domingo, janeiro 26, 2014

Imprensa portuguesa na Ucrânia: mais vale tarde...

Depois de cinco semanas de conflito, a Kiev chegam os primeiros jornalistas portugueses. Como se costuma dizer, mais vale tarde do que nunca. Só lhes posso desejar um bom trabalho em situações complicadas.
O primeiro foi Ricardo Alexandre, que fez, na véspera, uma intervenção muito boa na RTP, mostrando conhecer a situação no país onde acabou de chegar. Apenas lhe posso desejar um bom trabalho e que cubra a cabeça com um gorro, pois o frio é intenso até para os ucranianos, que fará para um português.
Espero a chegada de outros jornalistas, nomeadamente da SIC.
Devia ficar perplexo pelo facto de a Agência Lusa não ter enviado nenhum jornalista à Ucrânia, mas não fiquei, pois é cada vez mais evidente a redução da visão da direcção da empresa face ao mundo em redor.
Na sua mensagem aos trabalhadores da Lusa por altura do Natal, Afonso Camões, administrador da empresa, escreveu: A acrescentar ao conjunto de medidas de contenção que conduziram, designadamente, à precarização da rede internacional da Lusa (abrangendo mais de uma dezena de “antenas” no estrangeiro, cujos correspondentes passaram a ser remunerados à peça) tal corte, para lá dos custos sociais e políticos que lhe seriam inerentes, representaria o desfigurar da Agência, então tornada progressivamente desinteressante para a generalidade dos nossos clientes”.
O processo de desfiguração da Agência é uma realidade e, não obstante todas as palavras de preocupação da administração, é ela que está a levar à prática essa obra de empobrecimento informativo. Recordo-me das palavras de um dos directores dessa Agência: “a Rússia e arredores deixaram de ser estratégicos”. Então, eu ainda fiquei espantado...mas, hoje, compreendo, afinal a Ucrânia fica muito longe de Lisboa e em Portugal não vive uma importante comunidade ucraniana.


P.S. Devo uma explicação aos meus leitores. Este comentário não visa ajustar contas com ninguém, pois o que passou, passou, mas enquanto pessoa ligada ao jornalismo, posso ter opinião. 

5 comentários:

Fernando Negro disse...

Caro José Milhazes,

A agência Lusa, é um órgão de comunicação social que não interessa a ninguém. Pois, tem dado repetidamente provas de ser um órgão mais-que-controlado.

E, para saber isso, basta ler esta notícia:

http://ciberjornalismo.com/pontomedia/?p=6259

(E, passando ao lado da questão de que direito tem uma entidade estatal de obrigar os outros a pagar por um serviço não essencial que outros não querem - como fazem a RTP e a Lusa - e que pode muito melhor ser feito por outras entidades verdadeiramente, ou muito mais, independentes...)

O terem-lhe dito o que disseram sobre a Rússia é uma clara mentira.

(Pois, num mundo onde os recursos energéticos começam a escassear e a Rússia é um dos países mais ricos em - e um dos maiores exportadores de - energia e num mundo onde a economia deste enorme país se tem vindo a desenvolver muito, enquanto a maior parte dos restantes países desenvolvidos se afundam, é um mundo onde a Rússia tem o sério potencial de se vir a tornar a maior potência do mundo. Não sendo por acaso que a Rússia é um claro "alvo a abater" por outras potências que não querem perder a sua actual supremacia.)

Ou seja, o terem-lhe dito que a Rússia e zonas limítrofes desta têm agora menos interesse informativo, é mais uma clara prova de que a agência Lusa é gerida por pessoas desonestas... E, quem é que quer ler ou ouvir notícias dadas por agências que são geridas por pessoas mentirosas?

Sei bem que há algumas pessoas honestas, como é o seu caso, que trabalham ou trabalharam para este tipo de agências... Mas, sei também que muito do controlo da informação que se emite é simplesmente feito pela decisão de que sobre assuntos específicos deverão essas pessoas honestas falar e que fontes deverão, ou não, tais pessoas consultar.

Pessoalmente, fico muito mais contente que trabalhe você agora antes para a estatal "Voz da Rússia". Pois, ao contrário dos órgãos de comunicação estatais portugueses, nunca apanhei um russo a mentir.

