Não aconselhava ninguém,
mas mesmo ninguém a entrar em euforia quanto à situação da
Ucrânia, pois o desenrolar rapidíssimo dos acontecimentos coloca
cada vez mais interrogações.
O desmoronamento rápido
do regime do Presidente Victor Ianukovitch não é surpreendente,
pois era odiado pela maioria esmagadora da população ucraniana, tão
pró-UE, como pró-Rússia. Durante a sua presidência, os pobres
ficaram ainda mais pobres, enquanto que o seu clã ficou cada vez
mais rico. O filho estomatólogo do dirigente ucraniano
transformou-se numa das pessoas mais ricas do país, e não foi com o
tratamento dos dentes dos ucranianos que ele juntou fortuna.
Tal como acontece nestas
situações de rápida derrocada de regimes, as “ratazanas”
apressam-se a fugir do navio e ou a fugirem para o estrangeiro, como
parece ser o caso do ex-Ministro do Interior, ou a passarem para o
lado dos vencedores, como numerosos deputados do Partido das Regiões.
Porém, a vitória da
oposição, ou melhor, das oposições, ainda está longe de ser uma
realidade.
Criou-se um verdadeiro
vácuo no poder. Ninguém sabe onde se encontra o Presidente (diz-se
que ele se encontra na cidade de Kharkov (Khirkyv) e que poderá
participar numa assembleia de deputados do Leste do país), o governo
está completamente inativo, o Parlamento tenta chamar a si o poder,
mas também este processo não é fácil, pois os dirigentes
demitiram-se.
As oposições têm que
tomar medidas rápidas para restabelecer o controlo num país onde
existem quatro centrais nucleares e não permitir o caos. Mas as
dificuldades estão a ser muitas.
Primeiro, os moderados
não sabem o que fazer com os radicais do Sector da Direita, que se
recusam a abandonar o centro de Kiev e certamente não desejarão
ficar de fora na partilha do poder.
Segundo, a libertação
de Iúlia Timochenko também bem complicar ainda mais as contas das
oposições, pois ela certamente não perdeu as ambições do poder
na prisão e tentará recuperar o tempo perdido.
Os adversários da
oposição pró-UE não irão ficar de braços cruzados, tanto mais
se os vencedores não tiverem em conta os seus interesses. Além
disso, eles recebem apoio directo e indirecto da Rússia, que não
está nada satisfeita com o desenrolar dos acontecimentos e intervirá
(não é obrigatório que seja de forma militar) à primeira falha
do novo poder em Kiev.
Ou melhor, Moscovo já
começou a intervir ao adiar sine die a
concessão de parte do empréstimo de 15 mil milhões de dólares que
Vladimir Putin havia prometido.
A
União Europeia pode regozijar-se de ter conseguido um acordo entre o
Presidente e a oposição, mas agora é preciso fazer o mais difícil:
recriar as estruturas do poder de forma a não permitir a
desintegração do país. E este processo deve ser feito de forma a
não ostracizar qualquer sector da sociedade ucraniana. A UE
envolveu-se no processo, ela tem de continuar envolvida na
normalização da situação.
Eu
fui testemunha da vitória das forças pró-ocidentais em 2004 e vi
as esperanças que a população ucraniana depositava no Ocidente. A
euforia foi gigantesca, mas a ressaca não foi mais pequena. Desta
vez, a situação não vai repetir-se: ou se apoia realmente a
Ucrânia (não sendo obrigatório fazê-lo hostilizando a Rússia,
pelo contrário, a humilhação de Moscovo nada trará de bom) ou o
país avançará rapidamente para uma situação catastrófica.
Se
tal acontecer, a Ucrânia poderá cair nos braços da Rússia
exausta, pronta a aceitar tudo. Há muitos políticos russos que
esperam que isto aconteça.
8 comentários:
Meu caro,
A situação já é catastrófica, ou então estou a ver isto muito mal.
Se até agora a Ucrânia tem andado à tona, é graças ao dinheiro russo.
O Ocidente nunca se chegou à frente com dinheiro e duvido que o faça para pagar contas energéticas.
Portanto neste momento, sem injecção do dinheiro russo, a Ucrânia deve entrar em bancarrota.
O final do mês aproxima-se, existe dinheiro para pagar salários a funcionários público? e os reformados? há dinheiro para as pensões?
Como estão os bancos na Ucrânia? estão a permitir levantamento de dinheiro?
é uma pena que não consigam pacificamente fazer um referendo para a divisão pacífica do país.
Parece-me a melhor solução para a Ucrânia.
Possivelmente será este o resultado, mas não chegaremos lá de modo pacífico.
