quinta-feira, março 06, 2014

Breve resenha (histórica) da questão da Ucrânia vs Rússia‏

  • Texto enviado pelo leitor Pippo: 


  • Breve resenha (histórica) da questão da Ucrânia vs Rússia

    Os povos eslavos são oriundos da Polónia, de onde se espalharam para Oeste (os sorbos, que vivem ainda no leste da Alemanha), sul (checos, eslovacos, eslovenos, croatas, sérvios, bosníacos, montenegrinos, macedónios e búlgaros*) e leste (bielorrusos, ucranianos e russos).
    * A Bulgária, já habitada por eslavos, foi invadida pelos proto-búlgaros, povo guerreiro, nómada, de origem turca e proveniente da Bulgária do Volga (actual Tataristão, com capital em Kazan). Os proto-búlgaros acabaram por si integrar na sociedade eslava, eslavizaram-se e todos adoptaram o nome dos seus senhores: búlgaros.

    A fixação dos eslavos do leste é bem antiga, deve remontar à época das Grande Migrações ou, mais concretamente, ao fim do Império Huno, quando os povos que estavam sujeitos aos hunos (ostrogodos, gépidas, etc.) começaram a lutar pela supremacia e se instalou uma grande confusão. Já Jordanes, na sua “Getica”, nos refere os eslavos (venethi, esclavenos e antes), bem como os esti (estónios)…
    Assim, na França e Alemanha criou-se a Francia (reino dos francos), na Morávia instalaram-se checos e eslovacos, na Panónia instalaram-se os onogures (turcos) e depois os magiares (de fala fino-úgrica), ou “povo das sete flechas”, no extremo leste do continente europeu estabeleceram-se os khazares, um povo de fala turca, e no meio, entre os khazares e os francos, ficaram os eslavos.

    Em meados do séc. IX os varegues, suecos salteadores, comerciantes e esclavagistas, começaram a subir os rios russos para fazer as suas depredações e comércio. Eram conhecidos por Ros’, ou Rossia (pelos gregos). Há na net um relato do diplomata ibn Fadlan (que se dirigia à corte dos khazares) que descreve esses “Rusiyyah”. Segundo as antigas crónicas, o chefe dos Ros’, Ryurik, foi convidado pelos eslavos de Kiev para os governar. Criou-se assim o Ros’ (ou Rus) de Kiev, o primeiro Estado eslavo naquelas regiões.
    Com os tempo, os Rus foram-se expandindo, entraram em contacto com os povos mais importantes (romanos – bizantinos - , persas e khazares) e converteram-se ao Cristianismo grego. Este foi um passo importantíssimo porque a partir de então os russos entraram para o “concerto das Nações” europeias, o Cristianismo (ortodoxo) passou a ser parte integrante e fundamental da sua cultura e operou-se, simultaneamente, a sua separação face à Europa Ocidental.
    Pela mesma época continuavam as constantes movimentações de povos nómadas, por norma de fala turca (mas não necessariamente mongolóides) os quais, normalmente, instalavam-se no sul: kipchacos, pechenegues/patzinaks, polovtsi/cumanos, karakalpaks/cherniye klobuki, etc.). os conflitos eram constantes, mas às vezes também havia fortes alianças com os russos (caso dos cherniye klobuki)
    Por volta dos séc. XI o Rus desintegrou-se e iniciou-se uma época em que vários principados, todos eles governados por membros da mesma família Ryurikid, passavam o tempo a guerrear-se. Havia ainda um grão-Príncipe, um “primus inter pares”, que passava, normalmente, para o membro mais velho da família, ou seja, o título não passava de pai para filho.

    A invasão mongol do séc. XIII veio arrasar por completo os Estados russos. Os mongóis impuseram a sua suserania não só sobre os eslavos mas também sobre os nómadas, alguns dos quais se escaparam para a Bulgária e Hungria, outros, que o não fizeram, acabaram por se converter ao Islão: búlgaros do Volga (tártaros de Kazan e de Astrakhan) e pechenegues e kipchacos (tártaros da Crimeia).

