No momento
em que escrevo estas linhas, as conversações entre o Presidente da
Ucrânia, Victor Ianukovitch, continuam, mas se terminarem sem
resultados reais, o mais provável é que a situação saia de sob o
controlo e o conflito se alastre a todo o país.
Na
realidade, o conflito já ultrapassou as fronteiras de Kiev e
manifestantes da oposição começaram a ocupar os edifícios dos
governadores de algumas regiões ucranianas: Lvov, Rovno. Ternopol.
Na cidade de Tcherkass, a polícia conseguiu desalojar os
manifestantes do edifício onde se encontram os órgãos de poder
desta região ucraniana.
Estes
movimentos de ocupação têm lugar na parte ocidental e central da
Ucrânia, onde a oposição tem forte influência e, a continuarem,
poderão pôr em perigo a unidade territorial do país.
A Ucrânia
independente, com as actuais fronteiras, existe deste 1991 e os
dirigentes do país não conseguiram ou não souberam criar um Estado
capaz de resistir a crises como a actual. O Leste e o Sul continuam
virados para a Rússia, enquanto que o Ocidente olha para a Europa
Central. Caso não se chegue a um consenso sobre a saída da crise, a
Ucrânia poderá simplesmente deixar de existir, claro que esse
processo não será pacífico, mas poderá ser semelhante ou pior ao
que aconteceu na Jugoslávia.
As
autoridades e a oposição ucranianas compreendem perfeitamente isso,
daí haver alguma esperança de que consigam travar esta espiral de
violência. O presidente do Parlamento da Ucrânia já convocou uma
reunião de emergência para analisar as propostas da oposição
pró-europeia, mas tendo em conta o seu teor, é difícil que
obtenham a maior. A oposição pretende a demissão do Presidente e
do Governo, a realização de eleições gerais antecipadas e a
revogação do pacote de leis aprovado na semana passada que limita
seriamente a liberdade de expressão e manifestação.
Nesta
situação, toda a pressão internacional, venha ela de Moscovo, por
um lado, ou de Bruxelas e de Washington, por outro para que se chegue
a um acordo que ponha fim à violência, é bem-vinda, pois será um
grave erro diplomático, para não dizer crime, se a situação
conduzir à divisão do país.
Alguns
analistas consideram que Vladimir Putin aposta na divisão da Ucrânia
em conformidade com o princípio do “dividir para reinar”,
fazendo paralelos com a situação na Ossétia do Sul ou a
Transdnistria. Não creio, pois as dimensões da Ucrânia e a
situação no continente europeu tornam os jogos com a divisão deste
país muito mais perigosos, com consequências imprevisíveis para as
relações entre a Rússia e a UE e a Rússia e os Estados Unidos.
A situação
derrapa para o pior dos cenários, mas há tempo para evitar o pior e
devemos ter presente que a Ucrânia não fica tão longe como a Líbia
ou a Síria, mas é parte integrante da Europa. Por isso, todos os
inspiradores das forças em confronto não devem continuar a viver no
mundo das lutas geopolíticas, transformando este drama é mais um
jogo de xadrez. Esses jogos são interessantes nas discussões
académicas, mas, na realidade, custam centenas, milhares de vítimas.
3 comentários:
Entretanto, JM, o que é que acontece no Leste e no Sul? Há calmaria, há ânimos acirrados, há espectativa, há rumores de reacção, há o quê? É que nada se sabe, e eu cá acho isso muito estranho.
Uma pessoa até seria levada a pensar que só nos dão a saber o que "interessa"...
Nunca pensei assistir a manifestações pró-capitalistas pelo que algo deve ser repensado ou estaremos no inicio de uma 3.ª Guerra Mundial?.
Só não sei se estas manifestações representam uma parte substancial da Ucrânia ou se são movimentos sem profundidade popular consistente. O Milhazes é que nos pode informar.
Máximo Gorki
NÃO HÁ MANIFESTAÇÕES SEM MOTIVO E SE O MOTIVO É IR PARA O EURO, NÃO É COM MANIFESTAÇÕES QUE SE CONSEGUE. AGORA, PARA DERRUBAR UM GOVERNO É NECESSÁRIO ISTO QUE ESTÃO FAZENDO. NÃO SÃO MANIFESTANTES, SÃO FANTOCHES DE GOLPISTAS FINANCIADOS E PATROCINADOS PELOS ESTOS UNIDOS!
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