E, na altura não tive a oportunidade de o dizer, mas quero agora dar-lhe os meus parabéns por esta sua contratação. Pois, considero-a um claro reconhecimento da sua qualidade enquanto jornalista e historiador, que é verdadeiramente independente.

Fernando Negro disse...

"A Rússia e arredores deixaram de ser estratégicos"...

http://www.forumdefesa.com/forum/viewtopic.php?f=15&t=10578

(Palavra de director da agência Lusa!...)

Fernando Negro disse...

Para mim, tal desinteresse pelo trabalho do autor deste blogue trata-se claramente de silenciar as vozes independentes, numa altura em que, mais do que nunca, esta região se torna importante.

E, a redução do número de vozes a reportar o que se passa na mesma, uma maneira de melhor controlar a informação originária desta região. (Pois, quantas mais vozes forem, maior é a possibilidade de escapar algo importante.)

Mas, que cada um tire as suas próprias conclusões...

Para além disso, os órgãos de comunicação anglo-saxónicos são melhores e mais sofisticados na propaganda que emitem - e estão também, claramente, melhor controlados. Sendo, por isso, mais útil e mais simples recorrer a estes como intermediários.

(Alguém aqui já ouviu falar no "Instituto Tavistock", de Londres?)

Fernando Negro disse...

E, para quem reparar, e bem, que não é só desta zona do planeta que estão a ser "retirados" jornalistas...

Não é só esta a zona que se está a tornar, cada vez mais, importante... Mas, também todas as outras, ricas em recursos naturais, que estão a fugir ao controlo do Ocidente.

A ascenção de regimes progressistas e independentes na América Latina, o não controlo efectivo de países do Médio Oriente que estão sob ocupação militar ocidental etc... Representam uma dor de cabeça, cada vez maior, para os grandes interesses económicos ocidentais. E, o importante surgimento de média alternativos - sejam os independentes ou os que estão sob o controlo de potências não alinhadas com o Ocidente - tem tido como consequência notória uma população global cada vez melhor informada - na qual se inclui, cada vez mais, a própria classe jornalística.

(Vejam aqui a preocupação que já era expressa, há uns anos atrás.)

Por tudo isto, torna-se cada vez mais importante controlar os média e também a informação, em geral - e, por isso, também reduzir o acesso a última. E, se as leis que visam controlar a Internet irão, dentro em breve, resolver o "problema" das vozes independentes que existem nesta rede, quanto aos média controlados, interessa controlá-los cada vez mais e melhor.

E, se com uma redução de efectivos nestes últimos média, se está, subsequentemente, a reduzir a visão que as pessoas têm do mundo à sua volta, ainda melhor. Pois, pessoas de mentalidade simples, ignorantes e mal informadas, são pessoas muito mais fáceis de enganar e de controlar.

Eu, pessoalmente, há já muito tempo que vejo o Futuro como um em que os noticiários controlados sejam algo parecido àqueles de 5 minutos que se vêm no metro de Lisboa e afins, em que quase nada é dito às pessoas do que se passa no mundo à sua volta e em que, para além das mentiras, tudo seja apresentado de maneira muito simples, de modo a não estimular muito as pessoas a pensar sobre esses mesmos assuntos.

Fernando Negro disse...

E, só para finalizar o que eu aqui disse...

Reparem neste caso da Ucrânia, em que foram enviados repórteres de vários órgãos de comunicação portugueses.

Não seria mais simples, e também mais económico, enviar um repórter da agência Lusa? (Tendo sido exactamente para este tipo de situações que foi criada esta agência? E, não faria isto ainda mais sentido numa altura em que dizem que querem reduzir as despesas?)

Seria, pois claro. Mas, isso representa um problema...

Pois, os repórteres da RTP, estão sob o controlo da RTP, os da SIC, obedecem à SIC - e por aí adiante. E, como tal, podem estes órgãos de comunicação sempre controlar (/vetar, /decidir) o conteúdo das suas reportagens.

Fosse um repórter da agência Lusa que lá estivesse... Sendo esta uma agência independente, que responde perante diversos órgãos, como é que se controlam os conteúdos das suas reportagens?

É isto que eu quero dizer com silenciar vozes independentes.