    O suserano mongol, da Horda de Ouro*, acabou por nomear o príncipe de Moscovo como seu “delegado” para as questões russas, investindo-o no cargo de Grão-Príncipe. Moscovo ficou assim com a capacidade de cobrar impostos por toda a Rússia, o que permitiu o engrandecimento deste principado sobre todos os outros. Uma série de guerras locais pela supremacia, o ocaso da Horda de Ouro, uma batalha renhida (Kulikovo) e o fim unilateral do pagamento de tributo por parte de Moscovo aos mongóis determinou a supremacia incontestada de Moscovo sobre todo aquele território.
    * “Horda” da palavra mongol “Ordu”, e de “Ouro” por causa da cor da tenda do Khan da Horda

    Entretanto, a actual Ucrânia, dividida em principados independentes, acabou sendo basicamente partilhada por três potências: o entretanto tornado independente Khanato da Crimeia, a Lituânia, que em meados da Idade Média era uma potência a ter em conta (e que, com a união com a Polónia, se tornou uma das principais potência da Europa), e a Moscóvia. A região de fronteira, sobretudo a que fazia fronteira com os tártaros, muçulmanos e esclavagistas, era chamada, precisamente, de “U Krajina”, ou seja, “A Fronteira”.

    Para “A Fronteira” foram viver nómadas independentes, eslavos fugidos da servidão, bandidos foragidos, homiziados e aventureiros a quem a Moscóvia concedia isenções e, claro, uma ampla liberdade, tudo com o intuito de povoar, assegurar o domínio e defender as terras das incursões tártaras (era um sistema semelhante ao usado aqui na Península nas terras tomadas ao Mouro). Assim se formaram os primeiros cossacos (de “kazak”, cavaleiro em língua turca).

    No Oeste, os cossacos acabaram por ser incorporados na Comunidade Polaco-Lituana. Eram os cossacos da Zaporizhia (Zaporígia) e os chamados “cossacos do Registo”, porque eram registados pelas autoridades polacas. Estes cossacos revoltaram-se em finais do séc. XVII, massacraram dezenas de milhar de polacos e de judeus e juraram fidelidade a Moscovo, que deveria conceder-lhes em troca ampla autonomia, autonomia essa que acabou por não se verificar, pelo menos na extensão que eles pretendiam.

    Em finais do séc. XVIII, os russos, em constante expansão para sul, entraram em sucessivas guerras contra os otomanos, que eram senhores dos Balcãs e suseranos do Khanato da Crimeia. Numa dessas guerras, em 1774 e qualquer coisa, na qual tomou valorosamente parte o Gomes Freire de Andrade, os turcos foram mais uma vez batidos, os russos tomaram o sul da Ucrânia e, menos de uma década depois (mais ou menos 1783), ocuparam a Crimeia.

    A queda de Constantinopla, em 1453, foi simultaneamente um marco histórico (é ainda hoje a data do “Fim da Idade Média”) e foi um choque para os Ortodoxos da Moscóvia. Até então, o Império Romano do Oriente, nas sua vicissitudes, tinha sido sempre o farol da Ortodoxia, onde os cristãos ortodoxos iam buscar inspiração, quer ao nível religioso, quer ao nível da estética, das práticas da corte, etc.. Constantinopla, criada por Constantino como a “Segunda Roma”, era o Centro do Cristianismo. A queda da cidade e, pouco depois, de todo o Império, abriu um vazio que acabou por ser preenchido pela Moscóvia, que tinha adquirido a primazia entre os Eslavos Orientais e era o mais poderoso dos reinos cristãos ortodoxos. As ligações familiares entre os Príncipes moscovitas e a casa Paleologoi, dos último imperadores “romanos”, fez com que o Príncipe Ivan IV Vassilievich, o Terrível, filho de Basílio III e neto de Ivan III, o Grande, e de Sofia Paleólogo, ao ser coroado, assumisse o título de Tzar (“Imperador”, de César) e afirmasse que “duas Romas caíram, mas a Terceira Roma [Moscovo] não cairá”. Esta visão muito própria que Moscovo adquiriu relativamente a si própria viria a condicionar a sua mundividência e o seu papel na História, sobretudo no que toca à sua relação com a maioria dos Eslavos e ao Cristianismo Ortodoxo.

