dos jovens e dos parlamentos nacionais" que têm apoiado o desejo da sociedade ucraniana de integrar a União Europeia, e em nome do Partido Popular Europeu (PPE), a família política europeia dos partidos da oposição ucraniana, ajudou hoje a entregar, num gesto simbólico, mil bandeiras da União Europeia aos participantes do protesto.

"Vim trazer uma mensagem de solidariedade pelo trabalho que estão a fazer, e de forma pacífica. Sendo de um país como Portugal, que é exatamente a fronteira oposta da Europa, vim demonstrar que apesar de termos línguas diferentes, credos religiosos, economias e culturas diferentes, há um conjunto de valores que partilhamos. Não deixa de ser curioso que numa fase em que a Europa é tão contestada internamente exista uma manifestação na Ucrânia com cerca de 250 mil pessoas a favor da União Europeia", disse à Lusa o deputado social-democrata, em declarações telefónicas a partir de Kiev.

Duarte Marques revelou também que, no seu discurso, apelou à libertação dos presos políticos na Ucrânia, cujo rosto mais conhecido é Iulia Timochenko, a ex-primeira-ministra do país.» [Notícias ao Minuto]

Parecer:

Nem sabem onde se querem meter.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»

E sabem quem é Duarte Marques?
Precisamente um deputado do PPD/PSD partido que os portugueses mais contestam. As sondagem andam à volta de 26%
José Bispo