terça-feira, fevereiro 25, 2014

A República das Bananas da Ucrânia



Texto traduzido e enviado pelo leitor PIppo
"Episódio 1: O regresso da princesa de gás

Para aqueles que acreditavam que África era o único continente onde as potências estrangeiras podiam contar com uma minoria étnica para derrubar um presidente eleito democraticamente, os recentes acontecimentos em Kiev mostram que a Europa também compartilha esse privilégio . Eles também demonstram que, para a União Europeia e os respectivos governos, o anti- fascismo não é uma convicção mas sim uma postura que visa desacreditar movimentos patrióticos no seio da UE, enquanto a mesma UE promove facções realmente fascistas fora das suas fronteiras contra os Estados recalcitrantes . Este foi o caso na Geórgia , é agora o caso em Kiev.

O governo ucraniano, desde que fez o golpe de Estado, está a tomar medidas altamente democráticas tais como a proibição de partidos da oposição. O Svoboda pediu para limitar a transmissão de programas de televisão. Kiev está caminha para um governo fascista de transição, a fim de esmagar qualquer forma de dissidência, transmitindo posteriormente o poder para um governo compatível  com a UE, o qual se apressará a satisfazer todas as obrigações "morais e económicas" .

O Svoboda aproveita igualmente para atacar as igrejas do Patriarcado de Moscovo . Estes ataques , até então exclusivos do oeste da Ucrânia, estendem-se agora a Kiev quando 76 homens armados cercaram o mosteiro de Pechersk Lavra, em Kiev, ligado à Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscovo . O objectivo é colocar essas igrejas em conformidade com a Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Kyiv, uma espécie de seita dissidente e militarizada criada em 1992. O programa do Svoboda requer a incorporação de todas as igrejas da Ucrânia na Igreja dissidente, pela força se necessário .

Para completar o sistema repressivo , o novo ministro do Interior, Arsen Avakov , propôs integrar as milícias radicais entre as tropas do Ministério do Interior. Isto tanto visa manter um regime de terror em relação aos ex-membros do Partido das Regiões , ainda maioritarios no parlamento , como visa tentar controlar esses grupos para que a oposição deve a sua vitória contra Yanukovitch. O "Pravy Sektor " já afirmou que não tem a intenção de deixar Maidan .

A oposição e a UE obtiveram de facto uma vitória sobre Yanukovitch, mas não sobre a Rússia, que até ao momento pouco se envolveu na questão. A partida de Yanukovitch, modelo de cobardia e corrupção, clarifica a situação para o governo russo. Lembremo-nos mais uma vez que o acordo de cooperação foi seu projeto pessoal e , se a União Europeia lhe tivesse fornecido os meios para financiar o seu Estado em bancarrota, Yanukovitch teria assinado o acordo com as duas mãos. Ninguém irá lamentar este Milosevic ucraniano, a começar por Vladimir Putin.

A ractificação do acordo de cooperação poderá reentrar para a ordem so dia, dado que o presidente interino já foi nomeado . Trata-se de um elemento próximo de Yulia Tymoshenko , Alexander Turchinov . Esta assinatura significaria um retorno brutal à realidade para centenas de milhares de ingénuos manipulados que ocuparam Maidan no sábado e domingo (a semana é reservada para algumas centenas de radicais desempregados e armados pela União Europeia e os Estados Unidos ). Iniciar novo regime de vistos , nenhuma ajuda financeira , nenhuma candidatura à UE , dezenas de milhares de normas dadas “de presente” para serem aplicadas, 650.000.000€ de tecnocratas da União Europeia, que farão o percusro de ida e volta de Bruxelas / Kiev durante os próximos anos. Os idiotas de Maidan irão finalmente entender para que é que eles se manifestaram, mas desta vez caberá aos partidos pró-europeus apresentar explicações. Os pró- europeus também terão de desencantar rapidamente 10.000.000.000USD para evitar que o país entre em colapso nas próximas semanas. Não é de excluir que os vejamos estendrr a tigela a Vladimir Putin. Nesta perspectiva , Tymoshenko não é uma má escolha , lembremo-nos que ela foi condenada por abuso de poder ao ter assinado um acordo sobre o gás com a Rússia . Lembremo-nos igualmente que o Kremlin tinha protestado contra a sua condenação e prisão .