    Durante todo o séc. XIX, tirando a ocasional invasão francesa, as coisas nesta região mantiveram-se mais ou menos calmas. Os russos, por se verem como o “irmão mais velho” dos povos eslavos e ortodoxos, desenvolveram o Pan-Eslavismo e, digamos assim, a “Pan-Ortodoxia”, ou seja, consideravam-se defensores de todos os eslavos; consideravam-se os únicos e legítimos herdeiros do Rus’ de Kiev (corrente historiográfica Russófila, que negava a herança do Rus’ de Kiev a bielorrussos e “ucranianos”, tomando-os como meras “extensões”, meros “regionalismos” dos russos”)*; e consideravam-se os defensores de todos os povos ortodoxos, incluindo os do Médio Oriente (da mesma forma que a França se assumiu como “defensora” dos católicos do Líbano, obrigando o Império Otomano a conceder as capitulações em benefício dos cristãos do Império).
    Foi com base neste Pan-Eslavismo que Moscovo conduziu a sua política externa relativamente, por exemplo, aos Balcãs, em apoio da Sérvia e da Bulgária contra os Otomanos.
    *Ao contrário, temos a corrente historiográfica Ucrainófila, que afirma que os únicos herdeiros do Ru’s de Kiev são os actuais ucranianos, descendentes directos (e exclusivos) ao nível territorial, cultural, linguístico, etc. Ambas as correntes, extremas e altamente politizadas, estão obviamente erradas, havendo ainda uma terceira corrente, a Eslávica Oriental, que naturalmente afirma que russos, bielorrusos e ucranianos são igualmente herdeiros legítimos do Rus’.

    Em casa, foi imposta a russificação, sobretudo ao nível da escolaridade, o que atingiu, na verdade, uma camada muito reduzida da população dado que a esmagadora maioria era analfabeta. Os cossacos, apesar de terem perdido a sua autonomia, foram elevados à condição de “gendarmes” do Império Russo, e os restantes camponeses, após a abolição da servidão (que creio nem ser comum na Ucrânia) passaram a ser pequenos proprietários ou migraram para as cidades, para engrossar a massa operária.

    A Revolução de 1917 provocou o desmembramento da Rússia e nessa altura surgiram os primeiros movimentos independentistas ucranianos, fomentados, em parte, pelos alemães, desejosos de “criar a confusão” entre os russos. Um efémero Estado Ucraniano sobreviveu durante uns 2 ou três anos, dividido em facções mais ou menos nacionalistas, que se digladiava com os bolcheviques, os russos “brancos” e com os anarquistas, até que acabou por sucumbir ao avanço do Exército Vermelho. Subsistiram contudo os movimentos nacionalistas, um dos quais, liderado por Stefan Bandera, acabou por colaborar com a Alemanha Nazi aquando da invasão da URSS em 1941. Este movimento independentista é o precursor ideológico dos actuais movimentos de extrema-direita ucranianos, nomeadamente dos mais próximos ao neo-nazismo.

