Tal como já
era previsível, as conversações entre o Presidente da Ucrânia,
Victor Ianukovitch, e os líderes da oposição terminaram sem
resultados visíveis. O dirigente ucraniano prometeu apenas libertar
os participantes nos confrontos em Kiev que foram detidos pela
polícia. Os manifestantes que se encontram na Praça da
Independência ficaram insatisfeitos e votaram contra a continuação
de conversações.
Estamos
claramente perante aquilo a que Vladimir Lénine, dirigente dos
bolcheviques russos, definiu como “situação revolucionária”:
as cúpulas já não conseguem governar e as bases já não querem
ser assim governadas.
Dizem que as
conversações continuam e, em Kiev, a situação está aparentemente
mais calma, mas, como já escrevi ontem, os confrontos saíram além
da capital ucraniana e começam a alastrar-se rapidamente pelo país.
Manifestantes da oposição invadiram a sede dos governadores ou
assembleias de várias regiões do país: Lvov, Tcherkass,
Tchernovtsi, Lutzk, Ivano-Frankovsk, etc. Alguns dos governadores,
como os de Volyn e Lutzk, demitiram-se. A organização de Lvov do
Partido das Regiões, o principal apoio de Ianukovitch, anunciou ter
abandonado essa força política!
Por outro
lado, o Parlamento da Crimeia, região do Sul da Ucrânia que fez
parte da Rússia até 1954 e onde existe um forte espírito
pró-Moscovo, exige que o Presidente ucraniano imponha o estado de
sítio no país para acabar com as manifestações da oposição.
As
autoridades ucranianas reforçam as fileiras da polícia de choque em
Kiev chamando agentes de segurança das regiões do Este e Sul do
país, onde o apoio a Ianukovitch é maior.
O perigo de
desintegração do país é cada vez maior e o poder de manobra de
Ianukovitch é cada vez menor. Alguém terá de responder pelos
mortos e feridos em Kiev, pela situação económica catastrófica em
que se encontra o país, pela corrupção e pelos negócios da
“família”, que colocaram os seus filhos entre as pessoas mais
ricas do país.
É de
salientar que as pessoas que protestam em Kiev e noutras cidades
ucranianas não só e nem tanto protestam contra o afastamento da
Ucrânia em relação à União Europeia, mas contra o sistema
corrupto instalado no país.
Quanto à
oposição, não parece existir um líder à altura dos
acontecimentos.
A solução
pacífica da crise parece mesmo passar por eleições gerais, devendo
Ianukovitch e a sua clã receber garantias de segurança, tal como
aconteceu com anteriores presidentes da Ucrânia.
Na situação
existente, a União Europeia terá de continuar a apoiar a oposição
e, ao mesmo tempo, a fazer os possíveis para que a situação não
desague num grande banho de sangue. No fim de contas, a UE tem
responsabilidades no início desta situação e não pode fazer agora
figura de fraca. Já não se trata de ver os seus dirigentes a
visitarem as barricadas, mas a darem uma contribuição real para a
solução do problema.
Bruxelas
começa a falar em sanções, mas não parecem ser muito eficazes, a
não ser que a UE congele as contas bancárias dos dirigentes e
magnatas ucranianos. O que essas sanções não devem atingir as
pessoas simples.
Moscovo está
muito nervoso, pois o maior receio de Vladimir Putin, que considero
não ter fundamento, é que algo de semelhante se repita na Rússia.
Iúri Uchakov, assessor de Putin para assuntos internacionais,
declarou que o seu país mantém uma posição de “não-ingerência
clara” em relação à Ucrânia, mas reconhece que existem
contactos ao mais alto nível.
Não é de
esperar que Moscovo, depois de tantos esforços e pressão, que
levou, nomeadamente a Ucrânia a não assinar o Tratado de Parceria
com a UE, venha agora abandonar Ianukovitch ao seu próprio destino
(o exemplo de Kadhafi paira no ar) e “deixe escapar” o seu
vizinho. Porém, apostar na desintegração da Ucrânia é um passo
muito arriscado, pois isso implicará um confronto direto com a UE e
os EUA.
Ainda há
alguns dias atrás, parecia impensável ver pessoas serem
assassinadas em Kiev, hoje, ainda parece impossível imaginar um
grave conflito, com componente militar, entre a Rússia e o mundo
ocidental, mas tudo já é possível num mundo onde a diplomacia não
é preventiva, mas reativa.
3 comentários:
Tentativa de "destruição criativa", tal como foi o Maio de 68 - é o que isto me parece ser...
http://www.globalresearch.ca/egypt-s-revolution-creative-destruction-for-a-greater-middle-east/23131
(Falhada mais uma tentativa de "revolução colorida" pacífica, passa-se então a uma mais violenta...)
Vejam, nas seguintes imagens - que não vi serem passadas nos média ocidentais - o tipo de "manifestantes" que são apoiados pela UE:
http://www.youtube.com/watch?v=wEKviJYIlJ4
Sr. Milhazes,
Eu só vejo esta solução para a Ucrânia: dividir o país em dois. Um a parte que fala ucraniano, a outra, a parte que fala russo. Ficando mais ou menos dividido pelo rio que corta o país ao meio. Sendo que Odessa e a Criméia ficam da lado russo.
O lado ocidental seria m república nos moldes ocidentais: seria membro da UE e da Nato, Teria como língua oficial o ucraniano e sua igreja ortodoxa não seria vinculada a da Rússia. O lado oriental teria o russo e ucraniano como línguas oficiais (como já está) e teria sua igreja ortodoxa vinculada a de Moscou. Seria membro da união aduaneira e teria uma relação com a Rússia semelhante a que Belarus tem.
Pronto! Eis a soluçao para o problema da Ucrânia!
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