Yulia está de volta . Claramente  desgastada pelo anos passados na prisão e desconectada com a realidade. O seu discurso inflamado e redundante ontem à noite rapidamente entediou os espectadores em Maidan, tudo isto numa atmosfera de traição particularmente odiosa . Ela apelou para que se continuasse a ocupar Maidan, que é exatamente o oposto do que a oposição quer. Ela elogiou os "5000 heróis" que ocupavam Maidan , ao mesmo tempo que nos é dito desde o início que toda a Ucrânia se havia sublevado. Ela apeloou à vingança , o que é compreensível dado o que ela passou , mas isso não é um discurso de estadista. A princesa do gás está de volta e os meios de comunicação franceses desmancharam-se em elogios fáceis com a ignorância e a estupidez que a caracterizam desde o início do conflito . A Ucrânia está de volta a 2004 com uma Constituição inutilizável, o que impedirá o país de ser governado e favorecerá o sistema oligárquico que que Tymoshenko foi o pilar principal.

Dizer se o país vai implodir é difícil. Se Kiev entrar em guerra com o Sudeste da Ucrânia , é bem possível que a Rússia apoie o movimento [separatista]. Livre de Sochi e provavelmente cansado dos golpes baixos ocidentais, o Kremlin tem o direito de o fazer. O Oeste da Ucrânia mostrou que era incapaz de conter as suas populações minoritárias atrasadas. Para a Rússia seria uma boa operação. Seria recuperar a Crimeia, terra russa por excelência, e o Leste, que é  a única região rica e industrializada da Ucrânia. Ele deixaria, para a UE, a Ucrânia agrícola e pobre, com seu lar nacional-socialista que fará os encantos dos grupúsculos europeus dissidentes neo-nazis e, logo, o Departamento de Estado norte-americano. No entanto, ainda não se sabe se os russos quererão intervir a esse ponto. Ao contrário dos devaneios de Gallia Ackermann e de Maria Mandras [respectivamente, escritora e tradutora, e professora universitária, ambas radicadas em França] , os russos primaram pela sua ausência, surpreendendo-se ao ver Yanukovych recorrer a eles no último momento em Novembro passado.

A UE ganhou uma vitória de Pirro . Yanukovych caiu, mas à custa de um golpe. Os povos europeus têm observado esta nova URSS [UE] aliar-se às facções mais radicais da Europa de forma a esmagar todas as veleidades de resistência às suas tentativas de controle. A UE nnada resolveu na Ucrânia, e apesar da oposição fanática de [Durão] Barroso , mais cedo ou mais tarde eleterá de se sentar à mesma mesa com a Rússia, para discutir o futuro deste país, se é que ainda ele tem futuro.


Episódio 2: parlamentarismo e gangues

A cidade de Kiev está agora a viver sob o reinado da "Pax Bandera". O "Pravy Sektor" anunciou que não tem intenção de deixar Maidan , o que fala volumes sobre a legitimidade das eleições a 25 de Maio. Talvez a União Europeia venha a validar essa nova forma de democracia controlada pela rua, quem sabe? A nova URSS garantiu a lealdade da Rada graças ao patrulhamento  muito eficaz das milícias do Svoboda e do Pravy Sektor . Assim, embora sendo ainda uma maioria, os membros do Partido das Regiões votaram a favor da abolição do russo como língua regional. Digamos que , se os eleitos pelas zonas russófonas forem um dia livres de voltar às suas circunscrições, a sua mensagem será difícil de ser engolida pelo eleitorado. O muito democrático líder do "Svoboda", Oleg Tyagnybok, ainda tem muitas idéias e quer urgentemente fazer aprovar leis que proíbam os partidos políticos, a televisão russa , os ex-funcionários do Partido das Regiões ... Este é, basicamente, o programa segregacionista do Franjo Tudjman de 1990-1992 contra os sérvios de Krajina , levando-os a sublevar-se e a inflingir-lhe uma série de reveses militares. Alemães e norte-americanos, com a bênção de Milosevic , fizeram a limpeza étnica na região entre Maio e Agosto de 1995. A situação é no entanto um pouco diferente para estes "banderista " ucranianos, os mais radicais dos quais decidiram retomar Kursk, Belgorod e Bryansk aos russos . Face a Vladimir Putin, é pouco provável que muitos alemães se ofereçam para receber uma nova tareia às mãos do exército russo , ou que a aviação norte-americana apoie a ofensiva "banderista". Com vista ao ataque iminente , os "bandéristas"de Kiev já começou a expropriar os motoristas . Tratar-se-á de um imposto revolucionário absolutamente democrático.