A situação era insustentável, tanto que mesmo a população do Leste não apoiou mas também não se opôs. O que aconteceu é a pobreza é grande na Ucrânia e os oligarcas só se enriqueceram às custas da pobreza da população. Só o filho de Yanukovich tinha 50% dos contratos estatais. Só mesmo os oligarcas corruptos o sustentava. Agora rastrear o dinheiro dessa gente no exterior e devolve-lo para os cofres da Ucrânia. Uma vez vi um documentário sobre crianças em Odessa, cidade que fala russo, e as condiçoes de vida ali eram deploráveis. Os anos de governos pró-russo não debelaram a miséria no país nem de um lado como de outro. Tb vi um documentário sobres as condiçoes de trabalho nas minas no Leste, era um trabalho duríssimo, perigoso e de semi-escravidão. Isso não tem como se sustentar por muito tempo mesmo, o povo ucraniano até demorou para se despertar.
Para quem ainda tem dúvidas:
http://www.youtube.com/watch?v=YxP9WQPFJPU
Para quem ainda tem dúvidas:
http://www.youtube.com/watch?v=YxP9WQPFJPU
Se o Ianukovitch saltar fora e a Princesa Leia sair da prisão, aí que que começarão os trabalhos!
Para já, a dama tudo fará para minar a concorrência. Já o fez antes, falo-á agora, aliando-se a Deus e ao Diabo mas fazendo a folha a ambos.
O Arseny Yatsenyuk será a escolha teoricamente mais óbvia por parte da comunidade EUro-americano-internacional, mas terá pela frente o pugilista, que é o testa de ferro da Merkel, e a já referida Yulia.
Uma aliança entre estes três será a risota geral!
E depois, temos os actuais ganhadores, a malta neo-nazi "que não existe, que é só uma minoria insignificante", que tendo conquistado as ruas, quererá agora conquistar o poder. Será que os "moderados" irão voltar-se contra os radicais, ou será que os chamarão para o seu seio, com as implicações políticas e morais que isso implica?
E a população russófona do Leste e Sul, que não se vê representada por estas forças políticas, como ficará?
E a Crimeia? Será que adquirirá a autonomia, nem que sendo à custa de uma boa dose de manifestações (que o novo poder, pela mesma lógica "liberal" que sustenta para si, não poderá travar pela força).
E QUEM é que pagará isto tudo? Nós, que temos a Troika à perna? A Alemanha, que não quer dar um tusto nem aos países da UE? Washington?
É que da Rússia, a torneira poderá estar prestes a fechar-se...
"E a Crimeia? Será que adquirirá a autonomia, nem que sendo à custa de uma boa dose de manifestações (que o novo poder, pela mesma lógica "liberal" que sustenta para si, não poderá travar pela força)."
A Criméia já possui autonomia.
E QUEM é que pagará isto tudo? Nós, que temos a Troika à perna? A Alemanha, que não quer dar um tusto nem aos países da UE? Washington?
É que da Rússia, a torneira poderá estar prestes a fechar-se...
Pois, QUEM é que vai pagar isto?
Não podemos esquecer que Tymoshenko foi presa por ter feito um contrato "ruinoso" com a Rússia.
E agora volta para a mesma posição? vai negociar com a Rússia?
É que a UE, DEPOIS de ir sacar dinheiro das pessoas aos bancos, e andar a apertar toda a gente dentro da zona euro, não vai subsidiar energia de um país externo.
Portanto aos novos dirigentes restam duas opções, pedir ao FMI ou aos russos.
seja como fôr, estão completamente lixados.
se querem fazer um acordo com a UE, não podem pedir dinheiro aos russos, vão ter que pedir ao FMI.
Assim que implementarem as reformas que o FMI exige, temos as pessoas na praça de novo.
E QUEM é que pagará isto tudo? Nós, que temos a Troika à perna? A Alemanha, que não quer dar um tusto nem aos países da UE? Washington?
É que da Rússia, a torneira poderá estar prestes a fechar-se...
Pois, QUEM é que vai pagar isto?
Não podemos esquecer que Tymoshenko foi presa por ter feito um contrato "ruinoso" com a Rússia.
E agora volta para a mesma posição? vai negociar com a Rússia?
É que a UE, DEPOIS de ir sacar dinheiro das pessoas aos bancos, e andar a apertar toda a gente dentro da zona euro, não vai subsidiar energia de um país externo.
Portanto aos novos dirigentes restam duas opções, pedir ao FMI ou aos russos.
seja como fôr, estão completamente lixados.
se querem fazer um acordo com a UE, não podem pedir dinheiro aos russos, vão ter que pedir ao FMI.
Assim que implementarem as reformas que o FMI exige, temos as pessoas na praça de novo.
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