    Os anos 30 na URSS foram particularmente difíceis. Por um lado, Estaline, que via conspirações por todo o lado, encetou, através da sua OGPU/NKVD, uma campanha de liquidação de adversários, reais ou imaginários. Foi a Grande Purga em que milhões de membros do PC, quase toda a cúpula dirigente, velhos bolcheviques próximos de Lenine, milhares de oficiais das forças armadas, intelectuais, funcionários, operários, camponeses, familiares e amigos dos acusados, foram sumariamente exterminados ou remetidos para campos de morte lenta na Sibéria e Círculo Polar Árctico.
    Em simultâneo, operaram-se reformas económicas, a mais significativa das quais foi a colectivização forçada dos campos, medida “científica” que visava organizar, racionalizar, a produção alimentar, aumentando-a, permitindo assim libertar posterior mão-de-obra para a indústria. O problema é que a colectivização, para além de ser forçada, levando à resistência passiva ou activa dos agricultores, foi mal conduzida, com gestão por “objectivos”, objectivos esses que teriam de ser alcançados”, sob pena de represálias sobre os gerentes das colectividades. Os dados da produção acabaram por ser empolados logo, falseados.
    Na mesma época, houve uma sucessão de maus anos agrícolas, num fenómeno que, nos Estados Unidos, foi chamado de “Dust Bowl” de igualmente maus anos agrícolas. A diferença é que, enquanto nos EUA houve êxodo rural, na URSS os camponeses, impedidos de sair das suas propriedades, foram obrigados a entregar as suas quotas de produção… quotas essas que tinham sido exageradas e estavam muito acima da realidade! O resultado foi uma campanha de opressão e o confisco de géneros alimentícios para alimentar as cidades que originou uma terrível fome conhecida como Holomodor que afectou todo o sul da URSS e, em especial, a zona de produção agrícola por excelência da URSS, ou seja, a Ucrânia.
    O Holomodor matou cerca de 7 milhões de pessoas.

    A implosão da URSS e a independência das Repúblicas soviéticas, mais ou menos dentro das suas fronteiras oficiais (com excepções na Arménia-Azerbeijão, Moldávia e Geórgia) originou não só conflitos étnicos (Cáucaso, Ásia Central, países bálticos) como colocou em campo visões étnicas e historiográficas diferentes em que as nacionalidades emergentes procuraram alicerçar a sua legitimidade e “antiguidade” em mitos fundacionais, transposições e interpretações anacrónicas do “ethnos” e do “locos” e, não raras vezes, na oposição à etnia dominante, ou seja, aos russos.

    No caso da Ucrânia, a necessidade de afirmação da identidade nacional implicou recuar-se aos tempos históricos e proto-históricos, da fundação de Kiev no séc. V (anterior, portanto, a Moscovo), e à invenção de uma “Nova História” que fizesse a ligação directa e exclusiva do Rus’ de Kiev à moderna nação ucraniana, à identidade “livre, independente, tolerante e europeia” dos cossacos (por oposição à identidade “servil, opressora, intolerante e asiática” dos russos) e, claro, à recuperação e elevação de “combatentes pela Liberdade ucraniana” à condição de precursores da independência e Heróis Nacionais, caso do já citado Stefan Bandera.

    No plano político, esta necessidade e posturas implicaram, necessariamente, um afastamento, quando não mesmo rejeição, por parte das autoridade e dos elementos mais nacionalistas, predominantes no Oeste do país, da Rússia.
    Concomitantemente, para cimentar essa afirmação independentista e reforçar o carácter “europeu” da Ucrânia, as políticas adoptadas implicaram uma aproximação à União Europeia e à NATO.

    Contudo, devido ao alargamento das fronteiras administrativas da Ucrânia (razão porque a Crimeia, que sempre foi russa, passasse a ser ucraniana em 1954) e devido também a causas migratórias, parte da população do país tinha, ou origem, ou cultura russa, e não se revia na linha de pensamento nacionalista vigente.

    A extrema e crescente debilidade económica da Ucrânia, a sua dependência, energética e comercial, relativamente à Rússia, a oposição entre a linha de pensamento russófila ou eslávica oriental e a ucrainófila, a oposição entre o mantimento de laços estreitos com Moscovo ou com o Ocidente (com incorporação na NATO e UE), veio a por a lume a clivagem étnica que se verifica actualmente, que faz com que a revolução contra o presidente eleito tenha forte adesão no Ocidente e Centro do país, mas fraca ou nula adesão no Leste, Sul e, sobretudo, na Crimeia.

20 comentários:

Fernando Negro disse...

A Crimeia e grande parte da zona sul e leste do que é actualmente território ucraniano, pelo que sei, nunca fizeram historicamente parte da Ucrânia, enquanto nação constituída (maioritariamente) por um povo etnicamente ucraniano.