Já haviamos explicade repetidamente que o principal problma da Ucrânia consistia em financiar a sua dívida de curto prazo. Miraculosamente o governo saido do golpe, a União Europeia , e até mesmo a imprensa francesa , vieram a aperceber-se disso ... em boa hora . Oh milagra! A UE poderia emprestar 20 bilhões de dólares à Ucrânia. Mesmo os Estados Unidos estariam dispostos a abrir o seu porta-moedas ! Que pena que as duas tecnocracias não se tenham apercebido disto senão agora. 15.000.000.000 USD para a Ucrânia em novembro passado e a situação estaria resolvida. Obviamente, nem a UE nem os Estados Unidos irão fazer um esforço financeiro desta ordem. Se for prestada assistência, o que é pouco provável , ela estará sujeita a condições tais como o aumento da idade da reforma e do preço do gás para pessoas individuais e colectivas, benefícios sociais mais baixos , salários dos funcionários etc . A ajuda também irá ser prestada ao longo de mais de uma dúzia de anos . Nada disso era exigido pela Rússia. Os Ucranianos , mesmo os do Oeste, poderão começar a fazer as suas contas . Como poderá a UE explicar aos seus Estados membros sob resgate , aos quais são impostas políticas de austeridade terríveis, que ela vai desembolsar 10 bilhões de USD para irritar a Rússia?

A tutela do parlamento ucraniano pelos radicais e o ataque ao gabinete do governador em Kharkov por "banderistas" justificam plenamente a dúvida que emitiu o primeiro-ministro Medvedev sobre a legitimidade do actual poder na Rada .

É na Crimeia que a situação mais evoluiu, com uma vontade separatista flagrante. Isso traduziu-se na eleição de um novo governador e na apresentação massiva de voluntários pelo "Russki Blok". Lembremo-nos que se no Leste da Ucrânia são ucranianos falam russo, a Crimeia é habitada por russos, que não se consideram ucranianos. A península não tem qualquer laço historico com a Ucrânia. Bandeiras russas foram içados em Kerch e Sevastopol, formaram-se grupos de auto -defesa e não é saudável ser-se "banderista" na região. Lá, a bandeira ucraniana foi queimada. Também no sul da Ucrânia, em Odessa, ocorreu uma grande manifestação contra os "fascistas" de Kiev.

O Leste da Ucrânia também é abalada por confrontos . Além disso, em Kharkov, tiros foram trocados em Lugansk entre “banderistas" e um grupo de auto -defesa local.

A comunidade judaica de Kiev, depois de ter mantido a discrição nos últimos dias, provavelmente sob a pressão americana e européia , não esconde o seu medo , como relatado pelo Haaretz . Há poucas hipóteses de que os judeus da Ucrânia atraiam a simpatia dos estróinas que pululam em torno de Bernard- Henri Levy. O estabelecimento de uma nova ordem mundial na Ucrânia tem esse preço.

Xavier Moreau

2 comentários:

Anónimo disse...

Minoria étnica?

Os ucranianos na Ucrânia e os georgianos na Geórgia são minorias? Não sabia isso não! Que eu sabia é a Rússia que utiliza do pretexto das minorias étnicas para invadir seus vizinhos. Foi assim na Geórgia, na Criméia e, provavelmente, tb assim será na Modálvia. Sugiro que vejam os números da demografia da Ucrania. Bem, o que dizer de um texto enviado pelo Pippo, o emissor já o desqualifca em si. Campanha de desinformação. Acusar o inimigo do que na verdade vc está a fazer. Foi Lenin que disso isso creio eu.

Pippo disse...

Sim, também acho que aqui (e só aqui, diga-se!) o Xavier Moreau teve um lapso. Os ucraniano-falantes não são uma minoria, constituem uns 67% da população.

Já os que são intensamente chauvinistas e xenófobos, que terão efectuado este golpe de Estado (que foi disso que se tratou), esses, sim, seriam uma minoria, minoria essa que, contudo, liderou os protestos e agora não se quer ver arredada do poder pelos corruptos que governavam antes do Yanukovitch.

Já agora, Anónimo das 11:08, convem não ser cobarde. Assuma-se, não se esconda no anonimato. É que assim também fica automaticamente desqualificado :)