Vejam os mapas históricos da nação ucraniana: http://en.wikipedia.org/wiki/Ukraine

A dadas alturas, dentro da URSS, foi decidido incluir estas zonas como fazendo parte da Ucrânia. Mas, estas foram decisões com pouco sentido. Pois, a prová-lo está o facto da maior parte da população nestes territórios ser ainda de etnia maioritariamente russa.

Pippo disse...

Obrigado pela correcção, JM.

Peço desculpa aos leitores deste blog por o meu texto ser demasiado abreviado. Não pretendi escrever um documento científico mas apenas, como o título indica, uma breve resenha, 99% dela escrita de memória.

Para os críticos do costume, já sei que não terá a visão "certa" da História; para os demais, desejo-lhe uma boa leitura!

Fernando Negro disse...

A parte que explica o episódio da Holodomor é deveras interessante.

Pois, após ter eu visto um documentário financiado por um grupo político ocidental e pró-europeísta, chamado "The Soviet Story", fiquei convencido de que tal episódio tinha sido um propositado acto genocida, por parte das autoridades soviéticas. Mas, realmente, depois de ter eu ouvido, muito recentemente, um dos melhores historiadores (a sério) que conheço, chamado Webster Tarpley (que relata muita da Verdadeira História, que não é sancionada pelos grandes interesses económicos ocidentais) a dizer algo em contrário, fiquei com sérias dúvidas quanto a isto. Pois, recomendou este autor, no seu programa de rádio, a leitura de uma autora francesa chamada Annie Lacroix-Riz (que denuncia os mesmos interesses sinarquistas, que este autor denuncia e que andam há séculos a manipular a versão oficial dos acontecimentos) que explica que não se tratou de um propositado acto genocida. E, não lidando eu bem com a língua francesa, estava a ver que iria ficar eternamente condenado a ficar na dúvida sobre qual seria então a explicação para este episódio. Mas, a explicação do Pippo aqui deverá ter-me tirado grande parte dessa mesma dúvida.

Obrigado pela partilha.

Europeísta disse...

Seu teu só prova uma coisa: foram os russos que se originaram da Ucrânia e não esta da Rússia. Portanto, é mero chauvinismo russo chamar a Ucrania de pequena Rússia.

Fernando Negro disse...

Pois... E, documentário esse, que deverá ter sido feito para deixar o Comunismo o mais mal visto possível, para que as pessoas não o vejam como alternativa ao Sinarquismo que está a ser implementado na União Europeia... Já percebi o propósito do financiamento.

É o mesmo objectivo de uma exposição que se pode ver aqui: http://www.youtube.com/watch?v=c_jYV3lk7Os

José Corvo disse...

Milhazes
Quanto aos Belicismos um amigo enviou-me uma lista dos actos bélicos americanos que ultrapassam de longe os Russos e em poucos anos.
O que eu conheço desses países do fim da Europa é um conhecimento teórico mas que romanticamente me colocam do lado do Tolstoi, do Prokofiev, do Couraçado de Pontenkime, do Ivan, o Terrível, de Lenine, dos 10 dias que abalaram o Mundo de John Read etc e não percebo a animosidade que o Milhazes por vezes parece nutrir pela cultura da libertação do homem que os povos desde há milhares de anos nutrem pelo Oriente e pelo Sol Nascente mas isto é outra História.
Eu estou aqui tão bem assistindo pela TV à “manif” dos polícias contra os próprios polícias com uma enorme frustração por eles não terem a fibra maluca dos ucranianos contra esta mediocridade portuguesa feita de analfabetos e de oprimidos pelos padres e pela malandragem que nos governa, e hoje foi em Lisboa um dia de Sol magnífico, quero lá saber do Putin ou o Obama contudo a Luta Continua….

Pippo disse...

"foram os russos que se originaram da Ucrânia e não esta da Rússia."

A afirmação não é totalmente correcta pois não só é um anacronismo (a Ucrânia não existia no séc. XIII) como induz em erro, porque dá a entender que os ucranianos antecedem os russos o que, objectivamente, não é verdade.

O Rus' de Kiev foi o Estado inicial. Não era ucraniano, nem bielorrusso, nem russo. Era, digamos assim, eslavónico.

A expansão do Ru's de Kiev e sua subsequente fragmentação deu origem, isso sim, a três povos, sujeitos a diferentes influências e distintos traços culturais, cada qual com a mesma legitimidade para se considerar herdeiro do Rus' de Kiev.

Se a Historigrafia Russófila aponta os ucranianos como "pequenos russos", a Ucrainófila aponta os russos como um corpo "estranho" e os ucranianos como únicos, directos e legítimos herdeiros do Rus.
Ambas a correntes estão, obviamente, erradas.

Assim, se bem que, geograficamente, a origem da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia (e respectivos povos) se situe no território da actual Ucrânia, não se pode nunca afirmar, de ânimo leve, que "foram os russos que se originaram da Ucrânia".

Os russos têm é origem no Rus' de Kiev. Ponto final.

Deverias ler, para uma melhor compreensão do tema, um artigo por Taras Kuzio sobre a Identidade Nacional e a Historiografia na Ucrânia.

São só 15 páginas, lê-se num instante.

PortugueseMan disse...

http://www.youtube.com/watch?v=uLjn4KtD7-4

Isto não é bom. Nada bom.

Se os ucranianos estão com ideias de resolver o assunto desta maneira, então a coisa vai acabar muito mal.

nb disse...

A questão principal ficou entre parêntesis:
"(razão porque a Crimeia, que sempre foi russa, passasse a ser ucraniana em 1954)"
- isto é que deveria ser explicado melhor, aqui e nas análises à situação da Crimeia.
Talvez assim se pudesse ter uma opinião neutra sobre os acontecimentos, algo que confesso ainda ter dificuldades em perceber.

Pippo disse...

Fernando, para entender melhor o tema (causas e consequências fo Holomodor), aconselho-o a ler acerca do "Grande Salto em Frente", que foi um acontecimento similar ocorrido na China do camarada Mao: colectivização das terras; "gestão por objectivos"; falseamento dos números; maus resultados reais; fome; milhões de mortos.

Na China ainda houve a "cereja em cima do bolo" do Grande Campanha do Pardal em que milhões destas aves "daninhas" (comiam as sementes) foram exterminados... apenas para se descobrir que os pardais também comiam os biliões de insectos que atacavam as plantas, os animais e as pessoas!

Dá vontade de rir mas faz-me chorar.

Pippo disse...

PT, tem aí um belo parque de artilharia! Claro que só com isso os ucranianos não irão longe. a infantaria mecanizada e os carros devem estar noutra estrada qualquer.

Esperemos é que eles não sejam parvos para começar uma guerra. É que não sei se os EUA e a EU-ropa quererão mesmo arriscar o pescoço por causa da Ucrânia.

Europeísta disse...

A base genética de russos e ucranianos não é a mesma. O próprio artigo dá pistas disso. Os ucranianos seriam "mais eslavos" que os russos. Os russos tem uma grande carga genética asiática. Houve muito mistura racial na Rússia. Na época do estalinismo isso se intensificou ainda mais. Os russos tem uma presença tártara, turca e mongol na sua base genético e no seu fenótipo. Ao contrário dos ucranianos que se misturaram com os normandos/vinkings que invadiram aquela região no passado. Por isso a aparência dos ucranianos é mais próxima do Europeu Ocidental. Já os russos tem um fenótipo mais asiático. Há traços na população russa que variam entre o mongol e o turco. Na região de Tartaristão há, sem dúvida, uma base turca forte no padrão genético da população. Já na parte mais oriental o padrão mongol acentua-se mais. A religião budista é a quarta maior da Rússia, a islâmica, a terceira. A base propriamente eslava da população russa concentre-se exatamente se traçarmos um círculo incluindo Moscou e São Petersburgo.

EJSantos disse...

Aqui está uma coisa boa: um artigo de história.
Ainda só o li na daigonal, mas vou reler com calma, esta noite.
Obrigado

Contra o Vento disse...

Ó Fernando,

O comunismo foi uma peça fundamental do Sinarquismo, ou melhor uma fase supostamente para preceder o Sinarquismo.

Os senhores do mundo então decidiram apostar num dos dois cavalos(Comunismo vs Capitalismo), e decidiram pelo Capitalismo.

Já agora quem é que está no topo da pirâmide no Sinarquismo? Hummm? Quem é?

Eu pelo menos acho que não são os Russos, mas também não são os "Europeus" nem os "Americanos".

PortugueseMan disse...

É que não sei se os EUA e a EU-ropa quererão mesmo arriscar o pescoço por causa da Ucrânia.

Caro Pippo,

Crítico é a chegada do 16 de Março. Como a partir desta data a Rússia vai dar a coisa como consumada, a haver algo terá que ser antes.

Vai ser uma semana deveras complicada, vai haver confusão de certeza.

Pippo disse...

"Europeísta", não diga barbaridades!

Fico com a impressão que não leu nada do que eu escrevi.

Qual foi a parte dos kipchakos, karakalpaks, etc QUE SE ESTABELECERAM NO SUL (no sul da actual Ucrânia) que não entendeu?
Os tártaros da Crimeia, o que é que pensa que eles são? Escandinavos?

E de onde é que lhe veio essa barbaridade dos "ucranianos que se misturaram com os vikings" e "os russos tem uma presença tártara, turca e mongol na sua base genética [que os ucranianos não têm]???
Os varegues (Rus') estavam por todo o território da actual Rússia (europeia) e Bielorrússia. Os que se estabeleceram em Kiev eram uma minoria que se interligou com os eslavos e expandiu-se para Norte e Leste.
E os cossacos, como já deveria saber se tivesse lido o texto, também tinham origem tártara.

Portanto, em termos "genéticos", os russos (russkiye) são tão eslavos, tão escandinavos e tão "asiáticos" como os e "ucranianos"

Os cidadãos da Rússia (rossiyane) é que já englobam várias etnias, mas o mesmo acontece com os da Ucrânia.

Se quer vir para aqui falar-me de tretas genéticas, raciais e afins, é melhor fundamentar-se bem pois que, só com bla-bla-bla não vai lá.

E além disso, para mim, essa conversa do "eu sou mais eslavo do que tu" cheira-me a racismo do bom, ao estilo daquela malta do Sector da Direita.

Pippo disse...

PM,

A única "hipótese" da Ucrânia nacionalista e russófoba é iniciar uma guerra, apelando depois à ajuda dos do costume para ser salva do "bicho-papão" moscovita.

Como se pode imaginar, a guerra será para perder. Na Crimeia, julgo que não terão hipóteses. Os russos não poderão deixar o exército ucraniano entrar na Península e caso este "force a barra", os desgraçados que estão presos nas suas bases em Sinferopol e noutras cidades irão ser eliminados sem apelo nem agravo.

Outra situação, algo diferente, será a dos nacionalistas ucranianos ocuparem a zona Leste do país, em processo de independentização face ao poder central. Aqui, duvido que a Rússia intervenha directamente, mas as milícias poderão resistir, provocar baixas aos atacantes, aguentar o tempo suficiente... quem sabe o que poderá acontecer?

Fernando Negro disse...

Pippo,

Obrigado pelo esclarecimento extra e pela recomendação.

Anónimo disse...

Caro Pippo que dados estatísticos usou para quantificar as mortes no Holodomor, e quais as suas fontes?

Pippo disse...

Relembro que este texto foi escrito de memória.

Os dados relativos ao Holomodor resultam de alguma literatura acerca das políticas estalinistas, mas a Wikipédia também foi uma ferramenta importante, nomeadamente porque tem fontes. algumas delas online.

Os dados medianos apontam para 7 milhões de mortos. Há quem os reduza para, se bem me lembro, 3 milhões, outros vão até à fasquia de 12 milhões, mais coisa, menos coisa.

Uma vez que o tema é controverso e politizado (o mesmo acontecendo com os números), optei pela mediana.